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Parte I – Problema de investigação

5. Parte VI – Conclusões

Este trabalho procurava compreender, a partir de experiencias de Cabo-verdianos a residir em

Portugal, que contributo pode ter o Microcrédito na promoção da integração económica de famílias pobres em Cabo Verde. Para tal, procurou-se perceber os impactos do aceso ao microcrédito e criação do próprio negócio nas condições de vida de Cabo-verdianos beneficiários do Projecto Empreendedorismo Imigrante, as principais estratégias que garantiram o sucesso das suas iniciativas e os vectores críticos na promoção da sua integração económica. Procurou-se também compreender como de experiências de criação de negócios adquiridas no âmbito do projecto estes imigrantes podem contribuir para o desenvolvimento local num posterior regresso.

O microcrédito é uma ferramenta essencial para alargar oportunidades dos seres humanos59 permitindo maior produtividade de trabalho, em consequência maiores rendimentos, e autoestima para as unidades domésticas pobres excluídas do acesso à banca tradicional. Este trabalho foi desenvolvido sob a forte convicção de que apenas é possível construir uma sociedade sustentável se esta for capaz de gerar oportunidades para todos os cidadãos. Partilhamos do pensamento de yunus que a pobreza e exclusão são uma ameaça à paz e progresso duradouros. Microcrédito é um mecanismo para promover a paz e progresso porque estimula a criação de empresas, geração de riqueza e é um antídoto contra a pobreza exclusão social.

No contexto da África Subsariana e Cabo Verde as oportunidades através de emprego formal são limitadas. Parte considerável da população é devotada à condição de pobreza sendo em não raras situações a criação da própria iniciativa empresarial a única via para assegurar a subsistência.

Os dados dos casos analisados permitem concluir que com pequenas quantias os beneficiários do projecto realizaram mudanças significativas nas suas vidas. O aumento dos rendimentos, da autoestima e reconhecimento social, a gestão de horários facilitando a conciliação de trabalho com obrigações familiares foram os maiores impactos da criação do negócio nas suas vidas. Contudo, a promoção da integração económica através do estímulo à pequena iniciativa empresarial não inicia apenas com a concessão de crédito nem termina com o seu acesso. Foi possível constatar que, apesar da implementação das iniciativas empresariais estar associada a várias etapas, a animação para a mudança de atitudes e comportamentos e apoio da figura “formador/tutor” foi chave crítica do sucesso das mesmas. Os resultados deste trabalho mostram também que frequentemente os programas multilaterais de desenvolvimento partem de pressupostos errados quando intervêm nos países em desenvolvimento no sentido de promover integração económica através do estímulo à iniciativa empresarial dos pobres utilizando o microcrédito. Ao contrário do que se assume os pobres

não o são apenas porque lhes falte formação. A experiencia profissional mostrou-se mais importante que as habilitações profissionais dos empreendedores nos casos analisados. Iniciar com programas bem elaborados de formação mostra-se até prejudicial na fase inicial. Frequentemente o pouco conhecimento existente do que é ser pobre num ou noutro contexto particular leva a dispêndio de recursos consideráveis sem melhorar as condições dos desfavorecidos. A animação por um técnico “animador territorial”, com formação para o efeito, que conhece a realidade local, completamente disponível e que acredita na mudança mostra-se muito mais importante e sustentável que despender somas avultadas em elaborados programas de formação e em contratos de especialistas de países desenvolvidos apresentando-os como “salvadores da pátria”.

Por outro lado, frequentemente, a acção para integração económica através do estímulo à pequena iniciativa empresarial dos pobres termina com a concessão de crédito. Este trabalho mostra que o apoio após implementação das iniciativas foi exíguo. Esta questão pode colocar o pobre em situação de grande vulnerabilidade. O abandono precoce pode influenciar negativamente o sucesso das pequenas iniciativas. Problemas como qualidade do produto aquém do esperado, mercados saturados, necessidade de desenvolver política de marketing, debilidades nas relações com empresas que as subcontratam, variações nos preços de matérias-primas entre outros podem deixar em situação de risco as iniciativas e consequente reembolso das prestações do crédito. O apoio a nível de serviços a empresas (formação, assistência técnica a PME`s, estudos e divulgação de novas técnicas de produção, procura de mercados e distribuição, marketing, exportação), serviços de saúde e seguros para os pobres, novas tecnologias de informação e comunicação), pelo menos nos primeiros anos de vida, mostram-se essenciais para a sobrevivência das mesmas. A pobreza é um fenómeno multidimensional que lida com diversas vertentes da vida das unidades domésticas. Induzir melhorias duradouras nas condições de vida das mesmas implica considerar todas as dimensões de suas vidas. A noção de Friedman de pobreza (como ausência das bases do poder social.) ilustra a referida perspectiva.

O acesso ao crédito é fundamental para a subsistência, contudo para promover mudanças duradouras e sustentáveis na vida das unidades domésticas é necessário muito mais que o mero acesso ao crédito.

Portanto o microcrédito apenas pode ter um contributo preponderante na promoção da integração económica de famílias pobres e de forma mais abrangente contribuir para diversificar a base produtiva de Cabo Verde se encarado de uma perspectiva integrada com outros esforços. Apenas acções fragmentadas no sentido de concessão de crédito podem não ser eficazes. A animação para a criação, desenvolvimento e financiamento dos projectos, bem como fornecimento de leque diversificado de serviços territoriais de apoio a empresas é fundamental. Este papel deve ser reservado a agências locais dinamizados por técnicos formados em “animação territorial”. A acção das referidas agências deve partir das potencialidades de cada território e de um projecto de desenvolvimento partilhado por todos os seus actores.

Em segundo lugar este trabalho procurava compreender como, a partir de experiencias de negócios, adquiridas no âmbito do projeto empreendedorismo imigrante, estes imigrantes cabo-verdianos podem contribuir para o desenvolvimento de Cabo Verde no seu regresso.

A ilha criativa.

Cabo Verde tem, segundo estimativas não confirmadas por nenhum organismo, entre imigrantes e seus descendentes perto de um milhão de imigrantes na diáspora.

Quando se refere aos contributos dos imigrantes para Cabo Verde, a ideia que transparece é a das remessas dos imigrantes. Não subestimamos este facto, é uma realidade. Mas o maior contributo

que os imigrantes podem levar ao país é a nível do conhecimento. Tendo vivido em sociedade mais desenvolvida com outra robustez e complexidade institucional, empresarial e tecnológica; adquirido experiencias profissionais, mesmo que muitas vezes em sectores pouco qualificados, e redes de contactos podem criar negócios e contribuir para satisfazer necessidades até hoje insatisfeitas. Podem contribuir para levar diferentes e evolutivas formas de fazer. Uma das questões interessantes que se notou durante contactos informais com

“formador/tutor” do PEI, é que muitos imigrantes terão aproveitado o projecto para adquirir formação e contactos no sentido de regressar aos seus países de origem e implementar o negócio. Perante a crise mundial que afecta os países mais desenvolvidos os imigrantes já encaram hipóteses de regresso frequentemente e no âmbito do PEI foi visível este facto.

Contudo, a probabilidade do negócio tornar realidade no regresso pode ser extraordinariamente aumentada se, em Cabo Verde, existirem estruturas de apoio (as referidas agências) encarregues de proceder à “animação” e realização de outras tarefas facilitadoras das iniciativas locais. A perda da figura de referência “formador/tutor” pode por em risco a concretização das iniciativas no regresso.

O sucesso dos locais em Cabo Verde poderá portanto depender, além da necessária valorização dos seus recursos endógenos, das redes digitais e relações transnacionais que se consiga estabelecer com outras regiões transnacionais e mais desenvolvidas apropriando-se de recursos exógenos à escala global utilizando seus imigrantes como ponto de contacto com o mundo.