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CAPÍTULO 3: PERCURSO METODOLÓGICO

3.4 PARTICIPANTES

3.4.2 Minibiografias

3.4.2.2 Minibiografia – Brenda

Brenda, 21 anos, branca, estudou até a 7ª série, em união estável, tem dois filhos: uma menina de 4 anos e um menino de 1 mês. Natural e atual moradora do Cabo, reside no bairro de Garapú com seu companheiro e filhos em casa cedida pelo seu pai. A renda familiar é de ¼ de salário mínimo proveniente do marido que faz bicos. Brenda vem de família de contexto incestuoso, sendo sua mãe também sua irmã por parte de pai. Além dela, os pais tiveram um irmão. O pai de Brenda é usuário de maconha. Ela saiu da casa dos pais aos oito anos e foi morar com a avó em São Paulo onde ficou por seis anos, voltando aos 14. Lá não fazia uso de substâncias psicoativas (SPA) e frequentava a escola.

Ao voltar para o Cabo e para a casa dos pais, usou SPA‟s pela primeira vez aos 14 anos, quando fez uso de maconha e de bebida alcóolica, depois. Ela parou os estudos na 7ª série, quando frequentava a Educação de Jovens Adultos (EJA), relatando que parou por preguiça. Sobre atividade de fonte de renda, ela chegou a trabalhar como secretária no escritório de advocacia da tia aos 16 anos, mas só ficou por uns quatro dias, pois refere que “nesse tempo não queria compromisso com nada”(sic).

Brenda só queria ter filho aos 30 anos, mas engravidou aos 16 anos de seu atual companheiro. Quando a filha tinha quase um ano de idade, ela e seu marido saíram da casa do pai de Brenda e foram morar na “favela” (sic). Lá conheceu uma mulher que usava crack e ofereceu a eles, sendo seu primeiro uso de crack aos 16 anos. Desde então, ela e seu marido Washington usam crack, sendo esse tempo de uso de uns 3, 4 anos. O casal iniciou o uso do crack de maneira controlada, Brenda refere que eles usavam e ainda sobrava dinheiro. Todavia, foram perdendo o controle do uso e passaram a vender as coisas dentro de casa.

A ex-mulher de Washington, observando que eles estavam fazendo uso descontroladamente, procurou saber de lugares onde eles pudessem buscar ajuda e soube do Programa Luz e indicou a eles a unidade do Cabo. Brenda e Washington então passaram a frequentar o Luz Acolhimento e Apoio, começando a diminuir o uso. Em um momento de descontrole no uso, o casal vendeu o “barraco” (sic) onde moravam e foram morar na parte de cima da casa do pai de Brenda. Nesse período, venderam tudo que tinha na casa para comprar crack e passaram a vender as coisas da casa do pai de Brenda também. O casal então pegou pernoite na casa do Luz Acolhimento e Apoio. Sua filha ficou na casa da ex-mulher de Washington, que observando o uso intenso do casal, preocupou-se com os horários de alimentação da criança e propôs aos pais leva-la para sua casa, onde eles poderiam visita-la e onde ela ficaria até eles estarem em uso mais controlado. Brenda e seu companheiro iam visitar a filha semanalmente ou a cada 15 dias, quando eram liberados da casa para esse fim. A filha mais velha do casal chegou a morar por mais de dois anos com a ex esposa de Washington.

O casal passou para Luz Intensivo, onde ficaram duas semanas. Após um atrito de Washington com um funcionário, eles saíram da casa e voltaram a morar na parte de cima da casa do pai de Brenda. Eles continuaram usando crack, mas diminuíram o uso.

Ao sair do Luz Intensivo, Brenda estava desconfiada que estava grávida. Estava fazendo uso normal do crack, que ela referia como uso de até 10 pedras de crack num dia, mas com espaçamento entre os episódios de uso de mais ou menos 2 semanas. Todavia, Brenda refere que chegaram a passar até dois meses sem usar. Ao confirmar a suspeita, Brenda diminuiu significativamente o uso. Ela diz que viu uma reportagem na televisão que falava sobre os efeitos do uso de crack da mãe para o feto e que sempre que usava se

assustava, pois seu bebê mexia menos na barriga, só depois regularizando os movimentos. Para diminuir o uso, o casal passava o dia na casa da ex esposa de Washington, conversando com a filha mais velha dele de 24 anos. Brenda refere que lá tinha mais gente, mais coisas para conversar e que eles pensavam menos em usar crack assim. Ainda assim, faziam uso ocasionalmente.

Na segunda gravidez Brenda diz que havia mais expectativa e ansiedade do casal em relação ao nascimento do filho do que na primeira gestação. Acerca de seus pensamentos sobre ser mãe, ela diz que é difícil, mas que agora que os filhos moram com ela, ela tem mais coisas para fazer cuidando deles e acaba pensando menos em usar crack. Além disso, refere que agora não está mais só e que ela e o companheiro tem a preocupação de fazer com que os filhos não sigam o caminho deles no que se refere ao uso de drogas.

Mesmo quando usavam drogas em casa, o casal usava quando a filha estava dormindo, ou, se ela acordava eles deixavam ela na televisão e usavam longe. Brenda refere que a filha nunca os viu usando. Eles sempre tiveram o medo de que ela se espelhasse neles e usasse drogas.

Ao pensar em rede de apoio, Brenda falou sobre a ex esposa de Washington e a filha mais velha do esposo, seu pai e sua mãe, o Programa Luz e também o governo, de quem ela recebe bolsa família, cesta básica e enxoval do seu filho. Acerca da vinculação aos programas sociais, a própria Brenda viu na televisão falando sobre o bolsa família, preparou os documentos e deu entrada.

Além disso, Brenda refere que fez pré-natal nas duas gravidezes, sendo que na primeira fez menos consultas, por preguiça. Na segunda, fez as consultas regularmente, apenas não fazendo a última, pois seu bebê nasceu seis dias antes. Durante o segundo pré- natal, refere que a enfermeira sabia de seu uso de crack, pois ela já a tinha visto na casa do Programa Luz, mas que nas consultas ela perguntava se ela estava fazendo uso da droga e, a mesma negava, por vergonha de dizer que fez uso algumas vezes durante a gestação.

Em cada uma das duas gestações, Brenda fez uma ultrassom particular. Além disso, os dois partos foram cesários, sendo o primeiro particular pago por sua mãe e o segundo feito num hospital em Palmares por influência política de um vereador do Cabo. Brenda refere que

durante a gravidez de sua primeira filha ainda não usava crack, mas fumava cigarro regular e maconha, raramente. Na maternidade onde teve o filho ela refere que não disse a ninguém sobre seu uso. Depois do nascimento do filho só usou uma vez, mas quer parar de usar e fala sobre as informações que tem acerca da substância psicoativa que passa para o bebê pelo leite. Ela faz puericultura da criança no posto de saúde.

No que se refere a violências sofridas no contexto do uso de crack, Brenda refere que sofreu violência sexual quando foi comprar crack e encontrou um homem que disse saber quem vendia e, levando-a a um ambiente, estuprou-a. Nesse episódio, por indicação do pai, foi até a delegacia, prestou boletim de ocorrência e tomou as medicações prescritas em caso de estupro. Além disso, ela refere que foi ameaçada por um traficante por ter insistido para que ele a vendesse pedra fiado. Esse foi até sua casa com homens procurá-la, porém Washington ameaçou o traficante e minimizou as coisas. O esposo refere que ela está viva primeiro graças a Deus e depois graças a ele.

O pai de Brenda tentou tomar a guarda da filha. Washington diz que o sogro o discrimina porque ele usa crack, mas usa maconha. Sobre sugestão para alcançar as mulheres usuárias de crack, Brenda indica maior divulgação da informação da importância do pré-natal e dos efeitos do uso do crack para o feto.