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CAPÍTULO 3: PERCURSO METODOLÓGICO

3.4 PARTICIPANTES

3.4.2 Minibiografias

3.4.2.1 Minibiografia – Wilma

Wilma, 21 anos, negra, natural e moradora do Cabo de Santo Agostinho, atualmente reside em Ponte dos Carvalhos com a mãe e o padrasto. Estudou até a 5ª série e refere como renda familiar 2 salários mínimos, providos por sua genitora e o companheiro dela, sendo que Wilma já trabalhou como doméstica. Os encontros com Wilma se deram no Luz Acolhimento e Apoio, onde ela estava em tratamento. Ela tem um filho de 4 meses.

Aos 14 anos, ela iniciou o uso de substâncias psicoativas ilícitas, utilizando maconha e crack que foram oferecidos por amigos. Ela refere que usava esporadicamente, menos de uma vez por semana. Além do crack, ela já usou na vida as substâncias: álcool, maconha e nicotina.

O maior sonho de Wilma era tornar-se mãe, e ela pedia a Deus que realizasse seu desejo. No sonho, ela imaginava que ao tornar-se mãe teria alguém que a “assumisse” (sic), uma casa e seria feliz. Ela engravidou pela primeira vez de um companheiro que já faleceu, mas perdeu seu bebê por aborto espontâneo.

Além disso, referiu dois relacionamentos importantes que teve, o primeiro com o pai de seu filho João, que conhecia há muitos anos, a quem diz amar e com quem teve um relacionamento e morou junto. A jovem conta que de início usavam camisinha durante as relações sexuais, mas depois “resolveram fazer planos” (sic). Depois se relacionou com Raul com quem morou junto e também diz amar. Os companheiros de Wilma são referidos por ela como pessoas que não fazem uso de crack. Durante a gravidez de seu filho, Wilma morava com João e sua família e depois, após uma briga com a cunhada, foi expulsa da casa pela sogra, indo morar com a mãe.

A entrevistada falou sobre “doença dos nervos” pré-existente, mas não especificou qual seria nem havia nenhum tipo de registro sobre isso no prontuário. Wilma refere vínculo ocasional com a religião protestante, dizendo que visitava a Igreja Assembléia de Deus. Ao saber que estava grávida (2ª gravidez) ficou muito contente e foi à igreja agradecer. Se sente devedora de cumprir a promessa que fez de se entregar a Deus por ter conseguido ser mãe.

Wilma trás muito conteúdo romântico-sexual para a entrevista, falando de suas relações afetivas na vida e também dentro da casa com outros dois usuários.

Durante a gravidez, Wilma inicialmente refere uso mais intenso “me internava no banheiro, seis pedras” e depois um uso menos intenso “cinco, quatro, três, dois, um, uma vez perdida” “usava no final de semana”, havendo, durante a entrevista essas duas informações acerca do uso. A entrevistada refere que, na gestação, fez uso só de crack, saindo de casa para consumir a pedra em ambientes públicos, tais como o banheiro de uma praça, com amigas também usuárias. Wilma considera desrespeito fumar na casa da mãe e refere que, mesmo quando estava com João, fumava escondido.

Relatou que iniciou o pré-natal em sua primeira gravidez, mas, na segunda gravidez da qual teve seu único filho, refere que não fez pré-natal, mas que buscou o posto por iniciativa própria para fazer um ultrassom, pois gostaria de saber o sexo do bebê. Seu filho nasceu prematuro, quando a genitora estava com 7 meses de gestação. A criança nasceu com problemas na visão e coração, que, segundo mãe, foram referidos pela equipe de saúde como sendo causados pelo uso materno de crack. Mãe teve alta do hospital e a criança seguiu internada. Wilma visitou filho na maternidade algumas vezes, mas não ia sempre por conta do dinheiro da passagem. Ao chegar na casa do Luz Acolhimento e Apoio, Wilma soube que seu filho tinha recebido alta do hospital e estava em um abrigo próximo ao Programa Luz. Ela ficou feliz por poder visitar o filho.

Sobre dificuldades no ser mãe, a entrevistada refere a dor do parto e a tristeza que o padrasto da criança (Raul) não estava lá na hora do parto, nem foi visitar. W. diz que o pai da criança João é um bom pai e que foi visitar o bebê algumas vezes. No dia da entrevista, João e sua tia tinham ido ao serviço para, segundo equipe, solicitar teste de paternidade. Wilma nos informou que ele tinha vindo visitá-la e que isso poderia causar ciúmes em um usuário da casa por quem ela disse estar apaixonada. No decorrer da entrevista, Wilma afirma que tem dúvidas se o bebê é filho de João mesmo ou de Raul.

Acerca do que mudou em sua vida com o nascimento do bebê, ela diz que realizou o sonho, tem companhia, mas esperava encontrar uma pessoa para lhe fazer feliz e que não a decepcionasse e isso não aconteceu. Acerca da rede de apoio, a entrevistada refere que a mãe foi com ela para maternidade e que a cunhada, mulher de seu irmão, lhe ajuda com fraldas,

leite, entre outros. Wilma disse que nunca recebeu apoio de programas sociais, relatando rede de apoio unicamente familiar.

Ela refere que o conselho tutelar está a frente do caso de seu filho e havia lhe informado que haveria audiência com o juiz para decidir a guarda da criança. Wilma falou sobre o desejo de ter a guarda de seu filho, mas que a madrinha dele, sua amiga, também queria a guarda do bebê. Nos encontros pós entrevista, Wilma relatou que tinha um acordo com sua amiga e que, em ela tendo a guarda, Wilma cuidaria do filho em sua casa sob supervisão da amiga.

Wilma contou que sofreu violência sexual no contexto do uso de crack (estupro) e que, embora soubesse que poderia denunciar, não o fez, optando por “entregar a Deus”. Ela refere que teve algumas brigas com suas amigas usuárias de crack, envolvendo violência física. Sobre a proposta para os serviços se aproximarem das mulheres grávidas usuárias de crack, ela indica que ofereçam internamento para as mulheres se tratarem e saírem do uso de crack.