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Missão a todos os países (1901-1990)

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2.3 HISTÓRICO DO PENSAMENTO SOBRE MISSÃO NO ADVENTISMO

2.7.3 Missão a todos os países (1901-1990)

A estrutura organizacional da Igreja Adventista passou por mudanças significativas no início do século 20 (KNIGHT, 2011, p. 75-144), que incluíam a descentralização da sede mundial e um novo ímpeto missionário. De acordo com Vyhmeister (1980, p. 58), “entre 1901 e 1926, incluídos, 2.937 missionários foram enviados, isto é, uma média de 112 por ano”. Em 1906, a IASD era a denominação cristã norte-americana com a maior proporção entre número de membros por missionário. Com 79.422 membros e 577 missionários, havia 1 missionário para cada 138 membros. A denominação que ocupava o lugar seguinte eram os congregacionalistas, com 1 missionário para cada 1.185 membros.49 Esses números são relatados não como demonstração do poderio da instituição, mas para indiciar como o movimento conseguiu formar um senso missiológico muito forte, isso após conseguir readaptando a pregação milerita da volta de Cristo à Terra em 1844.

Os adventistas tomaram parte ativa nas discussões missiológicas cristãs da década de 1910. Isso os levou a formular, em 1919, o importante documento “Nosso relacionamento com outras sociedades” (HÖSCHELE, 2010, p. 34-36). Essa declaração foi incluída em 1926 na obra General Conference working policy, que contém os regulamentos administrativos da denominação, e lá permanece desde então (HÖSCHELE, 2010, p. 75). O texto passou por leves mudanças, e sua versão atual, intitulada “Relacionamento com outras igrejas cristãs e organizações religiosas”, inicia com estas palavras:

A fim de evitar mal-entendidos ou atritos em nossas relações com outras igrejas e organizações religiosas cristãs, apresentamos as seguintes diretrizes:

49 Não obtivemos a referência completa dessa informação, mas ela pode ser vista parcialmente através do seguinte link: https://goo.gl/OOh2Q7. Acesso no dia 30/09/2015.

1. Reconhecemos as agências que exaltam a Cristo diante das pessoas como parte do plano divino para a evangelização do mundo e temos em alta estima os homens e mulheres cristãos de outras denominações que estão empenhados em conduzir pessoas a Cristo (ASSOCIAÇÃO GERAL, 2012, p. 152). O grande trunfo dessa declaração é a forte preocupação do adventismo em se estabelecer como movimento diferente dos demais, ao mesmo tempo em que consegue dialogar com eles. A identidade do grupo é importante e se faz presente de maneira contundente (HALL, 2014; BAUMAN, 2005; CANDAU, 2011).

Várias estratégias importantes foram implementadas para promover a missão da igreja. Dentre elas podemos destacar o interesse em alcançar judeus, muçulmanos e estudantes universitários. Em 1966, foi criado o Institute of World Mission na Universidade Andrews (EUA), a mais importante instituição educacional adventista no mundo. Dois anos depois, o Adventist Volunteer Service passou a enviar missionários para atuar durante um ou dois anos em atividades missionárias além-mar. Em 1982, “o European Institute of World Mission foi fundado para realizar institutos de missões de forma alternativa no Saleve Adventist Institute (França) e no Newbold College (Inglaterra)” (TIMM, 2011, p. 19).

De grande influência foi o livro Mission possible: the challenge of mission today, de Gottfried Oosterwal (1972), que “desafiou a denominação a considerar a obra da missão como sua prioridade” (TIMM, 2002, p. 300). Em resultado do movimento resultante, em 1976, a sede mundial da Igreja Adventista “aprovou o documento ‘Evangelism and finishing God’s work’, desafiando a denominação em todos os seus níveis e suas frentes a dar absoluta prioridade ao evangelismo”. O objetivo era “proclamar a todo o mundo o evangelho eterno de Jesus no contexto das três mensagens angélicas de Apocalipse 14” (TIMM, 2011, p. 20). Mesmo tento morrido em 1915, vários pensamentos de Ellen G. White (2003, p. 696) serviram como embasamento para essa prática, tais como o que se segue: “É privilégio de todo cristão, não só aguardar, mas mesmo apressar a vinda de Jesus”. Continua ela, “se todos os que professam o seu nome estivessem produzindo fruto para sua glória, quão rapidamente seria lançada em todo o mundo a semente do evangelho”. A cristalização do carisma ocorre de maneira contundente e auxilia o movimento em sua manutenção identitária no decorrer dos tempos, não sendo poucas as vezes que se busca em nesses escritos caminhos considerados corretos pelos quais a igreja deveria andar em determinadas situações.

Inspirados pelo documento de 1976, os adventistas implementaram na década de 1980 uma “série de iniciativas evangelísticas” (BULL; LOCKART, 2007, p. 144). Uma delas foi o programa “Mil Dias de Colheita”, estabelecido em 1981. Seu propósito era “dedicar os mil dias que precedem a Conferência Geral de 1985, em New Orleans, Louisiana, à conquista de um

milhão de almas para Cristo” (TIMM, 2011, p. 21). Na assembleia mundial de 1985, a igreja adotou o plano “Colheita 90 – Alcançando os não alcançados” para o quinquênio 1985-1990, com dois propósitos: 1) “duplicar [...] o número de batismos alcançados durante os Mil Dias de Colheita” e 2) “duplicar o número de membros treinados para as atividades de conquistar almas, de acordo com os seus dons espirituais, transformando cada igreja adventista do sétimo dia em um centro de treinamento para o serviço” (TIMM, 2011, p. 21).

A partir de um cenário de grandes mudanças sociais, os adventistas se debruçaram sobre a discussão da perda de identidade. Como lembra Novaes (2015), existe forte preocupação das lideranças da igreja quanto a uma possível perda do senso missiológico. A discussão passou a ser sobre “preservar e reforçar sua tradição sectária ou mover-se na direção da acomodação às outras denominações e à sociedade como um todo” (LAND, 1998, p. 171). Pela tradição adventista, o crescimento numérico de membros acaba por ser visto como “a evidência de seu destino manifesto: ser a igreja remanescente do tempo do fim” (SCHÜNEMANN, 2002, p. 1). Logo, muitos líderes acreditam esse crescimento seja prova de êxito evangelístico. A preocupação excessiva com o número de fiéis, na maior parte das vezes, indicia que o sucesso quantitativo da igreja se tornou o objetivo da pregação e, nesse contexto, há o perigo de tratar a igreja institucional como o reino de Deus (SUNG, 2008; KUHN, 2016; GONÇALVES, 2016), indo na contramão do conceito de igreja visível vs. igreja invisível (RODRIGUEZ, 2012).

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