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A entrevista à RTP Mobile decorreu no dia 17 de Abril de 2009 nas instalações da empresa em Lisboa. A entrevista foi conduzida separadamente a Carlos Vargas, Director da RTP Mobile; e a Nicolau Tudela, Designer Gráfico responsável pelo departamento de grafismo da RTP.

A entrevista a Carlos Vargas prestou-se essencialmente à obtenção em primeira mão de informação complementar ao estado da arte da Mobile TV em Portugal, pelo que a exposição das suas

declarações e de alguma da informação concedida, é apresentada, não neste capítulo, mas sim na unidade temática “2.1.8 - O caso Português”, desenvolvida a partir da página 26.

A RTP possui um departamento de grafismo interno especificamente dedicado a responder às necessidades gráficas dos vários canais RTP, incluindo a RTP Mobile. No que diz respeito à

68 O leitor não deverá interpretar o termo “Estética” no seu sentido ou conceito mais abrangente e filosófico. Por “Estética” entenda-se aqui a

interrogação da existência, ou não, no departamento de grafismo da RTP cuidados adicionais e práticas específicas de produção de MG para Mobile TV, por comparação com as práticas tradicionais, verificou-se que no referido departamento, em primeiro lugar, não existe de uma forma regular a produção específica de MG para Mobile TV.

Tudela (2009), o seu principal responsável, afirma mesmo que o seu departamento não produz grafismos especificamente para Mobile TV (TC: 17:35). No entanto já foi feita uma primeira aproximação a esta problemática.

Embora o departamento de grafismo que dirige esteja essencialmente orientado para Televisão dita tradicional, servindo canais como o Canal 1, o Canal 2, a RTP Internacional, a RTP África, a RTP Madeira e a RTP Açores, este departamento produz igualmente materiais para a área de multimédia (Web), e produziu também no passado os IDs de canais da RTP Mobile. (Tudela, 2009, TC: 00:29 – 00:56) e (Tudela, 2009, TC: 02:42 – 03:38).

Perguntou-se então a Tudela (2009) se isso significa que utilizam MG produzidos originalmente para TV tradicional e os reduzem, sem qualquer tipo de cuidado adicional para tamanhos pequenos de ecrã. Tudela (2009) responde que sim e que não! (TC: 17:47 – 17:50). E isto porque, como Tudela (2009) explica, por altura do lançamento da RTP Mobile havia a necessidade de se produzirem grafismos específicos com um “naming”69 específico70 para a RTP Mobile. Como isso significava que os materiais produzidos com este novo “naming” seriam específicamente para o meio Mobile, surgiu a primeira aproximação à problemática dos MG produzidos especificamente para Mobile TV (TC: 17:51 – 18:12).

(…) “havia grafismos que tinham de transitar para todos os constrangimentos e limitações

técnicas que o Mobile tem”. (Tudela, 2009, TC - 02:42 – 03:38).

Esta aproximação ao Mobile traduziu-se na altura71, segundo Tudela (2009), na transcrição de IDs de estação do canal principal, para a RTP Mobile. Mas esta transcrição não se limitou ao simples

escalonamento proporcional dos MG para pequenos tamanhos. Como havia a necessidade de demarcação gráfica dos restantes canais de Televisão tradicional, foi ali encontrada a oportunidade para se terem alguns cuidados específicos, tendo em conta o comportamento da linha gráfica numa dimensão e resolução de ecrã menor (Tudela, 2009, TC: 05-01 – 06:05).

Estes cuidados específicos focaram-se essencialmente em dois aspectos: na tipografia e nos fundos. Na tipografia, foram criados, segundo Tudela (2009), artefactos gráficos que diminuíssem alguns constrangimentos técnicos do streaming (Tudela, 2009, TC: 05-01 – 06:05). Esses artefactos passavam, no caso dos oráculos, por criar barras maiores onde houvesse um maior espaço disponível para a tipografia (Tudela, 2009, TC: 20:36 – 22:30). Portanto, existiu a preocupação de criar suportes gráficos que permitissem a utilização de corpos de texto maiores e que assim, preservassem a legibilidade do texto no meio Mobile.

“Uma das preocupações que temos é perceber que o importante é ler o que lá está e portanto dar mais importância ao texto e não necessariamente ao suporte. Tem que haver um suporte

69 Naming significa nome ou marca. Neste caso tratava-se do nome específico da variante Mobile da RTP, ou seja, RTP Mobile. 70 RTP Mobile, em vez de RTP 1, ou RTP 2, etc.

claro, não muito ruidoso, para que a leitura seja mais fácil. (…) Outra coisa que fizemos nos poucos materiais que fizemos para Mobile foi tentar simplificar ao máximo. O importante é uma clareza de comunicação e daquilo que está. Portanto tudo o que seja em demasia e que nos podem fazer brilhar noutros sítios onde a visibilidade é maior e melhor, temos que ter em conta isso. Isto é, utilizar backgrounds menos confusos, menos lixo possível, e foi essa a nossa

preocupação.” (Tudela, 2009, TC: 20:36 – 22:30)

No que diz respeito aos fundos, Tudela (2009) refere que nos novos IDs de estação criados para a RTP Mobile houve uma simplificação das formas utilizadas nos mesmos, por forma a reduzir o efeito de ruído visual que formas complexas provocam em tamanhos pequenos. Esta simplificação foi aplicada inclusivamente através de filtros de simplificação no After Effects, que segundo Tudela se aproximam aos resultados obtidos pelo Simplify72 do Freehand73.

(Tudela, 2009, TC: 20:36 – 22:30)

Figura 57: Figura 57: Figura 57:

Figura 57: Ilustração do efeito de simplificação do filtro Simplify (Freehand) Fonte:

Fonte: Fonte:

Fonte: Aplicação do filtro a uma forma no Freehand

Detectou-se aqui portanto, uma grande preocupação em simplificar as formas dos grafismos para que não se tornassem imperceptíveis em tamanhos pequenos.

Assim sendo, e de uma forma geral, no caso específico dos IDs de estação criados especificamente para a RTP Mobile, aquela que parece ter sido a maior preocupação foi, tal como Tudela (2009) afirma, perceber que o importante é ler o que lá está e portanto dar mais importância ao texto e não necessariamente ao suporte74. Tem que haver um suporte claro, não muito ruidoso, para que a leitura

seja mais fácil (TC: 20:36 – 22:30).

Portanto, a estratégia adoptada nos poucos materiais que foram produzidos especificamente para a RTP Mobile neste departamento foi, segundo Tudela (2009), a de tentar simplificar ao máximo e eliminar o que se torna supérfluo e ruidoso num tamanho de ecrã pequeno. Os fundos tornaram-se por isso menos confusos e eliminaram-se todos os elementos que num tamanho pequeno se transformam em lixo e ruído visual (TC: 20:36 – 22:30).

Portanto, verifica-se que este trabalho de construção dos IDs de estação e de grafismos para a RTP Mobile já foi feito de uma forma um pouco diferenciada da tradicional, pois já houve o cuidado de pensar que a tipografia e os fundos não podem ser tratados em Mobile da mesma forma que em TV tradicional, devido ao tamanho mais reduzido dos ecrãs dos terminais móveis.

72 O Simplify é uma operação de simplificação de formas vectoriais que pode ser encontrada no Freehand, dentro do menu, Modify >> Alter Path

>> Simplify.

73 http://www.adobe.com/products/freehand

No que diz respeito à consciência dos Designers deste departamento, relativamente às

especificidades dos terminais móveis, verificou-se que há já alguma consciência das limitações e implicações que os terminais podem acarretar para os MG. Mas em relação às limitações e condições da rede de suporte ao serviço de Mobile TV, o mesmo já não se verifica. Tudela (2009), quando confrontado com a pergunta sobre o funcionamento de uma rede 3G e de que forma o sinal é a partir dela distribuído, responde o seguinte:

“Não faço a mínima ideia! E porquê? Porque não tive qualquer feedback relativamente a isso. E se calhar devia haver mais. Acho que a informação passa muito por aí. E é tentar vender o

produto sem perceber muito bem como é que as coisas funcionam.”

(Tudela, 2009, TC: 24:47 – 25:10)

Apesar de Tudela (2009) demonstrar aqui que, no seu departamento, ainda não se compreende muito bem o funcionamento de uma rede 3G e de que forma isso poderá afectar o conteúdo audiovisual nela distribuído, há já a consciência de que os processos de compressão utilizados devem ser

compreendidos no seu funcionamento interno pelos Designers. Tudela (2009) demonstra que sabe que os MG são afectados pelos processos de compressão, principalmente ao nível do movimento. O movimento excessivo de elementos em MG para Mobile TV não é, também para Tudela (2009), uma estratégia de animação de grafismos muito recomendável, pois poderá criar problemas na fluidez do streaming de vídeo (Tudela, 2009, TC: 38:11 – 38:48).

Verifica-se nas declarações de Tudela (2009) que, apesar de não haver a consciência de como a rede funciona, há já alguma consciência de que essas limitações e, mais especificamente, os processos de compressão de vídeo utilizados na distribuição do sinal, deverão ser conhecidos e compreendidos pelos Designers, para que a finalidade dos produtos produzidos pelos mesmos seja absolutamente cumprida, no contexto dos MG para Mobile TV. (Tudela, 2009, TC: 39:33 – 39:59)

“Há uma coisa que disse e que eu acho que é importante reter. Que é perceber qual a realidade tecnológica. E depois é conter um pouco a expectativa das grandes cambalhotas… passe a expressão, que se deve dar. Eu acho que há uma finalidade e essa finalidade, com todas as

limitações que existem, deve ser cumprida.” (Tudela, 2009, TC: 39:33 – 39:59)

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