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Mobilização social: a participação construída

A participação social, segundo as mensagens, foi concretizada mediante movimento sistemático de mobilização de setores diversos da sociedade, por exemplo: o Fórum Permanente da Educação (1996), Acordo de Cooperação Técnica SEDUC/Universidades

(1996), Programa Permanente de Apoio aos Secretários Municipais de Educação e Prefeituras (PRASEM e PRASEMPRE) (1997), Congresso Estadual “A Escola do Novo

Milênio” (2002). Esses eventos foram fundamentais na busca de alianças e parcerias e no envolvimento da sociedade civil no propósito deoferecereducaçãode qualidadepara todos.

Outra ação, nessa direção, é a eleição direta de diretores, na redeestadual de ensino (1995) e na implantação dos centros regionais de desenvolvimento da educação/CREDEs (1996), fatos destacados como tendo dado “credibilidade” às mudanças empreendidas, nos rumos da gestão da educação (MENSAGEM, 1999, p. 5). No que diz respeito à idéia de mobilização, o processo eletivo de dirigentes escolares propiciou, mesmo que momentaneamente, a aproximação da comunidade.

Estudos diversos (VIEIRA, 2001a; PINHEIRO, 2002) mostram que, com o processo eletivo de dirigentes escolares (1995), a escola viveu novas cenas: pais na escola, alunos, funcionários e professores marcando posições, enfim, a comunidade escolar e local se manifesta no afãde se fazer presente, dealguma forma, na definição dosrumosda instituição. Pode-se mesmo afirmar que esse mecanismo, apesar de todas as contradições na implementação, inaugura a presença desses segmentos na escola (RAMOS, 2003). Assim, quando outras estratégias de democratização da gestãocomeçam a ser instauradas, aexemplo dos conselhos escolares (1996), encontram espaço aberto. Essas ações, vale frisar, são ressaltadas na Mensagem de 1999, como medidas de reconhecimento da escola como ponto de partida.

Também é por meio do movimento de mobilização social, desencadeado nesse período, no Ceará, que a SEDUC, como macroarticuladora das políticas educacionais, cria espaços públicos e institucionais que promovem a aproximação entre as diferentes esferas governamentais. Assiste-se, então, a todo um esforço, no sentido de integrar ações entre União, Estado e municípios (NASPOLINI, 1998). No plano local, a construção de variadas formas de colaboração com diferentes municípios cearenses começa a ser ensaiada, sendo expressiva, na caminhada, a parceria buscada, no sentido de equacionar as necessidades de atendimento à população identificada pelo “Censo Educacional Comunitário”, realizado em 1995 (MENSAGENS de 1996, 1997, 1998).

Com os dados desse Censo, a SEDUC buscou apoio de prefeitos e secretários municipais de educação, sensibilizando-os para o esforço de atendimento a toda a população em idade escolar. A partir dessa chamada, outras ações teceram a colaboração entre municípios e Estado, a exemplodo“Pacto por toda Criança na Escola” (1997)e da “Matrícula Única da Rede Pública” (2001). Foram estes os primeiros passos que, paulatinamente, sedimentaram adescentralização do sistema educacional, mediante municipalização.

No conjunto, as mensagens procuram realçar o esforço de mobilização social empreendido pelo Poder Públicoestadual, noperíodo de 1995/2002, com mais intensidade na gestão 1995/1998. No período subseqüente,esse movimento ocorreu, sobretudo, em torno da proposta “Escola do Novo Milênio”, conformeesclarece uma das passagens da Mensagem de 2003 (MENSAGEM, 2003, p. 3):

Em 2002 a política educacional do Estado do Ceará vem consolidando a ampla discussão que se iniciou em 2001 em nível escolar, municipal e estadual, com representação de todos os segmentosda sociedade comprometidos em construir a educação que os cearenses almejam, e que, por direito legal,deverão teracesso [...].

Esse grande momento da educação cearense efetivou-se por meio do Congresso Estadual Escolado Novo Milênio, com o objetivo de elaboraro Plano Decenal de

Educação.(Grifosmeus).

O trecho selecionado oferece alguns elementos de mobilização social, nesse momento. Ela iniciou na escola , percorreuos municípios e asvárias regiões administrativas do Estado, mediante representações (delegados) previamente definidas, culminando com o Congresso Estadual Escolado NovoMilênio, do qual participaramrepresentações de váriossegmentos e instituições, no total de mil pessoas. Nesse evento, foram apresentadas e votadas metas discutidas nos fóruns anteriores, as quais consubstanciaram a proposta de Plano Decenal de

Educação, em segunda edição.

Certamente este foi o espaço privilegiado para discussão e participação social, no macroplanejamento da política educacional do Estado. Não há como negaro envolvimento da escola e da sociedade civil, tampouco a intenção de democratização do processo. É preciso, todavia, considerar a natureza da participação que a mobilização ensejou. Nota-se, ao longo das duas mensagens, tendência em estabelecer sinonímia entre mobilização e participação. Embora próximos, esses processos divergem no fundamento, pois a mobilização decorre muito mais de estímulo circunstancial, em tomo dedeterminadas idéias, podendo favorecer o

62 Este primeiro momento envolveu aescola e sua comunidade a partir dadiscussão de três questões: aescola

que temos, a escola que queremos e como transformar a escola que temos na escola que queremos. Cabia à escola e aos seus diferentes sujeitos elaborar um “decálogo”, isto é, dez aspectos necessários para a escola melhorar.

surgimento daparticipação, mas não ogarante. Isso porque a participação, como instrumento de concretização da democracia, implica incorporação, paulatina e progressiva, de princípios de comprometimentopermanenteesistemáticoem tomo de uma proposta.

Assim considerando, é possível dizer que o movimento de mobilização, no período 1995/2002, foi marcado pelo caráter de participação mediatizada e regulamentada (LIMA, 1998). Tal asserção se confirma no estabelecimento do mecanismo de participação indireta (por meio das representações expressas nos delegados) e da normatividade visando a encaminhar, operacionalmente, o processo e assegurar o alcance da meta estabelecida (no caso, a segunda edição da proposta do PlanoDecenal de Educação do Ceara).

Foi justamente a característica que, ao limitar a participação da sociedade civil na construção da proposta de Plano Estadual a ser encaminhada à Assembléia Legislativa, estimulou o surgimento de espaço institucional paralelo de discussão sobre a educação públicacearense. Trata-se do “Fórum Interinstitucional sobre Educação Pública no Estado do Ceará: o desafio da qualidade”, promovido por várias instituições (UFC, UECE, UVA, URCA, APEOC e Assembléia Legislativa),como um “momento de reflexão e mobilização na construção coletiva de estratégias, na tarefa de reconstrução da educação pública” (DIAS; CASTRO; QUIROZ, 2002, p. 5). Esse evento,em primeira edição (2001), debateu diferentes temas relativos à educação cearense e elaborou uma agenda de compromissos, em defesa da qualidade da educação pública. No ano seguinte, esse documento foi alvo de discussão, em seis (06) encontros regionais de educação, emdiferentes regiões do Estado (Crato, Itapipoca, Iguatu, Aracati, Tauá e Sobral), sob otema: Educação noCeará: construindo novos rumos. De cada encontro, foi feito relatório cujas contribuições foram sintetizadas por ocasião do II Fórum Interinstitucional sobre Educação Pública no Estado do Ceará: construindo novos rumos, no documento DiretrizesparaaElaboração de Planos de Educação no Ceará (2002).

Na carta de abertura da agenda comumemdefesada qualidade daeducação pública, é possível ter-se a síntese do compromisso que motivou a criação do fórum interinstitucional: resistênciaao modelo que vemsendo impostoàeducação escolar brasileira(DIAS; CASTRO; QUEIROZ, 2002). O texto traz a justificativa de que é, na contramão da sintonia do projeto educativo cearense com agendas advindas de compromissos firmados extemamente, que se deve compreendera contribuição que esse movimento paralelo ao ensejado pela SEDUC traz ao cenário político-educacional do Estado, no que tangeà proposta de “todospela educação”. Também é certo que o Poder Público estadual cumpre papel dearticulador das macropolíticas, mediante planejamento estratégico que tem, na descentralização (de recursos e de competências), suaestratégia central.