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CAPITULO III – DO CURRÍCULO AOS MODELOS CURRICULARES

3.4. Modelos Curriculares para a Educação Pré-Escolar

3.4.3. Modelo Curricular Reggio Emilia

O modelo curricular Reggio Emilia teve origem na década de 40, na cidade de Reggio Emilia situada a Norte de Itália, na próspera região de Emilia Romana. No ano de 1945, após a Segunda Guerra Mundial, em Villa Cella, os cidadãos uniram-se, cooperando e colaborando em equipa e de forma voluntária para construírem uma escola promotora de oportunidades e sucesso educativo às crianças pequenas. Loris Malaguzzi, ao tomar conhecimento desta iniciativa, dirige-se a Villa Cella para acompanhar de perto esta realidade, observar e contactar com os protagonistas desta iniciativa ficando fascinado com os factos observados. Loris Malaguzzi acaba por envolver-se no movimento fundamentando as bases da abordagem Reggio Emilia na Pedagogia da Escuta e nas Cem Linguagens da Criança. A partir de então “inicia-se um trabalho em equipa com o propósito de compreender e conhecer as crianças, as suas necessidades e os seus interesses constituindo-se assim o ponto de partida para o desenvolvimento da experiência educacional de Reggio Emilia” (Lino, 2013, p.110). A política educativa deste modelo prende-se com a igualdade de oportunidades

para todas as crianças, de modo a evitar as desigualdades entre famílias. Este modelo insere-se no âmbito de uma pedagogia de participação em que a criança assume uma imagem central, concetualizada como sujeito de direitos, protagonista, competente e aprendiz ativa. Segundo Gandini e Edwards (2002, p.76)

um dos pontos fundamentais da filosofia de Reggio Emilia é a imagem da criança como alguém que experimenta o mundo, que se sente uma parte do mundo desde o seu nascimento; uma criança que está cheia de curiosidade, cheia de desejo de viver; uma criança que tem muito desejo e grande capacidade de se comunicar desde o início da vida; uma criança que é capaz de criar mapas para sua própria orientação simbólica, afetiva, cognitiva, social e pessoal.

Este modelo potencia as relações e interações entre a criança e os adultos, nomeadamente, entre os pais e os professores, formando um sistema. Num clima de interação, a comunicação e a relação constituem elementos essenciais para o desenvolvimento da criança. Os pais envolvem-se em reuniões assumindo um papel participativo com os professores, de modo que ambas as partes compreendam e tomem consciência da responsabilidade que têm sobre a criança. O papel do professor é preparar e organizar o ambiente educativo para a implementação de projetos e atividades, estar atento e envolvido ativamente nos jogos, projetos, atitudes, etc. Deste modo, o professor encoraja e integra as ações das crianças desempenhando segundo Galardini e Giovannini (2002, p.123) um papel de “parceiro-no-jogo”. O trabalho em equipa é o eixo central que orienta todos os intervenientes envolvidos no processo educativo. Os seus princípios preconizam observar, registar e tratar a informação sendo a documentação a ferramenta indispensável para que se possa investir em termos de qualidade. Para Gandini e Goldhaber (2002, p.151) a documentação é vista como uma observação aguçada e uma escuta atenta, registada numa variedade de formas pelos educadores, que confirmam o que é relevante e comunicam os factos.

A avaliação no modelo Reggio Emilia é feita em diferentes momentos que se vão completando entre si - pelo educador com base no que observa e regista dos momentos e ações das crianças; pelos educadores quando elaboram o planeamento e avaliação com as crianças e pelos educadores em equipa. A observação, a interpretação e a documentação são a base e a estrutura do trabalho dos professores. As ferramentas de observação utilizadas são as anotações, fotografias, vídeos, gravação de diálogos, servindo as quais como base à interpretação, análise, reflexão e compreensão das ações e pensamentos da criança. A documentação surge como um processo de entendimento entre os adultos e as crianças, na medida em que proporciona aos adultos uma melhor compreensão do que as crianças elaboram e constroem e, por outro lado,

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também “abre as portas e estimula os esforços das crianças em entender e se fazer entender, permitindo-lhes revisar seus pensamentos sobre o mundo físico e social, reconsiderar teorias, reformular perguntas e escutar atentamente umas às outras enquanto constroem conjuntamente seus significados” (Gandini & Goldhaber, 2002, p.161).

As crianças são incentivadas a explorar a compreensão das suas experiências através de diferentes formas de arte, daí que o processo de documentação permita compreender essas formas de expressão, isto é, as “cem linguagens da criança”. Por outro lado, a “pedagogia da escuta” assume um papel fulcral neste modelo, pois enfatiza-se a relação, a observação e a comunicação entre os vários intervenientes - todos se escutam e são escutados. A escuta constitui um processo de ouvir a criança nos diferentes momentos da rotina diária permitindo-lhe colaborar e construir o seu próprio conhecimento, ao longo da aprendizagem.

Neste modelo curricular são utilizados vários instrumentos e suportes de avaliação, tais como, portefólios de vários projetos já realizados e dos que estão a ser vividos, registos sistemáticos e portefólios das aprendizagens das crianças.

Neste modelo, os espaços refletem as influências da cultura, do meio social e familiar das crianças, sendo cuidadosamente planeados por educadores, artistas plásticos, pedagogos, pais e arquitetos. Todos os espaços e materiais são planeados e organizados de forma a criar um ambiente agradável, apropriado, claro, evocativo e familiar onde todos se sintam integrados e indo ao encontro das necessidades, níveis de desenvolvimento e interesses das crianças. Para Galardini e Giovannini (2002, p.118) a qualidade e a organização do espaço e do tempo dentro do cenário educacional podem estimular a investigação, incentivar o desenvolvimento das capacidades de cada criança, ajudar a manter a concentração, fazê-las sentir-se parte integrante do ambiente e dar-lhe uma sensação de bem-estar.

O tempo está organizado de modo a proporcionar às crianças diferentes oportunidades de aprendizagem e de estabelecer diferentes tipos de interação. Os horários assumem uma organização de modo a proporcionar às crianças um equilíbrio entre atividades individuais, de pequeno e grande grupo. Segundo Lino (2013, p.126) o tempo quotidiano proporciona às crianças múltiplas oportunidades de fazer escolhas, pois elas podem escolher trabalhar sozinhas, em pequeno grupo, em grande grupo, com os adultos ou sem eles, no atelier, no mini-atelier, na piazza, nas diversas áreas da sala e no espaço exterior.

O programa Reggio Emilia não apresenta um currículo predefinido, pois este surge a partir do trabalho quotidiano que se desenvolve nos contextos educativos. No trabalho de equipa que se

desenvolve entre as crianças, pais e professores dão forma à documentação a qual informa e dá forma às planificações curriculares que se vão desenvolvendo ao longo do ano. Segundo Lino (2013, p.129) o currículo é determinado pelas interações e diálogos que se estabelecem no quotidiano educativo entre as crianças, os professores e o ambiente físico e social em que estão integrados.

No quadro 2, resumimos as principais caraterísticas do modelo Reggio Emilia:

Modelo Reggio Emilia

Currículo Currículo emergente.

Determinado e definido pelas interações e diálogos com as crianças. Trabalho de projeto.

Papel da criança Papel ativo da criança.

Criança protagonista de toda ação educativa.

Papel do adulto Organiza o ambiente educativo.

Implementa projetos e atividades.

Envolve-se nas atividades das crianças e está sempre presente. Desenvolve trabalho em equipa.

Espaço Considerado o 3º educador: flexível e aberto a novas experiências

Planeado por educadores, artista plástico, pedagogos, pais e arquitetos: Ateliers, Mini-ateliers e Piazza

Materiais Organizados de forma a criar um ambiente agradável, apropriado, claro,

evocativo e familiar

Tempo Não existe rotina definida.

As crianças tem direito à escolha das atividades que pretendem desenvolver.

Pedagogia Ênfase na expressão com recurso às múltiplas linguagens simbólicas;

Cuidado especial na organização do ambiente físico (3ºeducador);

Relação e interação coesa e sustentável entre os protagonistas: crianças, pais e professores;

Desenvolvimento de trabalhos de projeto.

Avaliação Efetuada através da documentação: observação, escuta, seleção e

interpretação.

Avaliação formativa, diagnóstica e qualitativa; Avaliação através do portefólio

Instrumentos de

avaliação Vídeos, fotografias, diários escritos, amostras de trabalhos das crianças.

Quadro 2 – Características do Modelo Reggio Emilia