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Natureza do estudo: abordagem qualitativa

CAPÍTULO V – METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

5.1. Natureza do estudo: abordagem qualitativa

A investigação qualitativa está vocacionada para a análise de casos concretos, nas suas particularidades de tempo e de espaço, partindo das manifestações e atividades das pessoas nos seus contextos próprios (Flick, 2005, p.13). Na investigação em educação, os investigadores posicionam-se de forma divergente conforme as metodologias adotadas para o desenvolvimento do seu estudo. Os defensores das metodologias quantitativas sustentam as suas bases no paradigma positivista e os defensores das metodologias qualitativas defendem os seus métodos centrados no paradigma interpretativo.

Do ponto de vista concetual, a perspetiva quantitativa centra-se, segundo Coutinho (2011, p.24) na análise de factos e fenómenos observáveis e na medição/avaliação de em variáveis comportamentais e/ou socio efetivas passíveis de serem medidas, comparadas e/ou relacionadas no decurso do processo da investigação empírica. Nesta linha de investigação, os estudos baseiam- se num plano de investigação pré-determinado, estruturado, formal, detalhado e estático havendo um distanciamento e uma separação entre o investigador e o investigado. A investigação é baseada na teoria consistindo, na maior parte das vezes, em testar, verificar, comprovar teorias e hipóteses face a uma realidade única e objetiva. A amostra é significativa, representativa, estratificada e pode assumir grandes amplitudes, sendo os resultados, suscetíveis de generalização, isto é, universais e independentes do contexto do estudo.

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A perspetiva qualitativa surge na sequência das críticas ao positivismo de Augusto Comte e inscreve-se no campo da investigação em educação sob “muitas formas e é conduzida em múltiplos contextos” (Bodgan & Biklen, 1994, p.16) assumindo como raízes filosóficas a fenomenologia, o interacionismo simbólico e a etnometodologia. Do ponto de vista concetual, na abordagem qualitativa “o objeto de estudo na investigação não são os comportamentos, mas as intenções e situações, ou seja, trata-se de investigar ideias, de descobrir significados nas ações individuais e nas interações sociais a partir da perspetiva dos atores intervenientes no processo” (Coutinho, 2011, p.26).

No decurso dos anos sessenta, os problemas educativos reavivaram o interesse pela investigação qualitativa e tornaram os investigadores educacionais mais sensíveis a este tipo de abordagem (Bodgan & Biklen, 1994, p.36) assumindo, na perspetiva destes autores, as seguintes caraterísticas: na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; a investigação qualitativa é descritiva; os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus dados de forma indutiva; o significado é de importância vital na abordagem qualitativa.

Com base nestas caraterísticas, os autores privilegiam a compreensão dos comportamentos a partir da perspetiva dos sujeitos de investigação, nos seus contextos ecológicos naturais. A palavra escrita assume particular importância tanto para o registo de dados como para a disseminação dos resultados. Não se recolhem dados para confirmar hipóteses, mas constroem-se as abstrações à medida que os dados se vão recolhendo e se vão agrupando. Assim, os “investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador” (Bodgan & Biklen, 1994, p.51). O investigador surge “emerso” na situação ou fenómeno recolhendo os dados através do contato direto com a realidade que pretende descobrir e compreender.

Por isso, para uma melhor compreensão desta metodologia resumimos no quadro 5, as suas principais caraterísticas.

Caraterísticas da Abordagem Qualitativa

Afiliação teórica - Interação simbólica

- Etnometodologia - Fenomenologia

Objetivos - Desenvolver conceitos sensíveis

- Descrever realidades múltiplas - Teoria fundamentada

- Desenvolver a compreensão

- Compreender fenómenos sociais do ponto de vista dos participantes

Dados - Descritivos

- Documentos pessoais - Notas de campo - Fotografias

- O discurso dos sujeitos - Documentos oficiais e outros

Análise de dados - Contínua

- Modelos, temas, conceitos - Método comparativo constante - Indução analítica

- Método comparativo constante

Técnicas ou métodos - Observação

- Estudo de documentos vários - Observação participante - Entrevista aberta Amostra - Pequena - Não representativa - Amostra teórica Instrumentos - Gravador - Transcrição

- Frequentemente a pessoa do investigador é o instrumento

Relação com os sujeitos - Empatia

- Ênfase na confiança - Igualdade

- Contato intenso - O sujeito como amigo - Ser neutral

Investigador - “Imerso” na situação ou fenómeno investigado

- Contato direto com a realidade

Quadro 5 – Caraterísticas da investigação qualitativa (adaptadas de Bodgan & Biklen, 1994)

Pelas caraterísticas intrínsecas à abordagem qualitativa, concordamos que esta metodologia sustentasse o estudo que levámos a cabo pois, de acordo com Flick (2005, p.13), a investigação qualitativa está vocacionada para a análise de casos concretos, nas suas particularidades de tempo e de espaço, partindo das manifestações e atividades das pessoas nos seus contextos próprios.

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No nosso contexto concreto, a educação pré-escolar, com o enfoque no processo de avaliação, o que nos interessa é compreender a avaliação sob a perspetiva dos atores, num diálogo entre investigador e participantes. O discurso dos sujeitos assume a principal fonte de dados, pois “o investigador introduz-se no mundo das pessoas que pretende estudar, tenta conhecê-las, dar-se a conhecer e ganhar a sua confiança, elaborando um registo escrito e sistemático de tudo aquilo que ouve e observa” (Bogdan & Biklen, 1994, p.16).

Tal como Herdeiro (2010, p.38), acreditamos que, “como investigadores não temos a intenção de medir forças entre os paradigmas, mas consideramos importante salientar as nossas opções nos aspetos concetuais, metodológicos e teórico-práticos, de forma a obter respostas para as nossas questões/preocupações”. No campo educacional, à medida que os estudos foram avançando em torno das realidades educativas, mais convictos se foram tornando os especialistas de que é fundamental atender “à complexidade da teia quase inextricável de variáveis que agem no campo educacional” (Lüdke & André, 1986, p.5). Conhecer a realidade educacional implica analisar todos os condicionalismos que envolvem a educação, o comportamento dos sujeitos e as suas relações e interações dentro da comunidade em que estão inseridos. Para Silva e Pinto (1989, p.10)

ao procurarmos conhecer a realidade social, vamos construindo, a respeito dela, e mediante quadros categoriais, operadores lógicos de classificação, ordenação, etc., mediante processos complexos influenciados ainda pelas nossas necessidades, vivências e interesses – vamos construindo instrumentos que nos proporcionam informação sobre essa realidade e modos de a tornar inteligível, mas nunca se confundem com ela.

É no contato com as pessoas, ouvindo-as, que se percecionam as suas opiniões e sugestões, anseios e convicções procurando-se “o que, na realidade, faz sentido e como faz sentido para os sujeitos investigados” (Amado, 2013, p.41). Neste sentido, a abordagem qualitativa requer que “os investigadores desenvolvam empatia para com as pessoas que fazem parte do estudo e que façam esforços concertados para compreender vários pontos de vista (Bogdan & Biklen, 1994, p.287). Na investigação qualitativa, os dados recolhidos assumem pormenores descritivos relativamente a pessoas, às suas conversas e ao seu contexto, constituindo, um papel relevante, as diversas opiniões dos participantes. Assim, para Flick (2005, p.6) os métodos qualitativos encaram a interação do investigador com o campo e os seus membros como parte explícita da produção do saber.

Foi o que pretendemos fazer neste estudo, ao ouvir a voz dos educadores participantes, já que “as questões a investigar não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis,

sendo, outros sim, formuladas com o objetivo de investigar os fenómenos em toda a sua complexidade e em contexto natural” (Bogdan & Biklen, 1994, p.16).