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3. Processo Metodológico

3.3. Modelo de análise

Após a revisão da literatura e da preparação, realização e análise das entrevistas explo- ratórias, construiu-se um modelo de análise. O trabalho exploratório teve como propósito alar- gar a perspetiva de estudo, conhecer a opinião de profissionais da informação televisiva e reve- lar aspetos da temática e/ou problemática nas quais o investigador não teria pensado por si próprio (Quivy e Campenhoudt, 1998).

A construção de um modelo de análise «é um processo de selecção teórica crucial em qualquer investigação» (Sousa e Baptista, 2011: 48), na medida em que «o seu maior contribu- to é proporcionar um enfoque teórico e permitir que não haja dispersão do investigador quanto aos conceitos a estudar e respectiva recolha de dados» (Sousa e Baptista, 2011: 48).

De acordo com Raymond Quivy e LucVan Campenhoudt (1998), na conceção de um modelo de análise, o investigador tem de definir os conceitos a utilizar na investigação, com a intenção de evitar as incompreensões e os mal-entendidos. Então, especificam-se os conceitos

expostos na pergunta de partida: Quais as causas e as consequências de os telejornalistas

executarem a edição de imagem de conteúdos noticiosos televisivos?:

Causas entendidas como os fatores que contribuem para que os telejornalistas execu-

tem a edição de imagem de conteúdos noticiosos televisivos.

Consequências compreendidas como as implicações positivas e negativas provocadas

pelo facto de os jornalistas de televisão editarem em vídeo conteúdos informativos te- levisivos, nos seguintes domínios: nos conteúdos jornalísticos televisivos; na atividade dos profissionais da informação noticiosa, designadamente dos jornalistas, repórteres de imagem e editores de imagem e na entidade empregadora.

Jornalistas televisivos (jornalistas de televisão ou telejornalistas) são considerados,

no âmbito desta investigação, os jornalistas que, exercendo a sua atividade profissional numa redação televisiva, produzem conteúdos informativos a serem veiculados nos serviços jornalísticos do(s) canal(ais) de televisão. Todavia, nas redações televisivas, há jornalistas que não concebem conteúdos noticiosos, exercendo outras fun- ções/tarefas, como, por exemplo, apresentadores dos programas jornalísticos (Pivôs), os coordenadores, os editores executivos, entre outros. Por outro lado, existem jornalis- tas que, embora exerçam a sua profissão numa redação de televisão, dedicam-se à con- ceção de conteúdos informativos para as versões online e não concebem conteúdos jor- nalísticos para serem emitidos nos blocos informativos dos canais de televisão.

Tal como explicado anteriormente, ainda que os repórteres de imagem e os edi- tores de imagem sejam detentores de carteira profissional de jornalista, nesta investiga- ção quando se menciona jornalista está-se a referir unicamente aos jornalistas redato- res.

Edição de imagem, também denominado por edição de vídeo e/ou por montagem,

passa pela execução das operações técnicas e estéticas, quer de imagem quer de som, executadas num sistema de edição de vídeo, com vista à conceção de conteúdos jorna- lísticos televisivos.

Conteúdos noticiosos televisivos são os conteúdos jornalísticos produzidos por profis-

nos programas informativos dos canais de televisão. No contexto da informação diária, estes conteúdos podem revestir diversas formas22, como sejam: talking head, clip off, pequena peça noticiosa e reportagem.

Talking head ou, simplesmente, TH, também designada por “boca”, é uma

curta intervenção, declaração ou depoimento, na íntegra ou parte, de uma per- sonalidade que é “lançado” pelo próprio apresentador do programa jornalístico, não havendo desenvolvimento da notícia.

Clip off, também denominado por off 2 (porque o termo off é usado para nome-

ar a voz-off), é uma sequência de imagens geralmente com o correspondente som ambiente, não atingindo um minuto de duração, cuja narração é feita pelo próprio apresentador do programa informativo, ou seja, o texto jornalístico que acompanha as imagens é lido, em direto, pelo Pivô. Este tipo de conteúdo in- formativo pode ser usado para transmitir uma informação noticiosa com a mai- or brevidade possível. Por outra parte, tal como refere Carla Cruz (2008: 224), recorre-se ao clip off «quando não há material informativo suficiente para cons- truir uma notícia ou quando o evento em causa não suscita mais interesse».

Pequena peça noticiosa, que usualmente não ultrapassa os dois minutos de du-

ração, tem como propósito transmitir uma notícia, tentando responder às seis questões básicas ou, pelo menos, a uma, a saber: o quê, quem, quando, onde, como e porquê (Barroso García, 2001). Porém, este tipo de conteúdo informati- vo nem sempre exige uma grande investigação nem trabalho de exterior (Oli- veira, 2007). Aliás, há pequenas peças jornalísticas televisivas que são constru- ídas unicamente com material fornecido por agências noticiosas, como frequen- temente acontece com muitos dos conteúdos informativos referentes à política internacional ou ao desporto.

Reportagem, sendo o género nobre do jornalismo (Sousa e Aroso, 2003), trata

os acontecimentos de atualidade com maior profundidade do que a pequena pe-

22 Os termos talking head e clip off são termos técnicos não oficiais, sendo usados, no contexto da gíria pro- fissional, na redação central da SIC, sedeada em Carnaxide. Uma vez que esta redação é o principal objeto de estudo desta investigação, optou-se por se usar esta termologia.

ça informativa (Jespers, 1998; Barroso García, 2001; Neto, 2009). Assim sen- do, uma das principais diferenças entre a pequena peça noticiosa e a reportagem encontra-se na amplitude de tratamento dada aos acontecimentos e aos respeti- vos factos, verificando-se um maior desenvolvimento e/ou aprofundamento no caso das reportagens (Baroso García, 2001; Neto, 2009). «A reportagem é uma notícia avançada, na medida em que a sua importância é projetada em múltiplas versões, ângulos e indagações» (Vilas Boas, 199623, apud Neto, 2009: 19). Por norma, uma pequena peça jornalística descreve os factos e, no máximo, as suas consequências. Por seu lado, partindo da própria notícia, a reportagem procura ir mais longe, desenvolvendo uma investigação mais exaustiva. Com efeito, a reportagem apura não unicamente as origens dos acontecimentos, mas as suas causas e consequências (Martins, 199724, apud Neto, 2009). Todavia, presen- temente, segundo Jacinto Godinho (2011: 53), «a notícia passou a comandar os ritmos da pequena “reportagem”», acrescentando que «a “reportagem curta” segue a notícia, ilustra-a, testemunha-a e é por esta justificada» (Godinho, 2011: 53).

Para além destes tipos de conteúdos jornalísticos, existem outros tipos, nomeadamente no que diz respeito ao contexto da informação não diária, tais como as médias e as grandes reportagens ou as reportagens especiais. Contudo, como se irá ver mais adiante, os jornalistas televisivos não editam em vídeo estes tipos de conteúdo informativos. Por esse motivo, descre- ve-se unicamente os tipos de conteúdos noticiosos montados pelos telejornalistas.

23

Referência completa da publicação: Sérgio Vilas Boas (1996), O Estilo Magazine: o texto em revista, São Paulo: Summus.

24 Referência completa do livro: Eduardo Martins (1997), O Estado de S. Paulo: manual de redação e estilo, São Paulo: Moderna, 3.ª edição.

Quadro 1 - Modelo de análise Pergunta de partida:

Quais as causas e as consequências de os telejornalistas executarem a edição de imagem de conteúdos noticiosos televisivos?

conceitos dimensões variáveis/ indicadores

causas

tecnológica implementação de sistemas digitais de edição

não linear de vídeo nas redações televisivas

organizacional melhoria da qualidade dos conteúdos jornalísticos

surgimento dos canais de 24 horas de informação

económico-financeira redução dos custos de produção noticiosa

otimização dos recursos existentes relacionadas com

as audiência atuais necessidades informativas

concorrencial

outros canais televisivos portugueses de 24 horas de notícias

outros canais generalistas televisivos portugueses outros canais de televisão portugueses transmitidos por cabo/satélite/IPTV/ Web TV

os novos media, nomeadamente os disponibilizados através da web

formativa

os jornalistas chegam às redações preparados, pelos estabelecimentos do ensino superior para exercer a função/ tarefa de editar em vídeo conteúdos noticiosos

consequências

do ponto de vista dos conteúdos noticiosos

televisivos

qualidade dos conteúdos noticiosos quantidade dos conteúdos jornalísticos

do ponto de vista dos jornalistas

qualidade dos conteúdos noticiosos quantidade dos conteúdos jornalísticos questões laborais

mudanças na atuação dos jornalistas relação com os repórteres de imagem relação com os editores de imagem do ponto de vista

dos repórteres de imagem relação com os jornalistas

do ponto de vista dos editores de imagem

relação com os jornalistas

despedimentos de editores de imagem contratação de editores de imagem

transferência de serviço de editores de imagem dedicação a conteúdos jornalísticos mais exigentes do ponto de vista

da entidade empregadora

aumento da oferta informativa redução dos custos de produção otimização dos recursos existentes formação dos jornalistas em edição de ima- gem de conteú- dos noticiosos televisivos formativa

formação adquirida sobre a edição de imagem de con- teúdos noticiosos televisivos

contexto de formação

frequência de participação em ações de formação conhecimentos adquiridos com os editores de imagem dificuldades manifestadas pelos jornalistas na edição de imagem de conteúdos informativos televisivos oferta formativa no ensino superior

hipóteses de investigação:

hipótese 1. Os jornalistas televisivos executam a tarefa de edição de imagem de conteúdos noticiosos

televisivos devido à conjugação de diversos fatores: tecnológicos; organizacionais; económico- financeiros; relacionados com as audiências; concorrenciais; e formativos. Porém, entre estes fatores, os tecnológicos, os organizacionais e os económico-financeiros são os grandes impulsionadores.

hipótese 2. Esta mudança profissional apresenta consequências em diversas vertentes, nomeadamente

no conteúdo noticioso televisivo; nas rotinas e práticas profissionais dos jornalistas; noutros profis- sionais da informação noticiosa televisiva, em particular nos editores de imagem, e na entidade em- pregadora. Contudo, as consequências mais importantes referem-se à perda de qualidade dos conteú- dos jornalísticos.

hipótese 3. Por norma, os recém-formados não saem suficientemente preparados dos cursos de Jorna-

lismo ou afins, ministrados pelos estabelecimentos de ensino superior, para exercer a tarefa de edição

de imagem de conteúdos informativos televisivos.

Através da definição do modelo de análise exposto no Quadro 1, procurou-se formular as hipóteses de investigação e operacionalizá-las, selecionando as variáveis/ indicadores a es- tudar. Seguidamente, planeou-se a investigação empírica de forma a que as hipóteses fossem confirmadas ou informadas.