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4 MODELO PARA A LOGÍSTICA REVERSA DOS BENS DE PÓS-

4.3 MODELO INTEGRADO DE LOGÍSTICA (MIL) – EVOLUÇÃO

No estágio precursor da idéia de cadeias de suprimentos (Figura 19), viam- se os membros da cadeia trabalhando de forma isolada. É a chamada visão

Posicionamento Integração Agilidade Mensuração Apoio da alta administração e conscientização Apoio e compatibilidade da TI Comunicação clara e cooperação Conhecimento mútuo das partes Customização Objetivos de longo prazo e comprometimento Clareza quanto às expectativas Estrutura simples flexível e não onerosa Avaliação do desempenho Projeções próximas da realidade Estrutura efetiva de governança Sinergia e colaboração Capacitação dos envolvidos Pré-disposição à mudança Redução da dependência das fontes de financiamento Contratos simples e objetivos Seleção adequada do produto

operacional, na qual cada elo trabalha com objetivos próprios e de curto prazo. Não há integração entre os elos, apesar do forte discurso em contrário.

Ainda nesse estágio, a logística tradicional é composta pelas áreas de abastecimento, produção, distribuição e logística reversa, a qual tem pouca visibilidade e trata basicamente dos retornos comerciais/devoluções (do consumidor para os canais). O foco é na cadeia direta de distribuição.

Figura 19 – Cadeia de suprimentos – visão operacional Fonte: elaboração própria.

O estágio de evolução seguinte (Figura 20) surge em um ambiente altamente competitivo, exigindo um novo modelo produtivo. Os elos da cadeia de suprimentos adotam a visão estratégica com objetivos comuns e de longo prazo e ocorre a integração entre os parceiros para que o consumidor seja atendido de maneira satisfatória, definindo-se claramente o fluxo de informação e de materiais na cadeia de suprimentos.

Figura 20 – Cadeia de suprimentos – visão estratégica Fonte: elaboração própria.

Os serviços devem ser prestados por todos os elos, e os resultados, positivos ou negativos, voltarão para a cadeia como um todo. É criada a legislação

Fornecedores Fabricante Canais

Consumidor Fluxo integrado de materiais

Fluxo de informação Fornecedores Fabricante Canais

de responsabilidade do produtor, em virtude da redução do ciclo de vida dos produtos e do aumento da descartabilidade.

Além dos fluxos diretos, começam a ganhar destaque os fluxos reversos, não só de pós-venda, mas também os de pós-consumo.

O mercado e seus arranjos continuam evoluindo e toda vantagem competitiva conquistada é cedo ou tarde anulada, pois, quando reproduzida pela concorrência, torna-se padrão mínimo de mercado. Mas as organizações que buscam manter a liderança são ávidas por encontrar o próximo diferencial que lhes renovará a vantagem competitiva.

Nesse estágio de evolução das cadeias de suprimentos, a LR integra-se definitivamente ao processo logístico tradicional, eliminando a visão de um fluxo linear que partia do fornecedor e encerrava-se no consumidor, conforme se pode observar na Figura 21.

Figura 21 – Fluxo logístico integral Fonte: elaboração própria.

Consumidor Origem Fluxo direto

Fluxo reverso

Mercado secundário

Emerge a visão de loop fechado, em que o produto nascido no fornecedor, não estranhamente, pode vir a fazer o caminho reverso, sendo novamente processado e girando sequenciadamente no mesmo fluxo.

Em outros arranjos, mesmo que o produto não cumpra o giro completo, a cadeia de suprimentos tem a responsabilidade pela destinação do produto na integralidade do seu ciclo de vida.

O consumidor não é mais o ponto de chegada, apenas um estágio de passagem do produto, sendo ainda o financiador de todo o fluxo e a razão de sua existência, mas não mais o depositário final do produto.

Ao consumidor cabe demandar, adquirir e usufruir o bem. Quando o produto não lhe servir mais, contudo, é de responsabilidade de quem o gerou cuidar de sua destinação.

Nesse sentido, irá prevalecer a legislação de proteção ao meio ambiente citada anteriormente, como o princípio da precaução, as resoluções do Conama, os artigos da Constituição Federal, as leis que atribuem a responsabilidade ao produtor sobre os bens que estes produzem até o fim da sua vida útil. Ou seja, a regra: “Quem fez que cuide de desfazer”, é o que vale!

Não devem existir resíduos, rastros ou danos oriundos dos produtos colocados no mercado. O ambiente deve ser limpo e a sociedade isenta de qualquer sobrecarga indesejada de resíduos, quando da demanda por um produto qualquer.

Mas o custo da limpeza não é nulo e deve, portanto, onerar o próprio produto. Então, quando este é concebido, seu preço incorpora um novo componente, o de eliminação do mercado após cumprir seu papel. Quem paga é, obviamente, quem demanda o produto básico.

Exceções surgem quando o rescaldo do produto básico se conforma em produto demandado por um mercado secundário, como no exemplo do mercado de sucata metálica.

Esse cenário exige da cadeia de suprimentos e de seus elos interação e integração íntimas, devendo ser o consumidor inserido no desenho da cadeia como um de seus elos. O consumidor não pode mais ser colocado em uma posição externa, como acontecia antes, para onde tudo convergia e onde tudo se encerrava.

A visão é a do processo logístico como atividade completa e única, não mais caracterizada por fluxos estanques e independentes.

Ganha espaço a logística abrangente, integrada, que inclui todas as suas áreas com o mesmo grau de importância – abastecimento, produção, distribuição e reversa – sendo tudo parte essencial, contínua e componente de uma visão verdadeiramente ampla e sistêmica, o que só funciona a partir da gestão competente da informação.

Uma vez que o ciclo se fecha e se repete em interações sucessivas e indefinidas, por ser o consumidor estágio de passagem e não ponto de chegada, a gestão da informação representa um dos maiores desafios do processo.

Controlar e acompanhar o percurso e permanência do produto em cada ponto da cadeia é uma árdua tarefa. Deve-se buscar conhecer também a condição do produto em cada um desses pontos, para poder, quando necessário, programar sua reinserção no fluxo sabendo corretamente para onde destiná-lo como estágio seguinte apropriado.

Pensando no modelo anterior de cadeia de suprimentos, em que os responsáveis pela fabricação do produto se dispõem linearmente e de forma seqüenciada (Figura 20), vê-se que é um arranjo ineficiente para dar conta deste desafio.

Também é difícil atribuir a um agente específico, entre os existentes, uma tarefa tão complexa. Não que isso seja, em alguns casos específicos de certas cadeias de suprimentos, situação inviável. Pelo contrário: é possível encontrar arranjos peculiares de cadeias de suprimentos nos quais um determinado agente tem controle amplo e competência suficiente para atender a essa obrigação. Mas será comum a necessidade de se inserir novo agente no processo responsável por assumir tal tarefa. Independentemente de quem venha a cumprir esse papel, seja um único integrante da cadeia ou uma composição de agentes, pode-se caracterizar tal personagem daqui em diante como assumindo a figura da governança da cadeia de suprimentos.

Indiferente em relação à estrutura básica de partida sobre a qual se estabelecerá a função integradora de governança (a qual será tratada mais à frente), ainda existe a tarefa de inserir o consumidor na estrutura, uma vez que o produto não tem mais o consumidor como ponto final do processo logístico. O consumidor assume a posição de mais um estágio de passagem do produto, que depois de

cumprida sua utilidade, deverá retornar ao ciclo logístico, rumando ao próximo nível adequado e não simplesmente tornando-se um resíduo do processo.

Propõe-se assim o MODELO INTEGRADO DE LOGÍSTICA – MIL, principal objetivo dessa tese, que se encontra representado na Figura 22 de forma condensada, detalhado na Figura 23 e numa versão completa na Figura 24.

Figura 22 – MIL – Modelo Integrado de Logística (visão geral) Fonte: elaboração própria.

A Figura 23 representa o MODELO INTEGRADO DE LOGÍSTICA – MIL em detalhes, o qual foi construído a partir da consolidação dos esquemas propostos nas Figuras 17, 18 e 22. Já a Figura 24 apresenta o modelo em sua forma completa, integrando a estrutura detalhada pela Figura 21, a qual trata dos fluxos direto e reverso, mercado secundário e disposição final.

Canais Fabricantes Fornecedores Consumidores Governança da cadeia (gestão da informação)

Figura 23 – Modelo Integrado de Logística em detalhes Fonte: elaboração própria.

Canais

Fabricantes Fornecedores

Envolvendo e gerando valor para

o CONSUMIDOR ESTRUTURA DE GOVERNANÇA DA CADEIA Posicionamento Integração Agilidade Mensuração Construção de massa crítica Construção de competências inter- organizacionais GESTÃO LOGÍSTICA INTEGRAL Criação de novas oportunidades Alcance de novos mercados Preenchimento de lacunas em habilidades

Figura 24 – MIL – Modelo Integrado de Logística (completo) Fonte: elaboração própria.

Canais

Fabricantes Fornecedores

Envolvendo e gerando valor para

o CONSUMIDOR ESTRUTURA DE GOVERNANÇA DA CADEIA Posicionamento Integração Agilidade Mensuração Construção de massa crítica Construção de competências inter- organizacionais Preenchendo lacunas em habilidades GESTÃO LOGÍSTICA INTEGRAL Criando novas oportunidades Alcançando novos mercados FLUXO DIRETO FLUXO RE VERS O Mercado secundário Disposição final

O modelo é composto por todos os integrantes da cadeia de suprimentos e destaca a sua estrutura de governança da cadeia de suprimentos. Os fluxos diretos e reversos devem acontecer de forma contínua, como forma de agregar valor ao cliente.

A integração do consumidor ao modelo proposto se sustenta na mesma lógica que julga ser a LR fator de agregação de valor ao produto. Um mercado que valoriza a atividade de extração de bens de pós-consumo da sociedade deve estar disposto a colaborar com o processo, permitindo que a governança da cadeia obtenha as informações adequadas para a reintegração do produto ao ciclo logístico.

Nessa nova forma de gestão da cadeia de suprimentos, o foco de trabalho de cada elo reforça a necessidade de feedback do elo seguinte, principalmente dos consumidores, buscando informações que permitam gerir o loop logístico.

É evidente que essa visão somente se materializa ao se motivarem as relações cooperativas, conscientizando-se todos os membros da cadeia sobre os princípios e as necessidades imprescindíveis ao funcionamento do modelo de maneira adequada.

Destaca-se como fator essencial à gestão desse processo, além do controle da informação, a utilização dos mecanismos de avaliação de desempenho para a cadeia (já citados no modelo de competências – Figura 18), acompanhando e revendo constantemente os padrões estabelecidos, mesmo com resultados satisfatórios.

Conforme a Figura 22, a governança da cadeia é, nessa perspectiva, o conjunto de mecanismos, sustentados na gestão e no controle da informação, que objetiva cumprir as questões legais e ambientais quando estas representarem a motivação. Se o processo se justifica pelas motivações de ganho e retorno financeiro e econômico, serão estas as variáveis focadas.

O sistema pelo qual a logística integral de toda a cadeia pode ser dirigida e monitorada depende fundamentalmente da eficácia dos relacionamentos entre os integrantes da cadeia de suprimentos.

Esse aspecto pode ser confirmado com a análise realizada das competências inter-organizacionais necessárias à cadeia para o sucesso do presente modelo, onde as mais marcantes se enquadraram nas competências essenciais do grupo “integração” e “agilidade” (Figura 18).

Apesar de não se tratar de um objetivo desse estudo, mas como foi considerado fundamental e necessário à implementação do MIL, os próximos parágrafos abrangem a governança da cadeia no modelo.

O MIL - Modelo Integrado de Logística, por meio da governança da cadeia de suprimentos, pode apresentar seis tipos distintos de estruturas de partida, caracterizadas pelas seguintes situações:

− o poder é assimétrico ou uma empresa determina a existência das demais;

− o poder é simétrico ou existe um grupo de empresas em que a existência de uma não é determinada por decisões tomadas em outra; − nas empresas com poder simétrico, não há um líder no sistema. Pode

existir liderança cooperativa. As ligações entre as firmas podem ser relativamente duráveis e são caracterizadas por colaboração e simetria. Não há hierarquia, mesmo que a relação ocorra entre uma grande empresa e uma pequena. O tamanho das empresas envolvidas não tem, em princípio, influência na relação;

− com empresa coordenadora, há coordenação sistemática e alguma assimetria, podendo um agente influenciar as operações internas das outras empresas. O ponto mais importante dessa estrutura de governança é que a empresa coordenadora é dependente operacionalmente das demais, já que não pode fazer para ela própria o que essas firmas podem fazer, nem pode determinar a existência ou não dessas firmas no sistema. Nessa categoria, há uma condição de influência intermediária, com fraca hierarquia;

− com empresa condutora, há uma firma condutora, essencialmente independente de seu grupo de fornecedores e subcontratantes, de modo que pode reestruturar pelo menos uma parte da sua rede. A empresa condutora é dominante, o poder é assimétrico e existe considerável hierarquia;

A governança, quando implementada de forma eficiente, visa a aumentar o valor agregado ao consumidor e à sociedade, contribuindo para a perenidade da cadeia.

Na estrutura de governança, cabem, por essência, três atividades:

− um conselho de administração de toda a cadeia, na figura de um agente de inteligência que trabalha para coordenar as ações da cadeia, zelando por sua eficiência. Essa atividade é cumprida por um dos elos da cadeia, ou por um agente terceirizado, ou por um composto de elos, ou ainda por um combinado entre agentes terceirizados e componentes da cadeia;

− um processo de auditoria das atividades da cadeia, com a finalidade de garantir o estabelecimento de suas diretrizes e o acompanhamento do desempenho. Esse processo pode ser desenvolvido por um agente independente e isento ou pelo conselho de administração;

− a gestão competente da informação de todo o processo, condição fundamental para a viabilização das duas atividades anteriores. A informação é o condutor principal, que permite uma integração virtual dos membros, independentemente de sua localização.

Os princípios que regem a governança da cadeia sedimentam-se na eqüidade, na transparência e na prestação de contas a todos os membros do processo, com a vantagem de se poder ainda operar como um método de administração dos conflitos que possam ocorrer entre seus diversos integrantes.

A cadeia deve caminhar para uma nova estrutura, marcada pela participação ativa de todos os seus parceiros, pela fragmentação do controle da informação, ao mesmo tempo em que se integra em um repositório público ao acesso dos agentes envolvidos, e pelo foco na eficiência econômica e na transparência de gestão.

Os principais fatores que motivam essas mudanças empresariais são:

− a competição entre as cadeias de suprimentos correlatas, fomentando a auto-organização de relações dos elos da cadeia com a coordenação e a negociação em torno de interesses e benefícios mútuos, evitando, assim, a gestão dispersa de recursos interdependentes;

− a necessidade de transparência que solidifique as relações cooperativas entre os diversos agentes constituintes da cadeia de suprimentos;

− a busca constante da eficiência e da redução de custos. Geralmente, quanto menos organizados os mercados, maiores os custos de transação. Historicamente, tem se tornado mais barato disseminar informação, em função dos avanços tecnológicos, o que contribui para a redução dos custos de transação;

− a procura incansável pela vantagem competitiva; − a necessidade de agregar valor ao consumidor; − exigências legais e de consciência ambiental.

O modelo se configura em uma coordenação negociada de organismos, instituições e sistemas autônomos operacionalmente, mas conectados por interdependência recíproca.

Fator chave de sucesso para esse modelo e competência necessária a toda a cadeia é que seus membros manifestem vontade de cooperar ativamente para o resultado que procuram obter, reunindo recursos e informações e colocando-se na mesma situação de igualdade.

Em um arranjo como uma cadeia de suprimentos, pressupõe-se que deva existir envolvimento e confiança entre as empresas. Assim, se uma empresa busca apenas a vantagem em custos como norteadora de suas decisões estratégicas, os pressupostos básicos para a gestão da cadeia de suprimentos poderão ficar comprometidos.

O tema da governança mostra a problemática que está por trás da presente tese: a gestão além das fronteiras de uma empresa individual. Subotimizações podem ocorrer, nos arranjos como um todo, quando a gestão das empresas é feita considerando-as como agentes isolados das demais organizações com as quais elas se relacionam.

Por meio da integração logística total, o principal objetivo que consiste em modelar os fluxos de retorno dos bens de pós-consumo, é muito mais facilmente atingido com a gestão das cadeias de suprimentos.