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3 AMBIENTE ORGANIZACIONAL CARACTERIZADO PELAS

3.10 MEIO AMBIENTE E LEGISLAÇÃO PERTINENTE AO SCM

3.10.3 Princípio da precaução

No Brasil, de acordo com Colombo (2004), o princípio da precaução é a base das leis e das práticas relacionadas à preservação do meio ambiente. O autor comenta que existem diversos princípios específicos do direito ambiental, mas ressalta que o princípio da precaução constitui o principal norteador destas políticas. Segundo o autor, o princípio da precaução determina que não se pode exercer ação alguma caso haja dúvida de que esta possa produzir danos à saúde e ao meio ambiente.

De acordo com Pires (2006), por princípio da precaução entende-se que as partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas, quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis. Conforme o autor, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar tais medidas. O princípio da precaução foi consagrado como norteador do processo de tomada de decisão, privilegiando, diante de incertezas científicas a respeito de determinado assunto, a ação ao invés da omissão.

Os princípios número 7 e 15 da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de Janeiro em 1992, definiram mais claramente as normas orientadoras do princípio da precaução:

Princípio 7: Os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre. Considerando as diversas contribuições para a degradação do meio ambiente global, os Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas. Os países desenvolvidos reconhecem a responsabilidade que lhes cabe na busca internacional do desenvolvimento sustentável, tendo em vista as pressões exercidas por suas sociedades sobre o meio ambiente global e as tecnologias e recursos financeiros que controlam (Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente, 1992, p. 3).

Princípio 15: De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental (Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente, 1992, p. 5).

O artigo 225 da Constituição Federal Brasileira também afirma a aplicação desse princípio na ordem interna do país.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§1° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público:

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente (BRASIL, 1988).

Com o objetivo de evitar danos, de acordo com o inciso IV do artigo supra- citado, é necessário que se faça um estudo prévio de impacto ambiental em qualquer atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, sem exceção para qualquer atividade ou produto.

Tal avaliação deve ser realizada por uma espécie de perícia científica, na qual, diante de bases científicas insuficientes ou diante de alguma incerteza, deverá ser aplicado o princípio da precaução.

A Declaração do Rio de Janeiro, de 1992, também dispôs a respeito do referido estudo de impacto ambiental, em seu princípio 17:

Princípio 17: A avaliação de impacto ambiental, como instrumento internacional, deve ser empreendida para as atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional competente (Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente, 1992, p. 7).

Portanto, no caso de aplicação do princípio da precaução, é imprescindível a prévia análise de impacto ambiental.

Também é importante mencionar outras leis, além do dispositivo constitucional analisado, as quais versam sobre a responsabilidade civil e penal em relação à infração de normas de proteção ao meio ambiente. São elas: a Lei

6.938/81, que trata da política nacional do meio ambiente (a qual será tratada mais à frente) e a Lei 7.437/85, que trata da Ação Civil Pública.

Por fim, destaca-se ainda o princípio da precaução na Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, no artigo 54 caput e §3º, que dispõe:

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Pena – reclusão, de um a quatro anos e multa.

§3º - Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior [reclusão, de um a quatro anos e multa], quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em casos de risco de dano ambiental grave ou irreversível (Lei 9.605/1998, Senado Federal).

Sobre o referido estudo prévio de impacto ambiental, ainda que não existam critérios específicos adotados e positivados na legislação brasileira, foi o mesmo conceituado pela Resolução do Conama nº 001/1986:

A análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazo; temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a destruição do ônus e benefícios sociais (www.ibama.gov.br/conama).

Outro fator de extrema importância a ser mencionado é a inversão do ônus da prova, ou seja, cabe àqueles que pretendem introduzir a novidade em um determinado mercado, comprovar a segurança do produto frente ao ambiente e à sociedade em geral.

Para complementar as questões legais referentes ao meio ambiente, o item a seguir apresenta mais um fator considerado fundamental sobre esse assunto: a responsabilidade objetiva.