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1. IMPLANTAÇÃO DOS BACHARELADOS INTERDISCIPLINARES

1.1. CONTEXTO NACIONAL: A POLÍTICA DE EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO INÍCIO DO SÉCULO

1.1.4. Modelos curriculares em vigência na UFBA

Mas, não podemos iniciar a nossa abordagem sobre a implantação dos Bacharelados Interdisciplinares na UFBA, sem antes pontuarmos sobre a concepção histórica e estrutural desta Universidade, composta por modelos curriculares regulados numa composição disciplinar e conteudista, com vagas concentradas basicamente nos cursos diurnos, até 1999, ano em que foi implantado o primeiro curso de graduação com oferta de vagas no turno noturno, ampliando-se para dois cursos noturnos em 2008 e 33 em 2012 (UFBA, 2014).

Destarte, embora seja um tema repetido em muitas defesas dos que estudam a universidade, é importante reiterar que a formatação educacional superior brasileira, conceitualmente, ainda adota o modelo bonapartista francês75, pautado pelo regime de formação disciplinar. Tal modelo, voltado para os conhecimentos e competências específicas para a profissionalização do saber, recebe a influência da arquitetura organizacional das Faculdades, ou seja, estruturas lineares de educação superior com o direcionamento disciplinar, técnico e vocacional dos conteúdos.

A consequência disso no século XIX foi uma hegemonia da formação profissional, ou seja, o que era uma instituição de cultura e do conhecimento se tornou uma instituição promotora de formação técnica e profissional, quero dizer, vocacional. Cabanis faz uma apologia das disciplinas. Seu modelo fragmentou a formação. A reforma foi uma resposta à crise universitária, mas a tornou apenas um organismo coordenador de entidades independentes: as faculdades. E isso ainda é comum entre nós no Brasil.76

Na reflexão do autor, ele ilustra que essa concepção nacional, teve o mesmo direcionamento estrutural para a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que em 1946 constituiu-se como universidade através da síntese entre escolas e faculdades em funcionamento na capital baiana.

Em 1960, sua estrutura em oferta de cursos deu-se através das unidades universitárias de seus 38 cursos de graduação em todas as áreas do conhecimento, para somente a partir do século XX apontar como núcleo regional de formação para quadros profissionais, especificamente nas áreas de artes, humanidades, saúde, engenharia e geociências77, consolidando-se como instituição de excelência em ensino e pesquisa, notadamente com

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Reforma Cabanis (França 1794-1809).

76 De acordo com Naomar Almeida, ao discutir os modelos que contribuíram para as reformas da universidade, conforme livro Universidade Nova: textos críticos e esperançosos (2007).

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estímulo à economia baiana, à política, à cultura e às artes.

Hoje, 68 anos da sua fundação e após a concepção do Projeto UFBA - Universidade Nova, em 2006, a UFBA, estruturou seus cursos e consequentemente seus modelos curriculares separando-os em três grandes nichos: Cursos de Progressão Linear (CPL), Bacharelados Interdisciplinares e Cursos Superiores de Tecnologia (CST).

A partir da Resolução n° 02/200878, Foi regulamentado o ordenamento para a organização dos cursos de graduação, estabelecendo e definindo princípios, modalidades79, critérios e padrões de funcionamento destes cursos, assim como a normatização dos componentes curriculares, dividindo-os quanto à sua natureza e modalidade80.

Esta mesma resolução prevê que o projeto político-pedagógico respectivo a cada modalidade de curso de graduação, poderá ser organizado em regimes curriculares81 de progressão linear e de dois ciclos, assim como as formas de transição e/ou integração entre dois regimes curriculares.

1.1.4.1. Modalidades dos cursos de graduação

Atualmente a UFBA possui hoje 33 unidades acadêmicas, nas quais funcionam 111 opções de cursos, divididos em 101 Cursos de Progressão Linear (CPLs), oito Bacharelados Interdisciplinares (BIs) e dois Cursos Superiores de Tecnologia (CSTs)82.

Conhecer os modelos de curriculares em vigência na UFBA, especialmente os cursos de progressão linear, nos ajuda a entender as diferenciações na natureza dos seus formatos curriculares e suas arquiteturas em relação aos bacharelados interdisciplinares.

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Aprovada pelo Conselho de Pesquisa e Extensão da UFBA (Consepe) em 01 de julho de 2008.

79 De acordo com o Art. 1° desta resolução, as modalidades e titulações na UFBA estão assim distribuídas: I- Licenciatura; II- Bacharelados; III- Formação Profissional; IV- Superior em Tecnologia e V- Bacharelado Interdisciplinar.

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Quanto à sua natureza os componentes curriculares estão assim divididos: obrigatórios, optativos e livres; Quanto a sua modalidade em: disciplinas, atividade, estágio, atividades complementares e trabalho de conclusão de curso.

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O Art. 5° da Resolução n° 02/2008, conceitua assim seus regimes curriculares: I- progressão linear, na qual os estudantes integralizam a formação acadêmica num único percurso curricular até a obtenção do diploma; II- de dois ciclos, sendo o primeiro na área do curso e o segundo, compreendendo o conjunto de componentes curriculares específicos, organizados de modo a completar a formação, de acordo com a legislação vigente. 82 A UFBA, oferece dois Cursos Superiores de Tecnologia: Gestão Pública e Gestão Social, Transporte Terrestre: gestão do transporte e do trânsito, criados através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sob o n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996, regulamentado pelo Decreto Federal de n° 5.154 de 23 de julho de 2004, com objetivo da inserção direta de profissionais com formação técnica para o mercado de trabalho. Considerando que não tem interface direta com a composição curricular dos Bacharelados Interdisciplinares, apenas citamos estes cursos.

Essa fundamentação nos ajudará a descrever e demonstrar através do capítulo 3., as perspectivas sobre demandas, atendimentos e negativas de ofertas de vagas de componentes curriculares externos83 com trânsito nos BIs e como eles impactam na composição do planejamento acadêmico desses cursos.

1.1.4.2. Cursos de Progressão Linear (CPLs)

Esses cursos assumem uma matriz curricular linear, especificadas nos seus projetos pedagógicos. Isso quer dizer, que o estudante transita num percurso curricular único, no qual os conhecimentos são delineados para o dimensionamento de competências técnicas e específicas do curso escolhido.

Em geral, possuem de seis a 12 semestres regulares e suas matrizes curriculares contemplam três naturezas: componentes obrigatórios, componentes optativos e/ou eletivos e atividades complementares (ACs), concentrando a sua maior carga horária nos componentes obrigatórios e adotando um padrão entre 60 e 300 horas para as ACs. Alguns cursos apresentam modalidades como estágio, seminários e trabalhos e conclusão de curso e outros não incluíram as atividades complementares no seu currículo.

Atualmente a estrutura de oferta dos cursos de progressão linear na UFBA é dividida em 101 opções, congregadas em cinco grandes grupos por áreas de conhecimento. O Quadro 1., a seguir ilustra a distribuição dos CPLs por grupo:

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Expressão não normatizada, utilizada internamente no âmbito da gestão acadêmica dos BI para identificar os componentes curriculares de outras unidades universitárias da UFBA durante o planejamento acadêmico do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, Prof. Milton Santos, unidade universitária que abarca os Bacharelados Interdisciplinares na UFBA.

Quadro 1 – Relação dos Cursos de Progressão Linear da UFBA, Campus Salvador e Vitória da

Conquista.