• Nenhum resultado encontrado

Modelos de competência em informação elaborados no contexto de

2.7 Modelos de Competência em Informação

2.7.1 Modelos de competência em informação elaborados no contexto de

O conceito matricial IL (CoInfo) foi ressignificado em vários lugares do mundo por organizações representativas da classe bibliotecária e por organizações multilaterais, gerando modelos específicos e padrões adaptados aos contextos locais e aos objetivos institucionais. Dentre os modelos de CoInfo destas organizações foram destacadas na presente pesquisa seis contribuições, nomeadamente, da American Librarian Association (ALA), da Society of College National and University Libraries (SCONUL), da Australian and New Zealand Institute for Information Literacy (ANZIL), da Nordic (NORDINFOLIT), da European Network for Information Literacy (ENIL) e da Unesco, Information for All (IFA).

O modelo da ALA, voltado ao Ensino Superior, inclui um conjunto de cinco competências necessárias ao estudante universitário expressas em “padrões”. A

29 Disponível em: http://www.labirintodosaber.com.br/wp-content/uploads/2015/05/enancib- seminario-relatorio-final.docx.pdf

primeira competência é determinar a natureza e a extensão da informação necessária (padrão 1). A segunda, acessar efetivamente e eficientemente a informação necessária (padrão 2). A terceira, avaliar criticamente a informação e suas fontes e incorporar informações novas em sua base de conhecimento e sistema de valor (padrão 3). A quarta, usar a informação, individualmente ou como membro de um grupo, para alcançar propósitos específicos (padrão 4). A quinta e última, entender muitas das questões econômicas, legais e sociais que envolvem o acesso e o uso da informação de maneira ética e legal (padrão 5).

Além de propor os cinco padrões, a ALA tem contribuído para os debates sobre educação inclusiva no cenário americano, editando publicações sobre o tema. Uma dessas publicações, a Everyone’s Special: equal opportunities for all students to learn, (2011)30 tem especial significado e importante contribuição para a presente pesquisa. Isso porque revela profunda preocupação em relação à inclusão de pessoas com deficiência, ressaltando as questões sobre acesso, uso, e comunicação da informação.

O modelo da SCONUL (1999), no Reino Unido, está baseado em sete pilares que reúnem um conjunto de habilidades e se direciona, também e principalmente, para o Ensino Superior. Pode ser utilizado tanto por professores do Ensino Superior quanto por bibliotecários de bibliotecas universitárias. A revisão do modelo em 2011 ampliou os enfoques numa perspectiva mais genérica, posto que admite “information literacy” como um conceito guarda-chuva de múltiplas abordagens. Nesse sentido, enfoca as informações visual, digital, midiática e acadêmica, assim como a gestão dessas informações, considerando que o desenvolvimento de competência em informação é um processo holístico, de multitarefas.

O modelo compreende, também, relevante contribuição à presente pesquisa. A instituição, por meio de um dos seus grupos de trabalho, produziu material31 com vistas a nortear a acessibilidade para todo usuário com algum tipo de deficiência. O guia fornece orientações quanto à acessibilidade fisica, utilização de nomenclatura e 30 Disponivel em: http://www.ala.org/aasl/sites/ala.org.aasl/files/content/aaslpubsandjournals/knowledgequest/ docs/KQ_30_3_JanFeb11_WEB.pdf 31 Disponível em: https://www.sconul.ac.uk/sites/default/files/documents/access_disabilities_0.pdf

tratamentos adequados para a diversidade de tipologias de deficiências e exemplos de boas práticas. Apresenta ainda especificações sobre cada tipologia de deficiências, suas derivações, bem como sugestões de recursos de tecnologias assistivas de comunicação alternativa, aumentativa e bilingue.

O modelo da ANZIL também está organizado em seis grandes áreas e está pautado por uma concepção aberta de educabilidade que considera a Competência em Informação como pré-requisito para o exercício cidadão participativo. Contempla, desse modo, a inclusão social, a produção de novos conhecimentos, a capacitação empresarial e organizacional e, principalmente, o aprendizado ao longo da vida (ANZIL, 2006, p. 4). É também direcionado para o Ensino Superior, aborda a aprendizagem numa perspectiva perene (estende-se ao longo da vida) e não limitada ao mero uso de tecnologias, de softwares, mas corresponde a uma estrutura intelectual.

O modelo da Nordinfolit, tem contribuído para influenciar o desenvolvimento e aplicação do conceito de Competência em Informação nos países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia). Segundo Tonolen e Toivonen (2006), por mieo de um trabalho sobre o estado da arte de information iiteracy, a Nordinfolit atua em três áreas principais. A primeira consitui a oferta de cursos de extensão para bibliotecários. A segunda compreende a organização de encontros para formulação de diretrizes mais genéricas. Finalmente, a terceira refere-se à mobilização de rede de interlocutores para debates em torno de atividades e conceituações científicas por meio da web. Sua linha de trabalho para o desenvolvimento da Competência em Informação foca esforços no Ensino Superior, por meio das bibliotecas universitárias. A estas recomenda que ampliem e fortaleçam seu papel pedagógico, introduzindo um discurso de tornar bibliotecarios mais professores (educadores) para uso da informação.

O modelo da ENIL envolve uma rede de pesquisadores que atuam em áreas. A primeira é a definição de uma agenda comum de investigação. A segunda relaciona-se à produção de estudos colaborativos e de recolha de dados comparáveis. A terceria é responsável pela promoção de uma cultura da informação nos países europeus. A quarta é concernente ao fomento à cooperação europeia no domínio da Competência em Informação. A quinta e última foca na troca de

experiências e discussão de melhores práticas. A instituição introduziu o discurso europeu no âmbito dos debates acadêmicos, contribuindo para romper com o discurso hegemônico americano sobre o conceito matricial de information literacy (IL). Apesar da intencionalidade de contribuição, Basili (2001) reconhece por um lado a robustez da proposta americana e, por outro lado, a fragilidade da proposta europeia face às demonstrações episódicas e fragmentadas.

A proposta europeia encaminha-se numa perspectiva interdisciplinar capaz de cruzar esforços de políticas de Educação com políticas de Informação, e, segundo Basili (2003), estrutura-se na tríade conectividade, conteúdo e competências para uma política nacional de informação. Para a autora, a política europeia enfatiza a dimensão conectividade de uma infraestrutura de TIC eficiente. A dimensão conteúdo é expressa no leque de oferta de serviços públicos eletrônicos (e- government, e-health). Quanto à dimensão competências, Basili (2003) reconhece a necessidade de fortalecer uma cultura de informação, sugerindo que a instituição fomente o intercâmbio, na perspectiva de produzir indicadores mais genéricos que permitam o desenvolvimento de resultados compartilháveis e comparáveis.

Os modelos intergovernamentais, de abrangência contextual mais universalizada, influenciam, entre outras questões, a formulação de políticas públicas setoriais e a implantação de modelos de Competência em Informação por instituições de classe e de educação formal e não-formal. Dois modelos foram agrupados neste tópico. O primeiro, da IFLA e, o segundo, da UNESCO Information for All (IFA), organizado por Forest Horton Junior (UNESCO, 2007)32 . O modelo da Unesco, Information for All, traz na expressividade do nome sua condição de aberto para todos. As ações empreendidas pelo sujeito em seu processo de busca e uso da informação são consideradas como saberes, ora de ordem prática, ora de ordem cognitiva. Na primeira etapa, diferencia-se por não considerar apenas o reconhecimento de necessidades informacionais como pré-requisito ou propulsor do processo, destacando a necessidade de uma tomada de consciência. Nesse sentido, chama a atenção para um reconhecimento mais profundo desta

32 Disponível em:

<http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CI/CI/pdf/news/overview_info_lit_re sources.pdf>

necessidade, que certamente influencia o rigor necessário na definição da informação necessária que propõe para a segunda etapa. Ao propor uma dúvida no processo quanto à existência ou não da informação, o autor inova na proposta, posto que os modelos anteriores estão estruturados numa crença intrínseca de que qualquer informação que o sujeito necessite existe e está disponível. Neste ponto considera que há um gatilho propulsor da prática investigativa pelo empreendimento de esforços de produção de uma nova informação, ou uma informação até o momento inexistente. Ele insere na sétima etapa a confiabilidade das fontes como a lógica unificadora de processos considerados de forma etapista em outros modelos, quais sejam: organização, análise, interpretação e avaliação da informação. Outra inovação do modelo é a inserção de uma postura preservacionista da informação numa perspectiva de reutilização e descarte de informações avaliadas como pertinentes ou desnecessárias.

A Unesco realiza oficinas estruturadas em formato on-line e com previsão de atividades práticas a partir de material já produzido pela instituição e direcionado para profissionais da informação, professores, profissionais de recursos humanos e gestores de um modo geral que tenham formação terciária. No modelo IFA a Unesco propôs o conceito Media and Information Literacy (MIL) como substitutivo ao information literacy, e como conceito “guarda-chuva”, que absorve um conjunto de literacias, como ilustrado na figura 5, a seguir.

Figura 5 Multialfabetizações da Unesco

Fonte: Tradução e quadro elaborado pela autora33

33 Baseado em: http://unesco.mil-for-teachers.unaoc.org/foreword/unifying-notions-of-media- and-information-literacy/

O termo multialfabetizações não é uma novidade na atualidade, mas sim, uma releitura das preocupações que o grupo de especialistas (New London Group) no inicio da década de noventa se reuniram para debater sobre as implicações das tecnologias no ambiente educativo (COPE, KALANTZIS, 2009). Embora as tecnologias da época se diferenciam das atuais em termos de processamento, eficiência e design, já se discutia por exemplo, questões sobre autoria coletiva, uso de tecnologias na otimização da aprendizagem e das técnicas de ensino.

Uma vez que a educação se constitui em um arena de debates construtivos sobre o uso de informação e de tecnologias para acesso, produção, disseminação, importa refletir sobre os modelos de competência em informação desenvolvidos conforme é abordado no tópico seguinte.