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I. Enquadramento teórico

1.5. Modelos de Organização Educativa

As imagens organizacionais de escola resultam da transferência para a organização escolar das teorias anteriormente apresentadas, originando deste modo um conceito diferente de escola e consequentemente um conceito de organização também ele diferente. Costa, justifica a ênfase colocada nestas imagens de escola, as quais devem ser «entendidas simultaneamente quer como janelas que permitem ver o mundo a partir de diferentes enquadramentos, quer como lentes que possibilitam uma melhor focagem do real (1996: 15).

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Existem várias propostas de modelos de organização educativa de acordo com os diversos autores.

Os modelos formais de organização educativa agrupam junto de si outros modelos semelhantes, onde predominam os elementos oficiais e estruturais das organizações e em que se destacam as abordagens racionais.

Os elementos que dirigem organizações de acordo com estes modelos exercem uma autoridade legitimada perante os departamentos centrais e têm como objectivo o rendimento financeiro. Enfatizam os elementos oficiais e estruturais, baseados na racionalidade, isto é, as organizações são instituições hierarquizadas em que existe uma estrutura operativa. Isto é, no topo, uma direcção bem definida e aceite legitima a sua posição formal que comanda toda a acção direccionada para objectivos conhecidos por todos os elementos que integram e constituem a entidade educativa.

Existe ainda uma diversidade relativamente alargada de diversos modelos:

1. Os modelos sistémicos caracterizados pela unidade e integridade da organização, geradores de conflitos pela busca de satisfação dos interesses individuais e grupais. Nesta perspectiva a escola é dirigida por objectivos, vista como uma escola eficaz e eficiente, em que tudo é planeado até ao último pormenor. A qualidade é controlada minuciosamente e a selecção e promoção dos funcionários sucede-se em função do índice de produtividade – uma escola prescritiva – baseada nas diversas versões das teorias clássicas. Contudo, segundo alguns autores, esta visão empresarial da escola é considerada uma crise da escola, (Coleman e Husén citados por Costa: 1996). Os mesmos autores referem que o ensino se torna mais formal e administrativo, à semelhança da indústria transformadora ou dos serviços, cujo objectivo último é o de fornecer um produto, do que resulta uma crise na organização educativa

2. Os modelos burocráticos, os quais privilegiam diferentes níveis e hierarquias de responsabilidades, caracterizados pela divisão do trabalho e organizados sempre em função de determinados objectivos. A escola enquanto sistema burocrático remete-nos para a teoria clássica de Max Weber, a qual se caracteriza pela centralização das decisões dos órgãos de cúpula do Ministério da Educação, na regulamentação pormenorizada de

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todas as actividades, na previsibilidade de planeamento, com base numa planificação minuciosa, na formalização, hierarquização e centralização, pelo recurso obsessivo aos documentos escritos, em actuação com base em comportamentos estandardizados, pela impessoalidade nas relações humanas, pela utilização de uma pedagogia uniforme, com recurso aos mesmos conteúdos e às mesmas metodologias para todas as situações.

Estas características, típicas dos últimos modelos referenciados, facilmente se identificam nas escolas portuguesas. Neste contexto, (Costa, 1996: 50) cita João Formosinho, o qual salienta «características da burocracia apontadas por Weber e que facilmente se apontam à escola […] um sistema onde predomina a lógica do centralismo burocrático».

3. Os modelos racionais que destacam a importância atribuída aos processos de tomada de decisão. «Tomada de decisões na organização decorre de acordo com processos de confrontação e negociação, tendo por base os interesses conflituantes e as estratégias de poder desencadeadas pelos diversos grupos». (Costa, 1996: 78).

Deste modo, alguns factores devem ser tidos em conta na caracterização desta imagem: a escassez de recursos, a diversidade ideológica, a conflitualidade de interesses, as diferenças de personalidade. Em suma, os interesses, o conflito, o poder e a negociação são conceitos básicos que alicerçam esta imagem.

Em Portugal, esta imagem é referida por Natércio, citado por Costa e verifica-se ao nível das «situações educacionais, políticas de interacção, conflito entre autoridades político-administrativa… a escola foi entendida como um sistema político onde diferentes clientelas e estratégias díspares interagem e influenciam os decisores de modo a obterem decisões e acções favoráveis (Costa, 1996: 87).

4. Os modelos democráticos são aqueles em que a tomada de decisões é feita de forma partilhada, uma vez que a essência da organização é determinada pelas relações estabelecidas entre os seus membros e, por isso, o consenso é factor determinante. Como refere Costa «à visão racionalista e mecanicista do indivíduo se sobrepõe um novo entendimento do trabalho

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que deixa de ser visto como um mero encadeamento mecânico para aparecer como pessoa dependente da complexidade social e interpessoal em que se encontra inserido e dos aspectos emocionais aí decorrentes» (Costa, 1996: 59). Os elementos integrados num modelo deste tipo aceitam a existência de uma estrutura e de um conjunto de valores comuns, embora falhem, se ocorre ausência de participação.

5. Os modelos ambíguos acentuam a incerteza que se produz nas organizações, pela complexidade das suas relações, pela dificuldade em estabelecer objectivos e pela fraca ligação que existe entre os grupos que a compõem. Partindo-se do princípio de que a escola é uma realidade complexa, heterogénea, problemática e ambígua, suportada por objectivos, tecnologias pouco claras e participação fluida A tomada de decisões surge de uma forma desordenada, imprevisível e do amontoado de problemas, soluções e estratégias. Um estabelecimento é constituído por uma sobreposição de diversos órgãos e indivíduos frouxamente unidos, as organizações são vulneráveis ao ambiente exterior e os processos organizativos assumem um carácter simbólico. Esta imagem é repartida em temáticas diversas: escola como anarquia organizada; escola como sistema debilmente articulado ou escola como sistema caótico.

Embora, esta imagem pareça uma completa desorganização, Weick, citado por Costa (1996), refere as organizações podem recorrer ao processo de resolução de

caixote do lixo, no entanto, os caixotes do lixo possuem disposições que implicam uma

estrutura.

Sintetizando, a desconexão aparente é transformada numa vantagem depôs de assente num bom relacionamento individual e de grupo, pressupondo a existência de uma cultura fortemente enraizada e de um bom clima.

O clima organizacional numa escola pode ser qualificado através das mais variadas denominações que geralmente, assentam em dois pólos de uma mesma escala contínua que são designados de aberto e fechado. Um clima fechado corresponde a um ambiente de trabalho considerado como autocrático, rígido e constrangedor, em que os indivíduos não são considerados nem consultados. Pelo contrário, um clima aberto descreve um meio de trabalho participativo, no qual o indivíduo tem um

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reconhecimento próprio, no quadro de uma estratégia de desenvolvimento do seu potencial.

2. Gestão e Administração Escolar

Os estudos e investigações ao nível organizacional e administrativo da educação, em Portugal, identificam-se de uma forma relativamente autónoma e reconhecível a partir de uma matriz académica que se articula criticamente mas que não se confunde com a produção jurídica e normativa, ou com as práticas de organização e administração do sistema educativo e das escolas. As concepções de organização representam uma expressão marcada, sobretudo ao nível do ensino, por um claro predomínio das abordagens jurídicas e normativas, sendo reforçadas pela tradição de centralização política e administrativa e, por outro lado, beneficiadas na sua afirmação quase exclusiva pela omissão de perspectivas das Ciências Sociais e das Ciências da Educação, ou até mesmo pela sua aparente desarticulação com as teorias e ideologias organizacionais e administrativas produzidas ao longo deste século.