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Os modelos de produção flexíveis e seus efeitos sobre o mundo do trabalho

2 NEOLIBERALISMO, OS NOVOS MODELOS DE PRODUÇÃO FLEXÍVEIS E SEUS

2.2 Os modelos de produção flexíveis e seus efeitos sobre o mundo do trabalho

No que se refere à organização do trabalho, pode-se considerar que, no final do Século 20, da mesma forma que houve uma gama de alterações e mutações na base técnica e organizacional do processo produtivo, ocorreram também profundas mudanças na realização e organização do trabalho, pois, nenhuma forma de sistema produtivo se organiza e desenvolve sem que altere as formas de apropriação do trabalho humano.

Percebe-se que há décadas o trabalho vem passando por transformações, primeiro pelo sistema produtivo taylorista/fordista, onde o uso da mecanização e às técnicas organizacionais foram base para o desenvolvimento da produção e do trabalho durante a maior parte do Século 20. Mais tarde, no final do século, a metodologia produtiva baseada no toyotismo e na especialização flexível se adequou à utilização da automação no processo produtivo e na realização do trabalho. A introdução das tecnologias da informação, somadas às políticas neoliberais, acabaram redefinindo acentuadamente esse método produtivo.

Como bem sugere Castells, a mecanização e, num momento posterior, a automação foram transformando as formas de realização do trabalho humano. Estes dois fatores desde o início sempre provocaram “debates semelhantes sobre questões relacionadas a demissão de trabalhadores, ‘desespecialização’ versus ‘reespecialização’, produtividade versus alienação,

112

CASTELLS, op. cit., p. 182.

113 Idem, ibidem, p. 188. A ideia de que reestruturação produtiva, neoliberalismo e globalização são partes de um

mesmo processo, representando a tríade das mudanças no mundo do trabalho, é exposta por FILGUEIRA, Luis Antonio Mattos. História do Plano Real: fundamentos, impactos e contradições. 3ª edição. São Paulo: Boitempo, 2012.

controle administrativo versus autonomia dos trabalhadores”.114 Portanto, nessa nova era de reestruturação produtiva flexível, o que ocorre de novo é que esta vem calcada nas tecnologias informacionais, sendo uma reconfiguração do processo de organização do trabalho que já se realizara sob os moldes do toyotismo nos anos 1950. Nesse período recente, em função do profundo avanço tecnológico, as técnicas e formas de gerenciamento e controle se intensificam. O processo do trabalho adquire novos conceitos baseados na integração de tarefas, na flexibilidade da mão de obra e na multifuncionalidade. Aquele trabalhador da era fordista, que realizava seu trabalho em postos fixos e especializados, passou a perder espaços na nova era produtiva dando lugar ao trabalhador participativo e polivante.

A trajetória do sistema produtivo toyotista, desde seu surgimento, se relaciona com tentativas de potencializar ao máximo o rendimento do trabalho vivo, do mesmo modo que buscou sempre inovar e aperfeiçoar os equipamentos, os meios de trabalho. Na fábrica se impunha realizando a máxima flexibilidade da organização do trabalho e da linha automatizada até o ponto em que o trabalhador pudesse suportar. A relação do trabalhador com a máquina automatizada era dada pela estratégia de um único trabalhador supervisionar várias máquinas, o que por sua vez, aumentaria o ritmo de trabalho e a produtividade. Nesse sentido Eunice Oliveira enfatiza, que

Desde 1955, na indústria Toyota um trabalhador se ocupa, em média, de cinco máquinas. Enquanto quatro máquinas trabalham, automaticamente, os operários carregam, descarregam e preparam o trabalho para a quinta máquina. [...] o operário deixa de atuar numa máquina, em um posto de trabalho isolado, para atuar como membro de uma equipe de operários, diante de um sistema automatizado, em postos polivalentes.115

A produção confiara-se às equipes de trabalho que se encarregavam de um conjunto de tarefas, além disso, esses trabalhadores obtinham margem decisória para estabelecer seu programa de trabalho tendo em vista as metas fixadas pela gerência no que tange aos aspectos da qualidade e da quantidade dos bens produzidos. Cada equipe seria responsável pelos quesitos da qualidade de sua produção, podendo interromper a cadeia produtiva caso percebesse algum defeito. Do mesmo modo, esse operário verificava os motivos de tal ocorrido para que pudesse evitar que tal problema semelhante pudesse ocorrer novamente, passando a informação para toda equipe de trabalho. Em última instância, o objetivo deveria ser zero-defeitos, sempre visando a inserção da qualidade total em todo o processo produtivo.

114 CASTELLS, op. cit., p. 305. 115

Alves lembra que essa “é a ideia de ‘melhoria contínua’ (kaisen116

), que exige dos operadores um savoir-faire que só eles têm”.117

Com essa integração de tarefas, acabava-se por eliminar o setor de reparos ao final da cadeia de montagem, que gerava desperdício de tempo e gastos financeiros. O setor de manutenção também acabava se reduzindo ou, até mesmo, eliminado na medida em que as equipes se encarregavam de realizá-las. Em função dessa forma de organização do trabalho, é que “os integrantes das equipes de produção deveriam ser operários polivalentes, com domínio de vários ofícios” o que possibilitava “a rotação de uma tarefa para outra”, ao mesmo tempo em que permitia que “cada integrante da equipe tocasse não apenas uma, mas em várias máquinas ao mesmo tempo”.118

Castells avalia como sendo uma diferenciação importante, entre os modelos de produção toyotista e o fordista, o modo original e novo do gerenciamento do processo de trabalho do modelo japonês. O toyotismo ou modelo de produção flexível aboliu a função de trabalhadores especializados em uma determinada função para torná-los especialistas multifuncionais. Essa ideia é sintetizada pelo economista japonês Masahiko Aoki que aponta a organização do trabalho como a chave do sucesso das empresas japonesas:

A principal diferença entre a empresa norte-americana e a japonesa pode ser resumida assim: a empresa norte-americana enfatiza a eficiência conseguida via grande especialização e profunda demarcação de função, ao passo que a empresa japonesa dá ênfase à capacidade de o grupo de trabalhadores lidar com as emergências locais anonimamente, o que se aprende fazendo e compartilhando conhecimento no chão da fábrica.119

Desta maneira se percebe que o modelo de produção flexível exige um maior envolvimento do trabalhador com os objetivos empresariais o que requer a participação e envolvimento do trabalhador com os objetivos da empresa. Aquele saber do operário que o fordismo desprezou e transferiu para a esfera da gerência científica e para os níveis de elaboração, o toyotismo irá transferir para a força de trabalho, visando com isso, a apropriação crescente da dimensão intelectual e das capacidades cognitivas do trabalhador, ao mesmo tempo em que, procura envolver forte e intensamente a subjetividade operária. A este

116Conceito de aperfeiçoamento contínuo e considerado a chave do sucesso dos métodos japoneses de produção. 117 ALVES, 2011, p. 56.

118 GORENDER, op. cit., p. 316. 119

envolvimento subjetivo é que os autores, Giovanni Alves e Alain Bihr, denominam de “engajamento estimulado”.

A nova empresa da produção flexível também denominada por Castells de “empresa criadora de conhecimentos” se baseia na interação organizacional entre “conhecimentos explícitos” e “conhecimentos tácitos” dos operários/empregados como forma de auxílio na fonte de inovações. Os modelos organizacionais incorporam uma definição mais ampla de conhecimentos. Além do conhecimento explícito e técnico a empresa incorpora também o conhecimento tácito e informal dos trabalhadores adquiridos através de experiências do mundo externo à empresa, podendo ser utilizados de maneira a melhorar o padrão de procedimentos produtivos.

Em um sistema econômico em que a inovação é importantíssima, a habilidade organizacional em manter as fontes de todas as formas de conhecimento torna-se a base da empresa inovadora. Esse processo organizacional, contudo, requer a participação intensa de todos os trabalhadores no processo de inovação [...].120

Ainda Leite enfatiza que o uso do trabalho no novo paradigma produtivo exige novos requisitos que passam a ser marcados por:

[...] atributos atitudinais e não apenas cognitivos, com destaque para responsabilidade e a postura cooperativa (seja em relação aos colegas, seja em relação à empresa), para o engajamento ou envolvimento com os objetivos gerenciais, para a disposição a continuar aprendendo, a se adaptar a novas situações, a ter iniciativa e a solucionar problemas.121

A racionalização do trabalho e a pressão realizada por meio do trabalho em equipe é uma forma de estimular o comprometimento, integração, aperfeiçoamento e busca pelo conhecimento constante do trabalhador de modo que possa contribuir mais e melhor na produção.122 Por isso, Alves complementa que, “a nova racionalização do trabalho imposta

120 CASTELLS, op. cit., p. 217.

121 LEITE, Márcia de Paula. Trabalho e sociedade em transformação: mudanças produtivas e atores sociais.

São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2003, p. 14.

122 Pesquisa desenvolvida no ano de 1994 nas fábricas GM-Saturn Complex e a Chrysler Jefferson North Plant,

fábricas de automóveis norte-americanas bem sucedidas e altamente produtivas, demonstraram que as mesmas se integravam das “mais avançadas máquinas e equipamentos baseados em computadores em suas operações e, ao mesmo tempo, transformaram a organização administrativa e do trabalho.” Os fatores determinantes do alto desempenho dessas indústrias com base tecnológica deviam-se: em primeiro lugar, ao “alto nível de qualificação de uma força de trabalho industrial experiente, cujos conhecimentos de produção e produtos foram crusciais para modificar um processo complexo, quando necessário”. Em segundo lugar, à cooperação do trabalho no chão da fábrica, os círculos de controle de qualidade e feedback dos trabalhadores no processo produtivo tudo isso realizado dentro da organização do trabalho em equipe e com um sistema de classificação profissional

por Ohno torna imprescindível a ‘captura’ da subjetividade do trabalho pela sinergia dada não apenas pelo poder da habilidade individual do operador, mas pelo poder do trabalho em equipe”.123

Do mesmo modo, a competição entre os operários que nessa forma de organização produtiva passa a ser comum e natural, está intrinsecamente ligada a ideia do trabalho em equipe. A supervisão que no processo produtivo desempenha um papel essencial acaba sendo realizada pelos próprios operários/trabalhadores que tendem a se tornar supervisores um do outro. “Somos todos chefes” esse é o lema do trabalho em equipe sob a organização do trabalho flexível.

É importante lembrar que as técnicas do trabalho em equipe não se restringem apenas à indústria automobilística, mas essa modalidade de gestão do trabalho se dissemina por indústrias e empresas dos mais diversos ramos em todo o mundo durante os anos de 1970 e 1980. De maneira que, tal técnica de organização do trabalho, conforme avalia Eunice Oliveira, opera tanto quanto técnica de intensificação ou de responsabilização do trabalhador, quanto como forma de internalizar o controle de uns trabalhadores sobre os outros, permitindo com isso até “a penalização na forma de castigo que uns trabalhadores impõe a outros, caso seu desempenho não seja satisfatório.” Por isso é que a autora considera que a maior descoberta dada pela organização do trabalho em equipe seja a do envolvimento do trabalhador de forma a colaborar continuamente, o que por sua vez, estabelece “a competição entre os trabalhadores, soterrando, por vários níveis de ocultação, a possibilidade de expressão da solidariedade de classe.”124

O envolvimento dos trabalhadores com os objetivos da empresa cria a consciência de que todos são supervisores do processo produtivo o que recai numa espécie de “gerenciamento participativo” de todos os trabalhadores envolvidos no processo. De forma que a habilidade, o comprometimento, a participação constante em tudo que ocorre na produção, o saber e as sugestões de novas ideias são fatores que contribuem para melhorar a organização da empresa e a sua posição competitiva.125 Porém, todo esse empenho e adesão

horizontal. Naquele momento, a fábrica Saturn havia eliminado o cargo de supervisor de primeira linha e a fábrica Chrysler transitava para mesma direção. Ver: CASTELLS, op. cit, p. 309-310.

123 ALVES, 2011, p. 57.

124 OLIVEIRA, op. cit., p. 28-29. 125

No que se refere às sugestões de novas ideias Oliveira enfatiza que a Toyota no Japão, no ano de 1984, ano em que “Boas Ideias, Bons Produtos” tornou-se Slogan, a empresa ocupou o quarto lugar em número de sugestões, “totalizando 2,1 milhões de sugestões (uma média de quarenta por funcionário), sendo que 95 % dos funcionários participaram. A implementação das sugestões foi na ordem de 100 %.” Ainda lembrando que, “entre 1962 e 1982, vinte anos portanto, as sugestões dos trabalhadores organizados em CCQ (Círculos de

do trabalhador nada têm de voluntário sendo isso resultado de toda uma operação de envolvimento e cooptação que a própria gestão da organização do trabalho desenvolve.

Estes procedimentos organizacionais é que dão conta do envolvimento estimulado dos trabalhadores e do sindicato no projeto da empresa, o que por sua vez, criam o espírito de uma força de trabalho agressiva e ambiciosa, competindo para ser a melhor, não somente enquanto grupo, mas também para avançar em suas posições pessoais. Toda essa política implantada no processo de trabalho faz com que se perca a consciência coletiva de classe e de categoria, pois:

Não há acordos coletivos ou garantias, prevalecendo, muito mais, formas que visem manter os sindicatos classistas afastados e impeçam organizações a partir do local de trabalho, através da antecipação de mecanismos que dificultem, ou mesmo impeçam o surgimento de qualquer elemento referente ao campo da solidariedade.126

Geralmente as estratégias de envolvimento operário relacionam-se com promessas e expectativas de ascensão na empresa, como no caso, por exemplo, de estagiários ou trabalhadores temporários de virem a se tornar trabalhadores permanentes, líderes de equipe ou até gerentes. Nesse caso, o sindicato-empresa se situa como supervisor participando da seleção e ascensão de trabalhadores na empresa.

Diante disso, visualiza-se uma colaboração dos trabalhadores no processo produtivo que traz um “sentido de fazer o trabalhador negar suas raízes e assumir a identidade de um supervisor menor, responsável pela qualidade da produção da equipe, que dedica seus esforços em nome dos objetivos do seu grupo.” E, em função dessa dominação sobre o coletivo de trabalho, calcadas de um “instrumental teórico de produção de sublimação das emoções e dos sentimentos de pertencimento à empresa”, é que a empresa Toyota conseguiu alcançar a mais alta produtividade tornando-se a empresa exemplo do mundo produtivo chegando a produzir “mais de cinco milhões de carros por ano, 10 % da produção de carros no mercado mundial”. Esse padrão de dominação foi sendo recriado e expandido através das “transnacionalizações desde a década de 1970, até as implantações da Toyota na década de 1990 nos EUA, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França e outras nações”.127

Controle de Qualidade) no Japão geraram um lucro na ordem de 20 bilhões de dólares.” OLIVEIRA, E. op. cit., p. 45-46.

126 Idem, ibidem, p. 46-47. 127

No entanto, todas essas transformações no processo de trabalho não ocorrem sem que aconteça uma série de mutações no interior das relações de trabalho e na forma de ser da classe trabalhadora. O processo de reestruturação do trabalho e da produção, além de terem provocado o maior controle sobre os trabalhadores, o aumento da intensificação do trabalho e a emergência da flexibilidade do trabalho e dos trabalhadores, alterou enormemente as formas de inserção na estrutura produtiva, as modalidades de emprego e as formas de representação sindical e política dos trabalhadores. Essas alterações acabaram gerando enormes conseqüências que afetaram diretamente o trabalho humano e a vida de enormes contingentes de trabalhadores que se espalham pelo mundo. Estes são atingidos por um conjunto de tendências imensamente insatisfatórias em termos sociais, ocasionadas pelo aumento do desemprego e da expansão das formas atípicas de contratação - como o trabalho temporário e em tempo parcial- do crescimento do trabalho informal e autônomo e do rebaixamento salarial.

Um primeiro aspecto que se visualiza é a expansiva redução do trabalho industrial, fabril, estável e especializado herdeiros da era da indústria verticalizada taylorista/fordista. A introdução das novas técnicas produtivas baseadas na produção enxuta, toyotista e flexível reestruturou em grande amplitude as formas de obtenção do trabalho. Em primeira instância houve o enxugamento tanto da produção - que passou a voltar-se às expectativas de demanda imediata - quanto da mão de obra necessária para o desempenho das funções produtivas. A enorme redução da mão de obra foi facilitada pela introdução da automação microeletrônica no processo produtivo, que propiciara um maior volume de produção num período de tempo muito inferior ao realizado pelo trabalhador manual e especializado da produção fordista, ao mesmo tempo em que se reduziam os custos de produção.

Neste sentido, Delgado complementa que a emergência da Terceira Revolução Industrial, através da “introdução da robótica, da microeletrônica e da microinformática no meio tecnológico, propiciou mais uma vez na História, a substituição do homem pela máquina” e, conseqüentemente, ocasionando a “desvalorização do trabalho humano, com acréscimo no número de desempregados”.128

No entanto, é importante esclarecer que a relação entre inovações tecnológicas e desemprego exige um olhar mais dinâmico sobre o contexto histórico, econômico e social em que esses fatos ocorrem. Quando observados dentro do contexto de concorrência entre

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capitais a introdução das inovações tecnológicas objetivam elevar a produtividade e reduzir o trabalho vivo incorporado à produção. Isto avaliado no âmbito de uma empresa, setor, ou região se transforma em sinônimo de desemprego e precarização do trabalho. Por isso, o grande crescimento do desemprego industrial na sociedade contemporânea parece resultar apenas da reestruração produtiva, das novas formas de organização do trabalho e da maior utilização das inovações tecnológicas. Porém, outros motivos macroeconômicos ou nacionais tais como a abertura desenfreada da economia, inflação e recessão econômica também influem na questão do emprego. A tecnologia traz grandes transformações, mas não determina

a priori o seu resultado.

Karl Marx fizera duras críticas àqueles que consideravam que o desemprego e a miséria seriam exigências inerentes à própria maquinaria. Ele dizia que:

As contradições e os antagonismos inseparáveis da utilização capitalista da maquinaria não existem porque decorrem da própria maquinaria, mas de sua utilização capitalista.

[...] considerada em-si, a maquinaria encurta o tempo de trabalho, enquanto utilizada como capital aumenta a jornada de trabalho; em si, facilita o trabalho, utilizada pelo capital aumenta sua intensidade; em si, é uma vitória do homem sobre a força da Natureza, utilizada como capital submete o homem por meio da força da Natureza; em si, aumenta a riqueza do produtor, utilizada como capital o pauperiza etc.129

Visualizando-se nessa amplitude observa-se que as inovações tecnológicas poderiam resultar em mais empregos, tempo livre para o lazer e outras atividades. Como bem sugere Rifkin, “a nova revolução da alta tecnologia poderia significar menos horas de trabalho e maiores benefícios para milhões.” Complementa ainda que “pela primeira vez na história moderna, um grande número de seres humanos poderia ser libertado de longas horas de tarefa no mercado de trabalho formal e ser livre para se dedicar a atividades de lazer”.130

Porém, essa é uma escolha social que deve ser determinada pelas formas de regulação do sistema produtivo e de distribuição dos ganhos de produtividade.

Sob o modo de produção capitalista, em que o uso das técnicas de produção objetiva, estritamente, o maior rendimento e a produção de mais valia possível, as inovações tecnológicas assumem um papel de complemento e mediação para o alcance de tais perspectivas. De forma que, esse mecanismo reduz a quantidade de mão de obra necessária, ao mesmo tempo em que, realiza uma maior intensificação do trabalho vivo para aqueles que

129 MARX apud LESSA, op. cit., p. 256-257. 130

permanecem no círculo produtivo. Em função das políticas adotadas para enfrentar a crise do capitalismo das últimas décadas, dentro de um contexto de aflorescimento das ideologias neoliberais, em que os valores do liberalismo de mercado, a competição e a livre iniciativa passavam a moldar o mundo das mercadorias e dos lucros, a utilização da maquinaria como medida de redução do trabalho vivo ganhara grande amplitude, na medida em que, surgiam cada vez mais as máquinas inteligentes e robôs que substituíam o trabalho humano diretamente envolvido na atividade produtiva.

Neste período as empresas que passaram a ter destaque e servir de exemplos a ser seguidos foram aquelas em que dispunham de menor contingente de força de trabalho e que, apesar disso, obtinham maiores índices de produtividade. Com base nas ideias do economista Benjamin Coriat, Alves pontua que existem dois meios de aumentar a produtividade, um deles seria aumentar as quantidades produzidas, o outro é reduzir o pessoal de produção.131 Seguindo essa lógica, na era da produção flexível foi se desenvolvendo uma espécie de