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Modos de Incorporação – abordagens analíticas

PARTE I – TEMA, MODELO DE ANÁLISE E FINALIDADES

4. Finalidades, fontes e linhas metodológicas 1 Finalidades

2.3. Modos de Incorporação – abordagens analíticas

“No apogeu do “Estado-nação” na Europa, entre cerca de 1870 e 1945, predominava a ideia de que todos os indivíduos que viviam no interior das fronteiras de um Estado se deviam assimilar ao modelo de vida dominante, o qual servia de base à socialização das gerações seguintes, nomeadamente através de rituais nacionais e, por vezes, nacionalistas” (Conselho da Europa, 2008, p. 23).

Na Europa, os estudos sociológicos das migrações sofreram grande influência dos trabalhos desenvolvidos na sociedade norte-americana, onde a temática se confunde com a história do país (Ribas-Mateos, 2004; Crul, Schneider & Lelie, 2012). Os trabalhos apresentados pela Escola de Chicago, a partir dos anos 20 do século passado e que tiveram como cenário a própria cidade, laboratório social, e os intensos processos migratórios nela vividos (migração transatlântica e movimentos de imigração negra provenientes do sul), inspiraram as visões clássicas da teoria da assimilação. Park e Burgess são dois autores de referência na concepção desta teoria, tendo apresentado um primeiro conceito de assimilação a partir da análise das relações raciais em espaços urbanos.23 Estes autores e os seus discípulos foram os primeiros a valorizarem a importância do fenómeno das migrações nas relações sociais nas cidades industriais norte-americanas (Ribas-Mateos, 2004). Os estudos que posteriormente se desenvolveram, de reflexão, de contestação e de reformulação das suas propostas de incorporação dos imigrantes nas sociedades de acolhimento, conduziram ao surgimento de novos paradigmas na interpretação deste fenómeno

23 Por relações de raças entendem-se aquelas que “existem entre povos com origens raciais distintas,

particularmente quando tais referências raciais penetram na consciência dos individuos e dos grupos assim identificados, determinando desse modo a concepção que cada individuo tem de si mesmo e do seu estatuto dentro da comunidade.” (Park, cit. em Wieviorka, 1992, p.52)

social. Propondo modelos que pretendem integrar a pluralidade cultural da sociedade contemporânea, sem ter por ambição a sua homogeneidade, mas sim aceitando a convivência em territórios marcados pela diferença, os paradigmas da integração foram-se aproximando de uma visão mais dinâmica do conceito de cultura e das potencialidades da diversidade cultural na construção das sociedades actuais. Progressivamente, as interpretações sobre os modelos assimilacionistas clássicos reconstroem-se, resultado do acentuar da diversidade cultural e das múltiplas formas que pode assumir a integração dos imigrantes nos territórios de acolhimento. “Em vez de um padrão relativamente uniforme cujos valores e normas determinam um percurso homogéneo de integração, é possível distinguir hoje em dia diversos trajectos alternativos.” (Portes, 1999, p. 101).

Partindo dos pressupostos que acabamos de apresentar, optámos por estruturar a abordagem analítica sobre os modos de incorporação assente em dois paradigmas: o assimilacionista (unidireccional) e o pluralista (multidimensional).

A abordagem assimilacionista

O paradigma assimilacionista, utilizado na interpretação do processo de integração dos imigrantes nas sociedades de acolhimento, dominou as investigações desenvolvidas na primeira metade do século XX. Segundo este paradigma, o estado nação é assumido como ideal e, como tal, nenhuma política pode ser estável e coesa se os seus membros não partilharem uma cultura nacional comum, incluindo valores, ideais, crenças morais e práticas sociais. Deste modo, os grupos minoritários que quiserem fazer parte da sociedade e terem tratamento igual aos restantes membros devem ser assimilados. A opção por outra solução pode ser vista como uma provocação e reverter-se contra os mesmos por via da discriminação (Parekh, 2006).

Enfatizando o papel do meio social, como peça chave na organização e formas de vida dos actores, os defensores deste paradigma procuram analisar as formas de integração urbana. Para tal, definem as dinâmicas da relação entre grupos étnicos em quatro etapas: competição, conflito, acomodação e por fim, a assimilação. O primeiro momento ocorre com a chegada do imigrante e a sua inserção social através do trabalho onde se confronta/concorre com a restante população; de seguida faz-se a aproximação a outros grupos, com base nos interesses sociais inerentes ao estatuto de trabalhador, situação que reforça a sua integração mas que normalmente é vivida com algum conflito; num terceiro momento ocorre a adaptação às regras de funcionamento da sociedade; e, por fim, a assimilação dos valores gerais e da cultura da sociedade de acolhimento (Wieviorka, 2002). Para Park, Burguess e seus seguidores, a assimilação é um processo duplo, resultante da troca de experiências e

de histórias de vida ao longo do tempo, construído na sequência de categorias que caracterizam a ecologia urbana, que permite incorporar pessoas de diferentes origens na vida comunitária e, deste modo, construir, na perspectiva de Park, uma solidariedade cultural que permita apoiar uma existência nacional (Asselin et al., 2006). Nesta perspectiva, a assimilação surge como um processo de interpenetração e fusão, através do qual pessoas e grupos adquirem referências, sentimentos e atitudes de outros grupos que, modelados pela sua experiência e história, incorporam numa vida cultural comum (Alba & Nee, 1997). Para Burguess, a assimilação pode ser entendida como um processo social através do qual os imigrantes, em interacção recíproca com a sociedade de acolhimento, vão interiorizando um conjunto diverso de referências, sentimentos e opiniões de outros indivíduos e grupos, no sentido da sua incorporação num novo território. Trata-se, portanto, de um processo que não se afasta muito da visão clássica de socialização definida por Durkheim, no qual, através da aprendizagem das normas e expectativas do grande grupo, se vão interiorizando progressivamente os valores que compõem a cultura de uma sociedade (Wieviorka, 2002).

A mudança de paradigma, que chega com a Escola de Chicago, marca uma viragem metodológica na análise das relações e mobilidade espacial dos diversos grupos étnicos, pela introdução de três novas concepções: (i) uma abordagem dinâmica do conceito de cultura, ao assumir que as culturas se transformam permanentemente e são recreadas pelos indivíduos à medida que estes procuram adaptar-se a um novo meio; (ii) o entendimento do grupo étnico numa perspectiva dinâmica, como uma variável que intervém num contínuo processo de negociação entre vários grupos; (iii) a valorização dos aspectos subjectivos e simbólicos na construção de uma visão alternativa das relações interétnicas (Ribas-Mateos, 2004).

As ideias centrais que caracterizam este paradigma acompanharam, até aos anos 60, os estudos sociológicos desenvolvidos sobre a integração dos imigrantes na sociedade americana. Valorizando as relações interétnicas e o meio social em que estas se materializavam, a integração assumia-se como um processo evolutivo, iniciado pelo contacto entre os grupos e finalizado com a assimilação em diferentes dimensões da vida económica e social. Na teoria de Park, o imigrante vive um processo duplo: por um lado, está simultaneamente a ser atraído pela sociedade receptora e, por outro, a ser despojado da sua cultura. Neste processo, que se assume necessariamente como sequencial e cíclico, o imigrante é entendido à partida como um indivíduo que ocupa um lugar social marginal, posição esta que se deve alterar quando a assimilação ocorre. Contudo, é necessário que o próprio tenha capacidade de inovação, de adaptação e mudança perante o novo contexto. Assim,

segundo Park, o produto resultante da colisão, conflito e fusão de pessoas e culturas, envolvidas no processo migratório, designa-se de assimilação (Heisler, 2007).

As concepções de Park sobre a assimilação revolucionaram as teorias funcionalistas anteriores e relançaram uma nova dinâmica nos estudos sobre a relação entre imigrantes e sociedade de acolhimento, em particular na sociedade norte-americana. Contudo, a rigidez da organização sequencial dos diferentes momentos do processo até à assimilação e a persistência de desigualdades raciais e conflitos suscitaram algumas das críticas ao modelo (Heisler, 2007). Por outro lado, a convicção de que o final da linha percorrida pelos imigrantes, em particular os seus filhos, culmina com a mobilidade social e o abandono das referências culturais por interiorização da cultura dominante, deixou muitas interrogações aos investigadores que continuaram o estudo dos modelos de incorporação nas sociedades de acolhimento.24

Na sequência das críticas que foram sendo apresentadas ao modelo desenvolvido por Park, surgem novas perspectivas que, apesar de incorporarem alguns dos princípios anteriores, tentam ultrapassar as limitações identificadas, introduzindo variantes no processo de assimilação. No conceito de “straight-line

assimilation”, que Warner e Srole definem no seu trabalho Social Systems of American Ethnic Groups (1945), defende-se que a adaptação de diferentes grupos na sociedade

americana tenderia a evoluir no sentido único da assimilação de uma mesma cultura universal de referência: the American way of life (Asselin et al., 2006, p. 134). Contudo, os mesmos autores reconhecem a existência de diferenças significativas nos ritmos de assimilação decorrentes da distância cultural e das categorias raciais. Em meados do séc. XX, no apogeu da metáfora do “melting pot”, assimilação é o pivot em torno do qual as investigações sociais sobre etnicidade e raça se desenvolvem. Milton Gordon (1964), no seu estudo Assimilation in American Life, apresenta um conceito de assimilação multidimensional que se organiza numa sequência temporal de acontecimentos e que culmina com a incorporação em grupos de classe média ou na

core culture: a aculturação, pelo domínio da língua inglesa, é a dimensão que surge

em primeiro lugar e antecede a adopção de alguns comportamentos, valores e expectativas da sociedade receptora (Heisler, 2007). Entre os recursos que os imigrantes podem mobilizar, o autor identifica factores intrínsecos e extrínsecos. Os primeiros resultam da herança cultural dos grupos, os segundos constroem-se nos contactos com a sociedade de acolhimento, no processo de acomodação à nova

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Reeves Kennedy (1944, 1952), Herberg (1956), Glazer and Moynihan (1963), são alguns dos autores que contestaram a perspetiva optimista apresentada nos estudos da Escola de Chicago em relação ao modo de incorporação dos imigrantes na sociedade de acolhimento (Heisler, 2007).

sociedade. Na perspectiva de Gordon, a aculturação não é uma condição suficiente para uma melhor integração socioeconómica. Considera assim que a assimilação, nos diferentes domínios da vida, ocorre quando os imigrantes e respectivos descendentes são aceites e estão dispostos a aceitar os grupos primários numa sociedade (Price, cit. em Asselin et al., 2006). Na sua hipótese de partida, a assimilação estrutural (integração nos grupos primários) surge associada ou estimula os outros tipos de assimilação. O preconceito e a discriminação vão-se atenuando à medida que os imigrantes se vão “misturando” na sociedade de acolhimento ou afastando das referências étnicas de origem (Alba & Nee, 2003). Neste sentido, a assimilação

estrutural resulta da entrada nos circuitos socioeconómicos e da posterior

internalização dos aspectos intrínsecos. Ainda assim, Gordon não descura a possibilidade destes grupos primários poderem funcionar como uma barreira ao próprio processo de assimilação (Heisler, 2007).

As críticas que são feitas a este modelo, pelos autores que mobilizamos, centram-se na pouca clareza na definição de alguns conceitos que são utilizados (distinção entre factores intrínsecos e extrínsecos, e grupos primários), assim como na sequência unidireccional dos diferentes momentos do processo de assimilação até à emergência de uma nova cultura. Também o facto de não se explicitar de que forma as grandes estruturas institucionais (mercado de trabalho, instituições políticas e de educação) podem funcionar como uma barreira ao processo, é uma das falhas identificadas no modelo. Por outro lado, o assumir que a aculturação envolve mudanças por parte de um grupo étnico e o não questionamento das alterações resultantes do contacto entre culturas na população nativa surgem entre as incoerências apontadas na explicação do conceito de assimilação estrutural. Para Alba e Nee (2003), numa sociedade como a americana, resultado de diversas influências culturais, a aculturação não pode ser vista apenas na perspectiva do recém-chegado, o impacto das culturas minoritárias é notório, em particular nos estilos de vida urbana.

Seguindo a perspectiva apresentada por Warner e Srole em 1945, Gordon (1964) define o conceito de melting pot, como resultado final do processo de assimilação (Heisler, 2007). Aplicando-o aos grupos religiosos que existem na sociedade americana, o autor refere ser possível pensar uma sociedade organizada em diferentes “potes” ou subsociedades, cada uma delas definida por um grupo religioso, que se encontra num processo de fusão com a comunidade autóctone que a acolhe. Se os grupos em presença forem suficientemente fortes, no final do percurso irá emergir uma nova cultura, resultado da fusão de elementos culturais diversos, eventualmente com um grupo dominante. Mas, na opinião dos autores anteriormente referidos, mais uma vez, o conceito de assimilação cultural não é claro, centra-se em

elementos particulares de uma cultura e constrói-se numa perspectiva unidireccional, deixando pouco explícita a sua definição.

Do assimilacionismo às abordagens pluralistas

O multiculturalismo contemporâneo, sustentado na ideia de que a sociedade pode tornar-se mais diversa culturalmente com a presença de diferentes grupos étnicos, deve uma primeira abordagem no terceiro modelo de integração apresentado por Gordon (Alba & Nee, 2003). Contudo, nesta aproximação, a aculturação (assimilação cultural) é ainda assumida como um fim inevitável, tal como a assimilação estrutural ou integração social, esta última resultado da entrada nas instituições da sociedade dominante. O foco da análise da integração continua direccionado para os imigrantes, deixando a sociedade de acolhimento inalterada perante a sua presença. Porém não é tornada evidente a forma como a assimilação dos indivíduos e grupos étnicos é promovida ou dificultada, pois o autor não avança com uma teoria da assimilação (Alba & Nee, 2003). Todavia, é notório nos modelos desenvolvidos por Gordon uma preocupação em identificar as diversas dimensões que caracterizam o processo: cultural, estrutural, familiar, identitária, atitudinal, comportamental, cívica, e que permitem compor um índice de assimilação multidimensional (Zhou, 1997).

As teorias da assimilação linear e melting pot foram muito criticadas nos trabalhos desenvolvidos pelos autores pós assimilacionistas. Em concreto, os estudos empíricos de Glazer e Moynihan sobre grupos imigrantes de origem africana nos Estados Unidos, revelaram que para alguns grupos é importante ser americano em determinados aspectos mas noutros, como os hábitos alimentares ou de convívio, prevalecem os traços da cultura de origem (Asselin et al., 2006). Estes autores acrescentam ainda a existência de diversos ritmos de mobilidade entre grupos de diferentes origens, aspecto a que Gordon não deu grande ênfase, por se centrar na mobilidade individual e não estudar o grupo no seu todo (Heisler, 2007). No contexto socioeconómico e político da cidade de Nova Iorque, onde desenvolveram o seu estudo, os autores concluíram que todos os grupos pretendem preservar alguns traços da sua identidade étnica ao mesmo tempo que aspiram tornar-se americanos. É sustentado nesta evidência que Heisler (2008) defende que a etnicidade e identidade étnica não desaparecem, passam antes por períodos de recriação.

Os estudos de Gans (1979, 1996) assumem orientações um pouco diferentes das que apresentamos até aqui, ao introduzirem na análise a dimensão geracional e temporal (Asselini et al., 2006). O paradigma que sustenta a bumpy line theory coloca em causa as concepções que assumem uma relação positiva entre aculturação e mobilidade social: cada geração representa um novo estádio de ajustamento à

sociedade de acolhimento, que não tem que ser necessariamente de avanço relativamente ao anterior (Alba & Nee, 1997; Rumbaut, 1997; Heisler, 2007). Neste sentido, é possível que entre os elementos da segunda geração o abandono das referências culturais de origem desencadeie um recuo face ao percurso social conseguido pelos seus progenitores, assim como é provável que a terceira geração, que se identifica com outra cultura, necessite de mobilizar alguns traços das suas origens (Portes, 1999). Seguindo este princípio, os recursos proporcionados pelas comunidades de origem podem tornar-se um apoio fundamental na integração e, apesar da assimilação, cada indivíduo continua a ser portador de diferenças que o individualizam face ao resto da população.

Na sequência da viragem de paradigma e da intensificação do fenómeno migratório para os EUA e para algumas economias industrializadas da Europa durante os anos 80, a investigação sobre a teoria das migrações ganha novo impulso, surgindo novos modelos que, em alguns casos, vêm entrar em ruptura com os anteriores. Até então, “a fixação numa cultura dominante, a tónica na construção de consenso e a suposição de uma sequência básica e padronizada de adaptação constituem os elementos centrais da teoria da assimilação” (Portes, 1999, p. 41). Os estudos de Portes e de outros autores que com ele investigaram (Robert Bach; Rubén Rumbaut; Min Zhou) são referência fundamental na literatura que caracteriza esta viragem.

A conotação negativa que o conceito de assimilação foi assumindo entre a comunidade de investigadores conduziu ao seu quase abandono entre os anos 70 e inícios dos anos 90. Portes e Zhou retomam-no, em 1993, dando-lhe um sentido de maior abertura à diversidade de modos de incorporação que é possível encontrar na sociedade americana. O novo paradigma, que designam de assimilação segmentada, assenta no reconhecimento de que os imigrantes são incorporados em diferentes níveis da sociedade de acolhimento. Quer estes, quer os seus descendentes, podem integrar outras estruturas sociais por um processo de ascensão, que pode decorrer ao longo de gerações. Direccionando a sua análise para as crianças descendentes de imigrantes, constatam que os percursos seguidos por estes assumem contornos diversos. Resultado do estatuto social das famílias, as crianças assimilam diferentes segmentos da estrutura social existente. Assim, entre aqueles que são oriundos de uma classe média as oportunidades oferecidas pela sociedade americana (na educação e posteriores oportunidades de mobilidade social) permitem-lhes uma assimilação na classe média. Já entre as crianças imigrantes, provenientes de famílias com estatuto social mais baixo, as oportunidades são diferentes, tal como o percurso que têm oportunidade de realizar. Confrontados com situações de discriminação na escola, por vezes associadas ao contacto com uma subcultura que rejeita a educação

e as condições económicas dos pais, estas crianças correm o risco de integrar os grupos mais desfavorecidos da sociedade.25 A oportunidade ou a opção pela residência num bairro vizinho em substituição do enclave residencial em que vivem os seus co-étnicos, pode ser uma oportunidade para as crianças contactarem com outros contextos sociais, conviverem com outros pares, frequentarem outras escolas, reduzindo as possibilidades de crescer em contextos conotados com a desvantagem social. Outros grupos imigrantes optam por manter os seus contextos sociais desfavorecidos, convivendo no seio do mesmo grupo étnico, mas desenvolvendo mecanismos internos que lhes permitam ascender na sociedade de acolhimento. Através do estabelecimento de redes próprias, desenvolvendo os seus nichos económicos, conseguem tirar partido das comunidades em que se inserem, construindo o seu percurso na nova sociedade e contrariando a tendência para o isolamento que a convivência em situações de desvantagem social lhes poderia causar.

Se mobilizarmos, como exemplo, o percurso desenvolvido pelos jovens oriundos do Sri-Lanka e os jovens de origem magrebina que migraram para Paris,26 identificamos resultados diferentes no processo de integração. Para os primeiros, o confronto com a escola e em seguida com o mercado de trabalho é difícil, mas os resultados obtidos são melhores que entre os segundos (que moram no mesmo bairro e frequentam a mesma escola). Apesar de conviverem mais frequentemente com situações de marginalização, quer pelo sistema escolar, quer pelos seus pares norte- africanos, podendo ser alvo de situações de racismo e xenofobia, abandonando cedo a escola para entrar no mundo do trabalho, no qual são integrados a partir de redes étnicas, os jovens oriundos do Sri-Lanka desempenham tarefas pesadas e mal remuneradas, mas não se sentem desvalorizados ou desprezados pela situação, aspecto que também os distingue dos imigrantes magrebinos, para quem as referências comunitárias são escassas e distantes, pela adesão a uma nova cultura mais globalizada.

Portes (1999), no estudo sobre a comunidade haitiana a residir em Miami, conclui que a primeira geração está muito mais orientada para a preservação de uma identidade nacional, associada à solidariedade comunitária e redes sociais que garantem o sucesso individual. No entanto, os seus filhos têm dificuldade em gerir esta pertença nacional com as vivências escolares. As escolas que frequentam, localizadas na principal zona residencial negra do centro de Miami (inner city), têm uma população

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São exemplo destes grupos, os Afro Americanos e Portoricanhos (Portes & Rumbaut, 2001).

26

Comunidades analisadas por Claire Schiff no estudo Situation migratoire et condition minoritaire. Une

comparaison entre les adolescents primi-arrivants et les jeunes de la deuxieme géneration vivant en milieu urbain défavorisé, Paris, these, EHESS, 2000.

maioritariamente haitiana que convive com outros jovens nascidos nos EUA oriundos de minorias étnicas. Estes jovens construíram uma imagem dos seus pares haitianos, como “dóceis e subservientes para com os brancos, e troçam do francês, do crioulo e