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Fonte: CUNHA, 1911, s.p.

Moinho Pelotense

Alberto Coelho da Cunha (1911) começou a descrição do Moinho Pelotense analisando a paisagem e a posição privilegiada do empreendimento, que, segundo o autor, facilitaria o escoamento da produção, bem como o transporte da matéria- prima:

Sobre a margem direita do arroio Santa Barbara, sobre o qual trará facilidade do seu transito, foi montada uma ponte de madeira, ergue-se este moinho. A sua construção teve o alinhamento de acordo com o futuro prolongamento da rua independência através do bairro da graça. (CUNHA, 1911, s.p.)

Segundo Cunha (1911), o Moinho Pelotense foi fundado por Delphino Gonçalves Borges em 1886, na margem direita do Arroio Santa Bárbara, atual cruzamento das ruas Mal. Deodoro e Gomes Carneiro. (Fig. 113)

O moinho de farinha se situava à Rua Mal. Deodoro, 301 (OSORIO, 1998). A localização exata desta construção foi possível pelas indicações de Alberto Coelho da Cunha, cruzadas com a localização indicada por Fernando Osório, além de fonte iconográfica, que confirma a proximidade com o Arroio Santa Bárbara da edificação, com três andares e seu próprio trapiche de desembarque do trigo.

Segundo Alberto Coelho da Cunha (1911), a empresa foi vendida, em dezembro de 1887, para Paulino Teixeira da Costa Leite, que “[...] lhe imprimiu grande desenvolvimento, com introdução de notáveis aperfeiçoamentos e montagem de importante fabrica de massas”. (Fig. 114)

Cunha (1911) relatou, ainda, que as dependências da empresa, em 1911, ocupavam grande edifício de sobrado com três andares. O patrimônio era constituído, de vasto maquinário, que compreendia nove centrífugas para apartar os produtos; três máquinas para limpar sêmola; quatro para limpar trigo quebrado; três peneiras; quatorze condutores; cinco ventiladores; uma máquina para limpar farelo; seis outras para limpeza de trigo; sete cilindros duplos e duas máquinas para ensacar farinha. O maquinismo era movido por impulso simultâneo de um motor de força de noventa cavalos, alimentado a lenha e carvão. A iluminação de todo o moinho era a luz elétrica fornecida por dois dínamos assentes no mesmo compartimento do motor e distribuída por oitenta lâmpadas, com força variável de 16 a 50 velas.

O processo de produção da empresa, descrito por Cunha (1911) constitui um importante indício da proximidade e da influência dos empreendimentos estrangeiros na economia pelotense da época, visto que a matéria-prima utilizada nesta fábrica era praticamente 100% importada.

O trigo recebido é de proveniência argentina, vindo do rio grande em chatas rebocadas por lanchas a gasolina, que vem lhe atracar as portas. Ao descarregar é despejado dos sacos em uma grade, em seguida apanhado por elevadores que o vão deixar nos depósitos em numero de quatro, com capacidade para 25000kilos, Dai atravessa por oito maquinas diferentes que o expurgam de todas as impurezas, e, reunindo-se nos depósitos de trigo limpo, é triturado seis vezes pelos cilindros raiado, passando os produtos obtidos por quatro cilindros duplos lisos, onde vão as centrifugas para separá- los, e uma vez classificados, são ensacados por um interessante sistema, ajustando os sacos a extremidade de longos tubos que os vão sacudindo, a proporção que nele se despejam o gênero. (CUNHA, 1911, s.p.)

No referente ao sistema de trabalho do estabelecimento, Cunha (1911) registrou que, quando sob a direção de Paulino Leite a produção era ininterrupta, das seis horas da manhã de segunda-feira até as seis da manhã de domingo,

Figura 113: Cartão Postal “Moinho Pelotense”. Pelotas. RS. Fonte:PINTO, Guilherme. (acervo pessoal)

Com relação à infraestrutura de apoio para funcionamento da fábrica, além do moinho propriamente dito e da ponte de madeira, há registro da existência de uma serraria, três vastos depósitos para trigo e quatro para farinha, além de uma fábrica de massas, localizada em compartimento térreo, junto ao moinho. Segundo relato, a serraria teria função de ajustar a madeira trazida dos matos da serra para ser convenientemente adaptada às máquinas em funcionamento. (Fig. 115)

Figura 114: Residência de Paulino Leite,

situada à Rua Mal. Deodoro, mesma rua do Moinho Pelotense. Pelotas. RS.

Fonte: MAGALHÃES N, 1989b.

Figura 115: "Ponte do moinho – Rua Gomes

Carneiro com Mal. Deodoro". Pelotas. RS.

Fonte: MAGALHÃES N, 1989b.

A fábrica de massas, por sua vez, teria sido montada com o intuito diversificar o negócio. Como bem se percebe na descrição de Cunha (1911):

Em compartimento térreo junto ao moinho está localizada a fabrica de massas montada de forma a poder empregar diariamente 40 sacos de farinha

de 45 kilos, possui para esse trabalho seis prensas e três cilindros amassadores, tocados a vapor confeccionava sessenta tipos diversos de massas de diferentes formatos, que iam abrindo prospera carreira, merecendo a mais franca aceitação nos seus mercados de consumo, em que muito apreciado estava sendo o esmero do seu preparo [...] (CUNHA, 1911, s.p.)

Com a morte de Paulino Leite, em 1902, a empresa passou para a mão de herdeiros, que, optaram pela venda. Desta forma, o Moinho Pelotense foi comprado pela concorrência, de acordo com o relato de Cunha: “[...] pelo preço de 90 contos de réis, Albino Cunha fez a aquisição do importante estabelecimento, cujos produtos em alta cotação de preço, obtinham marcada preferência” (CUNHA, 1911, s.p.). A empresa então foi reduzida a simples sucursal da sua fabrica rio-grandina. A transcrição abaixo constitui o relato de Alberto Coelho da Cunha sobre a venda da empresa e sua situação em 1911:

Passado em 1903 ao novo proprietário, conservou por alguns anos a portas fechadas. Servindo de simples depósito dos produtos do Moinho Rio Grandense. Nestes últimos anos, por períodos intermitente ele entra em atividade, como um auxiliar do trabalho daquele estabelecimento cometido. Em 1911 trabalhou com trigo argentino e algum nacional, produziu cinco milhões e quatrocentos mil kilos de farinha. Esta sob a direção de um gerente que comanda um empregado de escritório, um capataz, um moleiro, um maquinista, um foguista e 25 operários e duas operarias. (CUNHA, 1911, s.p.)

Durante este período (1902-1922), os dois moinhos, Moinho Pelotense e Moinho Rio Grandense, formaram a maior empresa de moenda de trigo do estado do Rio Grande do Sul.

Fábricas de beneficiamento de arroz

Esta classe de fábrica tinha por objetivo o beneficiamento do arroz, em etapas sucessivas, descascar, secar, polir e embalar o arroz produzido na região, para a comercialização. (Tab. 28 e 29)

A produção do arroz irrigado teve um grande desenvolvimento depois de 1907, quando começaram a ser criadas várias lavouras de arroz, principalmente da firma Pedro Osório, que associada a outros empresários da cidade desenvolveria a orizicultura irrigada.