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3 CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA DE KHARKOV

3.1 ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL – SINFONIA INCOMPLETA

3.2.1 Teoria da Formação das Ações Mentais por Etapas

3.2.1.1 Momento funcional: orientação

Durante a pesquisa sobre a formação da ação mental por etapas, Galperin e seus colaborados observaram que a forma da ação e a qualidade final do produto estão relacionados à qualidade da orientação dada (GALPERIN, 2013a). Deu o nome de Base Orientadora da Ação – BOA ao “[...] conjunto de condições nas quais os

estudantes se orientam durante a execução da ação” (GALPERIN, 2013d, p.466), disponíveis em uma ficha ou cartão.

Diversos são os tipos de orientação e as pesquisas realizadas mostraram que podem se reduzidas a três tipos: o primeiro é caracterizado por ter indicadores isolados, é frágil e incoerente. O caráter orientador não é dissociado da ação em si, que ocorre por tentativa e erro, fazendo com que o processo de formação da ação ocorra lentamente. Por não reconhecer os elementos indicadores da orientação – aqueles que estão presentes em outras ações – há uma análise breve e rasa da situação. Consequentemente, a orientação torna-se tão específica que em uma condição semelhante, mas com variantes, vai necessitar de uma nova base de orientação (GALPERIN, 2013a).

No segundo tipo de orientação, o professor mostra a orientação completa, explica o significado das orientações e o modo de executar a ação. Para que esta seja correta é necessário um controle externo bem determinado a fim de evitar que o sujeito volte aos ensaios e aos erros. Inicialmente, o aprendiz irá comparar cada elemento da tarefa com a orientação para, em seguida, desenvolvê-la. Posteriormente, a ação será feita em blocos isolados, com menos erros e menor necessidade de mediação da BOA. Esse processo se sucede conforme a necessidade de consulta se abrevie, até o momento em que não mais seja requisitada e a realização da ação se torne automática. Uma vez no plano mental a ação é realizada com 100% de precisão e a aplicação a situações possíveis (generalização) dependerá substancialmente da presença dos elementos idênticos aos assimilados. A habilidade de reconhecer novos elementos necessários para executar a tarefa não é desenvolvida por esse tipo de orientação e, por isso, em cada nova tarefa o sujeito passa novamente pelo primeiro tipo (GALPERIN, 2013a). Esse segundo tipo de orientação é típica do ensino tradicional (NÚÑEZ, 2009).

A orientação que permite a formação da “[...] habilidade do sujeito para formar individualmente a imagem orientadora completa da ação” (GALPERIN, 2013a, p. 437) é a primeira diferença do terceiro tipo. Nessa situação, a orientação pode ser aplicada a um conjunto de tarefas e não a uma específica, sendo, desse modo, a única orientação que conduz à generalização. Para tanto, é necessário ensinar o

aluno a analisar como reconhecer esses elementos em tarefas diferentes dentro de uma mesma área. Não se trata de deixar que formulem a base de orientações por si só, mas oferecer elementos para que possam realizar tal análise. Esse tipo de BOA se caracteriza por se formar de maneira fácil e rapidamente, enquanto a atividade é assimilada com menor número de erros (GALPERIN, 2013a).

Núñez (2009) cita pesquisas que demonstram as vantagens em trabalhar com a BOA do tipo III, destacando o tempo necessário para o aprendizado, que é menor do que nos outros tipos de orientação; a generalização dos conteúdos; a baixa falha na transferência dos conteúdos em novas situações; a oferta de possibilidades para realizar um trabalho independente e criativo; e a contribuição para o desenvolvimento do pensamento teórico dos alunos.

Apesar de o terceiro tipo de orientação ser o mais indicado, no ensino de tarefas com alto grau de complexidade e novidade, na qual a única maneira de realizá-la é ter uma orientação específica, se utiliza a BOA tipo I (NÚÑEZ; PACHECO, 1998).

A orientação é a primeira das etapas do processo e estará presente durante todo o ciclo cognoscitivo. A construção da base orientadora, que se materializa na forma de fichas, contém brevemente os signos necessários dispostos em colunas e numerados, e devem ser seguidas rigorosamente no início da ação, até que não sejam mais necessários. Os signos dados não podem exigir do sujeito aprendizagem prévia, visto que nessa etapa não há execução de uma ação e, por isso, não há assimilação (GALPERIN, 2103b).

A ficha proporciona ao sujeito a possibilidade de visualizar a ação inicial, o resultado pretendido, as ferramentas necessárias para executar a ação, os conceitos fundamentais, as condições em que as ações ocorrem, o curso das ações, o controle e a regulação da aprendizagem, podendo os alunos contribuírem na produção da BOA com os conhecimentos que já possuem (HAENEN, 2001; ARIEVITCH; HAENEN 2005; STETSENKO; ARIEVITCH, 2008; NÚÑEZ, 2009). Portanto, a BOA deve refletir todas as etapas da ação: orientação, execução e controle, embora o uso da mesma ocorra somente na primeira etapa da execução, a etapa materializada.

A fase da orientação foi descrita por Galperin como um momento em que se mostra ao sujeito a direção da ação. Ele reconhece que em todo o processo – até a formação mental da ação – há duas deficiências: o aspecto motivacional e tarefas que contemplem o desenvolvimento do pensamento crítico (GALPERIN, 2013e). Segundo Núnez (2009), foi Talízina quem descreveu a etapa motivacional, conhecida como ‘etapa zero’. Esse momento é marcado pela ausência da ação e introdução de assuntos, pois irá preparar o aluno para assimilar os novos conhecimentos.

A motivação pode se apresentar como interna, quando os motivos estão relacionados à busca de conhecimentos – cognitivo – e externos, quando o estudo está relacionado a outros fins (NÚÑEZ; PACHECO, 1998). Deve-se também preparar o aluno psicologicamente, observando sua situação de vida, que podem ser motivadoras ou inibidoras da aprendizagem (NÚÑEZ, 2009).

Ainda que a motivação e a orientação estejam presentes no início do processo de assimilação da ação, reconhece-se a importância de estar presente também na etapa funcional, quando a ação é executada.