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5. Concelho de Campo Maior

05.13. Monte de S Salvador

CMP 387 / CNS 7268 / N 39º 02’ 40.1’’ / 6º 58’ 39.5’’ / Terreno / Villa Identificado no decurso de trabalhos agrícolas e que exigiu urgente intervenção, dado o iminente risco de colapso por se situar em terraço fluvial que se encontra (ainda hoje) a ser escavado pelo leito do rio Xévora. Aliás, o perigo de derrocada é neste momento substancialmente superior. Esta íntima relação com o rio marca decisivamente a villa de S. Salvador, sendo provável que aqui tivéssemos um local de otium e de contemplação da paisagem, tão evidente é o alcandoramento das estruturas face ao curso de água. Na sua orientação o edificado acompanha o curso de água, parecendo que este funcionou como eixo vertebrador das construções, que lhe estão paralelas. A melhor forma de chegar ao local é ainda hoje atravessando o próprio rio, em

90), o que é perfeitamente compatível com o facto de haver um contacto visual com a via logo, propiciar ‑se a contemplação da estrutura da qual faria parte. Como tal, poderíamos não estar perante um simples casal, mas outro tipo de sítio.

passagem a vau que certamente já seria utilizada em época romana. De resto, a ermida que ali se ergue marcou este ponto como local de peregrinações e de demanda da população.

Os resultados da intervenção não foram integralmente publicados, embora uma notícia tenha sido dada a conhecer publicamente169. Com a leitura dos

relatórios então produzidos170, consegue ‑se obter uma noção da escavação

realizada, embora a ausência de menções ao espólio encontrado torne mais complexa a interpretação total. Visitando o local, dois elementos captam imediatamente a atenção: a presença de um grande peristilo, que forma a linha axial da casa; e a matéria ‑prima utilizada nas construções, com a inclusão de seixos de rio e de um composto que deveria ser de taipa ou adobe nas alvenarias, uma matéria mais negra e pouco compacta, que se dissolve com a passagem do tempo e das chuvas. Assim se contornou a ausência de pedra localmente disponível, embora junto à ermida os silhares de granito demonstrem a imponência de alguns elementos de alvenaria que teriam sido utilizados em pontos da construção que exigiam maior tensão de forças. O sítio teria pouca potência estratigráfica, o que inviabilizou uma leitura cronológica mais apurada171. De acordo com a memória descritiva, “A observação das plantas

e dos perfis estratigráficos mostra ‑nos uma casa que parece ter sido planeada e construída duma só vez, a sua longa utilização levou a pequenas e eventuais remodelações e a reparos. [... De acordo com os materiais e mosaicos, uma] construção tardia de finais do séc. III ou séc. IV. [...] A necrópole foi localizada, mas a área escavada é restrita pelo que não permite conhecer a sua evolução, a sepultura escavada é já tardia, situando ‑se num período tardo ‑romano.172” Esta

menção à existência de uma área funerária remete para um outro local, junto à casa do guarda, e não é perceptível em que ponto da villa original se situaria, ou a relação do espaço sepulcral com a área residencial. De notar contudo que, na informação publicada, é explicitamente referido que “Por vezes há muros que se encontram adossados uns aos outros, o que nos parece confirmar diferentes fases de construção ou novas reutilizações dos compartimentos”173,

contrariando a informação atrás mencionada, que apontava para uma única fase de edificação. Também sobre o mosaico B se diz que “Este mosaico está a 31cm de profundidade e assenta directamente sobre opus signinum que poderá corresponder a 1 antigo pavimento ou mesmo a 1 anterior tanque”174, esbatendo

assim uma impressão de homogeneidade estrutural.

169 Dias, 1994.

170 Processo IPPAR 4.04.009

171 Refere ‑se “uma profundidade entre os 12 e os 50cm (Dias, 1994: 122).

172 Memória descritiva constante no processo de classificação, IPPC, 5.Junho.1991, A. C. Dias.

173 Dias, 1994: 122. 174 Dias, 1994: 122.

Planimetricamente trata ‑se de uma villa de peristilo175. Apresenta, entre

o corredor e o rio, um conjunto de compartimentos amplos, mostrando que deveria existir uma forte vocação contemplativa no local. Foram identificados pelos menos seis espaços, que apresentam em comum o facto de terem vãos de ligação amplos, indicando o que parece ser uma villa pouco intimista e mais aberta à circulação interna e, sobretudo, à paisagem externa, embora seja difícil de definir esta situação dado o grau de arrasamento estrutural. Dois deles parecem funcionar como vestíbulos, servindo de passagem para compartimentos maiores, certamente os espaços de representação do proprietário. Quase todos eles teriam pavimentos em mosaico, mas encontrados já em estado de elevada degradação. O pavimento em mosaico da galeria porticada ainda se conservou, embora com remendos feitos com opus signinum aquando da implantação de uma canalização. Pelo menos em parte do peristilo um dos muros (M16) seria recoberto com estuque pintado, parcialmente conservado.

O compartimento mais importante parece ser o D, um vestíbulo de passagem com pavimento musivo apresentando “Uma faixa lateral de tesselas pretas e brancas, formando um motivo floral, ladeia toda a sala; o emblema central apresenta motivos geométricos com destaque para os “nós de Salomão”. As entradas E e W, que dão passagem respectivamente ao peristilo e ao compartimento C, têm ao nível do mosaico uma representação distinta, organizando ‑se as tesselas pretas e brancas em desenho geométrico, demarcando uma soleira.” Neste espaço existe um momento posterior, marcado por “uma cavidade circular (0,50 x 0,52m), cujo topo era revestido a opus signinum. [...] No seu interior jazia um almofariz fracturado, em mármore branco [...] tendo sobre ele parte de uma tijoleira. [...] Esta estrutura parece ‑nos corresponder a uma remodelação deste compartimento como o documenta a forma como o mosaico foi rompido e a alteração da área contínua à “soleira” em mármore que dava passagem ao peristilo, onde foram adossados tijoleiras e remendos em opus signinum.”176 Aqui encontrava ‑se uma parede com estuque pintado

representando uma decoração de marmoreados com tons encarnados sobre fundo cor de rosa leve, em painéis estreitos delimitados por filetes de cor preta e assentes em faixa branca. Ou seja, estamos em plena zona de prestígio,

175 “Peristilo. Galeria W: comp. máx: 19,60m e larg. máx.: 2,80m [...] grandes blocos de granito aparelhado, situado a uma distância que varia entre 1,80m e 1,90m. Sobre estes blocos, assentavam as bases de coluna [...] em mármore branco. Estes sustinham fustes, também em mármore branco, como o atesta o achado de um, fracturado ao meio e já deslocado do seu local original [...]. Estas colunas estavam ligadas por um pequeno murete de 0,20m de altura, construído em tijoleira e materiais cerâmicos reutilizados, que funcionaria como resguardo e divisória da área do impluvium.” (Trabalhos arqueológicos na villa do Monte de S. Salvador. Campanhas de 1987/1988, Ana Carvalho Dias [relatório entregue ao IPPC, sem numeração], de onde se extraem as citações seguintes).

176 Embora o almofariz possa ali ter sido depositado por algum tipo de arrastamento, pois adiante refere ‑se que foi encontrado outro fragmento do mesmo junto ao muro destruído.

embora em momento tardio ocorra um fenómeno de ruptura da vivencialidade do espaço com a inclusão de uma estrutura de depósito.

A restante estrutura edificada é menos fácil de caracterizar. O Compartimento C, uma sala rectangular177, caiu em parte ao rio. Tinha também várias saídas

de comunicação para outros espaços. O maior seria o A178, seguindo ‑se outros

mais pequenos e de feição rectangular, como o E, onde foram encontrados vários restos de fauna (o que levou a autora a propor a sua utilização como espaço de cozinha, embora esta interpretação seja feita na ausência de uma estrutura de combustão ou de lareira). Também o B se encontrava muito destruído pela erosão provocada pelo leito do rio, podendo ter funcionado como uma varanda de contemplação. Neste caso havia apenas uma faixa de mosaico, funcionando a área restante em piso de opus signinum. Outros espaços funcionais foram apenas parcialmente escavados, inviabilizando uma leitura mais clara.

Em segundo patamar, mais próximo do rio, junto “ao caminho de acesso ao monte”, foi intervencionada uma Zona 2: “Aqui escavou ‑se uma área de 32 cm, limitando ‑nos a identificar revestimentos em opus signinum e muros. Estes vestígios encontravam ‑se entre os 5 e os 10cm de profundidade, o opus estava bastante danificado na área de passagem das viaturas, mas conservava o seu suporte em seixos de rio.”179 É provável que a villa tivesse um patamar

entre o rio e o edificado principal, eventualmente servindo como porto de acostagem para pequenas embarcações, ou simplesmente como um contraforte de sustentação e de prevenção contra subidas de um curso de água tão bravio.

Finalmente, na Zona 3, foi encontrado um muro ao lado do qual se situavam quatro sepulturas. Apenas foi escavada a nº 1: “de planta rectangular, foi construída com grandes blocos de pedra e tijolos, a cobertura era também constituída por tijolos, que na sua maioria, foram arrancados pelas máquinas. O interior forneceu apenas uma pequena bilha de bocal trilobado [...] os vestigios antropológicos assentavam directamente no solão, e o seu estado de conservação era muito mau.” Documenta um momento de utilização funerária em período tardio, dada a menção à bilha trilobada. Refira ‑se que o muro N1 rompeu algumas sepulturas, mas não é mencionado se a nº1 foi uma delas; assim, ou teríamos uma área funerária romana rompida por um muro, ao qual se segue uma sepultura tardia, ou uma necrópole tardia rompida por um muro posterior (relacionado já com a capela?). Em outro ponto, a abertura de uma fossa séptica irá conduzir à destruição de “parte do complexo termal da villa, nomeadamente dois arcos dum hipocausto”180.

177 Tendo de comprimento 6,40m x 2,92m. 178 Apresentando 6,40m por 6,00 (?). 179 Dias, 1994: 124.

180 In: Informação. Villa romana do Monte de São Salvador (Campo Maior). Abril de 1992. Ana Carvalho Dias.

Em capítulo final são apresentadas considerações sobre os tapetes de mosaicos – todos com motivos geométricos e vegetalistas – e sobre o conjunto artefactual: “O espólio da villa urbana rareia e é pouco característico. Após o levantamento do telhado surge imediatamente o pavimento [...]. Recolheram ‑se alguns fragmentos de sigillata clara, um fragmento de ânfora, um fragmento de lucerna. As moedas exumadas provêm da zona revolvida pela máquina ou da camada humosa, dum total de 5, só uma é romana, uma FEL TEMP. REPARATIO, as outras 4 são moedas portuguesas, destacamos uma de D. Fernando, uma de D. Sebastião e uma de D. João V. Outros objectos metálicos foram recolhidos tais como 3 botões, parte de 1 espelho (?), um pequeno fragmento de bronze que eventualmente poderá ser um elemento de uma estátua.”

Em leitura geral, trata ‑se de uma estrutura fundiária muito interessante pela relação visual e espacial com o rio. Note ‑se que, por enquanto, não existe menção a actividades produtivas ou económicas – o que, obviamente, não quer dizer que não existissem ‑ indicando que estamos em pleno ambiente doméstico de cariz urbano. Todo o contexto parece ser inteiramente residencial, com índices elevados de requinte – mármores, mosaicos, estuques pintados (um dos poucos sítios da região onde se documentam), uma eventual estátua de bronze. Claramente uma

villa de otium, com renovações posteriores, e uma necropolização do espaço cuja

dimensão necessitava de ser mais bem apurada. Um sítio dotado de uma planta estrutural que teria elevados índices de originalidade.

05.14. Velada

CMP 400 / CNS 4771 / N 39º 01’ 20.2’’ / 7º 06’ 15.4’’ / Topónimo / Necrópole Em paisagem fechada em fundo de vale, e em ponto indeterminado, foi recolhida uma epígrafe funerária181, em local onde já havia sido encontrado um

jarro de vidro182 (certamente do mesmo ambiente sepulcral) e identificada uma

sepultura183. Realizei prospecções no local sem resultados, desconhecendo ‑se

um eventual ponto de povoamento relacionável.