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1. P ARCELAMENTO T RIBUTÁRIO

1.2. Parcelamento tributário

1.2.1. Moratória e parcelamento

A moratória prorroga no tempo ou concede novo prazo para o cumprimento da obrigação tributária, cujo pagamento pode ser feito em uma única prestação ou em parcelas. A sua concessão se justifica em casos de desastres, porque é preciso amenizar os efeitos sofridos pela comunidade.35 Por isso, a lei concessiva da moratória pode circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território ou à determinada classe ou categoria de sujeitos passivos (art. 152, parágrafo único). Também por essa razão a moratória não se aplica em caso de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou de terceiro em seu benefício (art. 154, parágrafo único).

Em tese, essa possível diferenciação não fere a isonomia, já que impõe uma distinção entre pessoas que não se encontram em situação equivalente.36 Vale dizer, trata diferentemente aqueles que sofreram os efeitos de uma catástrofe ou calamidade, com a finalidade de minimizar a sua repercussão e “devolver-lhes a situação de igualdade”, em relação àqueles que não foram afetados da mesma forma pelos acontecimentos.

A moratória deve estar prevista em lei, já que nessa situação há a concessão de benefícios fiscais e a atribuição de tratamento diferenciado aos contribuintes. A exigência legal se impõe tanto quando ela é concedida em caráter geral, quanto quando o é em caráter individual,37 por ato da autoridade administrativa que deve estar autorizado pela legislação (art. 152, incisos I e II). Essa lei deverá especificar o prazo de duração da moratória, as condições da concessão em caráter individual e, sendo o caso, os tributos a que se aplica, o número de prestações e seus vencimentos e as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual (art. 153).

                                                                                                                         

35 Conforme aponta SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 601. 36 Sobre o tema da igualdade: TIPKE, Klaus. “Princípio da Igualdade e Idéia de Sistema no Direito

Tributário”. In: MACHADO, Brandão (coord.). Direito Tributário – Estudos em homenagem ao Prof. Ruy

Barbosa Nogueira. São Paulo: Saraiva, 1984. p. 515-527 (especialmente p. 519-520); TIPKE, Klaus; LANG,

Joachim. Direito Tributário. v. I. Tradução de Luiz Doria Furquim. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Ed., 2008. p. 195; ÁVILA, Humberto. Teoria da igualdade tributária. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 39.

Assim como ocorre na moratória, no parcelamento concede-se uma ampliação no prazo de pagamento da obrigação tributária, que se dará em parcelas.38

Uma diferença importante entre os institutos diz respeito aos encargos legais.39 Tendo em vista o referido caráter “reparador” da moratória, os juros de mora não são devidos, salvo em caso de revogação do benefício quando se apurar que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições para a sua concessão.40 Nessa hipótese, o crédito será cobrado, acrescido de juros de mora, bem como de penalidades no caso de dolo ou simulação (art. 155). Já no parcelamento, a regra geral é de que ele não exclui a incidência de juros e multas (art. 155-A, § 1°).

LUÍS EDUARDO SCHOUERI aponta que a diferença da exclusão de juros e multa se explica porque, “enquanto na moratória se considera a existência de uma catástrofe, que justifica novos prazos para diminuir o sofrimento das vítimas, o parcelamento não pressupõe qualquer requisito semelhante, sendo, de regra, concedido por mera solicitação do sujeito passivo.”41 Se não fosse assim, o parcelamento tornar-se-ia regra, ao invés de exceção, e poderia “colocar o sujeito passivo em situação mais favorável do que outros que cumpriram os prazos legais.”42

A esse respeito, diz-se que a razão da inclusão da regulação específica do parcelamento no Código Tributário Nacional, em 2001, foi a de afastar a figura da

                                                                                                                         

38 MENDONÇA, Christine. “O regime jurídico do programa de recuperação fiscal – REFIS: parcelamento stricto sensu”. In: LESSA VERGUEIRO, Guilherme von Müller (coord.). REFIS: aspectos jurídicos relevantes. Bauru: EDIPRO, 2001. p. 75-109 (especialmente p. 92).

39 Na jurisprudência: Recurso Especial n° 259985/SP, STJ, Segunda Turma, Relatora: Ministra Nancy

Andrighi, julgado em 15/08/2000, DJ 11/09/2000, p. 248. A Corte decidiu que o parcelamento é uma dilatação do prazo de pagamento de dívida vencida e a moratória prorroga ou adia o vencimento da dívida. Por isso, no parcelamento incluem-se os encargos, enquanto na moratória não se cuida deles, porque não ocorre o vencimento.

40 BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 12. ed. Atualizada por DERZI, Misabel Abreu

Machado. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 1262-1263; MENDONÇA, Christine. “O regime jurídico do programa de recuperação fiscal – REFIS: parcelamento stricto sensu”. p. 85-86. No mesmo sentido, CARVALHO, Cristiano; CASTRO, José Augusto Dias de. “Os juros no parcelamento tributário.” In: CHIESA, Clélio; CARDOSO, Laís Vieira; PEIXOTO, Marcelo Magalhães (coord.). Parcelamento

Tributário. São Paulo: MP Ed., 2008. p. 43-57 (especialmente, p. 49-50); CARDOSO, Lais Vieira. “A

exclusão por inadimplência no parcelamento, por descumprimento de outras obrigações fiscais principais e/ou acessórias do contribuinte e outras hipóteses de exclusão”. In: CHIESA, Clélio; CARDOSO, Laís Vieira; PEIXOTO, Marcelo Magalhães (coord.). Parcelamento Tributário. São Paulo: MP Ed., 2008. p. 195- 225 (especialmente p. 221).

41 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. p. 608. 42 SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. p. 608.

denúncia espontânea (art. 138) em caso de pagamento parcelado.43 Por isso, a previsão expressa de que, salvo disposição em contrário, o parcelamento não exclui a incidência de multas.

Nesse aspecto, é relevante o fato de a lei que instituiu o Refis ser prévia à alteração promovida pela LC n° 104/01.44 A jurisprudência firmou o entendimento de que, nos casos de pedidos de parcelamento veiculados anteriormente ao advento da referida lei complementar, “não havendo procedimento administrativo em curso contra o contribuinte pelo não recolhimento do tributo e deferido pedido de parcelamento, configurada está a denúncia espontânea, que exclui a responsabilidade do contribuinte pela infração, afastando a incidência da multa moratória”.45

Ainda, no parcelamento, não há a obrigatoriedade de fixação do prazo de duração da medida, ao contrário do que ocorre na moratória (art. 153, inciso I).46

Sendo assim, o parcelamento é uma modalidade de moratória que também suspende a exigibilidade do crédito tributário, mas que, diferentemente dela, não exclui a incidência de multas e juros, salvo previsão legal dispondo o contrário.

                                                                                                                         

43 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 381-382; SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. p. 608; COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. p. 695. Na

jurisprudência: Recurso Especial n° 284189/SP, STJ, Primeira Seção, Relator: Ministro Franciulli Netto, julgado em 17/06/2002, DJ 26/05/2003, p. 254.

44 Em texto escrito antes da alteração legislativa, Betina Grupenmacher e Sandra Lewis defendiam a

aplicação do instituto da denúncia espontânea ao pagamento parcelado do débito tributário (GRUPENMACHER, Betina Treiger; LEWIS, Sandra Barbon. “Exclusão da multa em parcelamento de débito fiscal”. In: Revista Dialética de Direito Tributário, n. 56. São Paulo: Dialética, maio de 2000. p. 25- 31).

45 Embargos de Divergência em Recurso Especial n° 183313/RS, STJ, Primeira Seção, Relator: Ministro

Francisco Peçanha Martins, julgado em 22/11/2000, DJ 19/03/2001, p. 71. No mesmo sentido: Apelação em Mandado de Segurança n° 0015046-44.2003.4.01.3400/DF, TRF1, Oitava Turma, Relatora: Desembargadora Maria do Carmo Cardoso, julgado em 02/10/2007, publicado em 07/03/2008, e-DJF1, p.371.

46 MENDONÇA, Christine. “O regime jurídico do programa de recuperação fiscal – REFIS: parcelamento stricto sensu”. p. 106.