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Na concepção da teoria da fixação de metas de Locke e Latham, o objetivo era de que as metas provocariam um maior nível de motivação nos funcionários. Essa teoria foi criada em um contexto relacionado à produção no sentido de escalas, de produção em massa. Tal situação não amoldou-se completamente à atividade docente conforme trechos extraídos das entrevistas a seguir:

Não, não há metas estabelecidas. Eu acredito que a qualidade no ensino acaba sendo uma meta implícita. Eu nunca estabeleci uma meta, para falar a verdade. Eu acho que tudo pode ser obtido a partir da execução de um trabalho bem feito. Mas, no final das contas, eu não me atribuo metas, eu não me apego a metas e não vejo nenhuma implicação dessa situação no exercício das minhas funções. Vejo que quando você trabalha com foco na qualidade, isso dispensa as metas. Eu não estabeleço metas. [ENTREVISTADO 6)

Não, eu não trabalho com metas, mas, na verdade, depende da situação. Às vezes eu me imponho uma meta como, por exemplo, esse ano eu quero publicar três artigos. (ENTREVISTADO 7)

Após o meu retorno do doutorado, minha meta inicial era aprovar o curso […]. A próxima meta seria trabalhar para equipar os laboratórios e começar a publicar. Eu também tenho uma meta de dar uma boa aula e me preparar bem. (ENTREVISTADO 10)

A direção não estabelece metas, sei que tem algumas metas no PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional). Sei também que tem a questão da função social do Instituto e nós tentamos, na medida do possível, tentar atender algumas dessas funções, mas não nos foi passado, por exemplo, uma cartilha de aula com pontos para cada professor. Mas eu me estabeleço metas em relação à atividade docente, e trabalho com aquilo que eu acredito que seja importante para o meu aluno. (ENTREVISTADO 13)

Eu tenho algumas metas, como essa questão de voltar a atuar na pesquisa e na extensão. Eu já tenho ideias e estou aguardando as férias para ter um tempinho extra para escrever o projeto para que, no próximo semestre, eu já entre com a implementação disso. Então, eu sempre penso em algumas coisas que eu posso fazer. Eu acredito que isso me supra de uma forma geral no Instituto, o que é uma coisa que eu não tinha fora. Então, eu tenho condições de sentar aqui, escrever um projeto e ter a participação do aluno, que é uma coisa que eu não tinha. As minhas metas são nesse sentido. (ENTREVISTADO 12)

Nem consigo estabelecer metas, já desisti de metas há muito tempo. Eu tinha algumas, mas não tenho mais não, acabou. (ENTREVISTADO 11)

Quando se fala em metas, eu acredito que deveria indicar quais tipos de metas. Eu, como já falei, eu estou satisfeito. Eu pretendo sempre estar estudando. Mas em, termos de prática, de objetivos, é como eu falei, estou satisfeito, não estabeleço meta nenhuma. (ENTREVISTADO 8)

A teoria da fixação de metas pressupõe que as metas sejam estabelecidas pela organização e, preferencialmente, com a participação dos empregados. A situação retratada pelos docentes não comporta esse enquadramento. A organização não estabelece metas para os professores.

Através da análise de documentos, foi possível identificar que o IFNMG possui diversas metas estabelecidas, mas essas metas foram criadas sob uma perspectiva administrativa e gerencial. As metas incluídas pelo Instituto Federal no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do órgão, que é o documento que norteia as ações da instituição, define sua missão e as estratégias para atingimento das metas, vigoram pelo período de cinco anos, o que, no caso do IFNMG, começou em 2014 e finda em 2018. Essas metas constantes no PDI podem ser consideradas genéricas, ao contrário das metas específicas, quantificáveis e mensuráveis recomendadas pela teoria da fixação de metas. Como exemplo de objetivo genérico, é possível citar a meta referente a “ampliação da área de atuação do IFNMG na oferta de novos cursos de graduação, criados a partir de pesquisa de demanda e perfil de egresso” (IFNMG, 2013, Online), ou da meta que trata do “fortalecimento dos cursos existentes, de modo que possam cumprir as funções acadêmicas, humanísticas, científicas e sociais” (IFNMG, 2013, Online). As metas estabelecidas neste documento institucional demonstraram não possuir aplicação prática na atividade docente ou, pelo menos, os docentes entrevistados não conseguiram identificar nenhuma meta institucional que fizesse referência às suas atividades.

No entanto, apesar dessa constatação, é possível afirmar que a ausência de metas da organização para os professores se deve principalmente em razão das características do trabalho docente, conforme alguns entrevistados afirmaram. Essa situação pode ser explicada em razão da caracterização da individualidade do trabalho docente, uma atividade quase que solitária, conforme Paim (2014) afirma:

[…] a tendência do docente é de trabalhar sozinho, sob a proteção da iniciativa pessoal e da liberdade científica. […] de modo geral, é a própria universidade que gera sua estrutura em torno do “individual”: as disciplinas, as pesquisas empreendidas, as publicações e até mesmo a formação docente. Enfatiza-se a liberdade acadêmica e, a partir deste princípio, supõe-se que cada professor adotará as posições que melhor se adaptem ao cenário e às suas necessidades. (PAIM, 2014,

Online)

Apesar de alguns docentes relatarem algumas metas próprias, a quase totalidade dessas metas relatadas referem-se a objetivos vagos como, por exemplo, “dar uma boa aula e me

preparar bem” (Entrevistado 10), o que não se enquadra na teoria da fixação de metas que estipula que a meta deve ser específica e, se for possível, quantificável e mensurável.

Além disso, o ponto principal, conforme já relatado, é que as metas não foram estipuladas pela organização. A instituição pesquisada não define metas para os funcionários entrevistados. Como a teoria da fixação de metas está relacionada à adoção de metas que serão aplicadas aos funcionários pela organização, entende-se que essa teoria não é observável na instituição pesquisada. Sendo assim, a teoria da fixação de metas não pode ser utilizada para verificar a percepção sobre a motivação dos professores do IFNMG que se afastaram para mestrado ou doutorado.

Feita essa análise sobre a teoria das metas, o próximo tópico analisará a percepção individual dos professores sobre a sua motivação no trabalho.

4.11 A PERCEPÇÃO DOS DOCENTES DE ACORDO COM AS SUAS CONCEPÇÕES