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A aprendizagem das línguas estrangeiras tem se tornado nos últimos anos um diferencial, principalmente, no que se refere às oportunidades empregatícias que se apresentam às pessoas que dominam um ou mais idiomas. Num mundo cada vez mais globalizado as pessoas projetam na aprendizagem de outra língua estrangeira, tanto o estreitamento das relações de comunicação entre as pessoas de distintos países, quanto a probabilidade de ascenderam a postos mais elevados no âmbito profissional.

Nossos alunos interlocutores, em suas as falas destacaram as motivações que os levaram à aprendizagem de uma língua estrangeira, e mais precisamente, a escolha da língua espanhola. Na tabela 7 e gráfico 7 abaixo estão apresentadas as motivações, em evidência a partir dos núcleos de referência e seus equivalentes paradigmáticos:

Quadro 12 – NR: motivações para aprendizagem de E/LE

ORDEM CÓDIGOS NÚCLEOS EQUIVALENTES PARADIGMÁTICOS

1. Op Opinião Eu escolhi a língua espanhola pensando em qualificação para o mercado de trabalho, já tinha feito o curso de inglês, aí tive oportunidade de fazer o de espanhol, tinha uma bolsa garantida, e então porque não fazer? Tinha tempo, tinha o curso a minha disposição, não ia gastar nada. Além disso, a língua espanhola cresceu muito nos últimos anos. (Aluno Roberto)

Eu escolhi a língua espanhola por ser um idioma latino, o que facilitaria minha aprendizagem deste idioma, [...] optei pelo espanhol para agregar ao currículo um curso de idiomas e também, para acompanhar a parte esportiva e os noticiários tudo em espanhol pelo rádio.

(Aluno Pedro)

eu já tinha muita vontade de aprender o espanhol, porque sempre achei bonita a língua, e quando eu assistia a filmes em espanhol ficava igual a uma criança. Na escola, no Ensino Médio, eu aprendi muito pouco do espanhol. (Aluno Júlio)

2. Rea Reação E quando me ofereceram uma bolsa de estudos para cursar o espanhol no IFRN, não pensei duas vezes, fui fazer o curso, gostei muito. (Aluno Júlio)

3. Alceg Aluno cego Eu; me;

4. Apr Aprendizagem Fazer o curso; tinha feito; cursar 5. LíngE Língua Espanhola espanhol; língua; idioma

Tabela 7 – Níveis de incidência dos NR: motivações para aprendizagem de E/LE N° de

INT Nº de P Apr OCORRÊNCIA DOS NÚCLEOS DE REFERÊNCIA Alceg Rea Op LíngE TOTAL

3 41 6 11 4 10 10 41

% 100 14,6 26,8 9,8 24,4 24,4 100

Fonte: NASCIMENTO, Irys de F. G. Arquivo pessoal, 2013.

Gráfico 7 – Motivações para aprendizagem de E/LE

Fonte: NASCIMENTO, Irys de F. G. Arquivo pessoal, 2013.

Na tabela 7 e gráfico 7 acima, os núcleos mais incidentes são: Aluno cego (Alceg), com percentual de 26, 8%, Opinião e Língua Espanhola, estando os dois últimos com igual incidência, ou seja, 24,4%. Nó tópico discutido a incidência ocorre pelo fato de os alunos cegos esclarecerem os reais motivos pelos quais eles optaram pela aprendizagem da língua espanhola. Temos ainda, os núcleos Aprendizagem (Apr) com 14,8% e Reação (Rea) com 9,8%.

A tabela 7 mostra na fala dos discentes que diferentes motivações os levaram à aprendizagem da língua espanhola, entre as motivações apresentadas estão: qualificação para o mercado de trabalho; disponibilidade; tempo; interesse; condições favoráveis, principalmente, no que se refere à gratuidade; a semelhança deste idioma com a língua portuguesa; além de outras motivações de ordem pessoal, como a oportunidade de acompanhar as notícias apresentadas no idioma em questão e a necessidade de agregar mais conhecimentos, que não foram suficientemente transmitidos na escola regular.

Abordamos esta discussão por acreditarmos que a motivação para a aprendizagem de uma língua estrangeira é fator influenciador no processo de aprender, pois concordamos com Morales (2009) quando assinala que, o aluno está

14,6

26,8

9,8

24,4 24,4

Apr Alceg Rea Op LínE

0 5 10 15 20 25 30

mais propenso à aprendizagem, quando há um interesse próprio, quando há uma intencionalidade por parte do aluno para a aquisição daquele conhecimento.

Nossos interlocutores expressam claramente suas motivações nas seguintes proposições:

- Eu escolhi a língua espanhola pensando em qualificação para o mercado de trabalho, [..] Tinha tempo, tinha o curso a minha disposição, não ia gastar nada. Além disso, a língua espanhola cresceu muito nos últimos anos. (P.1, P.6 a P.8)

- optei pelo espanhol para agregar ao currículo um curso de idiomas e também, para acompanhar a parte esportiva e os noticiários tudo em espanhol pelo rádio (P. 10 e P.11)

- eu já tinha muita vontade de aprender o espanhol, porque sempre achei bonita a língua, [..] Na escola, no Ensino Médio, eu aprendi muito pouco do espanhol. (P.12 e P.13; P.16)

As proposições nos indicam que os discentes, estão cientes quanto ao objetivo que os guiou à aprendizagem da língua espanhola e os expressaram livremente, em sua forma mais completa nas proposições acima destacadas.

Nossa leitura acerca destas explanações nos leva a acreditar que nossos interlocutores discentes demonstravam a condição de estarem abertos à aprendizagem da língua espanhola, e aptos a adquirir os conhecimentos necessários para o domínio da língua.

Por este motivo, ressaltamos que o processo de ensino e aprendizagem de língua e, em concreto, o da língua espanhola, não se desarticula da sociedade na qual estamos inseridos, melhor explicando, as intenções e motivações pessoais e/ou sociais são favorecedoras da aprendizagem de uma língua estrangeira, como assegura, ainda mais, Baralo (2004) quando defende que no ensino de línguas, a motivação faz com que seja determinada a produção de uma real apropriação do conhecimento ou que esse conhecimento seja alcançado, pois à medida que são intensificados, por parte do aprendiz, o interesse e a necessidade da língua, o processo de aprendizagem, certamente, ocorrerá e, gradualmente, conseguirá um avanço esperado.

5.8 O aprender a língua espanhola: ações e recursos didáticos percebidos pelos alunos cegos.

No que se refere ao aprender e ensinar língua espanhola, ou seja, as aulas de língua espanhola propriamente dita, as ações didáticas e os recursos utilizados na sala de aula, na percepção dos alunos cegos encontramos, a partir das suas falas, nove núcleos de referência, advindos da ordenação de 20 proposições, que se relacionam. Os depoimentos foram destacados no quadro 13 a seguir.

Quadro 13 – NR: ações e recursos didáticos percebidos pelos alunos cegos.

ORDEM CÓDIGOS NÚCLEOS EQUIVALENTES PARADIGMÁTICOS

1. RecD Recursos

Didáticos eu tive três professores, o professor Carlos usava bastante o quadro, usava filmes, usava músicas; ele não se prendia ao recurso do livro; a professora Ana que trabalhava com material concreto, ela levava bastante vídeo, ela levava algumas vasilhas com produtos de limpeza para a gente aprender o nome; tinha a professora Rosa, que foi muito bacana. Ela gostava muito da parte da gramática, da literatura e tal; (Aluno Pedro)

2. Exc Exclusão Nas aulas de espanhol foram usados filmes, músicas, mas não havia nenhuma estratégia específica para mim; Mas, várias vezes eu fiquei de fora das atividades em sala, (Aluno Júlio)

3. Apr Aprendizagem O primeiro foi mais produtivo, mais proveitoso para mim, porque no segundo fiquei mais na acomodação, participava da aula, assistia todas as aulas, mas não entregava as tarefas; (Aluno Roberto)

4. Reação Rea Ficar mais na acomodação; não entregar as tarefas. 5. Ens Ensino Primeiro; segundo; aula.

6. Prof Professor Carlos; Ana; Rosa; ele; a (culpo). 7. Alceg Aluno cego A gente; mim; eu.

8. AçD Ações

Didáticas ele não se prendia ao recurso do livro; (Aluno Pedro) o professor direcionava a atividade perguntando e mediando, quando necessário (Aluno Roberto)

9. Op Opinião Eu não a culpo, porque era a primeira vez que ela ensinava a um deficiente visual, e ela não sabia o que fazer; (Aluno Júlio)

Ele passava as atividades e era faça se quiser, se não quiser não faça e tal. Foi totalmente diferente. (Aluno Roberto)

Por ordem de maior incidência os núcleos destacados são: Professor (Prof – 20%), Recursos Didáticos (RecD – 18,3%), Ensino e Opinião (Ens – 13,3% e Op – 13,3%), Ações Didáticas (AçD – 11,7%), Aluno cego e Exclusão (Alceg – 6,7% e Exc – 6,7%), Reação (Rea – 5%) e Aprendizagem (Apr – 5%). Eles podem ser melhor observados na tabela 8 e gráfico 8 seguintes.

Tabela 8 – Níveis de incidência dos NR: ações e recursos didáticos percebidos pelos alunos cegos.

N° de INT Nº de P

OCORRÊNCIA DOS NÚCLEOS DE REFERÊNCIA

TOTAL Ens Apr Alceg Prof Rea Op AçD RecD Exc

3 20 8 3 4 12 3 8 7 11 4 60

% 100 13,3 5 6,7 20 5 13,3 11,7 18,3 6,7 100 Fonte: NASCIMENTO, Irys de F. G. Arquivo pessoal, 2013.

Gráfico 8 – Ações e recursos didáticos percebidos pelos alunos cegos

Fonte: NASCIMENTO, Irys de F. G. Arquivo pessoal, 2013.

Na opinião dos alunos dos cegos, apartir da análise da tabela e gráfico acima, percebemos que os núcleos de maior incidência são os professores, os recursos didáticos e a influências dos dois primeiros núcleos no terceiro: ensino. Sendo os três núcleos, na percepção dos alunos, os mais preponderantes ao seu aprender e mais destacados.

Contudo, nos depoimentos percebemos a existência de sentimentos de exclusão, que se manifestam, principalmente, em um dos núcleos de grande incidência, ou seja, nos recursos didáticos. Destacamos as proposições reforçadoras deste aspecto para visualizarmos, mais enfaticamente, a fala dos discentes cegos, sobre estes sentimentos e sua relação com os recursos didáticos:

13,3% 5% 6,7% 20% 5% 13,3% 11,7% 18,3% 6,7% 0 5 10 15 20 25

- Ele passava as atividades e era faça se quiser, se não quiser não faça e tal. (P 6 e P 7).

- Nas aulas de espanhol foram usados filmes, músicas, mas não havia nenhuma estratégia específica para mim (P 21 e 22).

- Mas, várias vezes eu fiquei de fora das atividades em sala, (P. 28).

Acerca dos relatos apresentados, observamos algumas dificuldades pelas quais passaram os alunos cegos na sala de aula do ensino de Língua Espanhola. Os depoimentos retratam atitudes que não deveriam condizer com os objetivos e preceitos de um ensino para todos, que acabam influenciando no processo de ensino-aprendizagem desses alunos.

Tratando do ensino de Língua Espanhola, algumas práticas apresentadas nos depoimentos desvinculam os alunos da possibilidade de adquirir um acesso a outros conhecimentos, principalmente da capacidade de refletir sobre a natureza das linguagens que, por sua vez, contribuirão para que ele construa uma percepção crítica de si mesmo como ser humano (OLIVEIRA, L. 2009; MOITA LOPES, 2002).

No ensino de línguas, a diversificação dos recursos utilizados é fundamental, para que o aluno esteja exposto às mais variadas mostras da língua aprendida, para o favorecimento da aprendizagem, também a consideração das divergências entre ela e a língua materna (para nós, a língua portuguesa), as especificidades lingüísticas e culturais que envolvem a língua estrangeira e a reflexão quanto à utilização em contextos comunicativos (ALMEIDA FILHO, 2002).

Quanto aos recursos percebidos pelos alunos cegos, tendo por base seus depoimentos, inferimos que nem sempre a utilização de terminados recursos na tentativa de ensinar a língua por meio de outras possibilidades, os contemplou.

Nessa perspectiva, é imprescindível retomar a discussão quanto à formação de professores para atuar no ensino de línguas, uma vez que a atuação docente é fundamental, pois eles serão os mediadores do conhecimento e junto aos estudantes, conduzirão à construção dos saberes.

No ensino a atuação do professor é fundamental, pois leva o aluno gradativamente a alcançar novos níveis de compreensão dos conhecimentos trabalhados, e essa atuação se concretiza por meio das propostas didáticas e das intervenções realizadas por ele.

Corroborando com esta idéia Weisz (2009) declara que a função docente se consolida na criação de condições, para que o aluno possa exercer sua ação de aprender, participando de situações que favoreçam esta aprendizagem.

Entretanto, na sala de aula de língua espanhola, esta consolidação do aprender ainda está caminhando, quiçá rumo a uma concretização, quando os recursos didáticos utilizados não conseguem responder as necessidades de aprendizagem dos alunos cegos.

Percebemos, então, ser imprescindível a efetivação de ações que abarquem todo o âmbito educacional, pois, somente por meio do reconhecimento das necessidades dos discentes, de uma estrutura curricular apropriada, de estratégias de ensino que realmente respondam às necessidades educacionais, do uso específico de recursos, e, finalmente, das parcerias entre todos que fazem parte do processo de ensinar e aprender, serão responsáveis pela consolidação da educação como um direito de todas as pessoas (AGUIAR, 2004).