Capítulo I – Enquadramento teórico
3. O voluntariado empresarial como potenciador das práticas de gestão de
3.2. Motivações para o voluntariado empresarial
Após analisarmos quais as competências que podem ser desenvolvidas com os programas de voluntariado, é importante estudar as motivações que levam os colaboradores a participar em ações/atividades de voluntariado, pois estando motivados, desenvolvem as suas competências de um modo muito mais eficaz e natural.
Este ponto aborda as motivações que levam os colaboradores a exercerem trabalho voluntário. Existem múltiplas motivações para o voluntariado. Para se melhor perceber e enquadrar estas motivações foram realizados estudos com escalas relacionadas às motivações do voluntariado. Uma das escalas mais utilizadas nesta matéria é a escala VFI, que divide as motivações em seis grandes categorias.
Clary et al. (1998) fundamentam a sua pesquisa, ressalvando que os indivíduos/colaboradores participam em ações de voluntariado por motivações
distintas, de forma a satisfazer as suas necessidades. Assim, através da escala VFI (Volunteer Functions Inventory) foram identificadas seis categorias de motivação, que levam à prática de ações/atividades de voluntariado:
1. Valores - preocupações altruístas e humanitárias para com os outros; 2. Compreensão – aquisição de conhecimentos, capacidades e competências; 3. Reforço - crescimento pessoal e desenvolvimento psicológico;
4. Social – fortalecimento das relações com os outros; 5. Proteção - resolução de problemas;
6. Carreira - experiência profissional.
Este modelo divide as motivações de acordo com as suas funções (Clary et al., 1998): função de valores, ou seja, oportunidades para o voluntário expressar os seus próprios valores, altruísmo e humanismo; função de compreensão, isto é, a oportunidade para aprender e exercitar o seu conhecimento e habilidades;função de reforço, de forma a crescer e desenvolver-se psicologicamente; função social, oportunidade de estar com amigos ou fazer novos amigos;função de proteção, relacionada com a resolução de problemas pessoais, podendo servir para reduzir a culpa, por ser mais afortunado que outros, reduzir sentimentos negativos e, por último, a função de carreira, no sentido de conseguir ganhar experiência, contribuindo para a melhorar (Ferreira, Proença e Proença, 2008).
Ferreira, Proença e Proença (2008), na investigação que efetuaram com voluntários hospitalares, concluíram que os quatro grupos de motivações principais para o voluntariado são: altruísmo, pertença, ego e reconhecimento social, aprendizagem e desenvolvimento.
O quadro que se segue (página seguinte - tabela 4) mostra os resultados obtidos, acerca das motivações do voluntariado hospitalar do estudo deFerreira, Proença & Proença (2008). Este foi adaptado e inclui ainda a função carreira, fator que pode ser importante para os colaboradores exercerem programas de voluntariado empresarial.
TABELA 4
Motivações para o voluntariado
Altruísmo
- Ajudar os outros; - Fazer que valha a pena; - Sentido de missão;
- A organização ajuda aqueles que são necessitados.
Pertença
- Conctato social;
- Ser bem aceite na comunidade; - Disponibilidade.
Ego/Reconhecimento Social
- Interesse nas atividades da organização;
- Sentimentos de autoestima, confiança e satisfação; respeito e reconhecimento.
- Contactos institucionais. Aprendizagem
e
desenvolvimento
- Novos desafios e experiências; - Enriquecimento pessoal.
Carreira
- Evolução na carreira profissional;
- Ter mais conhecimento e estar envolvido em problemáticas importantes.
Fonte: adaptado de Ferreira, Proença & Proença, 2008
Dolnicar e Randle (2004), ao analisarem as caraterísticas comportamentais e sociodemográficas dos indivíduos, identificaram que determinadas variáveis estão diretamente relacionadas com o perfil do voluntário típico. O elevado nível
de educação é considerado como o indicador mais comum, nos vários estudos efetuados (McPherson & Rotolo, 1996). A situação profissional, as atitudes altruístas, como o sentido de dever cívico e a preocupação com o bem comum, são outras variáveis que por norma são associadas aos voluntários. Para Fischer, Mueller e Cooper (1991), a religião, o espírito de coesão comunitária e a responsabilidade para com próximo estão bastante relacionados com a adesão ao voluntariado.
Dolnicar, Grun e Randle (2007), reconhecem que os sujeitos do sexo masculino preferem praticar ações de voluntariado na área desportiva ou recreativa, enquanto os indivíduos do género feminino estão mais predispostos a realizar ações sociais na comunidade.
Em concordância, Curado e Menegon (2009) declaram que o trabalho social, em geral, é praticado por indivíduos do género feminino. A vontade de vincular os sentimentos de amor ao próximo é manifestada com mais impacto no sexo feminino (Dal Rio citado em Souza, 2007), remetendo assim para o papel maternal, tradicionalmente atribuído à mulher (Zweigenhaft et al., 1996).
Rocha et al. (2006), com base no seu estudo, sustentam que para a maior parte dos jovens, as motivações para a prática do voluntariado estão associadas a uma forte vontade de obter experiência, com o intuito de melhorar as competências pessoais. Na mesma linha de pensamento, Briggs et al (2010) chegaram à conclusão que a diferença de idades influencia as razões pelas quais os indivíduos se voluntariam. A título de exemplo, pode dizer-se que os adultos mais jovens (até aos 35 anos) são mais suscetíveis de serem motivados por razões pessoais, enquanto que os adultos mais velhos, tendem a ser motivados por outras razões e valores.
Assim, os indivíduos que estão no início da sua atividade profissional participam em ações/atividades de voluntariado, essencialmente por causa da
pressão, da imagem e da necessidade de desenvolvimento pessoal. Já os adultos mais velhos estão disponíveis para desenvolverem atividades de voluntariado, pelo sentimento de responsabilidade para com a comunidade local, e também pela contribuição do bem-estar do próximo. (Wei, Donthu & Bernhardt, 2011).
Na investigação de Dolnicar, Grun e Randle (2007), salienta-se que as motivações podem dar origem a seis segmentos: segmento 1- voluntários clássicos; segmento 2 – voluntários dedicados; segmento 3 – voluntários que procuram envolvimento pessoal; segmento 4 – voluntários que procuram satisfação pessoal; segmento 5 – voluntários de nicho; segmento 6 – voluntários altruístas. Para estes autores, os motivos que podem justificar a prática do voluntariado são: contacto social, satisfação, envolvimento pessoal, crenças religiosas, aquisição de novas competências, sentimento de utilidade em ajudar os outros, adquirir experiência profissional, testar a sua capacidade, obrigação, apenas, porque aconteceu algo relacionado com o voluntariado.
Em relação às motivações para o voluntariado empresarial, são encontrados na literatura estudos que também recorrem à escala VFI.
Peterson (2004) aplicou esta escala ao nível do voluntariado empresarial, e encontrou correspondência de motivos e estratégias de recrutamento de colaboradores voluntários. Este afirma que para o sucesso de um programa de voluntariado empresarial é essencial auscultar as necessidades dos colaboradores e o que pode ser feito para as satisfazer.
Já, van Schie (2011) propõe, através do modelo VFI, fazer a correspondência entre o voluntariado e o voluntariado empresarial. Os seis principais tipos de motivação, explorados por Clary et al, (1999), são transportados para o voluntariado empresarial onde se tentam alinhar aos resultados específicos, para a organização e colaboradores. O autor refere que os ganhos do voluntariado e os ganhos para a organização estão ligados, através de funções subjacentes. Para
se alcançar estes ganhos para a organização, as motivações têm de ser estudadas e trabalhadas. A tabela (nº5) que se segue representa a matriz win-win para um programa de voluntariado empresarial, através das motivações dos funcionários.
TABELA 5
Motivações para o voluntariado adaptado ao voluntariado empresarial
Fonte: adaptado de van Schie, 2011 Função Implicações para o programa Benefícios - Colaboradores
voluntários
Benefícios - Organização
Valores Tarefas relacionadas com valores de referências éticas.
- Ser um bom cidadão; - Experiência; -Sentido de um propósito. - Cumprimento dos requisitos da responsabilidade social empresarial.
Compreensão - Permitir que os colaboradores adquiram
experiência em novos campos de atividade.
- Aquisição de novas competências; - Abertura da mente. - Enriquecimento do trabalho; - Formação de colaboradores.
Reforço - Permitir que os colaboradores se reunam num ambiente de trabalho desconhecido; - Destacar o trabalho em equipa;
- Feed-back com os beneficiários.
- Rede social; - Crescimento pessoal; - Sensação de propósito; - Autoeficácia. - Evento de equipa; - Consolidação de equipas; -Personalidades equilibradas.
Carreira - Recompensar os trabalhadores voluntários; - Imagem pública do trabalho em equipa dos colaboradores;
- Oferta de projetos de desenvolvimento pessoal.
- Melhora o curriculum vitae. - Melhor imagem;
- Colaboradores mais hábeis; - Oportunidades de recrutamento e seleção.
Social - Criação de listas públicas com participantes importantes para legitimar o programa. - Sentido de pertença a um grupo. -Fortalecimento corporativo; - Melhor comunicação; - Solucionar problemas.
Proteção - Destaque das diferenças entre o trabalho da organização e o trabalho voluntário.
- Reforça os recursos contra o absentismo;
- Reforça o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
- Promoção equilibrada dos colaboradores;
- Redução das paragens no tempo de trabalho.
Conclui-se com esta tabela (nº5) que o programa de voluntariado empresarial oferece uma alternativa às tarefas diárias. Isto poderá permitir que os colaboradores abram as suas mentes e adquiram novas competências que podem ser aplicadas em diferentes departamentos da organização (van Schie, 2011). O autor adaptou a tabela das motivações, pois assume que o voluntariado e o voluntariado empresarial são parcialmente equivalentes. Por exemplo, na função carreira é necessário mudar o foco, quando transferido para o ambiente de trabalho. Os valores poderão ser de diferente compreensão entre os dois tipos de voluntariado.
Em resumo, os indivíduos que desenvolvem ações/atividades de voluntariado possuem as mais variadas motivações que originam um conjunto de benefícios para si, para outros e para a comunidade onde estão inseridos. Estas motivações levam à satisfação e ao bem-estar geral dos colaboradores, tema que será abordado no ponto seguinte.