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Capítulo I – Enquadramento teórico

3. O voluntariado empresarial como potenciador das práticas de gestão de

3.3. Satisfação, felicidade e bem-estar geral

Ao fazer a revisão bibliográfica, foram encontradas diversas investigações, onde vários autores afirmam que as motivações resultantes das ações/atividades de voluntariado estão positivamente associadas com a satisfação e o bem-estar do indivíduo. Por exemplo, Morrow-Howell et al. (2003), Greenfield e Marks (2004) e Wu, Tang e Yang (2005) referem que o trabalho voluntário está diretamente associado à maior satisfação com a vida e ao bem-estar geral, e que um maior envolvimento com o voluntariado também está relacionado com esses sentimentos.

As ações/atividades de voluntariado empresarial contribuem para uma sociedade mais justa e equitativa, sendo importante não apenas para os beneficiários destas práticas, mas também para os indivíduos que doam o seu tempo, know how e skills. Visam contribuir para uma sociedade mais equilibrada. Da mesma forma que a pessoa singular tira partido das atividades de voluntariado, as organizações por sua vez também são beneficiadas, pois é verificada uma estreita relação entre a satisfação no trabalho voluntário e o volume de negócios (Watson & Abzug, 2005).

Ao constatar as várias definições existentes na literatura, impõe-se colocar a pergunta:

- O que se entende por satisfação com as atividades de voluntariado? Andrade (2001) afirma que a satisfação não é mais que um prazer que resulta da realização do que se espera e do que se deseja. Contudo, a satisfação sentida pelos voluntários pode ser explicada, em grande parte, pelo uso de recompensas simbólicas e várias formas de reconhecimento (Farrell, Johnson & Twynam, 1998). Já, Ferreira, Proença e Proença, (2011b) defendem que o recrutamento e formação podem influenciar a satisfação dos voluntários.

Ferreira, Proença e Proença (2011b), acrescentam ainda que a satisfação é um fator primordial na retenção de voluntários. Neste sentido, surge a necessidade de em primeiro lugar criar processos de recrutamento e formação, para que a qualidade do trabalho voluntário seja verificada. Em segundo, é necessário esclarecer que o recrutamento tem como objetivo a seleção para atrair e reter os indivíduos que serão futuros voluntários. Por último, é necessário argumentar que a formação é um mecanismo que instrui o voluntário em aspetos específicos, relacionados com as aptidões e comportamentos fundamentais para realizar o seu trabalho voluntário (McCurley citado em Ferreira, Proença & Proença, 2011b).

Do mesmo modo, Silverberg et al, citados em Ferreira, Proença & Proença (2011b) consideram útil a avaliação da satisfação dos voluntários e a obtenção de medidas de satisfação dos mesmos, com o objetivo de se perceber se as suas necessidades estão a ser atendidas.

Uma grande percentagem dos voluntários valorizam as recompensas, querendo que o seu trabalho seja apreciado (Hsieh, Curtis & Smith, 2007), e alguns apreciam um reconhecimento mais formal, por parte das organizações (Brudney citado em Ferreira, Proença & Proença, 2011b). Assim, o facto de o voluntário ser distinguido, é algo muito importante (Holmberg & Söderlung, 2005), tal como o recrutamento, a formação e a recompensa podem influenciar o seu desempenho na organização (Ferreira, Proença & Proença, 2008).

Ferreira, Proença e Proença (2011b) elaboraram um estudo, recorrendo a uma amostra de 76 voluntários hospitalares. Estes voluntários pertenciam a organizações sem fins lucrativos. Foi então utilizada a escala SHRM - Satisfaction with Human Resource Management (Jiménez, Fuertes e Abad, 2009; Silverberg, Marshall e Ellis, 2001) para mensurar a satisfação dos voluntários com os órgãos de gestão de recursos humanos.

Com este estudo concluiu-se que as práticas da gestão de recursos humanos, recrutamento, formação e benefícios podem influenciar a satisfação dos voluntários. Nesta investigação, a formação é apontada como o fator com mais relevo para a satisfação do voluntário (Ferreira, Proença & Proença, 2011b).

As atividades de voluntariado estão ligadas não apenas à satisfação, mas também ao bem-estar e à felicidade dos voluntários. A felicidade pode ser interpretada como uma emoção básica, caraterizada por um estado emocional positivo, juntamente com um sentimento de bem-estar e prazer (Ferraz, Tavares & Zilberman, 2007). Por sua vez, Mogilner, Aaker e Kamvar (2011) afirmam que a felicidade é flexível, isto é, ora existe em determinados momentos, ora está

presente ao longo da vida. Para, Gilbert (2006), a felicidade é muito subjetiva e tem significados diferentes para cada indivíduo, mas a maioria dos indivíduos são capazes de classificar os seus níveis de felicidade e satisfação com a sua vida (Lyubomirsky & Lepper, 1997).

Lybomirsky e Lepper (1997) estudaram a capacidade de autoclassificação da felicidade e bem-estar dos indivíduos, através da escala de felicidade subjetiva (Subjective Happiness Scale - SHS). Esta escala foi testada e validada na sua investigação, permitindo avaliar, de forma subjetiva e global, os níveis de felicidade. A escala da felicidade subjetiva possui quatro perguntas que têm como objetivo medir os níveis de felicidade, avaliando a parte afetiva e cognitiva do indivíduo.

Num outro estudo, Thoits e Hewitt (2001) afirmam que o voluntariado pode contribuir para a diminuição do stress psicológico e para reduzir as suas consequências negativas. Tal circunstância aumenta a satisfação com a vida, a vontade de viver e ainda reduz os sintomas de depressão e ansiedade. A este propósito, Mostyn citado em Wei et al. (2011) afirma que o voluntariado poderá ajudar a reduzir o sentimento de solidão, a depressão e outras formas de privação emocional. Dentro deste tema, Souza (2007) afirma que a alegria, a felicidade, a amizade, a qualidade de vida e a saúde podem ser benefícios que resultam da realização de ações/atividades de voluntariado.

Em síntese, o voluntariado gera diversos benefícios, não só para as instituições e organizações que são apoiadas, mas também para os próprios voluntários que doam o seu tempo em prol dos mais necessitados, contribuindo para uma sociedade justa e com menor desigualdade. Conclui-se ainda, que colaboradores motivados são mais satisfeitos e felizes, podendo desenvolver melhor as suas competências em projetos de voluntariado empresarial.