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3.6 Análise do corpus

3.6.3 Movimento 3: apresentando a metodologia

Enquanto M2 apresenta elementos gerais da pesquisa, o terceiro movimento detalha como o estudo foi realizado. Aparecem informações sobre os dados compilados ou o corpus reunido, menções aos informantes, a experimentos, a procedimentos de análise. Aqui as alusões à literatura se referem à aplicação metodologias ou à operacionalização de uma teoria, de conceitos, enquanto em M2 a literatura está mais relacionada à abordagem teórico-metodológica geral, sem que

se descrevam os modos de tratar o objeto.

As características desse movimento são bem simples se comparamos com os dois anteriores. A sua particularidade reside na extensão, detalhamento desse movimento e na posição em que ocupa. Quanto à extensão e detalhamento, podemos citar este exemplo integral do resumo 52. Lengas-78-2015-956, “Les parlers urbains vus par les nomades” (Os falares urbanos vistos pelos nômades):

M3 Metodologia Corpus procedimentos informantes M2 Objetivo, Objeto, Pesquisa abordagem M3 Metodologia Corpus M3 Metodologia, Corpus procedimento justificativa 1 2 3 4

Les données exploitées dans cette étude découlent d’une enquête de terrain menée dans la ville de Constantine auprès d’une tribu nomade « Ouled Nail ».

L’objectif était de comprendre les représentations sociolinguistiques que ces locuteurs développent autours des différents parlers urbains qu’ils rencontrent au cours de leurs déplacements.

L’étude se base ainsi sur une analyse épilinguistique d’un corpus authentique composé principalement d’entretiens.

L’arrière plan méthodologique de cette recherche est fondé sur une triangulation des outils d’investigation, une démarche qui nous a permis de valider les données collectées et de confirmer les résultats obtenus.

Nesse exemplo, das 93 palavras, 70 pertencem ao campo da Metodologia. A autora escolheu apresentar mais detalhes sobre os informantes (residência, etnia) e as condições de coleta (entrevistas, corpus autêntico), e enfim do tratamento dado a ele (triangulação) do que quaisquer outros aspectos da pesquisa.

É interessante que o foco sobre a metodologia implica na colocação do pesquisador no centro do artigo, como o grande ator da pesquisa. Isso nos remete à análise de Bazerman (1988a) sobre como a reportagem do experimento vai se alterando ao longo do tempo e como o artigo muda de forma a dar conta dos novos pressupostos da pesquisa experimental: passando da mera menção de fatos para a descrição elaborada da metodologia e do experimento e nesse momento põe a habilidade do cientista em executar e sobretudo criar aparelhos de experimento. Ainda que esse resumo não pertença a essa área, dá mostras do rigor da pesquisa, e da elaboração e manipulação de protocolos adequados de investigação.

demasia), há uma atual rotinização das menções da metodologia, evidenciadas pela magra parcela da seção, pelo uso de fontes em tamanho menor que o do resto do texto (BAZERMAN, 1988b), pelo uso abundante de terminologias referentes a procedimentos de referência (SWALES, 1990, p.166-170).

Outros textos podem dar pouca importância à metodologia, apresentando M3 de modo vago e em inciso a outros movimentos, ou mesmo podem não mencionar a metodologia do estudo. Essa importância tem um fundo disciplinar quando se divide as disciplinas em ciências de modelos preditivos (GROSSMANN, 2010) baseados na verificação de hipóteses, na dedução, no experimento para as ciências dessa área, enquanto as ciências de modelos hermenêuticos se fundam na verificação das fontes, na consideração dos contextos para a interpretação, no recurso a um aparato conceitual pertencente a uma tradição para apoiar a análise. Isso todavia não nos deve fazer crer que as disciplinas naturais ou mais próximas a esse polo descrevam com atenção a metodologia, enquanto as disciplinas próximas ao outro polo das Humanidades passam ao largo desse aspecto. Fatores como o grau de rigidez dos paradigmas (KUNH, 2013) pode enfraquecer a descrição metodológica quando os pesquisadores se restringem a utilizar os protocolos já sancionados e bem conhecidos. Ou então, o desejo de mostrar o processo de investigação pode fazer a apresentação da metodologia ganhar espaço nos estudos de Ciências Sociais e Humanidades. Swales (1990) faz algumas observações sobre a seção Métodos, no modelo IMRD, que nos advertem contra presunções sobre as disciplinas e a ciência:

The careful step-by-step description, massively supported by anaphoric reference and lexical repetition, produces the kind of explicitness that we associate with standard academic description. In constrast, Method sections in the physical and life sciences are enigmatic, swift, presumptive of background knowledge, not designed for easy replication, and with little statement of rationale or discussion of the choices made. These differences can presumably be related to a number of sociological and intellectual phenomena, such as the nature of the discourse community, the level of agreement about appropriate methodology, the extent to which a demonstrably adequate methodology is deemed necessary, and the role assigned to controlled experiment in the discipline. Presumably, it is parameters such as these that explain why the Method section assumes great importance in most psychological and educational research, but can be assigned scant attention and space in an area like biochemistry. (SWALES, 1990, p.169)124

A partir da figura 14 abaixo, das Tabelas 14a e 14b e baseando-nos nessa diferença de modelos epistemológicos apresentados pelo autor, compreende-se assim que de modo idealizado em História das Ideias a metodologia ofereça pouco interesse na elaboração de um texto que é baseado na habilidade do autor em estabelecer relações, fazer análises, empregar conceitos para destrinchar um assunto complexo situado no campo da ação humana (4/15 ou 26,67% dos resumos têm M3); e que ao contrário nas áreas cognitivas se preocupe mais em apresentar o modo em que um experimento foi conduzido (11/15 ou 73,33% dos resumos têm M3), além da hipótese de que a presença do modelo IMRD seja mais presente nessa disciplina, o qual exige que se trate com obrigatoriedade esse aspecto. Por outro lado, seguindo as afirmações de Swales acima, entende-se o destaque acordado à metodologia em Sociolinguística, mostrando o cuidado ao tratar as variáveis presentes em uma situação linguística, ao reproduzir os protocolos da disciplina de ética e coleta de declarações de participantes, entre outros aspectos do tratamento dos dados.

repetição lexical, produz o tipo de explicitação que associamos com a descrição acadêmica padrão. Em contraste, a seção Métodos nas ciências naturais e da vida são enigmáticas, rápidas, dependentes de um conhecimento prévio, não desenhadas para uma reprodução (replication) fácil e com poucas afirmações sobre a lógica (rationale) ou discussão das escolhas feitas. Pode-se supor que essas diferenças estejam relacionadas a um número de fenômenos sociológicos e intelectuais, tais como a natureza da comunidade discursiva, o nível de concordância sobre a metodologia apropriada, o quanto se julgue necessária uma metodologia adequada demonstrável e o papel atribuído aos experimentos controlados na disciplina. Pode-se supor que são parâmetros como esses que explicam por que a seção Métodos ganha muita importância na maior parte da pesquisa em Psicologia e Educação, mas que pode receber parca atenção e espaço em uma área como a Bioquímica.”

Figura 14: Presença de M3 nas subdisciplinas (quantidade de artigos com M3)

Para o terceiro aspecto mencionado no início desta seção, a posição ocupada pela metodologia, vemos o caso de [32] em que M3, marcado em verde, aparece no topo do resumo e é M2, marcado em laranja que ocupa uma posição secundária:

[32] Deux expériences de perception et une expérience de production ont été effectuées afin d’examiner les comportements des apprenants japonophones (AJ) concernant les trois voyelles /u/, /y/ et /ø/, et de les comparer avec le cas des apprenants anglophones. (11. Aile-2-2009-4533)

Duas experiências de percepção e uma experiência de produção foram efetuadas afim de examinar os comportamentos dos estudantes nipófonos (EN) quanto às três vogais /u/, /y/ e /ø/ e afim de compará-las com o caso dos estudantes anglófonos.

Esse resumo é de um artigo identificado como pertencente à Fonologia experimental, nossa interpretação é a de que a colocação de M3 logo no início do texto pode mostrar rapidamente ao leitor quais as condições do experimento e a que generalizações os resultados, que aparecem logo em seguida, se prestam.

O mesmo recurso da apresentação no topo é usado no exemplo abaixo, também em um artigo experimental das áreas da Cognição:

[33] Des corpus oraux sont évalués dans le cadre d’une expérience recrutant des

locuteurs français et anglais, tous soumis à des contraintes sensorimotrices avant de

décrire des scènes les incitant à employer des verbes qui manifestent la notion de mouvement. (18. Anglo-22-2017-1064)

Alguns corpora orais são avaliados no quadro de uma experiência que recrutou

locutores franceses e ingleses, todos submetidos a restrições sensório-motoras

antes de descrever cenas que lhes incitavam a empregar verbos que manifestam a Estudos do Sistema

Cognição

Estudos do Discurso Sociolinguística

História das ideias 0%

50% 100%

noção de movimento.