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2.2 O viés dos indexadores

2.2.1 Uma perspectiva quantitativa sobre o uso das línguas

Uma das formas de compreender a situação das línguas na ciência pode vir da História, que mostra mesmo se feita de modo esquemático a distribuição de hegemonias dentro das ciências. Há algumas versões que seguem o paralelo das periodizações clássicas da história geral para traçar a História da Ciência, como a de

Henriette Walter (1996), presente nos anais de um encontro sobre o futuro do francês e das línguas científicas. A autora elaborou uma rápida síntese com o objetivo de verificar as línguas em que o conhecimento científico foi veiculado. A lista parte da origem da escrita, a suméria e os textos de algumas civilizações do Oriente Próximo Antigo que lhe sucederam (Acádia e Egito), para dar seguimento à mesma narrativa padrão dos compêndios históricos: aos “orientais” seguem os gregos; depois os romanos, que segundo ela não teriam elaborado ciência, apenas técnica; durante o período subsequente das “trevas”, a iluminação vem dos textos árabes; enfim aparece o latim língua franca na Modernidade; cedendo lugar às línguas nacionais em graus diferentes de participação, entre as quais o francês seria dominante; culminando na dominação contemporânea do inglês. Esse modo de contar a história como o assentamento de diversas camadas sobrepostas não permite identificar que há tanto rupturas como permanências e que, portanto as tradições científicas seguem seu curso mesmo nos períodos em que não estão tão destacadas. Além disso, essa sucessão em ondas oferecida por Walter sugere que o uso monolíngue dominante é uma situação padrão, em relação à qual o futuro das línguas em declínio é necessariamente sucumbir à hegemonia da vez.

Outros autores (GORDIN, 2015; HAMEL, 2007, 2013) apontam, ao menos para a Idade Moderna, um quadro mais variado: a ciência articulou-se em um sistema de plurilinguismo restrito (HAMEL, 2007, p.55) até o século XVIII, que fez de determinadas línguas nacionais, notavelmente alemão, francês e inglês, línguas de circulação do conhecimento em substituição ao latim:

From Renaissance to the beginning of Modernity advocates of empirical sciences such as Francis Bacon and the Royal Society in England promoted doing scientific research publicly in the marketplace which meant a democratization of science including the use of the local languages. Furthermore, the great advances of science throughout the Enlightenment in France and elsewhere, namely the extensive public debates, could not have come about without the massive inroads of the national languages in scientific and humanistic endeavours. (HAMEL, 2007, p.55)54

54 “Do Renascimento ao início da Modernidade, advogados das ciências empíricas, como Francis Bacon e a Royal Society na Inglaterra, promoveram a realização da pesquisa científica de modo público, no mercado, o que significou a democratização da ciência, incluindo o uso das línguas locais. Além disso, os grandes avanços da ciência durante o Iluminismo na França e alhures, a saber, os amplos debates públicos, não poderiam ter existido sem as massivas incursões das

O uso das línguas nacionais permitiu de fato uma redução do elitismo científico, ao usar as línguas locais55 e a ciência pôde se enriquecer dos diversos fundos culturais das línguas vivas para a elaboração do pensamento científico e filosófico, além disso, o uso das línguas locais permitiu a criação de redes de circulação, sociedades intelectuais (savantes) sediadas nos polos europeus.

Esse plurilinguismo restrito difere do relato de Walter: para os fins do século XIX e início do XX, não seria o francês a língua dominante, mas três línguas que dividiam de modo relativamente equilibrado a cena da produção internacional – alemão, francês e inglês. Línguas distribuídas, segundo Hamel (2007, p.56), por disciplinas: na medicina e biologia, o alemão era uma língua preponderante; o francês na química56, direito e ciências políticas; e o inglês na economia política e geologia.

O equilíbrio será quebrado no fim do século XIX e acelerado durante e após a Segunda Guerra. A História oferece algumas pistas se relacionarmos o período de existência desse “triunvirato” linguístico com o de expansão colonial franco-britânico e do forte crescimento econômico alemão (além da própria unificação alemã). A exaustão da expansão colonial e início da contestação à dominação colonial e as duas grandes guerras europeias marcaram um momento desfavorável para a produção científica, um deslocamento das mãos e mentes humanas para os fronts e principalmente um período traumático de penúria e reconstrução, que por outro lado significaram para os Estados Unidos um período de derrocada das antigas metrópoles coloniais, um campo de expansão da sua área de influência e um valioso

línguas nacionais nos empenhos científicos e humanísticos.”

55 Um grande apoio ao acesso mais amplo, in the marketplace em mais de um sentido, foi a criação das revistas Journal des Sçavants e Philosophical Transactions of the Royal Society of London, ambas em 1665, como meio de publicizar as produções científicas, promover o debate, a troca de informações, e atuar como um verdadeiro registro de paternidade científica, e de certo modo como um registro de patente (GUÉDON, 2001).

56 Ver Gordin, 2013 p.15-21, em particular sobre a disputa Lavoisier-Priestley pela nomenclatura e explicação do fenômeno da combustão e ao mesmo tempo a consolidação da Química francesa como referência no século XVIII. Nessa disciplina, aliás, mesmo com essa referência francesa, o plurilinguismo era pulsante: as fontes secundárias da Química do século XVII e XVIII (revistas de abstracts, resenhas, indexes de compostos químicos) com os resumos, resenhas e referências mais importantes da época circulavam em francês, em alemão e em inglês (SCHOFIELD, 1999).

campo de atuação econômica.

Além das explicações mais abrangentes provenientes da narrativa história, outros estudos procuram identificar a situação das línguas através de indícios quantitativos. Encontramos repetidas citações dos estudos de dois pesquisadores, Minoru Tsunoda e Ulrich Ammon, os quais procuraram computar a publicação científica em periódicos57, notavelmente na área de ciências naturais, para estabelecer uma distribuição proporcional do uso das línguas e elaborar um panorama geral, distribuído no tempo, do uso das línguas para a circulação internacional (Figuras 2 e 3).

Figura 2: Uso proporcional das línguas nas publicações em Ciências Naturais (1880-2005)

Fonte: Hamel (2013, p.328), baseado em Ammon (2012, p.115)58 e Ammon (2006, p.3).

Observando a Figura 2, vemos que de uma situação de plurilinguismo restrito nas Ciências Naturais – partilhadas de modo dominante entre francês, inglês

57 Cf. Tsunoda, M. 1983. “Les langues internationales dans les publications scientifiques et techniques”. Sophia Linguistica 13: 144–155. Também os vários trabalhos de Ulrich Ammon, entre os quais, AMMON, 2006.

58 AMMON, Ulrich. “Linguistic inequality and its effects on participation in scientific discourse and on global knowledge accumulation – With a closer look at the problems of the second-rank language communities”. Applied Linguistics Review, v. 3, no 2, 2012, p. 333-355.

e alemão até por volta dos anos 1910 –, entre 1910-1920 há um breve período de predominância do alemão e de uma simultânea queda vertiginosa do francês. A tendência geral é a crescente dominância do inglês e a queda no uso das outras quatro línguas consideradas (alemão, francês, japonês e russo) a níveis cada vez mais baixos, ocupando menos de 5% já a partir da metade dos anos 1980. Deixemos em suspenso a avaliação desses números e a sua interpretação para verificar um segundo gráfico, agora para as Ciências Sociais.

Figura 3: Uso proporcional das línguas nas publicações em Ciências Sociais (1996-2006)

Fonte: Hamel (2013, p.328), baseado em Ammon (2012, p.116), e Ammon (2006, p.4).

A figura 3 mostra para os anos 1996-2006 a mesma tendência de isolamento no topo do gráfico ocupado pela língua inglesa, porém com proporções graficamente menos dramáticas, com uma concentração menor que os acima de 90% em Ciências Naturais para a época mais recente, e uma estabilidade da situação do inglês, com pouca variação até 2005. Essas figuras são todavia mais surpreendentes, já que nesse campo as produções científicas e as línguas nacionais exercem um papel mais relevante que nas Ciências Naturais, nestas o saber é

passado como universal, naquelas as questões estão em grande parte situadas em comunidades e regiões locais. Por esse gráfico, o inglês ainda aparece como preponderante, passando de 74,2% a 80,8%, enquanto as outras línguas consideradas ocupam um espaço menor, com variações internas para cada língua e uma notável queda de status do francês. Esse gráfico sugeriria não apenas que o domínio das outras línguas supercentrais seria bem inferior ao que se imaginava nas Ciências Sociais como também aqui o inglês seria a língua mais importante.

Infelizmente, não tivemos acesso à metodologia do trabalho de Tsunoda, assim como nos faltam informações para os dados disponíveis em Ammon, 2012, o que nos impede de verificar a metodologia usada para estabelecer esses números. Consultamos, porém, o trabalho de Ammon (2006); a partir de alguns indícios podemos situar esses números em um quadro um pouco mais restrito do que esses gráficos poderiam sugerir.

Um dos riscos das análises quantitativas, sobretudo gráficas, é o de que elas por vezes são extraídas dos seus contextos originais, como se fossem peças mais objetivas que qualquer descrição corrida, parecendo “falar por si”. Uma informação com valor de verdade incontestável. Por exemplo, em um artigo escrito por David Banks (2016) o estudo de Ammon é usado para apoiar a vantagem dos estudos históricos, com a intenção de mostrar que o inglês para fins específicos não foi sempre dominante e que portanto precisa ser visto em uma perspectiva histórica. A despeito de uma postura mais historicizada, os números que usa, os mesmos do gráfico, são apresentados como respondentes pela totalidade dos usos linguísticos da ciência, sem considerar suas condições de coleta:

This approach [a contextualização histórica] also helps put many current features into perspective. For example, the present dominance of English [1] as the language of academic science59, and increasingly in many other areas including the humanities, seems so well entrenched as to be virtually a permanent fixture. So it is useful to remember that this is a relatively recent development, probably much more recent than most people realize. Ammon (2012), who studied the period 1880 to 2005, shows that while [2] articles in scientific periodicals, which are

written in English, account for over 90% of the total since the mid- 1990s, [3] they accounted for only 50% in 1960, showing [4] that there has been a rapid increase in the use of English in the second half

of the twentieth century. Going a little further back in time, in 1910, 59 As indicações numéricas e os negritos são nossos. Indicamos também na tradução os colchetes

English accounted for only 30% [5] of scientific articles published, and at that time German accounted for a higher percentage of the publications than English; English only overtook German in about 1930. So for a period of about twenty years in the early twentieth century, German, not English, could be seen as the dominant language of science (Gordin 2015). In the social sciences, [6] the percentage of

articles published in English increased from 48% in 1951 to 76% in

2005. (BANKS, 2016, p.10)60

Em primeiro lugar, Banks define o inglês como a língua da ciência acadêmica [1]; quer dizer provavelmente que é a língua por excelência da comunicação científica, mas não deixa de ser estranho esse qualificativo “acadêmica”. Estaria ele implicando que o campo de uso de outras línguas é o da divulgação/vulgarização da ciência ou de uma ciência de menor valor que a “acadêmica”? Além disso, afirma que o inglês é a língua de uso da ciência [1], subentendendo que esta é a produção em periódicos [2], já que usa os dados para os periódicos como os dados que apoiam a afirmação da dominância do inglês na ciência, uma metonímia (os artigos pela produção científica) aliás facilmente encontrada nas declarações de cientistas, representantes de instituições, políticos, jornalistas... Assim, o estudo de Ammon é citado para comprovar, com as suas figuras impressionantes de 90%, a dominância do inglês, ainda que nada se diga sobre as publicações de livros, de teses, nem das pesquisas propriamente ditas.

O tempo presente é o tempo verbal usado na apresentação desses

60 “Essa abordagem [a contextualização histórica] também ajuda a pôr em perspectiva muitas das características atuais. Por exemplo, a presente dominância do inglês [1] como a língua da

ciência acadêmica e cada vez mais em muitas outras áreas, incluindo as humanidades, parece

tão bem arraigada a ponto de estar virtualmente embutida. Portanto, é útil lembrar que isso é um desenvolvimento relativamente recente, provavelmente muito mais do que a maioria das pessoas imagina. Ammon (2012), que estudou o período de 1880 a 2005, mostra que enquanto [2] os

artigos nos periódicos científicos que são escritos em inglês, representam mais de 90% do total desde a metade dos anos 1990, [3] eles representavam apenas 50% em 1960,

mostrando que [4] tem havido uma rápida elevação no uso do inglês na segunda metade do século XX. Retrocedendo ainda mais no tempo, em 1910, o inglês ocupava apenas 30% [5] dos

artigos científicos publicados, e naquele momento o alemão ocupava uma porcentagem das

publicações acima daquelas em inglês; o inglês apenas ultrapassou o alemão por volta dos anos 1930. Então, para um período de cerca de 20 anos dos primórdios do século XX, o alemão, não o inglês, podia ser visto como a língua dominante da ciência (Gordin 2015). Nas Ciências Sociais,

[6] o percentual de artigos publicados em inglês elevou-se de 48% em 1951 para 76% em

números, sem a presença de atenuadores, e o perfect present [4] aparece ao se implicar, mesmo sem dados apresentados, que a situação se estende sobre o presente, sem considerar que desde 2005 tenham aparecido novos fatores, como os movimentos pelo Acesso Livre, o surgimento de outros indexadores e a emergência das redes sociais especializadas na atividade científica, os quais ampliam os canais de divulgação e participação e possivelmente têm implicações sobre a situação das línguas.

Quanto à natureza dos dados, Banks afirma: “[…] in 1910, English accounted for only 30% [5] of scientific articles published”, diz claramente que os números são estimados sobre a totalidade existente, sobre os artigos científicos publicados, sem apresentar qual a população utilizada para compor o estudo. Realmente foram levantados todos os artigos científicos publicados de 1880 a 2005? Não se menciona que se trata de uma estatística, portanto com interpretações baseadas na representatividade dos dados. Na última frase retorna o mesmo tipo de afirmação “In the social sciences, [6] the percentage of articles published in

English increased from”, realmente foram levantados todos os artigos publicados

em inglês e em Ciências Sociais? Intencional ou não, essa utilização dos dados reunidos por Ammon deixa claramente o campo estatístico para reunir e compor-se com as representações sobre o status do inglês.

Por fim, quando afirma que o inglês rapidamente deixou o patamar de apenas 50% na segunda metade do século XX não considerou as fontes dos dados levantados (periódicos bibliográficos ou indexadores), nem efetivamente localizou historicamente o processo, pois no início dos anos 1960 foi criado o indexador dominante da ciência, o Web of Science (com outro nome e outro alcance), assim como nos anos 1970 foi criado o Fator Impacto. O quanto esses dois fatores influíram sobre a composição e a interpretação desses gráficos? Observemos que possivelmente o Web of Science (na época Science Citation Index) pode ter levado certo tempo para se estabelecer como dominante durante a década de 1960 (CAWKELL ; GARFIELD, 2001; GARFIELD, 1963), a elevação do inglês na Figura 2 para esse período é de 50% a cerca de 55%. Na década seguinte, e é nela que é criado o Fator Impacto, a elevação é a mais abrupta, de cerca de 55% a 75% (GARFIELD, 1962-1973; GUÉDON, 2001).

A aceitação cega a esse tipo de estudo, limitado às publicações como metonímia da ciência, alimenta a posição do inglês como língua hipercentral, tanto quantitativamente, como em termos de dominância de poder. Em relação a essa hipercentralidade, se os gráficos de Tsunoda e Ammon dessem conta de uma porção representativa da produção científica, então se veriam confirmados os números da quase ubiquidade do inglês, como também sugere a delicada situação em que se encontram as outras línguas para a comunicação internacional da ciência e para a própria elaboração do conhecimento científico, já que um gráfico em subida constante raramente sugere uma queda abrupta.

Em relação a esses gráficos, nossa posição é a de cautela quanto a qualquer confirmação sobre a realidade das línguas, pois um gráfico na verdade apenas pode ser corretamente interpretado se acompanhado da descrição dos parâmetros que levaram à sua elaboração, os quais condicionam a sua interpretação correta. Para ter validade, esses tipos de análises precisam estabelecer muito bem os critérios de representatividade da população em estudo, para que seus resultados possam ser aplicáveis para uma situação mais abrangente. A partir das indicações recolhidas em Hamel (2007, 2013) e Ammon (2006), vemos que esses números se referem a informações recolhidas em periódicos bibliográficos (periodical bibliography) e bancos de dados bibliográficos (bibliographical data banks) anglo-saxões, como se vê pela citação a seguir. Para o texto de 2006, apenas essas duas indicações lacônicas são oferecidas, sem mais detalhes sobre quais bancos de dados ou bibliografias foram utilizadas, além do próprio reconhecimento do viés para as Ciências Sociais:

The data are presumably more biased towards a bigger share of English for the social sciences and the humanities [...] than for the natural sciences [...] because the Anglo-Saxon bibliographical databanks used as the sources are more selective and globally less representative.61 (AMMON, 2006, p.2).

Hamel (2013 p.328) indica que o estudo de Ammon (2012) se utilizou de Biological Abstracts, Chemical Abstracts, Physics Abstracts e Mathematical Review

61 “Os dados são provavelmente mais enviesados para uma participação mais elevada do inglês nas Ciências Sociais e Humanidades […] que para as Ciências Naturais […] porque os bancos de dados Anglo-americanos usados como fonte são mais seletivos e globalmente menos representativos.”

para as Ciências Naturais, e de International Bibliography of the Social Sciences – IBSS, para as Ciências Sociais, ou seja um único periódico de abstracts para cada uma dessas disciplinas, os quais já são seletivos em sua composição de referências (SCHOFIELD, 1999), e uma única referência para as Ciências Sociais. Todos os títulos em inglês. É importante reconhecer que os estudos de Tsunoda e Ammon representam um ponto de partida para outros, mas é preciso verificar a que tipo de generalizações esses estudos são pertinentes; o próprio Ammon afirma que os seus dados podem conter informação pendente para uma sobre-representação da língua inglesa, como vimos. Parece-nos que uma conclusão a que esses gráficos podem levar com maior precisão é a de que nos referenciais pertencentes à área anglófona, a língua inglesa tende a ser dominante, qualquer extrapolação para uma situação mais geral ou mais típica pode significar um erro interpretativo favorável à manutenção de algumas representações sobre as línguas. Ora, uma equiparação de inglês a necessariamente língua global abre espaço à validação de dados pertencentes à uma área como sendo os mesmos para todo o planeta.

Essas representações têm um efeito que não deve ser subestimado. Hamel (2013) relata que apenas o Brasil, em 2004, publicou 5.986 revistas, majoritariamente publicadas em português, das quais apenas 17 aparecem no Science Citation Index, da base Web of Science, e acrescenta:

En una serie de conferencias que presenté en los últimos años en Estados Unidos, Canadá, América Latina y Europa sobre el tema, le hice la pregunta al público: ¿Cuántas revistas creen ustedes que produce Brasil en ciencias y tecnología? Las respuestas, incluso entre expertos, variaban entre 20 y 200. Este hecho nos revela la fuerza de las poderosas ideologías dominantes que minorizan vastas áreas del mundo como contribuyentes significativos al campo de la ciencia o niegan simplemente su existencia. (HAMEL, 2013, p.334, nota).

Em um artigo publicado no blog do Scielo, a bioquímica Lillian Nassi-Calò62 afirma que “Apesar de não haver evidências empíricas, existe uma percepção entre pesquisadores e editores de que artigos em idiomas que não o inglês se referem a estudos de interesse local, de baixa qualidade ou relevância.” (NASSI-CALÒ, 2016). Essas representações, apoiadas por levantamentos baseados em dados limitados, como mencionamos acima com os estudos de Tsunoda e Ammon geram algumas políticas científico-linguísticas. Algumas delas se exercem in vivo, como no

nível da política linguística do periódico, da qual citamos como exemplo a Revista Brasileira de Genética, que já publicava em inglês desde o seu primeiro número com o título simultâneo em inglês Brazilian Journal of Genetics, e que, em uma impressionante consciência dos prejulgamentos não-científicos da ciência, foi novamente rebatizada de Genetics and Molecular Biology (PACKER, 2014a), escondendo sua “suspeitosa” origem brasileira, ou como disse o autor, “aperfeiçoando” um periódico já internacional.

Outro exemplo, em um nível mais abrangente, dos efeitos da percepção da