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Movimentos 4 e 5: apresentado resultados e comentários conclusivos

3.6 Análise do corpus

3.6.4 Movimentos 4 e 5: apresentado resultados e comentários conclusivos

No resumo há dois tipos de movimentos que normalmente concluem o texto, os movimentos 4 e 5. O primeiro na verdade pode aparecer em diversas posições, as vezes de modo articulado com a apresentação de M2, como em 7. Corpus-13- 2014-2427, ou após a especificação da metodologia e exerce a função de concluir o resumo.

O segundo, M5, é uma conclusão do estudo, oferecendo um comentário dos resultados (o Discussion, do modelo IMRD) como em [34] que claramente menciona os resultados ou uma conclusão referente a toda a pesquisa (que pode ser uma tese, um posicionamento, um problema levantado, uma aplicação).

[34] D’une part, ce résultat met en difficulté l’idée selon laquelle un bilingue n’utiliserait pas de mots provenant de sa langue première lorsqu’il produit la parole dans sa seconde langue (Poulisse 1999, Costa & Santestéban 2004) et, d’autre part, il fournit

des arguments en faveur de la théorie selon laquelle les deux langues sont activées

chez le bilingue même si ce dernier ne s’exprime que dans une seule langue (Kroll et al. 2008). (23. Cogni-8-2012-626)

Por um lado, esse resultado põe em dificuldade a ideia segundo a qual um bilíngue não utilizaria palavras provenientes da sua língua primeira quando produz a fala na sua língua segunda (Poulisse 1999, Costa & Santestéban 2004) e, por outro lado, ele

fornece argumentos em favor da teoria segundo a qual duas línguas são ativadas no

bilíngue mesmo que este se exprima apenas em uma única língua (Kroll et al. 2008).

O que diferencia ambos os movimentos é que M4 apresenta resultados mais brutos, estereotipadamente de números ou quantificações [35], de fatos brutos [36], ou conclusões de pouco alcance ou que passaram por um esforço aparente de depuração de interpretação da parte do autor, como em [37a], a qual será examinada com mais detalhes no M5 do mesmo resumo, que aparece em seguida [37b]

[35] L’étude permet tout d’abord de déterminer que les séquences sans EI (sujet initial)

excèdent celles avec EI, et que, parmi ces dernières, celles avec un seul EI sont, de

loin, les plus fréquentes. (7. Corpus-13-2014-2427)

ultrapassam aquelas com EI e que, entre estas, as sequências com um único EI são,

de longe, as mais frequentes.

[36] Les résultats des analyses montrent une influence de la L1 sur la prise de perspective temporelle pour l’expression d’activités en L2, et l’influence de la L2 sur le choix de prédicats de différents types en L1. (24. Cogni-8-2012-639)

Os resultados das análises mostram uma influência da L1 sobre a tomade de perspectiva temporal para a expressão de atividades em L2 e a influência da L2 sobre a escolha de predicados de diferentes tipos em L1.

[37a] De manière frappante, les tendances statistiques dans nos données montrent qu’une meilleure maîtrise de la langue n’implique pas forcément une utilisation plus juste des verbes de posture. (25. Cogni-8-2012-609)

De modo surpreendente, as tendências estatísticas nos nossos dados mostram que

um melhor domínio da língua não implica forçosamente em uma utilização mais precisa dos verbos de postura.

[37b] À première vue, il semblerait que la compétence des apprenants avancés dans l’usage de ces verbes se détériore. Cependant, une analyse plus approfondie révèle qu’à mesure que leur maîtrise de la langue s’accroit, et en dépit d’une augmentation des erreurs, les apprenants adoptent des stratégies plus proches de celles des locuteurs natifs, ce qui suggère qu’ils deviennent progressivement plus sensibles au caractère fortement locatif du néerlandais.(25. Cogni-8-2012-609)

À primeira vista, parece que a competência dos estudantes avançados no uso uso dos

verbos se deteriora, porém uma análise mais profunda revela que à medida que seu domínio da língua se eleva, e apesar de um aumento dos erros, os estudantes adotam estratégias mais próximas daquelas dos locutores nativos, o que sugere que eles se tornam progressivamente mais sensíveis ao caráter fortemente locativo do holandês.

Essa diferença na participação da interpretação é o que nos levou a atribuir em determinados textos, notavelmente aqueles mais próximos do polo das Humanidades, M5 às conclusões em vez de resultados, como em [38] em que se vê fortemente a posição, a problematização do autor e não é possível fazer a separação entre dados/fatos (M4) e conclusão (M5), ou seja, a conclusão é necessariamente marcada pela interpretação do autor. Ainda que a separação entre resultados e discussão seja um tanto artificial, manter essa distinção frouxa permitiria comparar disciplinas muito afastadas, fora da Linguística, com o mesmo modelo.

[38] Il s’ensuit qu’on ne peut s’en tenir à l’histoire de la didactique de la seule langue enseignée, pas plus qu’on ne peut réduire l’histoire de l’enseignement/apprentissage les langues (L1 ou L2) à la succession des méthodes par lesquelles elles l’ont été.(70. Docum-49-2012-3386)

Decorre disso que não se pode se restringir à história da didática da única língua

ensinada, assim como não se pode reduzir a história do ensino-aprendizagem das línguas (L1-L2) à sucessão dos métodos aplicados.

Segundo os manuais que analisamos, especialmente Fovet-Rabot (2015), M4 seria o movimento principal do resumo, posição concordante com a identificação do propósito comunicativo do artigo como o de fornecer resultados e o do resumo o de colocá-lo em evidência. Swales e Feak (2009), para um corpus multidisciplinar em inglês, faz a mesma afirmação sem apresentar diretamente os dados, possivelmente devido à natureza didática do texto. Também Santos (1995) oferece números (Tabela 9) para a ocorrência de M4 (83/94, ou 88,30%) e de M5 (59/94 ou 62,77%).

Nossos números divergiram tanto da afirmação de resultados (M4) como o aspecto mais frequente dos resumos, encontrada nos manuais e em Swales e Feak (2009), como divergiram dos números apresentados por Santos; os nossos mostram M4 em 21/76 resumos (27,63%) e M5 com 37/76 resumos (48,68%). Cabe aqui um rápido comentário sobre a diferença na composição dos corpora, o nosso corpus é menor que o de Santos (1995), com 76 resumos em relação a 94 do autor, porém há a participação de cinco disciplinas no corpus compilado para este estudo, em relação a apenas uma única disciplina em Santos (1995), além de termos reunido 10 revistas diversas, enquanto esse autor reuniu 3 títulos. Suas conclusões são melhor atribuídas à Linguística Aplicada em língua inglesa, enquanto as nossas podem ser um pouco mais abrangentes, para essas cinco disciplinas da Linguística em língua francesa, porém ainda em termos conjecturais, pois a participação de cada disciplina no corpus ainda é pequena.