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Movimento atual das indústrias farmacêuticas Indianas

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS São Paulo 2008 (páginas 154-159)

4. A EMERGÊNCIA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA INDIANA

4.5 Movimento atual das indústrias farmacêuticas Indianas

Vários laboratórios farmacêuticos indianos estão entrando no Brasil por meio de compras e fusões de empresas nacionais ou de instalações de subsidiárias. Alok Kapoor, responsável pela subsidiária brasileira do maior deles, o Ranbaxy, afirmou, em entrevista ao jornal Gazeta Mercantil (NASCIMENTO, 2007), que a sua companhia tem avaliado várias oportunidades de aquisições,

Pois a estratégia global de crescimento é bastante agressiva, a idéia é buscar rápida expansão nos mercados emergentes, em especial, nos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), países em desenvolvimento e com crescimento acelerado, que representam grande potencial para a Ranbaxy.

A companhia obteve um faturamento de US$ 65 milhões na América Latina em 2007, o que significa uma alta de 41% em relação ao ano anterior. Desse faturamento, 40% correspondem a vendas no Brasil.

Em entrevista a esta pesquisadora, indagado sobre qual seria o interesse da indústria indiana no Brasil, José Antonio Gonçalves77 afirmou que considera mais fácil entrar no mercado com um nome já conhecido e uma linha de produtos já consolidada. Mas salientou que a mesma empresa, a Maneesh Pharma Enterprise, também comprou outras empresas menores que estavam em dificuldades financeiras. Por enquanto ainda estão mantendo o nome original dessas empresas, mas já estão investindo em instalações e em pessoal qualificado, pois vêem o país como um mercado promissor e uma indústria local muito fraca. Segundo ele,

Muitos laboratórios indianos estão comprando firmas nacionais. Por enquanto estão mantendo o nome original e, quando nós percebermos, acabou a indústria nacional. Pois para eles, o mercado ficará na mão de poucos, e o modo de trabalhar terá que ser em grande escala mundial, não haverá espaço para pequenos produtores. E os indianos, como grandes produtores, precisam de mercado para seus produtos.

Para Gonçalves, os insumos continuarão a ser importados da Índia, visto que o Brasil não possui indústria farmo-química, o que impede que a produção seja verticalizada, modo que permitiria a formação de uma cadeia bastante econômica que iria agregando valor durante o processo de fabricação até se chegar ao produto final, com ganho em escala e, conseqüentemente, com preço mais competitivo. Quando comparamos o caso indiano com o brasileiro, observamos que aqui a produção não é verticalizada e há várias transações comerciais entre empresas no processo de fabricação. Em cada uma dessas fases, há uma alta taxa de encargos fiscais. Tudo isso, evidentemente, é embutido no preço final do produto.

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Entrevista concedida à autora em 06/12/2007. Consultar o breve perfil que consta na Introdução do presente trabalho.

As empresas indianas, por sua vez, exportarão para o Brasil insumos a serem processados, embalados e comercializados, mantendo em escala internacional a produção e, portanto, preços competitivos.

Outra dificuldade, apontada por Gonçalves, é a exigência de que todos os medicamentos sejam submetidos aos testes de biodisponibilidade e bioequivalência.

Esse fato fez com que as pequenas empresas saíssem do mercado, ou fecharam ou foram vendidas. Daqui a cinco anos, a indústria farmacêutica nacional será mínima. Ou se faz genérico, ou o produtor de remédio com marca vai ter que fazer marketing com a classe médica, que é muito caro, temos que treinar o visitador que vai ao consultório, participar de simpósios, financiar congressos etc.

Já a Maneesh Pharma Enterprise, consciente da obrigatoriedade dos medicamentos genéricos serem submetidos aos exames de biodisponibilidade e bioequivalência, instalou, na Inglaterra, um centro de pesquisa para realizar esses testes em medicamentos produzidos pela empresa. O objetivo do centro de pesquisa é otimizar suas ações, tornando os exames mais baratos e rápidos. Antes disso, as drogas eram testadas na USP; porém, a falta de tecnologia faz com que o prazo seja muito longo e o custo muito superior.

Segundo Gonçalves, no Brasil gastam-se duzentos mil reais e dois anos para se obter o resultado. Já na Inglaterra, gastam-se, no máximo, setenta mil reais, e os resultados são obtidos em menos de seis meses. Esses dados, num mercado tão competitivo como o dos genéricos, inviabilizam a produção nacional.

A indústria farmacêutica indiana representa, atualmente, uma produção de seis bilhões de dólares, dentro de um mercado de 550 bilhões de dólares, o que representa pouco mais de 10%. Porém, nos últimos anos, vem crescendo a um ritmo de 10%, enquanto o mercado mundial apresenta uma taxa de crescimento em torno de 7% (KPMG, 2006).

Muitas empresas indianas estão se instalando no Brasil, pois o mercado de genéricos corresponde a apenas 13% do mercado total e cresce

a uma taxa de 30% ao ano, o que sinaliza um mercado em plena expansão. Companhias como Ranbaxy, Strides Cellopharm, Torrent, Core/Claris, Zydus Cadila e Aurobindo Pharma já estão presentes por meio de joint ventures ou subsidiárias no Brasil, enquanto que uma dezena de outras companhias fornece fórmulas e drogas a granel ao Brasil, a preços altamente competitivos (KPMG, 2006).

A tabela 25, comparando a produção dos quatro principais laboratórios farmacêuticos indianos e brasileiros, demonstra claramente o resultado positivo do projeto estratégico, de suporte e incentivos, estabelecido na Índia, nos anos 1970, e que descrevemos acima.

Tabela 25 - Comparação entre a produção das quatro maiores empresas indianas e brasileiras

Maiores empresas

Indianas US$

Maiores empresas

Brasileiras US$

Ranbaxy (2005) 1,2 bilhões Medley (2005) 29,13 milhões

Dr. Reddy’s (2006) 502 milhões EMS (2005) 25,91 milhões

Cipla (2005) 703 milhões Biossintética (2005) 12,42 milhões

Nicholas Piramal

(2006) 344,5 milhões Eurofarma (2005) 9,05 milhões

Total 2,749 bilhões 76,51 milhões

Fonte: Laboratórios indianos U.S. International Trade Commission. Office of Economics

Working Paper. The Emergence of India’s Pharmaceutical Industry and Implications for the U.S. Generic Drug Market. Laboratórios brasileiros IMS Health.

Na mesma linha da tabela anterior, a próxima compara, entre os dois países, o balanço comercial de produtos farmacêuticos no ano de 2004.

Tabela 26 - Comparação entre as balanças comerciais do Brasil e Índia em 2004

BRASIL INDIA

EXPORTAÇÕES US$ 571,44 milhões US$ 3,72 bilhões

IMPORTAÇÕES US$ 2,86 bilhões US$ 985,3 milhões

SALDO COMERCIAL US$ - 2,28 bilhões US$ 2,73 bilhões

Fonte: KPMG (2006) e ABIFINA (2008).

O resultado acima demonstra, definitivamente, a diferença de desenvolvimento da indústria farmacêutica entre os dois países. Se nos anos 1970 a situação era bastante similar, hoje temos um grande parque industrial na Índia, com crescimento acelerado nos últimos anos e chegando ao ponto de comprar as próprias indústrias brasileiras.

A Índia soube planejar o setor no longo prazo, criando condições para o desenvolvimento da indústria farmacêutica e capacitando profissionais para esse desafio.

5 Desafios e perspectivas da

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS São Paulo 2008 (páginas 154-159)