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2. MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO EM CORUMBIARA 1 A luta pela terra e a luta pela Reforma Agrária.

2.2. Movimento Camponês Corumbiara, MCC.

O Movimento Camponês Corumbiara, MCC surgiu no Massacre de Santa Elina, Corumbiara. Esse Movimento foi fundado oficialmente nos dias 23, 24 e 25 de fevereiro de

95CNBB, 1981, p.30.

96 Conforme a analise dos clássicos marxistas, o campesinato pobre e parte num processo de ruptura total com o Estado Burguês, sendo ele o aliado principal do proletariado neste processo. Ao identificarmos o papel que teve o movimento operário, no processo de constituição da LCP, identificamos que o operariado, enquanto classe dirigente

apontou aos camponeses pobres a linha política de uma “Revolução Agrária” e criando base de lançá-los para um

processo de transformação radical do campo. (Marinho, 2009, p.17).

97 ALVES, Juliete Miranda. Obra de Jose de Souza Martins e a Reforma Agrária no Brasil: uma leitura sociológica. Dissertação de mestrado. Universidade do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2003, p.39.

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MARTINS, Marcio Marinho. Corumbia: Massacre ou Combate? A luta pela terra na fazenda Santa Elina e seus desdobramentos. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Rondônia. 2009.

60 1996, em um encontro na de cidade de Jaru99. Durante a fundação do MCC estavam presentes lideranças políticas e sindicais de vários movimentos sociais. O primeiro líder desse movimento foi Claudemir Gilberto Ramos e depois o pai dele, Adelino Ramos, o Dinho. Essas duas lideranças foram indiciadas no inquérito do Massacre de Corumbiara. O primeiro líder, Claudemir foi condenado no processo e ficou foragido. O segundo líder do MCC, foi absolvido no inquérito e dirigiu o MCC até quando foi assassinado em 2011.

Após a repercussão mundial do Massacre, o MCC foi criado com objetivos de, receber ajuda em doações da Liga Operaria para os sobreviventes, organizar a luta camponesa – operária mais combativa. Logo o MCC tornou-se forte e representava a luta e resistência de todos os movimentos sociais do campo de Rondônia em defesa do trabalhador rural e da Reforma Agrária. Os lideres do MCC, dialogavam com outros movimentos sociais, partidos políticos de esquerda e autoridades do Estado, buscando a defesa da “reforma Agrária” construída através da linguagem política partidária, alianças e pactos. Tal atitude provocou divergência, alguns membros se desligaram do MCC e fundaram outro movimento, que assumiu na sua identidade a defesa da “Revolução Agrária.

Eles queriam dirigir o Movimento. Era o MCC, mas era Liga. Aí deu confusão com o Claudemir. Aí ele falou. Nós criamos um movimento, aí vocês querem usar uma sigla e atua com outra, aí não dá. Aí deu uma confusão, aí nós tiramos o Claudemir e eu assumi o MCC. Aí deu uma confusão no Jornal até o dia que eles ameaçaram soltar uma bomba no Diário da Amazônia... Deu tanta polícia... Aí pararam de bater. (...) (Martins, 2009, p.104)100.

Após um grupo se desvincular do MCC, apareceram várias fissuras entre os dois movimentos. Houve denuncias ao MCC e ao líder Dinho. Para alguns lideres, Dinho traiu o movimento de Santa Elina, entregando o acampamento aos policiais ao retirar as armas do acampamento na noite de massacre, apesar de Cícero101afirmar que retirar as armas fazia parte do plano de defesa do acampamento. Outro ponto de intrigas foi uma reportagem da revista ISTO È, que em 2008, publicou uma matéria sobre a guerrilha em Rondônia. Nessa matéria, os líderes do MCC entregaram material para a reportagem e deram entrevista sobre a LCP. O material entregue e a entrevista geraram uma matéria onde a revista compara a LCP a um movimento “terrorista” e de “assaltantes”, fato que deu origem a outras matérias onde a revista mostra como era a guerrilha em Rondônia.

“o lavrador Claudemir Gilberto Ramos, um paranaense radicado em

Rondônia há 12 anos, afirmou em depoimento à Polícia Federal que chegou

99Havia mais de 300 lideranças de movimentos, sindicatos e partidos políticos: havia participantes da Liga de Pernambuco e Minas Gerais, Direitos Humanos de Brasília e Minas Gerais, Partido dos Trabalhadores, PC do B, etc. 100MARTINS, Marcio Marinho. Corumbia: Massacre ou Combate? A luta pela terra na fazenda Santa Elina e seus desdobramentos. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Rondônia. 2009.

101“(...) Cícero afirma que as armas foram retiradas do acampamento para tentar criar um foco de resistência fora deste, caso, num confronto com pistoleiros, os acampados também se defenderiam do lado externo. Segundo Cícero, a idéia não deu certo, pois o poder de fogo dos que atacaram o acampamento no dia 09 de agosto era muito grande,

a participar de um curso da LOC no interior de Minas Gerais. Outros dois antigos integrantes do grupo, que tem 300 homens armados, também confirmaram em depoimento a estratégia da Liga em treinar homens para a

prática de atos terroristas” (Revista Isto É, 12 de maio de 2008).

A LCP acusa Dinho de desviar o dinheiro que a Liga Operária Camponesa enviava para ajudar as vitimas do Massacre102, autocracia103e banditismo104. A LCP diz que o líder Dinho praticou tais crimes em um assentamento que ele dirigia.

O MCC coordenou o assentamento dos sobreviventes do massacre de Corumbiara no Município de Theobroma e depois coordenou o acampamento “flor do amazonas” no município de Candeias do Jamari, próximo da capital Porto Velho.

Em defesa da reforma agrária, o movimento construiu alianças política com o Partido dos Trabalhadores, PT e com o Partido Comunista do Brasil, PC do B. Alem de dialogar com o governo federal através do INCRA. Segundo Mesquita105o MCC fazia inscrição, das famílias sem terra e encaminhava para o ministério publico para que este fizesse a triagem. A INCRA recebia a seleção dos nomes e liberava a Licença de Ocupação das terras, depois era dada a emissão de posse da terra desapropriada106. No Município de Theobroma, o MCC reivindicou de forma radical, toda a infra-estrutura dos assentamentos do entorno da Vila Palmares.

Observa-se que o MCC, defendia a “Reforma Agrária” e que tal defesa é construída com a presença de partidos políticos da esquerda e com o próprio estado. A Reforma Agrária é um assunto que diz respeito á toda a sociedade brasileira principalmente o Estado. Porem, ainda não existe um projeto de reforma agrária para a Nação. Por isso, necessita de muita pressão. Para Frank, às vezes para o partido expressar adequadamente é necessário fazer pressão interna e externa, nesse movimento, o partido político acaba deslocando algumas praticas para o movimento social. Tal deslocamento provoca disputa que às vezes mascara o movimento social.

O que se percebe como fracasso– em todo mundo – de partidos e regimes de

esquerda, tanto reformista como revolucionários, para expressar adequadamente o protesto das pessoas e para apresentar alternativas viáveis

102MARTINS, Marcio Marinho, Corumbia: Massacre ou Combate? A luta pela terra na fazenda Santa Elina e seus desdobramentos. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Rondônia. 2009, p.98.

103Os camponeses foram mobilizados para com dois meses irem para cima de um lote com cem (100) hectares, conforme pregava a direção do MCC. Mas no acampamento era diferente, o povo era humilhada, a produção da roça metade ia para a secretaria do movimento em Porto Velho, no inicio o povo fazia carvão, tirava cipó, óleo de copaíba, fazia vassouras e tudo era dividido com o senhor Adelino ramos, autoridade máxima do MCC e quem discordasse era expulso, tempo ruim porque o INCRA não dava nenhuma assistência não tinha lona não tinha cestas

básicas”. (Martins, 2009 p.104)

104(...) Então quando rompeu os companheiros, que vanguardearam a saída do MCC, denunciando todas as posições que o MCC fazia com a massa, de usar a massa, de reprimir, eles chegaram a fazer, assembleia, por exemplo, todos eles armados, pra que era isso? Pra intimidar a massa que participa da assembleia. Como é que você ia contra alguma proposta que um cara desses vai colocar? Ninguém vai... Então esse tipo de coisa... Outros exemplos: obrigava a massa a pagar tantos por cento de financiamento pra eles, ou obrigava o pessoal da massa a trabalhar pra eles sem se pagar... Então são vários exemplos de que foi se degenerando... (ANTONIO). (Martins, 2009, p.98). 105MESQUITA, Helena Angélica de. Corumbiara: o massacre dos camponeses. Rondônia, 1995. Tese de Doutorado. FFLCH/USP, 2001, p. 51,52.

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MARTINS, Marcio Marinho. Corumbia: Massacre ou Combate? A luta pela terra na fazenda Santa Elina e seus desdobramentos. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Rondônia. 2009, p. 104.

62 foi responsável pelo deslocamento popular na direção dos Movimentos Sociais. Em alguns casos, as reivindicações das populações são contra o Estado e suas instituições. Em alguns casos, os movimentos sociais buscam incidir na ação estatal por meio da pressão externa, e com menos freqüência interna. Só alguns movimentos nacionalistas ou étnicos, e no mundo islâmico alguns movimentos religiosos, buscam um estado próprio. (Frank, 1989, p.36)107.

A aproximação do MCC com partidos políticos e com o governo através do INCRA gerou uma intriga entre MCC e LCP. Para a LCP o MCC é um movimento eleitoreiro e aproveitador.

Por outro lado a Liga os acusa o MCC de aproximação com o governo para

tirar proveito “segundo o relatório, Claudemir Ramos é definido como ―coordenador do comitê nacional do MCC e preside a mesa de abertura do

encontro que é composta por: Olavo Nienow, à época superintendente do INCRA e seu assessor Gadelha (o mesmo que era membro da CPT à época do conflito); além dos deputados Eduardo Valverde (PT-RO), Anselmo de Jesus (PT-RO), Moisés Diniz (PC do B– AC) e vários outros parlamentares

que estiveram presentes ou enviaram saudações ao MCC. Na abertura, Dinho

interviu afirmando ―Lula ganhou a política e não o poder, e depende de

todos nós ajudar, tomar cuidado com o que é nosso, o Brasil. Que o Lula esta no volante e nos temos que cuidar muito bem desse veículo”.(Martins, 2009, p.105).

Para Frank, os movimentos sociais e sindicais são também expressão de “luta de classes” em países de capitalismo tardio. Nessa situação eles assumem outra representação e outros instrumentos de expressão contra a exploração e pela sobrevivência da identidade.

Em outras palavras, a “luta de classes” em grande parte do terceiro mundo,

continua e até se intensifica, mas toma forma e se expressão por meio de

muitos movimentos sociais, além da forma “clássica” de força de trabalho

(Sindical) versus capital e seu estado. Estes movimentos sociais e organizações populares representam outros instrumentos e expressões da luta das populações contra a exploração e a opressão e por sua sobrevivência e identidade, dentro de uma sociedade complexa e dependente em que estes movimentos se constituem esforços e instrumentos de potencialização democrática. . (Frank, junho 1989, p.33)108.

Construindo a identidade Martins, entende que os Movimentos camponeses do pós- 64 é o “ator moderno” capaz de fazer resistência a modernização burguesa, uma obra supletiva daquilo que o próprio “capital” não realizou, ou fez muito precariamente neste país. Para criar tal força de resistência é importante a formação de coalizão em defesa da identidade do trabalhador rural.

Seguindo o conselho de Frank, acreditamos que pode ser útil investigar as relações de competições e conflitos entre os movimentos sociais 109. A presença de tantos movimentos sociais em Corumbiara; a saber: MST, CPT, STR, MCC e LCP, atuando na defesa da propriedade da terra se justificam pela quantidade de conflitos agrários e diversidade de reclamos de direito. As fissuras advêm da defesa ideológica e política tão diversa.

107André Gunder Frank e Marta Fuentes, Dez teses acerca dos movimentos sociais. Editora, Lua Nova. São Paulo, junho de 1989, Nº 17.

108André Gunder Frank e Marta Fuentes, Dez teses acerca dos movimentos sociais. Editora Lua Nova. São Paulo, junho de 89, nº 17.

109André Gunder Frank e Marta Fuentes, Dez teses acerca dos movimentos sociais, Editora, Lua Nova. São Paulo, junho de 89, nº 17.