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O Projeto da gleba Corumbiara era um ambicioso programa de transferência de terras de posseiros, devolutas e tribais de Rondônia para as empresas agropecuárias do Sul e Sudeste do país. A gleba Corumbiara colocou em Licitação, uma área de 399 318.91 hectares de terras, que abrangia os Municípios de Corumbiara, Chupinguaia, Alto Alegre dos Parecis e Pimenteiras. Os lotes arrematados variavam de 200 a 2000 hectares. A gleba foi escolhida e 68TAVARES DOS SANTOS, José Vicente. Colonos do Vinho. São Paulo: Hucitec, 1978.

69A ABRA é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 1967 e efetivamente instalada em 1969. Ganhou grande destaque durante a Ditadura Militar, dedicando-se, nos seus 35 anos de vida, aos estudos sobre a Questão Agrária no Brasil.

70MARTINS, Marcio Marinho. Corumbia: Massacre ou Combate? A luta pela terra na fazenda Santa Elina e seus desdobramentos. Dissertação de mestrado. Universidade Federal de Rondônia. 2009.

50 delimitada pelo INCRA como setores 09 e 10, onde seria implantado um projeto agropecuário. A área começou a ser ocupada a partir da concorrência publica de 04/72, quando teve inicio a venda de lotes de 2000 hectares, a entrega para os ganhadores do leilão começou e 1975.

Os antigos moradores: povos indígenas e posseiros perderam o direito sobre as terras. Os antigos moradores e migrantes que chegavam à região, não foram aprovados no projeto de colonização da gleba Corumbiara, passaram a reivindicar direitos sobre a terra. Em 1982, para atender a pressão desse grupo, o INCRA decretou a Tomada de Preço, 45/82, os lotes 20 e 28 do setor 10 foram demarcados para acomodar a situação dos antigos posseiros. Essa área, hoje pertence ao município de Chupinguaia. A maioria dos lotes era de 100 hectares. Essa área ficou conhecida como Regulamentação Fundiária. Em 1993, um grupo de sem terras invadiram o lote 98 do setor 10, a referida área foi demarcada onde foi criado o Projeto de Assentamento Adriana. Em 1995, outro grupo de sem terras invadiu os lotes 79,89, 99, era uma parte da fazenda Santa Elina, onde houve o Massacre.

A área de terra posta em licitação pelo INCRA chamava a atenção dos migrantes, que ao chegar a Rondônia se dirigiam para Corumbiara, chamada de PIC Paulo Assis Ribeiro. Porem, o que o governo queria era apenas a mão de obra de trabalhadores.

Os migrantes que chegaram à região se dirigiram ao PIC Paulo Assis Ribeiro, Criado em 1973 e implantado em 1974, localizado nos vales do Rio Cabixi,

onde ―o desmatamento era a forma de reconhecimento da posse de novas

áreas por parte dos empresários. (MESQUITA, 2001, p. 81)71.

Os migrantes que se dirigiam para o PIC Paulo Assis Ribeiro poderiam conseguir terra para trabalhar, pois a área era imensa e o governo exigia apenas que desmatasse a floresta. O INCRA expedia, inicialmente, a Licença de Ocupação (LO), depois, Autorização de Ocupação (AO) e por fim o Título Definitivo (TO). O Título Definitivo era expedido somente quando o INCRA comprovasse as benfeitorias em cada área.

Em 1976, o INCRA já havia definido os lotes de dois mil hectares da gleba Corumbiara, a demarcação dos grandes lotes foi executada pela Empresa Expansão Ltda. Que através de picadas definia o limite das terras a serem leiloadas. As glebas foram leiloadas por preços irrisórios, para grandes empresas agropecuárias. O edital não foi cumprido ainda no momento da do leilão das terras.

O processo de colonização da gleba Corumbiara. Os lotes de dois mil hectares já haviam sido definidos pelo INCRA em 1976, não poderia ser de um único proprietário. A demarcação dos grandes lotes foi executada pela Empresa Expansão Ltda. Os setores eram demarcados por picadas que limitavam os mesmos e pode-se comprovar a concentração de terras entre pessoas da mesma família. (MESQUITA, 2001, 80 e 81).

71 MESQUITA, Helena Angélica de. Corumbiara: o massacre dos camponeses. Rondônia, 1995. Tese de Doutorado. FFLCH/USP, 2001.

O projeto agropecuário também não foi implantado, segundo Meireles Filho, “nas ultimas 4 décadas do século 20 as análises tem revelado que a motivação pela criação do gado está mais relacionada à especulação da terra do que à produção de leite e carne”. (Filho, 2011, p.74). Corumbiara era território de diversas tribos indígenas. Quando Rondon, viajando na companhia de ex-presidente Roosevelt em 1914, na expedição cientifica Rondon-Roosevelt, para encontrar a foz do rio da Dúvida, que posteriormente homenageou o ex-presidente com seu nome, rio Roosevelt72. O ex-presidente profetizava o futuro das florestas vistas, às margens da nascente do rio Roosevelt, dizendo que “A terra ao longo desse rio é uma ótima região natural para o gado, algum dia sem dúvida conhecerá um grande desenvolvimento” 73

. O Marechal Rondon, em 190974, já havia registrado a presença dos índios Kanoê, as margens do rio Omerê, na gleba Corumbiara. Apenas cinqüenta anos depois, uma Frente de Contato da FUNAI, conseguiu localizar e provar a existência dessa tribo e criar as reservas Omerê e Tanaru, demarcando as terras dos Kanoê e Akuntisu. Porem as tribos estava reduzido a menos de cinco membros, também foi registrada a presença de um único homem75 que foge da civilização, último sobrevivente de uma tribo. Este assunto será tratado no próximo capitulo.

72Inicialmente foi chamado Rio da Duvida porque nas cartas náuticas constava a existência de um curso de água interligando as nascentes do afluente madeira do rio Amazonas com a Bacia da Prata Afluente. Graças a essa expedição rio foi reconhecido como afluente do rio Amazonas.

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REEL, Monte. O último da tribo. A epopéia para salvar um índio isolado na Amazônia, Companhia das letras, p. 58, 2011.

74REEL, Monte. O último da tribo. A epopéia para salvar um índio isolado na Amazônia, Companhia das letras, p. 87, 2011.

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CAPÍTULO II

2. MOVIMENTOS SOCIAIS DO CAMPO EM CORUMBIARA