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O termo “movimento” é uma alusão ao termo técnico “movimento social”. Um movimento social pode ser caracterizado como uma forma de ação coletiva na qual as dimensões da solidariedade, do conflito e da ruptura com a lógica do sistema social se inter-relacionam (JESUS, 2012, apud Melucci, 1999). Dessa forma o movimento LGBT é um movimento social da população gay, lésbica, bissexual, travesti, transexual, transgêneros entre outros indivíduos que se consideram LGBT (mesmo não se identificam com tais letras), para que todos e todas sejam aceitos e aceitas socialmente como são. Dentro dessa aceitação vai incluir diversas pautas que vão encaixar-se na peculiaridade de cada pessoa L, G, B ou T, porém uma bandeira em comum levantada entre o movimento LGBT é o do fim da bifobia, homofobia, lesbofobia

e transfobia8. Podemos considerar que essa bandeira em comum é levantada devido à quantidade de assassinatos cometidos por crime de ódio ao LGBT. Em uma entrevista para um documentário, o deputado federal Jean Wyllys explicita bem essa questão;

“O que une a mim à travesti, ou a transexual, o que nos une, – porque nós somos muito diferentes entre nós, nós homossexuais, nós somos muito diferentes, nada mais diferente do que um homossexual, outro homossexual, mas tem uma coisa que nos une – o que nos une, é o fato de ser insultado, injuriado, de fora para dentro porque nós somos invertidos, nós somos considerados invertidos, e o fato de nós sermos alvo dessa violência simbólica e real, faz com que a gente se constitua numa comunidade, embora diversos, muito diferente entre nós, nós somos uma comunidade, porque nós partilhamos o sentimento de pertencimento que vem do insulto e da injúria”. (WYLLYS, 2017)

Historicamente falando, a prática homoafetiva era tida em quase todo o mundo como pecado mortal, perversão sexual, aberração, crime ou até mesmo doença, chegando ao extremo de internações em institutos psiquiátricos ou perseguição pela polícia nas ruas (Revista Pré-Univesp, 2016), dessa forma, na virada do século XIX para o século XX, na Europa, uma campanha liderada por Magnus Hirschfeld, um médico e sexólogo alemão, se voltara contra a criminalização da homossexualidade afim de abolir o parágrafo 175 do código penal da Alemanha, no qual punia o comportamento homoafetivo entre os homens e mulheres. Tal parágrafo sofreu diversas emendas desde 15 de maio de 1871 (quando entrou em vigor) até 11 de junho de 1994 (quando a Alemanha se reunificou), mas, em especial, quando os nazistas germânicos assumiram o poder em 1933, as condenações através do Parágrafo 175 era tratado de forma muito mais severas, elevadas ao extremo, onde várias pessoas, devido as suas práticas sexuais, foram mortas nos famigerados campos de concentração.

Os Nazistas alemães adotavam símbolos para identificar o indivíduo homoafetivo que era capturado, esses símbolos ajudavam a determinar a “impureza” dos indivíduos que tinham o símbolo bordado em suas roupas. Nas

8 Os termos são usados para designar toda e qualquer opressão a cada ser da sigla LGBT, ou seja,

bifobia é a opressão ao ser Bissexual, homofobia, aos gays, lesbofobia, às lésbicas, transfobia, as/aos transexuais, transgêneros e travestis.

Imagens 1, 2 e 3, os símbolos usados para definir as pessoas homoafetivas detidas pelo exército Nazista.

Imagem 1 – Triângulo rosa Imagem 2 – Triângulo preto. Imagem 3 - Triângulo rosa

e amarelo

Fontes: blog Politize!

O triângulo invertido cor-de-rosa9 era usado para marcar os homens homoafetivos, já o preto marcava as pessoas “antissociais”, as mulheres com ideais feministas, as prostitutas e as lésbicas, que não representavam a mulher ideal nazi, e o triângulo rosa e amarelo marcava os judeus homossexuais. O cotidiano dos homossexuais nos campos de concentração estava submetido à experimentos médicos, violência, muitas vezes sexual, torturas, castração, além de outras práticas, pois significaria uma menor taxa de natalidade, com menos bebês alemães sendo gerados. Outra teoria da época era de que a homossexualidade poderia ser hereditária. NEXO JORNAL (2017). Na imagem 4, prisioneiros homossexuais marcados com o triângulo invertido.

9 Embora não seja tão usado atualmente, o triângulo cor-de-rosa invertido é um dos símbolos do

movimento gay. Mesmo sendo originalmente concebido como um emblema de vergonha, ele foi reivindicado como um símbolo internacional do orgulho gay e do movimento dos direitos dos homossexuais, sendo assim o segundo símbolo em popularidade, apenas atrás da bandeira do arco- íris que, embora não tenha sido usada pelos Nazistas, também é um símbolo da luta LGBT, sendo ele o mais reconhecido e usado nos dias atuais.

Imagem 4 – Prisioneiros homossexuais no campo de concentração nazista

Fonte: Nexo Jornal.

As ações nazistas influenciaram Magnus Hirschfeld, junto a outros companheiros, a fundar em 1897 uma organização chamada como Comitê Científico-Humanitário, que buscava promover a educação e a pesquisa sobre a sexualidade, com a esperança de acabar com o preconceito contra os homossexuais e, eventualmente, abolir o parágrafo 175 do código penal alemão. O comitê formado por cientistas, e por pessoas LGBT de todo o mundo promovia os direitos iguais para o LGBT, argumentando que elas não eram aberrações da natureza. Magnus foi muito importante para pesquisas e entendimento científico para a questão da hossexualidade e, principalmente, da transgeneridade. Um momento marcante na história da luta LGBT é a primeira cirurgia – que se tem notícia – de resignação sexual. Lili Elbe10 foi uma artista dinamarquesa conhecida por suas pinturas. Elbe tinha órgãos reprodutor masculino, mas não se identificava com tal. Em 1930 conheceu Hirschfeld que estava fazendo pesquisa com questionários a fim de explicar a questão da homessexualidade e transexualidade cientificamente, Elbe, que já se sentia uma mulher, após várias discussões com Hirschfeld, foi submetida a cirurgia, em Berlim, (sob a supervisão de Hirschfeld) para a remoção dos testículos, antes de três outras operações em Dresden, como informa o Jornal Britânico

The Guardian (2016). Após este ato marcante para a história, Magnus continuou sua carreira como defensor dos direitos LGBT por todo o mundo.

E seguindo a mesma linha de Magnus Hirschfeld, no final da década de 1940, nasce o primeiro espaço de discussão homossexual, em Amsterdam. Segundo o site do Centro, o espaço COC (Center for Culture and Recreation), em Amsterdam, é a mais antiga organização LGBT existente no mundo. A organização surgiu com o intuito de abolir a descriminação contra homossexuais e buscava oferecer cultura e recreação para homens gays e mulheres lésbicas. Dessa forma, as atividades da COC contribuíram para uma efetivação, nos anos de 1950/1960, de uma cultura de sociabilidade da população LGBT em Amsterdã de frequência à bares, boates e danceterias, que vai de encontro aos encontros homoafetivos que eram feitos antes em parques, praças e urinóis público antes da segunda guerra mundial. Embora na Europa a discussão LGBT já tivesse tido um pontapé inicial, é na década de 1960 que o movimento LGBT começa a ganhar visibilidade e força no resto do mundo, tendo as ruas das cidades como palco da luta pelos direitos da população LGBT, pois antes disso, quaisquer grupos que estivessem voltados para a discussão acerca da homossexualidade, ou do combate ao que hoje chamamos de homofobia, era feita de forma clandestina.

Para ser mais preciso, no dia 28 de junho de 1969, na Christopper Street, Greewich Village, em Nova Iorque, onde funcionava o Stonewall Inn, bar cuja clientela era formada, em sua maioria, pela população LGBT, policiais americanos fizeram, como de costume, as “batidas” para prender pessoas com atitudes homoafetivas, porém, diferente do convencional, as pessoas que estavam no Stonewall n’aquele dia, reagiram à ação da polícia.

Lá pelas tantas, uma patrulha policial invadiu o bar, com ordens para prender seus funcionários e jogar todo mundo na rua, alegando descumprimento das leis locais sobre venda de bebidas alcoólicas. Não era uma ação incomum. Frequentemente policiais entravam acintosamente em bares como aquele, provocando a debandada dos fregueses, que temiam ser presos e identificados publicamente como gays. ARRULDA, Roldão (2012).

Nesta época a homossexualidade ainda era considerada uma desordem mental pela Associação Psiquiátrica Americana, e a prática homoafetiva, um

crime de sodomia. Por essa questão, as constantes apreensões em bares LGBT eram organizadas pelo governo, que embora a alegação em muitos casos fosse a “venda de bebida alcóolica”, os ataques eram feitos em lugares de sociabilidade LGBT.

Devido às questões políticas da época para os LGBTs serem inexistentes, a maior parte da população LGBT americana vivia no gueto e, mesmo Stonewall, segundo frequentadores da época, fosse um lugar com condições precárias de higiene, onde era vendido bebidas por preços exorbitantes, era um espaço na cidade onde tinha músicas boas para dançar, e eles tinham a liberdade sexual que tanto gostariam de ter. Então, na noite de 28 de Junho de 1969, a Christopper Street virou um campo de batalha entre os policiais americanos e os LGBTs do local, além de outros bares da proximidade, por não aceitarem a forma que, principalmente as Drag Queens e as Travestis foram (mal)tratadas, “Drag queens e travestis, por exemplo, eram levadas ao banheiro e só eram liberados se não tivessem o órgão sexual masculino.” Portal iGay (2014). Apesar de os policiais que colocaram algumas pessoas no fundo do bar, liberarem as mesmas logo depois, o grupo atacado, sobretudo as Drags, diferente do que costumavam fazer (ir embora e abandonar o local), decidiu protestar contra a forma que foram e vinham sendo tratados. A polícia não conseguiu conter a manifestação que se formou, e começou um ataque às pessoas presente no local. O protesto não se restringiu apenas ao dia 28, ele durou três dias, marcados pelo “Não à intolerância”. Nas imagens 5 e 6, o protesto pelos direitos LGBTs.

Imagem 5 – Protesto após a revolta em Stonewall Inn

Fonte: Revista Lado A.

Imagem 6 – Policiais e manifestantes na revolta em Stonewall Inn

Fonte: pstu.org.br.

A revolta gerou manchetes nos jornais da cidade que fez com que a visibilidade do movimento aumentasse, onde, no terceiro dia após o acontecimento, um manifesto tomou forma levando uma multidão às ruas de Nova Iorque pedindo direitos iguais aos LGBTs e orgulhando-se se serem quem são. Assim, mostrou ao resto do mundo que a rua também era o palco da então luta LGBT. E desde então a data tornou-se um marco para a luta

LGBT, onde todo dia 28 de junho, em diversos países ao redor do mundo, é celebrado o dia internacional do orgulho LGBT.

Após o ato de 1969 vários LGBTs encorajaram-se e começaram a fortificar e fomentar o movimento LGBT ao redor do mundo. No Brasil, o movimento LGBT fortifica-se no final dos anos de 1970 e início do ano de 1980 quando a ditadura civil-militar no Brasil entra em processo de crise, dando espaço para o reaparecimento dos movimentos sociais protagonizado principalmente pela juventude, sendo esses movimentos (que criticavam o conservadorismo), a base para a organização política dos sujeitos e sujeitas homossexuais.

O final da década de 1960 foi essencial para a eclosão mundial da discussão sobre as questões de gênero, sexualidade e identidade. Com isso, novos movimentos se formam, na Argentina, no México, Porto-Rico e em Nova York, por exemplo, já existiam organizações LGBT que forticavam a discussão sobre direitos desta população. No Brasil, até mesmo antes desse período, já se via um aumento de pessoas, principalmente gays e travestis, apropriando- se de lugares nas grandes cidades. Informações sobre espaços de sociabilidade Lésbicas são mais escassos do que sobre os espaços frequentados majoritariamente por Gays. Contudo, Simões (2009, p 67) identifica que alguns poucos bares, boates e restaurantes em Copacabana, no Rio de Janeiro, passaram a ser ocupados no final dos anos 1950 também por mulheres. Esses espaços eram ambientes muito sutis, onde para reconhecer e identificar quem era lésbica, devia olhar para os pés e ver se a mulher usava sapato Mocassim. “Uma alternativa importante para as mulheres parece ter sido também os encontros em residências particulares, que se transformavam ocasionalmente em "bares" ou "clubes"” (SIMÕES, 2009, Pag. 69). Porém a apropriação de espaço pelo público homoafetivo não era feita em forma de organização política como se vê em outros países, era uma questão mais de sociabilidade, sociabilidade esta que era mostrada em jornais caseiros como o jornal o Snob11, um jornal distribuído na noite carioca no ano de 1962 que

retratava a vida na urbe, promovia, divulgava eventos, concursos, apresentações – principalmente – de travestis, e festas voltadas para a

sociabilidade LGBT e organizava reuniões nos domicílios dos colaboradores da revista no qual discutiam sobre a questão de ser gay na cidade, COSTA (2010, p. 16), afirma que nessas reuniões ainda que não pensadas como um movimento social, é possível identificar algumas manifestações isoladas que começam a aparecer na paisagem homossexual, politizando o tema.

Essa sociabilidade LGBT era vivida, assim como nos Estados Unidos, de forma mais “guetificada”, onde os espaços de encontro afetivo e social era marginalizado. A marginalização era fortemente induzida devido a ideologia do governo que se baseava em valores morais conservadores. Podemos afirmar que a “guetificação”, ou seja, a apropriação de lugares da cidade para – principalmente – a sociabilidade homoafetiva e homoerótica, transforma esses lugares em um “território LGBT”, ou seja, espaço que determinada hora apresenta características marcantes dessa população.

Assim, associar ao controle físico ou à dominação ‘objetiva’ do espaço uma apropriação simbólica, mais subjetiva, implica discutir o território enquanto espaço simultaneamente dominado e apropriado, ou seja, sobre o qual se constrói não apenas um controle físico, mas também laços de identidade social. (HAESBAERT, 2006, p. 121).

Esses espaços, mesmo com toda a ameaça que o governo representava, resistiam. A resistência do grupo se dava também com publicações da “imprensa Gay”, que seguindo a linha do Snob, outras pequenas revistas e jornais LGBT que tratavam sobre fatos da época, fofocas, piadas, notícias de festas, além de organizar reuniões uniram-se e criou a Associação Brasileira de Imprensa Gay – ABIG em 1963. O portal de notícias online ATHOSGLS (2007), em um artigo publicado, parafraseia Anuar, o primeiro presidente da ABIG, em entrevista à MÍCCOLIS e DANIEL (1983) no qual diz que “a ABIG foi feita para lutar, porque nós todos tínhamos um ideal, queríamos mostrar que éramos pessoas normais, que fazíamos o que todas as outras faziam, sem diferenças”. Contudo, essa efervescência que estava cada vez mais tomando forma, principalmente nos grandes centros urbanos como São Paulo – Rio de Janeiro, sofre um baque com o Ato Institucional Número Cinco (AI-5), emitido no dia 13 de dezembro de 1968, pelo então presidente Artur da Costa e Silva. O AI-5 é considerado o mais severo de todos os Atos

Institucionais, pois ele, além de todas as intervenções que fazia na questão político-administrativa, suspendia o direito de habeas corpus em casos de crimes políticos, contra a ordem econômica, segurança nacional e economia popular, o que fez com que torturas fossem usadas como forma de punição para diversos atos, além de censurar jornais, revistas, livros, peças de teatro, músicas e proibir manifestações populares de caráter político. Então, como se já não bastasse para os indivíduos LGBTs não ter respeito perante a sociedade e a política, eles não podiam se manifestar em prol de direitos como no resto do mundo estava se fazendo, tendo em vista que a política no Brasil estava rígida demais para poder ouvi-los. GREEN (2000, apud FACCHINI, 2002, p. 63) reforça a afirmativa de que a AI-5 freou o movimento LGBT de se formar no Brasil, ele afirma:

Parece claro que se o governo militar não tivesse deslanchado uma onda de repressão, ampliado a censura, e restringindo os direitos democráticos em fins de 1968 com a imposição do AI-5 além de outras medidas, um movimento politizado pelos direitos de gays e lésbicas possivelmente já teria surgido no início dos anos 70.

Neste mesmo período no Brasil tínhamos a esquerda tradicional, uma organização política que ia de encontro aos ideais políticos militares. Com a promulgação do Ato Inconstitucional número 5 que perseguia, inclusive, os defensores da esquerda, que já se organizava para lutar conta o governo militar, poderia ser visto neles a esperança de uma alavanca para a formação de um movimento social LGBT, contudo, essa esquerda, como afirma GREEN (2014) para o site Carta Capital, tinha

noção marxista tradicional que incorporava tanto uma série de noções sobre homossexualidade como a noção católica tradicional, e noções de gênero, que homem tem que ser macho e mulher frágil. Nesse sentido, a esquerda não foi nada renovadora. Foi muito controladora nos papéis.

Dessa forma, sem ter apoio dos que lutavam com os que os oprimiam, torna-se quase impossível a fomentação do movimento no final dos anos, já que na esquerda não se tinha um diálogo acerca das questões de gênero e sexualidade, pois não reconheciam e nem aceitavam organizações que se desviassem de sua prioridade (o movimento operário). Contudo, já nos anos

1970, novas correntes passaram a se perpetuar na esquerda a partir do pessoal que estava no exílio e foram influenciadas pelo modelo dos novos movimentos sociais da Europa, principalmente na França.

Nos anos 1970 surgem novas organizações que rompem com o passado, como a Liga Operária, a Convergência Socialista e a Liberdade e Luta [Libelu]. Tais organizações tinham outras ideias, influências. Eles não eram tão rígidos e sua composição social era diferenciada. Era uma nova geração de jovens que entraram no movimento estudantil, que tinha fumado maconha, escutava rock and roll, não achava que Beatles eram agentes do imperialismo. (GREEN, 2014).

Esse novo grupo abre espaço na esquerda tradicional para o dialogado sobre as questões de identidade, gênero e sexualidade. A partir daí parte da sociedade passa a se organizar contra o retrocesso que aquela forma de governo da época apresentava. A LGBTfobia institucionalizada era predominante, com LGBTs presos diariamente, por infringir maneiras da moral e bons costumes. As homossexualidades12, sofriam perseguições pela polícia por “vadiagem”, juntamente com as prostitutas, nos quais eram muitas vezes torturadas, assim como as outras classes como os militantes oponentes à ditadura. E mesmo com toda perseguição, a população LGBT estava cada vez mais reproduzindo sua cultura nas cidades, criando-se bares, clubes, espaços de pegação13 nas grandes cidades.

Em 1974, quando Geisel assumiu a presidência da República, houve uma abertura lenta e gradual da política com um processo de “redemocratização”, o que permitiu uma reorganização dos grupos de oposição à ditadura que eram constantemente caçados, criando-se assim condições para uma organização política de gays e lésbicas, que, até onde se tem registro, em 1976, Trevisan14, de volta do exílio, havia criado um grupo para discutir suas novas ideias (MacRae, 1985, apud FACCHINI, 2002, p. 66 e 67), mostrando assim uma tentativa de organização de um Movimento Social, porém, como MacRae (1985, apud FACCHINI, 2002, p. 66 e 67) afirma, “este grupo havia se

12 Assim eram chamadas as pessoas que hoje conhecemos como Assexuais, Lésbicas, Gays,

Bissexuais, Pansexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Intersexuais...

13 Termo utilizado para identificar contatos físicos eróticos e/ou sexo livre de relacionamentos, tais como

namoro ou casamento.

dissolvido em poucas semanas”. Embora tenha havido iniciativa de organização do movimento, a repressão policial nesse período do governo Geisel não cessou. Um grande exemplo dessas repreensões era a operação conhecida como “Limpeza no Centro de São Paulo” que prendia, extorquia e batia em homossexuais e travestis à mando do Delegado José Wilson Richetti.

Durante o governo Geisel, vários setores da sociedade brasileira começaram a se reorganizar e se opor ao regime ditatorial, dentre esses, um setor que se fortificou foi o movimento estudantil, que começara em 1975 dentro das universidade, em 1977 tomou as ruas, promovendo sobretudo passeatas, atos públicos, protestos e manifestações no qual exigiam "liberdades democráticas". Esse movimento dá uma esperança de que é possível contestar o poder do Estado tendo a rua como palco desses protestos. E é nesse momento que surge o Jornal Lampião de esquina, uma mídia alternativa, onde se falavam sobre organização política e social da resistência e a comunidades LGBT (Blog Parada 24, 2016).

Em sua primeira edição, a de número zero, o jornal vinha com um discurso político muito forte ao criticar a posição de gueto em que o homossexual se encontra até então na sociedade brasileira, e explana um sentimento de luta à questão da identidade e do corpo do homossexual como de um ser comum, social, que está presente na cidade, além de descrever o

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