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O território do simbolismo dentro da cidade e sua territorialidade

Para Santos (1996), O espaço (geográfico) é a totalidade verdadeira, porque dinâmica, resultado da geografização da sociedade sobre a configuração territorial. Sendo assim, tomando o espaço geográfico teorizado por Milton Santos (1996), percebemos que a partir da dinâmica social que acontece neste espaço, são gerados espaços, em uma escala menor, que terão configurações diferentes, mesmo estando situados em um mesmo espaço geográfico, devido as diferenças das relações sociais entre os indivíduos, o que podemos chamar de território.

O território não se reduz então à sua dimensão material ou concreta; ele é, também, “um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais” que se projetam no espaço. É construído historicamente, remetendo a diferentes contextos e escalas. (Albagli, 2014, apud Raffestin, 1993).

Neste sentido, podemos afirmar que o território é o espaço apropriado por um ator ou vários atores, ele vai ser o resultado das intervenções e da forma que os atores presentes vão se reproduzir no determinado espaço, esse espaço é delimitado e essa delimitação vai ser feita, na maioria das vezes, por e a partir de relações de poder, em suas múltiplas dimensões. O território vai nos proporcionar uma leitura de um determinado grupo, ou melhor, como SANTOS (1994) afirma, “é o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele um objeto de análise social”. A partir desse uso o território terá alguns fins, Haesbaert (2004) identifica quatro fins comuns aos territórios.

Podemos, simplificadamente, falar em quatro grandes “fins” ou objetivos da territorialização, acumulados e distintamente valorizados ao longo do tempo: - Abrigo físico, fonte de recursos materiais ou meio de produção;

- Identificação ou simbolização de grupos através de referentes espaciais (a começar pela própria fronteira).

- Disciplinarização ou controle através do espaço (fortalecimento da ideia de indivíduo através de espaços também individualizados);

- Construção e controle de conexões e redes (fluxos, principalmente fluxos de pessoas, mercadorias e informações).

Como já vimos até aqui no presente trabalho, a população LGBT está constantemente usando de uma forma particular o espaço urbano. Observamos que o ato da pegação sempre está presente para uma reprodução da cultura e da firmação do ser LGBT na cidade, porém, não se resume a este ato. Podemos observar que existe um simbolismo, um significado, do local para as pessoas que o frequentam. O simbolismo desses territórios usados para a sociabilidade LGBT deve ser entendido a partir das impressões culturais LGBT na paisagem urbana. Vemos a criação de espaços para a sociabilidade como bares e boates, voltados para apresentações musicais, discotecagem, performances de travestis e drag queens, no qual geram renda para essas pessoas, e também percebemos uma ocupação de praias, e outros espaços públicos, como praças, para encontros homoafetivos, sendo essas manifestações, ícones/códigos que constroem o processo identitário da Lésbica, do Gay, do Bissexual, da Travesti, Transexual, Transgênero...

Assim, associar ao controle físico ou à dominação ‘objetiva’ do espaço, uma apropriação simbólica, mais subjetiva, implica discutir o território enquanto espaço simultaneamente dominado e apropriado, ou seja, sobre o qual se constrói não apenas um controle físico, mas também laços de identidade social (HAESBAET, 2006, p. 121).

Essa noção de território nos traz uma noção mais afetiva e identitária para a definição do que pode ser um território na cidade e como podemos delimitá-lo. Costa e Martins (2013) reforça essa percepção da questão território e simbolismo, a ênfase dada pelas autoras nos ajuda a compreender os espaços de sociabilidade LGBT na cidade como um território do simbolismo.

Os territórios são modelados por diferentes agentes sociais, o simbolismo sofre influência tanto do meio interno quanto externo, podendo mercantilizar o espaço, com símbolos inventados. O simbolismo pode ser fixo que é representando por algum objeto praça ou prédio em um determinado espaço ou fluxo onde vai priorizar o deslocamento. (COSTA; MARTINS, 2013).

Percebemos então que o simbolismo pode ser manifestado tanto na questão afetiva de uma pessoa com a outra pessoa, quanto o apego que ela tem com o lugar. É devido a essa questão que podemos tratar os espaços de sociabilidade LGBT na cidade como um território do simbolismo, pois usando até mesmo exemplos de momentos vistos até então; como a revolta do ferro’s

bar em São Paulo organizado pelas mulheres do GALF, que exemplifica bem essa questão do significado do bar para a identidade lésbica; e a praça no Largo do Rossio no Rio de Janeiro, que era frequentada não por ser uma praça, mas porque simbolizada para aqueles homens gays, um ponto que podiam se relacionar com outros homens, parece evidente a relação simbólica do território para essas pessoas. HAESBAERT (2004) vai afirmar que “todo território é, ao mesmo tempo e obrigatoriamente, em diferentes combinações, funcional e simbólico, pois exercemos domínio sobre o espaço tanto para realizar “funções” quanto para produzir “significados””.

A análise territorial que podemos fazer no presente trabalho implica na forma em que o grupo se apropria do espaço, como conforme Bhabha (1998, apud ROSE, Jacqueline 1981) cita, "É a relação dessa demanda com o lugar do objeto que ela reivindica, que se torna a base da identificação". Então o território LGBT vai ser modelado a partir de forças externas (questões políticas, ou até mesmo a falta de um espaço para sociabilizar), e forças internas (que é exatamente a questão do signo). Essa capacidade que o homem tem, quanto um ator social, de criar laços afetivos e atribuir significado com o espaço, vai dar uma dimensão na cidade da “delimitação do espaço”. Isso quer dizer que tanto o ator que faz parte e reproduz esse território, quanto aqueles atores externos que enxergam tal território de outra forma, vai dar uma perspectiva e um significado para aquele espaço. Muitos territórios, embora sejam apropriados de diferentes formas ao longo do dia, transpassa para os atores sociais do cotidiano da urbe um símbolo já pré-definido a partir das relações tidas naquele espaço, o que é o caso de muitos espaços de sociabilidade LGBT.

O indivíduo LGBT é um ser marcante para sociedade, principalmente quando está reproduzindo a sua forma de viver, o território apropriado por essa população vai ter características do indivíduo LGBT, seja na demonstração de afeto, na forma de se vestir, de andar, ou até mesmo nas músicas tocadas, essas características acabam transpassando o simbolismo daquele território para a população, assim o modo como os sujeitos utilizam o espaço vai se expressar na urbe de forma significativa para a reprodução de uma cultura

propriamente dita LGBT. Estas interconexões entre o espaço e o comportamento residem na Territorialidade (SACK, 1986).

A territorialidade implica nas relações de um indivíduo ou de um grupo social e seu meio de referência, que se manifesta em escalas geográficas (local, regional, global), expressando seu sentimento de pertencimento e suas ações em um dado espaço geográfico. (COSTA; MARTINS, 2013).

A definição de Costa e Martins (2013) para territorialidade nos dá uma dimensão de que os comportamentos do ser LGBT em um território vai fazer deste espaço um importante formador de processos identitários do indivíduo queer. Costa e Martins (2013) complementa: Coletivamente, a territorialidade se torna um meio para regular as interações sociais e reforçar a identidade do grupo ou da comunidade. As ações do indivíduo homo/bi/trans são importantes denominadores de uma identidade cultural da comunidade, então essa identidade do ser com o espaço e sua cultura vai definir na urbe os territórios que são tidos como um local de sociabilidade LGBT.

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