III. Leitura: uma atividade caleidoscópica
III.2. Murilo Rubião X Vestibular: que leitura se espera
Murilo Rubião tem se tornado cada vez mais presente nas listas de leituras
exigidas nos vestibulares, ainda que seu destaque permaneça entre os Estados de
Minas Gerais, Goiás e São Paulo, incluindo também o Distrito Federal. Mas nosso
objetivo não é analisar a presença da literatura muriliana nos processos seletivos
das faculdades e/ou universidades e sim perceber o que esses exames cobram do
leitor de Murilo Rubião, que leitura se espera que o leitor realize dos contos desse
autor mineiro.
Em 2001, a Faculdade Milton Campos de Minas Gerais incluiu em sua lista de
obras o livro O Convidado de Murilo Rubião, para o qual se formularam duas
questões, a de número 29 e 30 da Prova de Língua Portuguesa e Literatura
32.
Transcrevemos as questões para que possamos comentá-las:
29º. QUESTÃO (FMC/1º SEM/2001)
A obra de Murilo Rubião é marcada pela presença de cenas insólitas, que
fazem emergir uma realidade fantástica, como exemplificam todas as
passagens abaixo, extraídas de O convidado, EXCETO:
a) “Em uma das ocasiões em que se preparava para levantar-se,
descuidou-se um pouco, suspendendo demasiadamente o lençol que
cobria a companheira: no ventre dela nascera uma flor negra e
viscosa.”
b) “Oito andares abaixo, a escada terminou abruptamente. Um pé solto
no espaço retrocedeu transido de medo, caindo para trás. Transpirava,
as pernas tremiam.”
c) “Havia tal segurança na voz e nos modos do caixeiro que Alferes,
mesmo vendo não ser bicórneo o chapéu, evitou contradizê-lo. A um
sinal do outro, acompanhou-o a um cubículo revestido de espelhos.”
d) “Desencadeara o processo e de súbito o nascimento dos filhos não
obedecia ao período convencional, a gestação encurtava-se
velozmente, Nasciam com sei, três, dois meses e até vinte dias após a
fecundação.”
Nota-se que a questão apresenta excertos de alguns contos que
compõem a obra O convidado e que, no momento de assinalar o item “C”, é
cobrado do candidato a identificação do trecho em que não há descrição de
elementos insólitos e/ou sobrenaturais. Neste caso, a questão generaliza a
presença de elementos insólitos na obra de Murilo Rubião, levando o leitor
apenas a reconhecer e identificar esse elemento característico do fantástico
na obra. Desse modo, a questão visa somente a construção textual e não a
leitura interpretativa da obra.
Não distante disso, a questão de número 30 visa o conhecimento que o
leitor tem da estrutura e do enredo dos contos que compõem a mesma obra:
30º. QUESTÃO (FMC/1ºSEM/2001)
Em todas as alternativas, os comentários sobre O convidado, de
Murilo Rubião, foram devidamente exemplificados pelos excertos
extraídos dos contos que compõem essa obra, EXCETO em:
a) As epígrafes que antecipam as histórias trazem, algumas vezes, a
idéia de advertência, como esta de “A fila”: “E eles te instruirão, te
falarão, e do seu coração tirarão palavras.”
b) O ser humano mostra-se quase sempre agindo fora do senso da
racionalidade, numa postura não convencional, fugindo aos
padrões da normalidade, como se observa em “Botão-de-rosa”:
“Verificando que seu cliente seria julgado pelo Tribunal de júri,
procurou o promotor e lhe disse que iria argüir incompetência de
juízo se o réu não fosse enquadrado no ritual da lei que tratava de
entorpecentes.”
c) As personagens, com freqüência, revelam-se presas a um destino
trágico, envolto por uma atmosfera absurda, como em “Petúnia”:
“Não dorme. Sabe que seus dias serão consumidos em
desenterrar as filhas, retocar o quadro, arrancar as flores. Traz o
rosto constantemente alagado pelo suor, o corpo dolorido, os
olhos vermelhos, queimado. O sono é quase invencível, mas
prossegue.”
d) As histórias retratam que o empreendimento da busca, muitas
vezes, acaba desaguando em um encontro com a angústia e a
frustração, como ocorre em “Epidólia”: “Chegara à exaustão e o
nome da amada, a alcançar absurdas gradações pelo imenso
coral, levava-o ao limite extremo da angústia. Apertou o ouvido
com as mãos, enquanto o coro se distanciava, até desaparecer.
Pirópolis recuava no tempo e no espaço, não mais havia o mar.”
A alternativa “A” evidencia uma intencionalidade do texto, claramente
perceptível na epígrafe do conto A fila, porém não exige do leitor nenhuma
leitura interpretativa do conto para que avalie se tal intencionalidade está
presente também no todo, na globalidade do relato. A alternativa “B”, a qual
deveria ser assinalada pelo candidato, requer que o leitor perceba que no
excerto retirado do conto “Botão-de-rosa” não corresponde ao comentário
feito, assim, o leitor se mantém no plano superficial da leitura. As alternativas
“C” e “D” desencadeiam comentários no que tange ao enredo, assim, o leitor
é cobrado de uma leitura ingênua, permanece apenas no plano da intriga, do
enredo, como descrito no tópico 3.1. deste capítulo.
Em 2004, a Pontifícia Universidade Católica – PUC/MG seleciona a
obra A casa do Girassol Vermelho, de Murilo Rubião, apresentando três
questões na prova de Língua Portuguesa e Literatura
33. Vejamos cada uma
delas (não estamos seguindo a numeração fiel da prova):
1ª. (PUC-MG/2004)
Rui Mourão emite o seguinte ponto de vista a respeito da obra de Murilo
Rubião: "Com Murilo Rubião vamos ter o protótipo duma ficção que
procura um realismo, digamos, de segundo grau, aberto para o onírico e
para os desvãos indevassáveis da consciência." Em todas as alternativas,
retiradas de "A Casa do Girassol Vermelho", há trechos que podem servir
de exemplo às palavras de Rui Mourão, EXCETO:
a) "Meu irmão Artur, sempre ao sabor de exagerada sensibilidade,
contestava enérgico as minhas conclusões. Nervoso, afirmava que as
casas começavam a tremer e apontava-me o céu, onde se revezavam o
33 Questões retidas do site: http://www.klickeducacao.com.br/simulados/simulados_mostra/0,7562,POR-3428-25-193-2004,00.html
branco e o cinzento. (Pontos brancos, pontos cinzentos, quadradinhos
perfeitos das duas cores, a substituírem-se rápidos, lépidos, saltitantes.)"
b) "Através do corpo do homenzinho viam-se objetos que estavam no
interior da casa: jarras de flores, livros, misturados com intestinos e rins. O
coração parecia estar dependurado na maçaneta da porta, cerrada
somente de um dos lados.”
c) "- Tem certeza de que é aqui, Geralda? Ela balançou a cabeça
afirmativamente, porém não dei importância ao gesto. Preocupava-me
unicamente em descobrir como conseguira adivinhar-lhe o nome, pois
estava certo de tê-lo pronunciado pela primeira vez naquele exato
instante."
d) "Ao verificar que ela não gracejava e se punha impaciente com o meu
sarcasmo, quis explicar-lhe que o sobrenatural não existia. Os meus
argumentos não foram levados a sério: ambos tínhamos pontos de vista
bastante definidos e irremediavelmente antagônicos."
Percebe-se que a questão da PUC-MG é muito semelhante à questão de
número 29 da FMC, pois o candidato deveria assinalar a alternativa “D”, a qual
apresenta um excerto de um dos contos que compõem A Casa do Girassol
Vermelho e que não apresenta o ponto de vista de Rui Mourão a respeito da obra de
Murilo Rubião, reconhecendo a passagem que não tem o protótipo de uma ficção
que procura um realismo de segundo grau, aberto para o onírico. Assim, cabe aqui o
mesmo comentário feito para a questão 29 da FMC; o leitor apenas é cobrado a
perceber a presença de elementos oníricos, anormais e sobrenaturais na construção
do fantástico muriliano.
A segunda questão da PUC-MG (2004) refere-se à composição da obra de
Murilo Rubião que encontra-se marcada pelo gênero fantástico. Ao assinalar a
alternativa “C”, o candidato demonstra a forma como o fantástico atua na obra do
escritor mineiro, não ultrapassando do plano estrutural, ou seja, o candidato não faz
nenhuma leitura da obra:
2ª (PUC-MG/2004)
a) Trata-se de um romance em que são explorados aspectos de vários
momentos do modernismo, em especial, do neo-realismo.
b) Compõe-se de poemas em prosa cujo ponto em comum se encontra
na temática urbana, em sua variabilidade de violência e solidão.
c) É formada por um conjunto de contos do realismo fantástico,
modalidade que explora a convivência harmônica de acontecimentos
insólitos num universo familiar ao leitor.
d) Nela são preponderantes as crônicas da vida diária de um
ex-presidiário que luta desesperadamente para integrar-se à sociedade
como um cidadão comum.
A terceira questão do vestibular da PUC-MG (2004) exige que o candidato
(leitor) estabeleça uma correspondência entre os títulos e os contos que compõem a
obra A Casa do Girassol Vermelho, assim a leitura permanece somente no plano
superficial, verificando se o candidato realmente leu os contos, deste modo,
mantém-se apenas a leitura ingênua, focada no enredo, na intriga das histórias:
3ª (PUC-MG/2004)
Em todas as opções, título e textos de “A Casa do Girassol Vermelho”
estabelecem entre si correspondência adequada, EXCETO:
a) Em “Os três nomes de Godofredo”, um homem depara com mulheres
de quem não se lembra, mas que afirmam conhecê-lo intimamente.
b) “Bruma” narra as sensações de um homem que acorda um dia e
percebe que havia se transformado em uma gigantesca barata.
c) “A armadilha” reproduz uma discussão entre dois homens, na sala de
um edifício deserto, por causa de algum fato do passado.
d) Em “A casa do girassol vermelho”, seis jovens se divertem
experimentando a sensação de liberdade após a morte do pai adotivo.
O candidato que leu a obra de Murilo Rubião saberá perfeitamente
assinalar a alternativa “B”, pois trata de um enredo que não pertence a
nenhum conto muriliano, muito menos ao “Bruma”. O enredo nos faz lembrar
o conto “A metamorfose” de Franz Kafka, embora este conto relate que o
protagonista tenha se transformado em um inseto, não deixa explícito que
tenha sido em uma barata.
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 2005, também lança
uma questão sobre Murilo Rubião em seu exame de vestibular. Assim como
os vestibulares até então mencionados, a questão do ITA/2005
34também se
preocupa com a estrutura e construção da obra muriliana, solicitando do
candidato assinalar a alternativa “B”, a qual evidencia a marca de presença
de ações sobrenaturais ou surreais na obra de Murilo Rubião e que possui
significados metafóricos:
(ITA/2005)
A ficção contemporânea brasileira é marcada por uma diversidade muito
grande de temas e de estilos. Nesse universo ficcional, um dos escritores
de maior singularidade é Murilo Rubião, autor de livros, como O
pirotécnico Zacarias, O convidado e A casa do girassol vermelho,
publicados nos anos 1970. Das opções abaixo, assinale a que melhor
define a obra desse autor.
a) O fato de ele ter escrito uma obra muito concisa, pois publicou poucos
títulos, bem como sua predileção pelo conto, única forma literária a que se
dedicou.
b) O fato de o autor ter escrito obras incluídas no gênero fantástico, cuja
principal marca é a presença de ações sobrenaturais ou surreais, e que
possuem significados metafóricos.
c) A presença de um forte psicologismo, ou seja, um aprofundamento nas
motivações inconscientes e oníricas das ações das personagens.
d) A presença do sobrenatural, em contos próximos do clima de terror, e a
presença do monstruoso, como no conto que narra as transformações de
um coelho em vários outros animais.
e) O uso de elemento fantástico como forma de crítica social, como no conto
que mostra o emagrecimento monstruoso de um homem, ocasionado pela
sua obsessão pela vida do vizinho.
34
A prova pode ser acessada pelo endereço:
http://www.google.com.br/#q=vestibular+murilo+rubi%C3%A3o&hl=ptBR&prmd=imvnso&ei=_a4vT8e nKMzuggfj2cHKDw&sqi=2&start=10&sa=N&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.,cf.osb&fp=eee548c911c2660&bi w=1360&bih=587
Na mesma linha de exigências, a Universidade Estadual de Minas Gerais
(UEMG), com base na obra O Pirotécnico Zacarias, em seu vestibular de 2006
35,
apresenta duas questões, as de número 14 e 15, da prova de Língua Portuguesa,
sobre a estrutura e construção do fantástico na obra do autor.
QUESTÃO 14 (UEMG/2006)
A respeito da obra O PIROTÉCNICO ZACARIAS, de Murilo Rubião, SÓ é
incorreto afirmar que:
a) as epígrafes dos contos estabelecem uma relação de diálogo com o
conteúdo temático dos mesmos.
b) os contos são marcados pela presença de personagens cujas ações
transitam entre situações reais e situações estranhas, inusitadas,
absurdas.
c) a metamorfose, ou seja, a transformação, a mudança é elemento
constante no enredo dos contos, em geral.
d) a magia é elemento paradoxal e, por isso, descartado no desenvolvimento
temático dos contos, uma vez que retira das personagens e das ações a
aura do mistério.
Essa é outra questão preocupada apenas com a estrutura, apontando os
elementos constitutivos da obra, como por exemplo, o fato das epígrafes
estabelecerem relação de diálogo com o conteúdo temático do texto e que os
personagens transitam por ações absurdas e estranhas, além do fato de a
metamorfose ser temática constante na obra. Se o leitor conhece os mecanismos de
construção textual do autor, facilmente será levado a assinalar a alternativa “D”.
A questão de número 15 apresenta uma epígrafe do conto O Edifício, e pede
para que o candidato a associe com um dos trechos apresentados nas alternativas.
Embora o candidato tenha que associar o trecho da alternativa “B” com a epígrafe,
não há um processo de interpretação, apenas devendo identificar as ações que
fogem de controle, que estejam “fora da lei”. Portanto, permanecemos no plano do
enredo, já que a intencionalidade da epígrafe não é apontada. Para que isso ocorra,
é necessária a leitura global do conto.
35
A prova pode ser acessada pelo endereço:
QUESTÃO 15 (UEMG/2006)
Leia, a seguir, a epígrafe do conto “O Edifício”, que integra a obra O
Pirotécnico Zacarias: “Chegará o dia em que os teus pardieiros se
transformarão em edifícios; naquele dia ficarás fora da lei.” - Miquéias, VII,
11.
Indique, abaixo, a alternativa cujo trecho se associa diretamente a esta
epígrafe.
a) “Empolgado por um delirante contentamento, o engenheiro distribuía
gratificações, desfazia-se em gentilezas com o pessoal, vagava pelas
escadas, debruçava-se nas janelas, dava pulos (...)”
b) “Inquietante expectativa marcou a aproximação do 800º. pavimento.
(...) Homens e mulheres, indiscriminadamente, se atracaram com
ferocidade, transformando o salão num amontoado de destroços.
Enquanto cadeiras e garrafas cortavam o ar, o engenheiro, aflito,
lutava para acalmar os ânimos. Um objeto pesado atingiu-o na
cabeça(...)”
c) “Para prolongar o sabor do triunfo, que o cansaço começava solapar,
ocorreu-lhe redigir um circunstanciado relatório aos diretores da
Fundação, contando os pormenores da vitória. Demonstraria também
a impossibilidade de surgir, no futuro, outras profecias que pudessem
embaraçar o prosseguimento das obras.”
d) “A fim de estimular a camaradagem entre os que lidavam na
construção, desenvolviam-se aos domingos alegres programas
sociais. Devido a esse e outros fatores, tudo corria tranqüilamente,
encaminhando-se a obra para as etapas previstas.”
A Universidade de Brasília (UNB), em 2010
36, apresenta uma série de
questões sobre um excerto do conto “A cidade”. As questões seguem do número 59
ao 66. A diferença das questões da UNB em relação às das outras universidades é
que aqui o candidato se depara com uma afirmativa, da qual se deve dizer se está
correta ou incorreta, e apresentar uma justificativa. Da questão 59 até 63 tange ao
que se refere à estrutura e enredo do conto. No caso, todas estão incorretas:
36
A prova pode ser acessada pelo endereço:
(UNB/2010)
59 O texto apresenta características do modelo Naturalista de narrativa,
como evidenciado, por exemplo, na influência do meio nas percepções do
personagem.
60 Estruturalmente, a narrativa apresentada caracteriza-se pela presença
de um narrador-personagem, que atua e, a partir de uma perspectiva
crítica, relata a sua atuação.
61 Como exemplo de narrativa contemporânea, o texto de Murilo Rubião
demonstra o apego à descrição positivista dos fatos e dos personagens,
sem deixar margem a simbologias.
62 A forma pela qual as ambiguidades se estabelecem no texto de Murilo
Rubião evidencia a utilização de técnicas literárias modernistas como o
pastiche e a colagem, presentes, também, na obra Memórias
sentimentais deJoão Miramar, de Oswald de Andrade.
63 Conforme se constata na leitura desse fragmento, o personagem é
transportado ao local a que, de fato, tinha firme intenção de chegar.
Percebe-se que todas dizem respeito à forma do texto ou ao enredo em si,
sempre mantendo o candidato (leitor) no plano superficial, no plano textual. Já as
questões de número 64 até 66 não são dignas de serem transcritas pelo fato de
utilizarem o excerto apenas como pretexto para se verificar conhecimentos
gramaticais.
Em 2012, a Universidade Federal de Goiás incluiu em sua lista de obras para
o vestibular, Obras completas, de Murilo Rubião. Porém, na prova de Língua
Portuguesa e Literatura
37houve apenas uma única questão (de número 08) com
duas perguntas:
37 A prova pode ser acessada pelo endereço:
Leia o trecho a seguir.
Urgia encontrar solução para o meu desespero. Pensando bem, concluí
que somente a morte poria termo ao meu desconsolo. [...] Uma frase que
escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em
definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário
público era suicidar-se aos poucos. Não me encontrava em condições de
determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou
rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado.
RUBIÃO, Murilo. O ex-mágico da taberna Minhota. In: ______. Obra completa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 23; 24.O trecho transcrito do conto “O ex-mágico da Taberna Minhota” explicita
um momento de crise do protagonista, que procura na morte a solução de
seu conflito existencial. Considerando a relação desse fragmento com o
enredo do conto, responda:
a) O cotidiano de funcionário público ocasiona a morte de qual
capacidade do protagonista?
(2,0 pontos)b) Que dilema típico do homem contemporâneo é tema central desse
conto?
(3,0 pontos)A UFG espera que na questão “a” o candidato seja capaz de dizer que o
cotidiano de funcionário público ocasiona a morte de sua capacidade de fazer
mágica ou a perda de seu talento para mágica. Isso faz com que o candidato (leitor)
permaneça no plano do enredo, na leitura ingênua. Mas a questão “b”, ao questionar
qual é o tema central do conto, exige que o leitor realize uma leitura mais crítica do
conto, a ponto de levar o candidato (leitor) a afirmar que o dilema presente no tema
central do conto é a impotência do homem para realizar seus ideais, objetivos,
desejos no mundo em que vive; e/ou a incapacidade de modificar o mundo em que
vive, a rotina da vida; e/ou a insatisfação diante da incapacidade do homem de
modificar a vida, o mundo em que vive
38.
Percebe-se que esta multiplicidade de respostas só é possível mediante a
ação interpretativa do leitor, pois, para identificar o tema central da obra, o leitor
deve realizar uma leitura crítica da mesma. Mediante este fato questionamos se
enfim estamos adentrando um processo significativo de leitura de uma literatura tão
singular quanto a de Murilo Rubião. Será o começo da atuação do leitor real frente a
essa literatura que até então previa um leitor implícito?
A resposta para esta pergunta pode ser percebida em outra questão
apresentada na 1ª etapa do Vestibular 2012 da própria UFG; classificada como
“questão 16”
39:
Murilo Rubião, em sua Obra completa, tece críticas a determinadas
situações observadas por ele em seu contexto histórico, mas que
alcançam diversas realidades políticas do século XX. Nesse sentido, no
conto “A cidade” observa-se uma crítica que:
(A) metaforiza, na acusação de conspiração sofrida pelo protagonista, os
regimes políticos autoritários que restringem a liberdade de expressão
dos cidadãos, como o ocorrido no salazarismo, em Portugal.
(B) evidencia, ao apresentar o apoio dos moradores à prisão do
protagonista, as práticas de favorecimento e cooptação da população
por meio de uma agenda populista, a exemplo da Espanha franquista.
(C) alegoriza, na reação dos moradores e da polícia em relação à
chegada de um personagem que causa repugnância, as práticas de
segregação de um grupo étnico, a exemplo do Apartheid, na África do
Sul.
(D) permite, pela observação do comportamento violento dos policiais na
narrativa, comparar a atitude de tais personagens a ações de
repressão, como as da Gestapo, a polícia política da Alemanha
No documento
O FANTÁSTICO NOS CONTOS DE MURILO RUBIÃO:
(páginas 73-105)