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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 ANÁLISES PRELIMINARES

4.1.1 Nível das práticas de Responsabilidade Social Corporativa

Na sequência, pode–se observar o comportamento do nível das práticas de Responsabilidade Social Corporativo para a amostra investigada, considerando cada uma das três dimensões observadas por Schwartz e Carrol (2007) no modelo VBA, que teve como alicerce a base de dados Thomson Reuters Eikon (2020).

Tabela 3 - A média para as variáveis do modelo proposto por Schwartz e Carrol (2007)

Variáveis Proporção 2015 2016 2017 2018 2019

a) Valor; 0,20 0,27 0,27 0,27 0,29 0,32

b) Equilíbrio; 0,46 0,29 0,29 0,29 0,29 0,34

c) Transparência; 0,34 0,25 0,26 0,28 0,30 0,37

Total de 151 itens observados 1,00 0,27 0,27 0,28 0,29 0,34

Fonte: Dados da pesquisa.

Como descrito no item 3.5.1 deste estudo, foram observados 151 itens para determinar o nível de Responsabilidade Social Corporativa, sendo 30 para a primeira variável do modelo utilizado (20%); 70 para a segunda variável (46%); 51 itens para a terceira variável (34%). Na Tabela 3 pode–se verificar como foi o nível de RSC para essas variáveis durante o período de estudo.

Nota–se que a Responsabilidade Social Corporativa apresentou–se crescente durante o período investigado, com um nível de RSC de 27% para o período de 2015 e 34% para

2019. Como pode–se constatar, a terceira variável (Transparência) representa 34% dos itens observados e o nível dessa variável obteve um aclive de 25% no primeiro ano a 37% no quinto período, representando a totalidade dos itens evidenciados pelas empresas da amostra no período estudado.

O crescimento equilibrado das três variáveis coadunam com o modelo de Schwartz e Carrol (2003) onde a sobreposição ideal reside no centro do modelo em que as responsabilidades econômicas, legais e éticos são cumpridas simultaneamente, mas outros segmentos puros e sobrepostos do modelo criam situações que também devem ser explorados e ilustrados, porque eles representam situações em que gestores podem enfrentar no mundo dos negócios. O modelo dos três domínios é especialmente útil para as análises que incidem sobre as forças que entram em jogo no processo de tomada de decisão ética em oposição às discussões mais gerais da RSC (SCHWARTZ; CARROLL, 2003).

O ênfase na dimensão de Transparência fica evidente também nos achados da terceira dimensão da pirâmide de Carrol (1991) onde a responsabilidade com a prestação de contas incorpora normas e expectativas que refletem uma preocupação no qual os consumidores, funcionários, acionistas e a comunidade consideram justo, de acordo ou em respeito aos direitos morais das partes interessadas, como princípios de justiça, direito e utilitarismo. Segundo Carroll (1991), essa responsabilidade incorpora valores emergentes e normas que a sociedade espera que as organizações adotem, embora, tais valores possam refletir maior padrão de desempenho que o atual requerido em lei.

O modelo VBA proposto por Schwartz e Carrol (2007) tenta sintetizar os cinco fluxos empresariais e sociais juntos ((a) responsabilidade social corporativa, (b) ética empresarial, (c) gestão das partes interessadas, (d) sustentabilidade e (e) cidadania corporativa), concentrando-se em três importantes elementos centrais que compartilham em comum: valor, equilíbrio e responsabilidade. Este esclarecimento é facilitado pela identificação dos conceitos centrais que são mantidos em comum por cada uma das cinco estruturas empresariais e sociais e como as estruturas se relacionam um para o outro, potencializando a união das estruturas de uma forma simplificada e coerente fornecendo a base para uma discussão e desenvolvimento do campo empresarial e da sociedade.

Nessa mesma linha, Lyra et al. (2012) examinaram a geração de valor à sociedade e equilíbrio dos interesses dos stakeholders de forma transparente e responsável, analisando as estratégias realizadas pelo Parque Beto Carrero World, direcionadas à RSC, na visão de seus gestores e visitantes a fim de compreender de que maneira são desenvolvidas e se estas estão alinhadas com o modelo VBA. Bem como, Stadler et al. (2017) buscaram analisar como a

RSC se manifesta nas cooperativas de turismo, utilizando o modelo VBA de Schwartz e Carroll (2008). Especificamente, seus objetivos foram identificar as peculiaridades e demandas do setor cooperativo quanto à gestão da responsabilidade social corporativa (RSC) a partir dos princípios básicos do cooperativismo e as dimensões da RSC propostas pelo modelo VBA.

O crescimento do nível de responsabilidade social corporativa também pode ser observado no modelo proposto por Porter e Kramer (2006), onde as empresas estão em níveis intermediários de maturidade na criação de valor compartilhado. Portanto, o potencial do compartilhamento de valor ainda não foi totalmente explorado. Este tipo de investigação contribui para evidenciar o que grandes empresas revelam por meio de dados secundários de acesso público e, para esta investigação, o quanto estão dispostas a aumentarem a criação de valor compartilhado enquanto fonte de riqueza (SILVA; PEREIRA; REZENDE, 2018). 4.1.2 Estatística Descritiva e Matriz de Correlação

Na Tabela 4 estão expostos os valores de média, desvio padrão, mediana e dos percentis 25 e 75 das variáveis contínuas. A variável de GR por accruals foi operacionalizada pelo seu valor absoluto, portanto, a estatística descritiva é baseada em valores positivos.

Percebe-se que as empresas da amostra divulgam em média apenas 0,18 dos itens propostos pela Thomson Reuters Eikon sobre questões relacionadas ao valor, equilíbrio e transparência, considerando uma escala de 0 a 100. Contudo, essa baixa média pode ser explicada pelo fato de que existem cerca de 82% das empresas da amostra que não divulgam nenhum valor de RSC.

Tabela 4 - Estatística descritiva das variáveis

Média DP Perc. 25 Mediana Perc. 75

GR 0,04 0,05 0,0094 0,02 0,05 RSC 0,18 0,20 0 0 0,39 Valor 0,18 0,23 0 0 0,4 Equilíbrio 0,18 0,20 0 0 0,38 Transparência 0,18 0,21 0 0 0,39 Tamanho 22,56 1,45 21,45 22,47 23,64 GAF 0,92 4,57 0,20 0,52 0,78 ROA 5,57 5,46 1,96 4,96 8,13 CV 8,49 162,05 -0,02 0,06 0,16 MV + DI 1,38 2,96 1,72 5,06 1,40 PL 6,76 1,57 1,01 2,35 5,96 LL 6,53 1,55 6,38 2,09 6,04

Legenda: DP: Desvio Padrão; Perc.: Percentil; GR: Gerenciamento de Resultados; RSC: Responsabilidade Social Corporativa; GAF: Grau de Alavancagem Financeira; ROA: Return on Assets (rentabilidade sobre o ativo); CV: Crescimento das vendas; MV: Market Value (valor de mercado) somado aos dividendos acumulados;

PL: Patrimônio Líquido; LL: Lucro líquido. Fonte: Dados da pesquisa.

Com relação ao ROA e ao GAF, percebe-se que as empresas possuem em média, uma rentabilidade sobre o ativo positiva, indicando que em média as empresas da amostra são rentáveis em relação ao seu total de ativos. Além disso, ao analisar a média da variável GAF, observa-se que em 92% das empresas analisadas os capitais de terceiros de longo prazo produziram efeitos positivos sobre o patrimônio líquido, ou seja, o retorno sobre o patrimônio líquido é superior ao retorno sobre o ativo. Estes achados coadunam com Brizolla e Klann (2016), onde mencionam que as empresas com maior ROA e maior GAF aumenta também os dividendos pagos com base no número de ações em circulação.

As receitas das empresas apresentaram crescimento de um ano para outro, contudo, observa-se um elevado desvio padrão para essa variável, bem como uma quantidade de empresas que apresentaram queda em suas vendas de um ano ao outro, representado pelo valor negativo do percentil 25. Sendo assim, entende-se que o valor médio é estimulado pelo crescimento de vendas das empresas localizadas do 75º percentil ao 100º. Em relação a variável MV+DI que se constitui do Market Value (valor de mercado) somado aos dividendos acumulados, nota-se crescimento de um ano para outro. Ou seja, é possível observar a partir do cálculo da valorização das ações, o que representa um retorno positivo a interpretação do rendimento. Os resultados obtidos são contrários aos resultados de Barreto (2011) e de Silva e Dantas (2015), que, embora tenham encontrado significância estatística, o sinal apresentado foi negativo.

Tabela 5 - Matriz de correlação das variáveis de pesquisa

GR RSC Valor Equil Trans Tam GAF ROA BF CV MV+DI PL LL

GR 1 RSC -0,1206* 1 Valor -0,1419* 0,9675* 1 Equil -0,1079* 0,9882* 0,9303* 1 Trans -0,1179* 0,9879* 0,9485* 0,9617* 1 Tam -0,0989* 0,7310* 0,7279* 0,7120* 0,7226* 1 GAF -0,0071 -0,0380 -0,0371 -0,0341 -0,0419 -0,0473 1 ROA 0,0168 -0,0084 -0,0303 0,0000 -0,0049 -0,2138* -0,0527 1 BF -0,0682 0,0332 0,0291 0,0608 0,0399 0,0930* 0,0384 0,0344 1 CV -0,0393 0,0650 0,0808 0,0608 0,0571 0,0601 -0,0131 0,0039 -0,0648 1 MV+DI -0,0752 0,4563* 0,4466* 0,4399* 0,4620* 0,5414* -0,0176 0,1053* 0,0408 0,0330 1 PL -0,0820 0,3389* 0,3112* 0,3342* 0,3464* 0,4726* -0,0342 -0,0528 0,0465 0,0130 0,5833* 1 LL -0,0856 0,4314* 0,4234* 0,4175* 0,4339* 0,4935* -0,0249 0,2697* 0,0766 0,0484 0,8169* 0,5727* 1

Legenda: *significância ao nível de 5%; GR: Gerenciamento de Resultados; RSC: Responsabilidade Social Corporativa; Equil: Equilíbrio; Trans: Transparência; Tam: Tamanho; GAF: Grau de Alavancagem Financeira; ROA: Return on Assets (rentabilidade sobre o ativo); BF: Big Four; CV: Crescimento das vendas; MV: Market Value (valor de mercado) somado aos dividendos acumulados; PL: Patrimônio Líquido; LL: Lucro líquido.

Na Tabela 5 apresenta-se a matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis utilizadas nesta pesquisa, refletindo a força de cada uma dessas associações. A matriz de correlação das variáveis de pesquisa (Tabela 5) aponta, em uma primeira análise, o sinal esperado na correlação entre RSC e GR, ou seja, um sinal negativo. Além disso, ao observar as dimensões de RSC separadamente Valor, Equilíbrio e Transparência as três apresentam os sinais de associação esperados, ou seja, associação negativa com o GR. Este resultado também foi obtido por Schuster e Klann (2019) em empresas que visam a redução dos lucros por meio do GR, a RSC mostrou-se negativamente relacionada, ou seja, quanto mais investimentos divulgados em RSC, menor o nível de GR.

Com relação às demais variáveis em nível de empresa, observa-se um elevado valor na correlação entre RSC e TAM, o que significa que empresas maiores apresentam tendência maior para adesão a práticas socialmente responsáveis (RSC). Além disso, o estudo de Schuster e Klann (2019) também identificaram que aspectos como o TAM que norteiam as atividades da empresa, além da RSC, podem estar influenciando diretamente o GR.

Quanto às variáveis relativas aos indicadores econômicos, nota-se coeficientes elevados de correlação, especialmente entre as variáveis RSC e Rentabilidade sobre o Ativo,

Market Value (valor de mercado) somado aos dividendos acumulados, Patrimônio Líquido e

Lucro líquido. Divergindo dos resultados de Barreto (2011) que encontraram uma correlação negativa significante com o valor de mercado de empresas portuguesas, no sentido de que, quanto maior for o risco financeiro suportado pela empresa, maior será o seu risco de falência e, portanto, maior será também a probabilidade de os investidores perderem uma parte importante do seu investimento, o que sinaliza uma má gestão da empresa e, portanto, reduz a cotação das ações.

4.2 ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE RSC E GERENCIAMENTO DE RESULTADOS Nesta subseção se apresenta os resultados da regressão que visa atender ao primeiro objetivo específico desta pesquisa, que trata da relação entre RSC e GR, cujos resultados estão expostos na Tabela 6.

Nota-se que existe uma associação negativa e significativamente da RSC com o GR, o que confirmando os achados de Hsu e Chen (2017) e Brizolla e Klann (2019), em que as empresas utilizam as práticas de RSC de caráter informacional, evidenciando sensível melhora na qualidade dos relatórios contábeis divulgados.

Os resultados evidenciados acerca da relação negativa entre RSC e GR também foram constatados nos estudos de Gras-Gil, Manzano e Fernández (2016), Schuster e Klann (2019), Malo-Alain, Melegy e Ghoneim (2019). Assim sendo, compreende-se que ao mesmo tempo em que são determinadas a expor suas informações com transparência e divulgarem práticas sociais e ambientais, as organizações possuem estímulos na forma de incentivos para potencializar a qualidade das informações contábeis mediante o menor GR.

Os resultados sugerem que assim como o modelo de Khotari, Leone e Wasley (2005) as medidas de acréscimo discricionário com correspondência de desempenho aumentam a confiabilidade das inferências da pesquisa de gerenciamento de resultados. Quando a hipótese que está sendo testada não implica que o gerenciamento de resultados irá variar com o desempenho, ou quando não se espera que as empresas de controle tenham se envolvido no gerenciamento de resultados (KHOTARI; LEONE; WASLEY, 2005).

Tabela 6 - Resultados da relação entre RSC e GR Equação 2

ADROAit01RSCit+α2Controleit+α3ΣEfeitoFixoSetor+α4ΣEfeitoFIxoAno+ ᵢℇ ₜ

Coeficiente p>value t VIF

Constante -0,0666303 0,242 -1,17 - RSC -0,029129 0,107 -1,61 2,35 Tam 0,0041243 0,102 1,64 2,82 GAF -0,0005181 0,063* -1,86 1,02 ROA 0,0006213 0,110 1,60 1,30 CV -7,44e-06 0,002*** -3,16 1,08 BF -0,0080453 0,131 -1,51 1,11 Efeito Fixo Ano Sim Efeito Fixo Setor Sim ANOVA 0,0000*** R² 22,08 R-Ajustado 18,75 Durbin Watson 1,698624 Observaçõe s 465

Legenda: *; **; ***significância ao nível de 10%, 5%, 1%; GR: Gerenciamento de Resultados; RSC: Responsabilidade Social Corporativa; Equil: Equilíbrio; Trans: Transparência; Tam: Tamanho; GAF: Grau de Alavancagem Financeira; ROA: Return on Assets (rentabilidade sobre o ativo); BF: Big Four; CV: Crescimento das vendas; MV: Market Value (valor de mercado) somado aos dividendos acumulados; PL: Patrimônio Líquido; LL: Lucro líquido.

Fonte: Dados da pesquisa.

Estes resultados coadunam com o modelo de Jones (1991), pois o estudo aplica as modelagens em empresas brasileiras, de acordo com as especificações ditadas pela teoria e literatura acadêmica. As constatações sugerem que todos os modelos considerados parecem produzir razoavelmente testes bem especificados para uma amostra aleatória de empresas. As

variantes tentam estabelecer uma especificação mais robusta para determinar os componentes não-discricionários dos accruals.

Pode-se observar que assim como Dechow, Sloan e Sweeney (1995) incluem uma terceira variável – “Contas a Receber” – na especificação original de Jones (1991), sendo esta a única modificação prevista em relação ao primeiro modelo. O modelo empregado nesta dissertação também utiliza assumindo que as mudanças em contas a receber resultam do gerenciamento de resultados. A premissa é baseada na suposição de que é através do Nível dos Accruals Discricionários mais fácil gerenciar resultados pelo exercício de ações discricionárias sobre o reconhecimento da receita em contas a receber (em detrimento a fazê- lo diretamente na conta “caixa”).

Ao observar as variáveis de controle, analisa-se que tamanho (TAM), e rentabilidade sobre o ativo (ROA) se mostraram positivamente conexos com o GR. Com relação ao tamanho, os resultados corroboram com o estudo de Nardi e Nakao (2009) consideraram a variável tamanho da empresa relacionada ao nível de gerenciamento de resultados. Mencionam que o tamanho é positivamente relacionado com o gerenciamento de resultados, uma vez que empresas maiores tender a apresentar incentivos para gerenciar resultados.

A relação negativa entre a variável big four (BF) e o GR está alinhada com o evidenciado por Tomassetti et al. (2017) e Haga et al. (2018), visto que a auditoria de empresas realizadas por big four tendem a reduzir o GR, uma vez que quanto maior a firma que efetua a auditoria menor será o nível de gerenciamento de resultados (GR) na empresa auditada, dada a sua maior capacidade técnica. Ao tratar das empresas mais lucrativas em termos de rentabilidade sobre o ativo (ROA) se mostraram positivamente relacionadas com o GR, dessa forma, acredita-se que os gestores gerenciem os resultados com a finalidade de melhorar esses indicadores (GU et al., 2005; GUAY; KOTHARI; WATTS, 1996). Além disso, gestores de empresas de alto crescimento poderiam usar o gerenciamento de resultado como um mecanismo viável para sinalizar futuro desempenho da empresa (ROBIN; WU, 2014).

Com relação às variáveis de controle que tendem a minimizar o GR, destaca-se a alavancagem (GAF) e o crescimento das vendas (CV). Contudo, estudos contemporâneos internacionais e nacionais defendem a associação positiva entre a alavancagem financeira e gerenciamento de resultados. Coelho e Lopes (2007) indicam a existência de correlação positiva e significativas entre o grau de alavancagem financeira e os agregados contábeis sob restrições contratuais, em empresas do mercado americano. DeFond e Jiambalvo (1994),

Sweeney (1994) e Roodposhti e Chashmi (2011) observaram que os gestores utilizaram

accruals discricionários para satisfazer as exigências dos contratos da dívida.

Entretanto, apesar de diversos trabalhos apresentarem essa relação positiva, o estudo de Ardison, Martinez e Galdi (2012) corrobora com os achados deste estudo, que apresenta uma associação negativa entre a alavancagem (GAF) e crescimento das vendas (CV) com o GR, realçando a importância da continuidade de pesquisas explorando este tema, pois assim como o presente estudo, estes autores, contrariamente às definições teóricas de relação positiva entre as duas variáveis, sugerem que os resultados obtidos sobre a associação negativa entre as variáveis pode indicar consequências benéficas já que maiores níveis de endividamento podem estar ligados a menor discricionariedade contábil, reduzindo assim indícios de gerenciamento de resultados. Tais resultados, coincidem também com os estudos de Visvanathan (1998), Coelho e Lopes (2007) e Fayoumi, Abuzayed e Alexander (2010).

A relação entre crescimento das vendas e GR coaduna o proposto por Coelho et al. (2015), que também demonstrou que as empresas listadas na bolsa de valores dos BRICS em estágios de insolvência possuem variabilidade negativa em seus valores de vendas e estão propensas a apresentarem menor variabilidade nos accruals discricionários. Esses resultados corroboram com os achados de Campa e Camacho-Miñano (2014) que investigaram o gerenciamento de resultado nas empresas com dificuldade financeiras da Espanha, bem como os de Fasolin e Klann (2015) que busca evidenciar o gerenciamento de resultados por

accruals específicos em empresas familiares brasileiras onde em parte dos seus achados as

empresas familiares apresentaram coeficiente negativo, enquanto nas não familiares foi positivo.

4.2.1 Análise da relação entre as dimensões de RSC e Gerenciamento de Resultados

Quanto aos resultados sobre da relação entre as dimensões de Responsabilidade Social Corporativa (RSC), representadas pelo Valor, Transparência e Equilíbrio do modelo de RSC proposto por Schwartz e Carroll (2007) separadamente no GR por accruals. Ressalta-se que inicialmente foram operacionalizadas três regressões distintas, uma para cada dimensão do modelo de Responsabilidade Social Corporativa. Vale destacar que anteriormente foi apresentado a operacionalização através de regressão considerando a associação entre a RSC (considerando conjuntamente as três dimensões) e o GR, os resultados evidenciam uma relação negativa e significativa entre cada dimensão de RSC com o GR, as quais estão apresentadas nesta sessão.

Os achados visualizados na Tabela 7, indicam que a dimensão de Valor se mostrou negativamente relacionada com as práticas de GR. Esse resultado contradiz os achados anteriores de Coelho e Lopes (2007) e a premissa de que numa lógica oportunística ou no enfoque de maximização do valor da firma perante o mercado, os gestores tendem a apresentar as informações contábeis de maneira a induzir credores a assumirem postura favorável à empresa, no intuito de facilitar a liberação de recursos.

Neste sentido, esse resultado reafirma o proposto por Schwartz e Carroll (2007), o qual expressa um valor em que as pessoas acreditam verdadeiramente, motivando-as a agir. Bem como, Wartick e Cochran (1985) os quais coadunam que existe um contrato de valor social, legitimando o comportamento da empresa, estando em conformidade com os objetivos da sociedade, refletindo e reforçando seus valores.

A dimensão de Equilíbrio se mostrou negativamente relacionada com as práticas de GR., ou seja, quanto maior for a busca pelo equilíbrio em direcionar e atender aos interesses conflitantes dos stakeholders e /ou padrões morais menor será o gerenciamento de resultados. Este resultado contradiz os achados de Gabriel e Corrar (2011), os quais evidenciaram que agencias bancarias utilizam parte dos ajustes de mercado para gerenciarem seus resultados, motivados pela necessidade de apresentar uma situação estável para as partes interessadas na organização.

A terceira dimensão do modelo VBA de RSC, que compreende a Transparência, também apresentou o resultado esperado, uma relação negativa com o GR. Desta forma, fica evidente que sinalizar ao mercado suas informações com transparência, as organizações potencializam a qualidade das informações divulgadas reduzindo o Gerenciamento de resultados.

A evidencia dessa relação negativa significativa corrobora com os achados de Góis e Soares (2019) que sustentam a hipótese da transparência possuir uma relação negativa com o gerenciamento de resultados por accruals, de modo que uma boa reputação representa um sinal para os acionistas, credores e outras partes interessadas, em relação à qualidade das informações contábeis, consequentemente, dando às empresas uma vantagem competitiva, e sinalizando que empresas reputadas quanto à transparência contábil são um bom investimento.

Tabela 7 – Resultados da relação entre as dimensões de RSC e GR

GR GR GR

Coeficiente Coeficiente Coeficiente

Constante -0,0768497 -0,0535785 -0,0633234

Valor -0,0317579** (-2,24) Equilíbrio -0,0768497 (-1,28) Transparência -0,0276099 (-1,53) Tam 0,0045933* 0,0035292 0,0039515 (1,94) (1,39) (1,59) GAF -0,0005134* -0,0005159* -0,0005284* (-1,85) (-1,84) (-1,87) ROA 0,0006475 0,0005919 0,0005991 (1,65) (1,54) (1,54)

CV -6,51e-06*** -7,70e-06*** -7,56e-06***

(-2,70) (-3,34) (-3,24)

BF -0,008073 -0,008027 -0,007881

(-1,51) (-1,50) (-1,48)

Efeito Fixo Ano Sim Sim Sim

Efeito Fixo Setor Sim Sim Sim

ANOVA 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** R² 22,34 21,92 22,05 R-Ajustado 19,03 18,59 18,72 Durbin Watson 1,701679 1,697141 1,69868 VIF Máximo 2,63 2,77 2,75 Observações 465 465 465

Legenda: *; **; ***significância ao nível de 10%, 5%, 1%; Estatística t entre parênteses. GR: Gerenciamento de Resultados; Equil: Equilíbrio; Trans: Transparência; Tam: Tamanho; GAF: Grau de Alavancagem Financeira; ROA: Return on Assets (rentabilidade sobre o ativo); BF: Big Four; CV: Crescimento das vendas; MV: Market Value (valor de mercado) somado aos dividendos acumulados; PL: Patrimônio Líquido; LL: Lucro líquido. Fonte: Dados da pesquisa

Em relação as variáveis de Tamanho e ROA, ambas apresentaram relação positiva com o Gerenciamento de resultados nas três dimensões, esse resultado foi encontrado também na relação da Responsabilidade Social Corporativa com o GR, pois conforme Dechow, Ge e Schrand (2010) sugerem que a oportunidade de crescimento, o endividamento, o tamanho da empresa e a governança corporativa são variáveis que podem influenciar o gerenciamento de resultados. Por outro lado, as variáveis GAF, Crescimento de Vendas e Big Four coadunam com a relação da RSC e o Gerenciamento de Resultados, apresentando uma relação negativa, assim, empresas que detêm melhor reputação quanto à publicação dessas variáveis se engajam menos em práticas de gerenciamento de resultados (GÓIS; SOARES, 2019).

Contudo, entende-se que a relação entre o GR e as dimensões de RSC isoladamente carece ser analisada com cautela, visto que na prática, as empresas estão expostas a todas as características que compõem os indicadores avaliados conjuntamente. Em decorrência desse entendimento, realizou-se a análise da relação entre a RSC e o GR, que observou as três dimensões do modelo de Schwartz e Carroll (2007) em uma única regressão, afim de analisar