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Capítulo 5 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE REGULAÇÃO DA

5.5. Avaliação da educação superior

5.5.1. Elementos fundamentais para avaliação da educação superior

5.5.1.5. Núcleo docente estruturante

O núcleo docente estruturante é um importante instituto da regulação da educação superior que conta atualmente com a seguinte conceituação;

“Núcleo docente estruturante – conjunto de professores da instituição responsável pela formulação do projeto pedagógico do curso, sua implementação e desenvolvimento, composto por professores com titulação em nível de pós-graduação stricto sensu, contratados em regime de trabalho que assegure preferencialmente dedicação plena ao curso, e com experiência docente.”644

Trata-se de um fundamental fator indicativo da qualidade de um curso, criado, inicialmente, por meio da Portaria Normativa/MEC nº 147, de 2 de fevereiro de 2007, especificamente para os cursos de Direito e de Medicina, com o intuito de qualificar o envolvimento docente no processo de concepção e consolidação do curso, com o estabelecimento de uma determinada proporção de professores do curso com maior nível de dedicação ao curso e titulação acadêmica, com a finalidade de colaborar para direcionar a efetivação do projeto pedagógico de curso (PPC). Nesse sentido, o NDE deve ser a “alma” de um curso superior, responsável pelo planejamento, implantação, revisão e aperfeiçoamento constante do PPC, conforme aponta Frederico Normanha Ribeiro de Almeida:

“Formado por parte do corpo docente com maior dedicação ao curso e à instituição de ensino, e com maior experiência e titulação acadêmica, o NDE deve se constituir como espaço de produção de conhecimento e de reflexão sobre as práticas pedagógicas adotadas no curso, trazendo para essa arena de discussão as experiências passadas e as adquiridas no cotidiano da sala de aula por aqueles professores. É por meio da efetividade de um NDE dedicado e atuante que o PPC é capaz de obter aderência à realidade do ensino-aprendizagem no cotidiano do curso[...]”.645

Com base nessa experiência, a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES) aprovou o Parecer nº 4, de 17 de junho de 2010, que ressaltou a importância de um grupo de professores fundamental para a constituição da identidade de um curso:

“A idéia surge da constatação de que um bom curso de graduação tem alguns membros do seu corpo docente que ajudam a construir a identidade do mesmo. Não se trata de personificar um

644

Portaria Normativa/MEC nº 40/2007, Anexo, item 9.4.

645

Frederico Normanha Ribeiro de Almeida, “Avaliação de qualidade, profissionalização da docência e ensino jurídico”, in Paulo Roberto Moglia Thompson Flores (org.), Desafios rumo à educação jurídica de excelência, Brasília: OAB, Conselho Federal, Comissão Nacional de Ensino Jurídico, 2011, p. 133.

172 curso, mas de reconhecer que educação se faz com pessoas e que há, em todo grupo social, um processo de liderança que está além dos cargos instituídos.

[...]

Com isso se pode evitar que os PPCs sejam uma peça meramente documental. Entende-se, então, que todo curso que tem qualidade possui (ainda que informalmente) um grupo de professores que, poder-se-ia dizer, é a alma do curso.”

Fundamentada nesse parecer, foi editada a Resolução/CONAES nº 01, de 17 de julho de 2010, que instituiu a obrigatoriedade da instituição de um NDE em cada curso superior, a com a função de acompanhamento atuante “no processo de concepção, consolidação e contínua atualização do projeto pedagógico do curso”.646 O NDE deve ser composto por professores do curso que “exerçam liderança acadêmica no âmbito do mesmo, percebida na produção de conhecimentos na área, no desenvolvimento do ensino, e em outras dimensões entendidas como importantes pela instituição”.647

Segundo a Resolução/CONAES nº 1/2010, são atribuições do NDE: (a) contribuir para a consolidação do perfil profissional do egresso do curso; (b) zelar pela integração curricular interdisciplinar entre as diferentes atividades de ensino constantes no currículo; (c) indicar formas de incentivo ao desenvolvimento de linhas de pesquisa e extensão, oriundas de necessidades da graduação, de exigências do mercado de trabalho e afinadas com as políticas públicas relativas à área de conhecimento do curso; e (d) zelar pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação.648

Em termos quantitativos e qualitativos, a Resolução/CONAES nº 1/2010 estabelece que o NDE deve (a) ser constituído por um mínimo de cinco professores pertencentes ao corpo docente do curso; (b) ter pelo menos 60% de seus membros com titulação acadêmica obtida em programas de pós-graduação stricto sensu; (c) todos os membros em regime de trabalho de tempo parcial ou integral, sendo pelo menos 20% em tempo integral; e (d) assegurar estratégia de renovação parcial dos integrantes do NDE de modo a assegurar continuidade no processo de acompanhamento do curso.649 Essas exigências foram incorporadas aos instrumentos de avaliação de cursos.650

646

Resolução/CONAES nº 01/2010, artigo 1º, caput.

647

Resolução/CONAES nº 01/2010, artigo 1º, parágrafo único.

648 Resolução/CONAES nº 01/2010, artigo 2º. 649 Resolução/CONAES nº 01/2010, artigo 3º. 650 Cf. 5.5.1.3.

173 À vista do quadro evolutivo apresentado, o núcleo docente estruturante consolidou-se como um instituto fundamental da atividade de avaliação, regulação e supervisão da educação superior, à medida que estabelece a relação entre duas das três dimensões fundamentais da avaliação de um curso superior: a organização didático- pedagógica e o corpo docente. O NDE pode ser compreendido como uma importante parte do corpo docente responsável por tornar dinâmico o projeto pedagógico do curso, que, analisado isoladamente, tem caráter estático.651

No entanto, o estabelecimento do número de cinco membros no NDE, por curso, com o intuito de evitar um “tamanho desmesurado, que inviabilizaria suas ações”, pode descaracterizar a atuação do NDE em cursos com um elevado número de alunos, divididos em diversas unidades de ensino no mesmo município. Em tal situação, formalmente, há apenas um curso, mas, de fato, vários. Por essa razão, em evento organizado A fim de evitar essa descaracterização, sem aumentar desmesuradamente o NDE, em evento organizado pela Ordem dos Advogados do Brasil,652 propus que a exigência quantitativa de docentes não se desse por curso, mas por unidade educacional, nos seguintes termos:

“As Instituições de Educação Superior, por meio dos seus colegiados superiores, devem definir as atribuições e os critérios de constituição do NDE, atendidos, no mínimo, os seguintes: I – ser constituído um núcleo docente estruturante por unidade educacional, conforme definição constante do item 8.2 do Anexo à Portaria Normativa/MEC nº 40/2007,alterada pela Portaria Normativa/MEC nº 23/2010;

II – ser constituído por um mínimo de 10% do corpo docente do curso em cada unidade educacional, contando com o número mínimo de 5 professores pertencentes ao corpo docente do curso, sendo que cada professor poderá integrar apenas um NDE;

III – ter pelo menos 60% de seus membros com titulação acadêmica obtida em programas de pós graduação stricto sensu;

IV – ter todos os membros em regime de trabalho de tempo parcial ou integral, sendo pelo menos 20% em tempo integral;

651

Cf. Claudio Mendonça Braga, “O núcleo docente estruturante como elemento indicador da qualidade dos cursos jurídicos”, in Necessidades sociais e expectativas da educação jurídica de qualidade, Brasília: OAB, 2013, no prelo.

652

II Seminário de Educação Jurídica, promovido pela Comissão Nacional de Ensino Jurídico do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, de 31 de março a 1º de abril de 2011, na cidade do Rio de Janeiro/RJ.

174 V – assegurar estratégia de renovação parcial dos integrantes do NDE de modo a assegurar continuidade no processo de acompanhamento do curso.”653

Nessa linha da proposta, entendo que esse instituto – que vem se demonstrando fundamental para a consolidação de um parâmetro efetivo de avaliação de qualidade dos cursos superiores – poderia ser aprimorado.