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Capítulo 5 PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE REGULAÇÃO DA

5.8. Termo de saneamento de deficiências e protocolo de compromisso

6.1.1. Programa Universidade para Todos (ProUni)

De 1988 a 2004, as instituições de educação superior sem fins lucrativos, amparadas pelo artigo 150, VI, “c”, e artigo 195, § 7º, da Constituição,718 gozaram de imunidades fiscais sem qualquer contrapartida e regulação estatal. A regulação de tais benefícios fiscais constitucionalmente concedidos a instituições demorou dezesseis anos para ser estabelecida pelo ordenamento jurídico.719 A ausência de regulamentação da imunidade prevista no artigo 195, § 7º, fez com que as instituições delas gozassem sem a necessidade de contrapartidas, amparadas no julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do Mandado de Injunção nº 232, relatado pelo Ministro Moreira Alves:

“Mandado de injunção. – Legitimidade ativa da requerente para impetrar mandado de injunção por falta de regulamentação do disposto no § 7º do artigo 195 da Constituição Federal. – Ocorrência, no caso, em face do disposto no artigo 59 do ADCT, de mora, por parte do Congresso, na regulamentação daquele preceito constitucional. Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para declarar-se o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as providencias legislativas que se impõem para o cumprimento da obrigação de legislar decorrente do artigo 195, § 7º, da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem que essa obrigação se cumpra, passar o requerente a gozar da imunidade requerida.”

A regulamentação dessas imunidades foi promovida pela Medida Provisória nº 213, de 10 de setembro de 2004, posteriormente convertida na Lei nº 11.096, de 13 de janeiro de 2005, que instituiu o Programa Universidade para Todos (ProUni), destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e parciais para estudantes de cursos superiores, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. Os beneficiários desse programa são os brasileiros não portadores de diploma de curso superior, com renda

718

Constituição da República Federativa do Brasil:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI - instituir impostos sobre: {...]

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

[...]

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

[...]

§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.”

719

192 familiar mensal per capita baixa.720 Além do critério relativo à renda, para fazer jus à bolsa, o estudante deve ter cursado o ensino médio integralmente em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral, ser portador de deficiência ou ser professor da rede pública de ensino, para os cursos de licenciatura, normal superior e pedagogia, destinados à formação do magistério da educação básica (nesse caso, independentemente da renda). Além disso, o beneficiário do programa é pré- selecionado pelos resultados obtidos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), garantindo a observância do artigo 208, V, da Constituição.721

Os procedimentos de adesão das instituições de educação superior ao programa se dá por meio do Sistema do ProUni (SISPROUNI) que exige das instituições uma certificação eletrônica como forma de garantir o controle e a segurança do processo.

Existem alguns fatores que implicam na influência recíproca entre a regulação da educação superior e o ProUni. Por aderir ao programa,722 as instituições ficam isentas de alguns tributos,723 mas, em contrapartida, devem manter um padrão de qualidade satisfatório, pois o curso considerado insuficiente deve ser desvinculado do programa, sem prejuízo para o estudante já matriculado. Para tanto, o curso é considerado insuficiente segundo critérios de desempenho no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, por duas avaliações consecutivas.724

Dessa maneira, para permanecer no programa, as instituições devem manter padrões satisfatórios de qualidade.

Por outro lado, a adesão ao programa e a concessão de bolsas, em si, já pode colaborar para a melhoria dos padrões de qualidade das instituições de educação superior aderentes ao programa. Eliane Ferreira de Sousa aponta que, apesar da nota mínima no ENEM para obtenção de bolsa ter sido fixada em 45 pontos, a nota média dos beneficiados atingiu marca superior a 60 pontos e manteve-se sempre superior à pontuação obtida pelos alunos egressos de escolas privadas, bem como o desempenho dos bolsistas do ProUni é

720

A renda familiar mensal per capita não pode exceder o valor de até 1 (um) salário-mínimo e 1/2 (meio), para a bolsa integral, e de até 3 (três) salários-mínimos, para bolsa parcial

721

“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...]

V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;”

722

A adesão ao ProUni é regulada pela Lei nº 11.128, de 28 de junho de 2005.

723

Essa isenção refere-se aos seguintes tributos: a) Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas; b) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido; c) Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social; d) Contribuição para o Programa de Integração Social (Lei nº 11.096/2005, artigo 8º).

724

193 sistematicamente superior ao dos demais no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE).725

Nara Torrecilha Ferreira, em estudo a respeito da efetividade do ProUni, identificando os fatores que influenciam os resultados de políticas públicas voltadas ao ensino superior e analisando em que medida o PROUNI contribui para a ampliação do acesso à educação superior, identificou que o desempenho geral dos alunos bolsistas nas edições do ENADE, de 2006 a 2009, demonstra-se superior ao desempenho dos alunos não bolsistas em todas as provas, apesar de ainda persistirem críticas, por parte de alguns autores, relacionadas ao suposto despreparo dos bolsistas para acompanhar o curso de graduação:726

“Os dados demonstram que os estudantes selecionados para a bolsa integral obtêm os melhores resultados no ENADE e atingem os grupos mais excluídos do ensino superior. Por isso, pode- se constatar que a seleção via ENEM, de acordo com os critérios estabelecidos para as bolsas integrais, realmente seleciona os melhores alunos, que não poderiam cursar a graduação por falta de oportunidade e de condições financeiras, e não por falta de conhecimento.”727

Contudo, a relação entre o Programa Universidade para Todos e a regulação da educação superior ainda precisa ser aperfeiçoada. Em grande medida, o sistema eletrônico do ProUni (SISPROUNI) ainda não tem uma relação adequada com o Sistema e-MEC. Um exemplo disso é o fato de que, por ocasião da inscrição de candidatos a bolsas concedidas pelo programa, na qual os estudantes realizam a opção pelos cursos pretendidos, é apresentada, na página eletrônica de inscrição, a relação de cursos e número de bolsas disponíveis,728 sem, no entanto, apresentar o conceito de avaliação dos cursos e instituições.729

Dado que nem todas as pessoas estão informadas da possibilidade de consultar conceitos de cursos e instituições no Cadastro e-MEC, a apresentação dessas informações no momento da escolha dos cursos na inscrição para bolsas do ProUni seria fundamental para consolidar a relação entre esse programa e o sistema regulatório da educação superior: a procura pelos cursos com melhores conceitos seria maior, permitindo, assim, a seleção de

725

Cf. Eliane Ferreira de Sousa, Direito à educação, pp. 116-117.

726

Cf. Nara Torrecilha Ferreira, Programa Universidade para Todos: uma avaliação sobre efetividade da política pública, Dissertação de Mestrado. Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília, Brasília, 2012, p. 94.

727

Nara Torrecilha Ferreira, Programa Universidade para Todos, p. 97

728

Disponível em http://prounialuno.mec.gov.br/consulta/publica, acesso em 20.01.2013.

729

194 alunos mais bem preparados, colaborando para a manutenção de índices de qualidade satisfatórios. As instituições com cursos com conceitos insatisfatórios, por outro lado, tenderiam a promover ações de melhoria da qualidade para não perderem alunos e não correrem o risco de exclusão do programa.