• Nenhum resultado encontrado

Número de participações dos sujeitos no episódio 4

No documento LITERATURA SURDA: ALÉM DA LÍNGUA DE SINAIS (páginas 136-142)

Fonte: elaborado pelo autor

Nessa história, utilizamos o modelo 3, narrador/tradutor ouvinte, fundo com imagem em um balão. O tempo de narração foi de 6:17 minutos. A sinopse pode ser lida na p. 105.

O pesquisador fez questionamentos para os participantes da pesquisa se eles gostaram da história , ao que responderam:

(Pesquisador) Guilherme

Gostou a história? Por quê?

Augusto Mais ou menos. Jason Não gostei! Daniele Mais ou menos. Beatriz

Pedro

Não entendi nada!

A maioria das crianças surdas não gostou do vídeo, porém a crítica deles foi em relação à qualidade desse vídeo. Tem alguns momentos em que demora para aparecer o narrador/tradutor dentro do balão. Nesse modelo há a imagem sobreposta, com um balão onde aparece o narrador/tradutor. Fernando fez comparações entre os três vídeos e relatou perceber que o tempo entre a apresentação da imagem e do narrador nesse último vídeo está muito descompassado. Por exemplo, no primeiro e no segundo vídeos, a interpretação acompanha a imagem mais sincronicamente do que a última. O pesquisador tentou mais uma vez questionar os participantes. A seguir, as respostas:

(Pesquisador) Guilherme

Por que mais ou menos?

Augusto

Mais ou menos, e falta expressão facial.

Beatriz

Mais ou menos, eu acho aquele vídeo do homem melhor do que esse.

Jeremy

Eu concordo com você.

E i e a pa e, ela o inal de engana , m po co confuso.

Arthur

Aquele homem é melhor do que essa!

Jeremy

Aq ela mo a o o inal engana , q e fal o e p e o facial de enganar.

Pedro

Alguns vídeos não estão bons, mas aquela história de Arca eu gostei mais. Mais, mais, mais.

Interessante como os participantes são capazes de analisar aspectos da gramatica de língua de sinais. As pesquisadoras Quadros e Karnopp (2004), dentro dos estudos linguísticos de sinais, mostram a importância das expressões não manuais.

As expressões não manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco) apresentam-se em dois papéis nas línguas de sinais: marcação de construções sintáticas e diferenciação de itens lexicais. As expressões não-manuais que têm funções sintática marcam sentenças interrogativas sim não, Interrogativas QU-, orações relativas, topicalizações, concordância e foco. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p.60)

Por essa razão, os participantes da pesquisa sentiram que o narrador/tradutor que não usou expressões faciais mostra que falta a esse narrador adquirir a arte da literatura, ter mais experiência com esse gênero textual, para poder narrar as histórias. A expressão facial não é só um fator gramatical, é também importante incorporar os personagens da história para atrair as crianças. A expressão facial e corporal dentro do gênero da literatura tem uma função de representação, uma função estética e artística.

O depoimento de Beatriz reflete sua observação:

Beatriz

Na minha opinião, sabe aquela janela de intérprete na televisão é muito pequena, não dá para ver. Também tem aquele que mostra sempre o intérprete para explicar antes de começar o filme. Então, aquele vídeo do intérprete é muito pequeno, está muito difícil para assistir. Algumas imagens incomodam, também a expressão de sinais não está muito boa!

Essa participante da pesquisa mostra sua experiência com a janela de intérprete na televisão, afirmando que é pequena. Ela demonstra sua crítica à forma como a televisão usa as estratégias reconhecidamente ineficazes para a acessibilidade. Apesar de sua pouca idade, questiona a realidade da acessibilidade e as necessidades de mudança. Temos um momento de integração de Augusto com a Daniele, a seguir:

Augusto Daniele

Augusto: Podia em todos vídeos, o intérprete ficar do lado, no mesmo tamanho.

Daniele: [Balançou cabeça de afirmativamente] não conseguimos

Nesse momento, a discussão sai do contexto da história para uma reflexão sobre a técnica. Interessante que crianças tão jovens façam esse tipo de análise, o que revela seu grau de esclarecimento político, questionando sobre seus direitos à acessibilidade. Isso aponta para uma nova geração de surdos, mais politizados, que, no futuro, poderão ser líderes do movimento surdo, uma geração que lutará por seus direitos.

Eles discutiram a melhor forma de apresentação visual nos vídeos. Tiveram uma ideia que se assemelha à produção de materiais da Argentina, como podemos ver a seguir:

Figura 19: Materiais produzidos na Argentina

Fonte: http://www.videolibroslsa.org.ar/videolibro.php?Video=gaston

O pesquisador fez questionamentos sobre o contexto de compreensão da história. Encontramos quatros recortes, como se vê na análise seguinte:

No primeiro recorte o pesquisador fez questionamento sobre o que o galo está fazendo cima da árvore. Todos os participantes responderam corretamente, isso mostra a compreensão do contexto da história.

(Pesquisador) Guilherme

O que o galo está fazendo em cima da árvore?

Fernando

Ficou com medo de raposa.

Augusto

O Galo escondeu em cima de árvore por causa da raposa.

Jeremy

Escondeu, porque a raposa está com fome! Se o galo fica solto, a raposa ia comer o galo.

O segundo recorte mostra que as crianças surdas compreenderam que a raposa está procurando comer para sobreviver.

(Pesquisador) Guilherme

A raposa está procurando o quê?

Jeremy

Daniele

Raposa estava com fome, procurando para comer.

Pedro

Por isso a raposa achou o galo estava cima da árvore.

Daniele

O galo estava em cima, que a raposa não consegue subir em cima da árvore para pegar e comer.

Gustavo

A raposa está tentando pegar o galo em cima da árvore.

No terceiro recorte, o pesquisador questionou para os participantes da pesquisa: por que o galo não quis descer? O único que respondeu foi Jeremy, que mostrou compreensão da história, como segue:

(Pesquisador) Guilherme

Por que o galo não quis descer? O que aconteceu?

Gustavo

Não sei. [cabeça balançou em negativa]

Jeremy

O galo não é bobo, se ele descesse, a raposa ia comer o galo; por isso ficou cima da árvore.

O último recorte mostra como a raposa ficou sabendo que o cachorro está vindo. Observe como os participantes da pesquisa responderam ao questionamento do pesquisador:

(Pesquisador) Guilherme

Mas como a raposa ficou sabendo?

Clara

O galo!

Jeremy

Foi o galo que contou para raposa que o cachorro está vindo.

Jason

Daniele

A raposa tem medo de cachorro.

Fernando

Medo.

Todos os recortes mostram que a compreensão sofre influência da imagética do vídeo. As imagens favoreceram a relação entre significantes e significado da história. Por isso é fundamental o contato das crianças surdas com a literatura surda, para desenvolver imaginação, criatividade, compreensão de ideias e construção do seu conhecimento. O contexto da história é capaz de provocar emoções, desenvolvendo a subjetividade, levando a pensar, a refletir o que está acontecendo na história e relembrar a experiência de vida deles. A experiência de Daniele mostrou o que acontece dentro sala de aula:

(Pesquisador) Guilherme

O que você lembra de algo parecido com a raposa? Já viu alguém tentando enganar outra pessoa?

Daniele

Foi Augusto, muito parecido com raposa.

Beatriz

Parecido Augusto.

Arthur

Augusto gosta de enganar, porque ele gosta de me provocar e sempre provoco ele.

Beatriz Daniele

Beatriz: Lembra, ele sempre me enganava Daniele: [expressão facial de dúvida]

Beatriz: tenho certeza ele me enganava, não lembro, já tinha esquecido.

Esse recorte mostra o quão fundamental é manter contato com a literatura surda. Assim, as crianças surdas podem perceber que a história traz características da vida real, de coisas que existem neste mundo, o que leva à construção de sua subjetividade. A vida das crianças tem frustação, dificuldade de lidar com a vida, porém a história ajuda as crianças a encontrar as soluções, pois traz conteúdo vivenciado pela humanidade.

É característico dos contos de faldas colocar um dilema existencial de forma breve e categórica. Isto permite à criança aprender o problema em sua forma mais essencial [...] o conto de fada simplifica todas as situações. Suas figuras são esboçadas claramente e detalhes, a menos que sejam muito importantes, são eliminados (BETTELHEIM, 2014, p.15)

5. QUINTO EPISÓDIO análise dos enunciados a partir da história A festa

no céu

Gráfico 5. Número de participações dos sujeitos no episódio 5

4 5 1 0 4 3 4 5 AUGUSTO BEATRIZ CARLOS DANIELE FERNANDO GUSTAVO JASON JEREMY PEDRO

No documento LITERATURA SURDA: ALÉM DA LÍNGUA DE SINAIS (páginas 136-142)