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Número necessário para tratar: Análise do efeito da intervenção educativa por telefone

ETAPA III: Avaliação do Desfecho com 60, 120 e 180 dias

III. Tipo de dieta da criança: Foi avaliado por meio do instrumento

8.5 Número necessário para tratar: Análise do efeito da intervenção educativa por telefone

Um modo adicional de se medir o impacto de uma intervenção que vem se tornando popular nos últimos anos é o número necessário para tratar (NNT). Essa medida representa o número de pacientes que se precisa tratar para se prevenir um evento indesejado (CULLUM et al., 2010).

Os dados aqui apresentados evidenciam que o número necessário para tratar utilizando uma intervenção educativa por telefone de longa duração para promoção do aleitamento materno foi de 8 mulheres. Essa medida clínica demonstra a magnitude do efeito da intervenção educativa por telefone, e permite compreender que vale a pena proporcionar a 8 pessoas uma intervenção segura até o quinto mês pós-parto como a que foi proposta nesse estudo para prevenir que uma mulher interrompa a prática do AM antes dos 180 dias de vida do bebê.

Além disso, os resultados desse estudo permitem compreender que mesmo que os serviços de saúde não tenham suporte ou as condições necessárias para realizar uma intervenção de longa duração até o quinto mês pós-parto, o uso de intervenções até o primeiro ou terceiro mês também podem ser eficazes para impactar nas taxas de AM em curto prazo. Isso é reforçado pelo fato de que o NNT para evitar que uma mulher venha a interromper o AM antes dos 60 ou 120 dias foi de 6 mulheres, sendo um número consideravelmente baixo e acessível, que também justifica a escolha desse tipo de intervenção.

Apesar de ser uma medida bastante utilizada em estudos clínicos, principalmente em estudos da área médica e farmacológica, observa-se na área da enfermagem que o uso dessa medida nos estudos desenvolvidos pela profissão ainda é pouco evidente, dificultando a comparação dos resultados aqui encontrados com os de outros pesquisadores.

Devido a isso, para estabelecer essa comparação utilizou-se alguns estudos que foram incluídos na revisão sistemática de literatura desta tese. Apesar dos estudos não terem abordado o NNT, esse cálculo foi feito a partir dos dados originais dos estudos.

Deve-se ressaltar que as intervenções dos estudos aqui discutidos impactaram somente nas taxas de AME e não nas taxas de AM geral, tendo sido utilizado portanto a taxa de interrupção do AME para o cálculo do NNT.

No estudo de Tahir e Al-Sadat (2016) os autores utilizaram um suporte por telefone até o sexto mês pós-parto provido por consultores em lactação, os resultados evidenciaram que a intervenção foi eficaz para aumentar as taxas de AME no primeiro mês pós-parto (GI:84,3% GC:74,7% p=0,042), sendo que para evitar que uma mulher venha a interromper o AME no primeiro mês é necessário tratar 11 mulheres (NNT).

Já o estudo de Flax et al. (2016) que utilizou uma intervenção por telefone até o sexto mês pós-parto encontrou que ela foi eficaz para aumentar a exclusividade do AM no grupo intervenção aos 180 dias (GI: 64% GC:43% p<0,01), sendo o NNT encontrado de 5.

Em relação aos estudos que utilizaram intervenções por telefone de curta duração, o estudo de Fu et al. (2014) foi o único que foi eficaz para aumentar as taxas de AM no primeiro e segundo mês e de AME no primeiro mês. Com o uso da intervenção proposta por esses pesquisadores para evitar que uma mulher interrompa o AME no primeiro mês é necessário tratar 9 mulheres (NNT), já para evitar que uma mulher venha a interromper o AM no primeiro e segundo mês é necessário respectivamente um NNT de 10 e 11.

Assim, ao comparar o estudo acima com a presente pesquisa percebe- se uma diferença considerável no NNT, uma vez que neste estudo o NNT para evitar que uma mulher interrompa o AM aos dois meses foi de 6, quase metade do NNT encontrado na pesquisa de Fu et al. (2014).

Os efeitos das intervenções dos estudos acima demonstram que são necessários baixos NNTs para alcançar bons resultados em relação ao AM. Apesar disso, os NNTs encontrados referem-se a períodos mais curtos como o primeiro e segundo mês pós-parto.

Diante disso, percebe-se que os NNTs aqui encontrados são de significância clínica, uma vez que revelou que a intervenção educativa proposta é efetiva sendo necessário tratar um baixo número de mulheres para impedir a

interrupção do AM tanto no segundo, como no quarto e sexto mês de vida da criança.

Ressalta-se que o uso do suporte por telefone para promoção do AM é apenas uma opção de intervenção a ser utilizada, existindo diversas outras estratégias que já foram testadas para a promoção do AM, como a musicoterapia, orientação no pré-natal, aconselhamento por pares, visitas domiciliares (VIANNA et al., 2012; BONUCK et al., 2014; LEITE et al., 2005).

Com relação a isso, um ECR desenvolvido por Vianna et al. (2012) no Brasil avaliou o uso de sessões de musicoterapia três vezes por semana com duração de 60 minutos a bebês prematuros e encontrou que o aleitamento materno foi significativamente mais frequente no grupo da musicoterapia na primeira consulta de seguimento que ocorreu entre 7 e 15 dias (p = 0,03), sendo o NNT encontrado de 5,6. O GI também apresentou índices mais elevados de AM aos 30 e 60 dias, mas esses resultados não foram estatisticamente significantes.

Apesar do baixo NNT encontrado no estudo de Vianna et al. (2012) nota-se que ele trabalhou com uma população diferente que foi a de bebês prematuros, os quais têm necessidades especiais, não sendo possível afirmar que esse tipo de intervenção teria os mesmos efeitos para bebês a termo.

Outro estudo desenvolvido em Nova York testou a eficácia de intervenções realizadas na atenção primária no pré e pós-natal sobre o AM. Foi avaliado o uso de duas intervenções de forma separadas e associadas comparando com um grupo controle que recebeu os cuidados habituais. A primeira intervenção testada foi o uso de orientações eletrônicas por prestadores de cuidado pré-natal, com base em perguntas para avaliar o conhecimento da mulher e os seus planos acerca do AM, além do suporte social que ela tinha. A segunda intervenção consistiu em duas consultas pré-natal, uma visita hospitalar e telefonemas regulares no pós-parto até 3 meses, realizado por consultores em lactação. Quando necessário esse grupo também recebeu visitas domiciliares no pós-parto (BONUCK et al., 2014).

Não houve diferença entre o grupo que recebeu somente a primeira intervenção e o grupo controle. Já os grupos que receberam a segunda

intervenção, e a segunda intervenção associada com a primeira tiveram maiores índices de AM no 3º mês pós-parto quando comparado ao GC, sendo o NNT de 8 para a segunda intervenção e de 11 para a associação da segunda com a primeira intervenção (BONUCK et al., 2014).

No Brasil, um ECR realizado em maternidades de Fortaleza avaliou a eficácia dos aconselhamentos por pares no ambiente domiciliar da mulher sobre o aumento das taxas de AM em bebês de baixo peso ao nascer. As mulheres que participaram do grupo intervenção receberam visitas domiciliares com 5, 15, 30, 60, 90 e 120 dias após o parto. O estudo demonstrou que a intervenção aumentou o percentual de aleitamento materno exclusivo (24,7% contra 19,4%; p = 0,044), sendo que o número necessário de famílias a serem visitadas para evitar que uma criança venha a receber aleitamento artificial (NNT) foi de 7 (LEITE et al., 2005).

Os três estudos citados anteriormente apesar de utilizarem intervenções diferentes da presente pesquisa e em alguns casos terem estudado populações com características diferentes ao desta, como bebês prematuros e com baixo peso ao nascer também alcançaram baixos NNTs, demonstrando que existe uma variedade de opções que podem ser utilizadas para evitar a interrupção precoce do AM ou da sua exclusividade.

Dessa forma, o conhecimento dos NNT das diversas intervenções e tecnologias disponíveis para a promoção do AM, bem como das populações e condições em que elas foram aplicadas facilitam a decisão clínica do enfermeiro e demais membros da equipe e gestores de saúde na escolha das estratégias utilizadas para cada contexto.