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6 DA TRIBUTAÇÃO DE DOWNLOADS EM OUTROS PAÍSES

6.3 Na China

6.3.1 Considerações iniciais e Evolução

Por muitos anos a China foi um país alheio ao desenvolvimento industrial e tecnológico, o que o manteve, por um longo período como um país atrasado e pobre, predominantemente rural, onde grande parte dos habitantes viviam em situação de retração financeira e social. Era um país em crise em razão de sua política comunista de manter o país fechado ao mercado global.

Após o fim da Guerra Fria e o declínio das economias comunistas, a China iniciou um processo de abertura de seu mercado interno para empresas estrangeiras, adotando, nas palavras de alguns especialistas, um ambíguo “socialismo de mercado”, que mescla a abertura econômica com um controle social centralizado.

Diante do contexto de abertura de seu mercado interno para as empresas multinacionais, a China, em razão de ser o país mais populoso do mundo, passou a receber investimentos de diversos países, e hoje representa um dos maiores mercados consumidores do mundo, apesar de ainda possuir muitos problemas sociais.

O Alibaba Group, um dos maiores conglomerados chineses de empresas relacionadas ao comércio eletrônico, por exemplo, afirmou que, em 2012, irá faturar

mais do que a Amazon e o Ebay, dois dos maiores sites de e-commerce norte- americanos, somados59.

Assim comenta John Wong60:

Indeed, China´s potential as a leading Internet market in the world is well recognized by many foreign multinationals, many which are vying for a share of this growing market. Some even take the view that over the long run the Chinese language Internet may one Day become a viable médium of communication, next to the English language, on account of a potentially large number of Chinese Internet users worldwide.61

Dessa forma, o comércio eletrônico representa um dos setores de crescimento exponencial na China, o que inevitavelmente causa impacto na arrecadação fiscal do país.

Em 1996, a China já previa o impacto pela difusão comércio eletrônico. Nesse ano, foi estabelecido o China International Electronic Commerce Center (CIECC), que desenvolveu servidores voltados para o e-commerce, tais como a China International Electronic Commerce Network (CIECNet).

O imposto de consumo mais comum na China é o VAT (Value Added Tax), semelhante ao Europeu. Dessa forma, a tributação do comércio eletrônico da China vem sofrendo com os mesmos problemas relativos à delimitação dos conceitos, à criação (ou não) de novos tributos específicos para o e-commerce e à segurança dos dados eletrônicos.

Assim, em 2010 foram adotadas algumas leis que tratam sobre o e-commerce e o tratamento dos dados eletrônicos que circulam na internet: a “Network behavior of commodity trading and related services Interim Measures”, que estabelece a possibilidade de tributação de produtos digitais, bem como estabeleceu regras para manutenção da qualidade desses produtos; a “Administrative Measures for the Payment Services Provided by Non-financial Institutions”, que regulou o sistema de pagamentos

       

59

ALIBABA Group afirma que vai faturar mais que a Amazon e eBay juntos. Ecommerce News. São Paulo, 10 setembro 2012. Disponível em: <http://e-commercenews.com.br/noticias/pesquisas- noticias/alibaba-group-afirma-que-vai-faturar-este-ano-mais-que-a-amazon-e-ebay-juntos>. Acesso em: 13 de novembro de 2012.

60

WONG, John. China´s Emerging New Economy: The internet and E-commerce. p.29. Singapore: Singapore University Press, 2001.

61

Tradução nossa: De fato, o potencial da China como um mercado de Internet líder no mundo é bem reconhecido por muitas multinacionais estrangeiras, muitos das quais estão competindo por uma fatia desse mercado em crescimento. Alguns até consideram que, a longo prazo, a língua chinesa na internet pode um dia se tornar um meio viável de comunicação, ao lado do idioma inglês, por conta de um número potencialmente grande de usuários chineses de internet em todo o mundo.

online realizados por instituições não financeiras; e a “Electronic Commerce Credit Certification Rules”, que implementou a utilização de “certificados de qualidade” para sites de compras coletivas, que são extremamente comuns na China e não possuíam controle em relação às fraudes e golpes que eram praticados através desse modelo de negócio.

Ressalte-se que o comércio eletrônico traz, por si só, inúmeras alterações e inovações para o contexto social, econômico e jurídico. Dessa maneira, é evidente que se faz necessário editar leis e orientações normativas que garantam os padrões de segurança, de comunicação, de privacidade e de identificação das transações para que se possa criar um ambiente propício ao desenvolvimento do e-commerce dentro de um contexto de conectividade internacional. Com a popularização do comércio eletrônico na China, muito passou a ser estudado e implementado para facilitar a difusão dessa forma de transação.

Dentre os diversos textos legais aprovados na China, merecem destaque, conforme cita Meng Xia62:

The related laws and regulations include: Contract Law, Patent Law,

Law of Standardization, items about intellectual property right and computer crime in the Criminal Law of China, Regulations on Safeguarding the Internet, Protective Principles on Computer Software, Protective Rules for Computer Information System Security of People’s Republic of China, Interim Regulations on Safeguarding Internet, Regulations on Commercial

       

62

XIA, Meng. E-Commerce Legal Framework Country Report: China. Nankai: APEC Study Center

of Nankai University, 2006. Disponível em:

<http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/apcity/unpan006896.pdf>. Acesso em: 05 de janeiro de 2013.

Tradução Livre: As leis e regulamentos relacionados incluem: “Lei de contratos”, “Lei de patentes”, “Lei de padronização”, itens sobre direito sobre a propriedade intelectual e crimes cibernéticos na Lei Penal da China, “Regulamento sobre segurança na internet”, “Princípios de proteção de programas de computador”, “Regras de proteção para segurança de sistema de informações computadorizados da República Popular da China”, “Regulmentação provisória de segurança da internet”, “Regulamentação do código criptográfico comercial”, “Regulamentos de administração da Telecom.”, “Regras e Regulamentos dos serviços de informação da internet”, “Padrões dos serviços de Telecom.”, “Regras de implementação das regras de proteção do sistema de informações da República Popular da China”, “Regulamento provisório do registro de nomes de domínio da internet”, “Regras de implementação detalhadas de registro de nome de domínio da internet”, “Regulamentação provisória do nome de registro de domínios chineses na internet”, “Regras provisórias da Rede Inter-telecom”, “Regulamentação do mercado de Telecomunicações”, “Regulações em sistemas de comunicação Wireless”, “Regras de produtos software”, “Regulação da administração do serviço de anúncios na internet”, “Regulação doa verificação e das vendas de produtos de segurança exclusivos para sistemas de segurança da rede”, “Regras de direitos autorais de trabalhos digitais”, “Nota pública de direitos autorais de programas de computador”, “Regulamentação de publicações eletrônicas”, etc.

Essas leis e regulamentações envolvem problemas como o reconhecimento e a segurança do negócio, padrões de configuração e garantia de qualidade, propriedade intelectual, direitos autorais, direitos de patentes, direito de uso das marcas, tributação do comércio eletrônico, segurança da internet e da informação, etc. 

Cipher Code, Regulations on Telecom Management, Rules and Regulations on Internet Information Services, Telecom Service Standards, Implementation Rules of Protective Rules for Computer Information System Security of People’s Republic of China, Interim Regulations on Internet Domain Name Registration, Detailed Implementation Rules of Internet Domain Name Registration, Interim Regulations on Internet Chinese Domain Name Registration, Interim Provisions on Inter-telecom Network, Regulations on Telecommunication Market, Regulations on Wireless Communication, Rules on Software Products, Regulations on the Internet Billboard Service Management, Regulations on the Examination and Sales of the Exclusive Safety Products for the Network System, Provisions on Copyright of Digital Works, Public Notice on Copyright of Computer Software, Regulation on Electronic Publications, etc.

These laws and regulations concern those issues as recognition and business safety, standards conformation and quality guaranty, intellectual property right, copyright, patent right, right of use of trademarks, taxation on E-commerce, Internet and information safeguarding, etc.

Entretanto, apesar das diversas normas que regulam o comércio eletrônico, a tributação do comércio eletrônico ainda não é uma realidade na maior parte da China, salvo raras exceções. O país não possui previsão legal para amparar a cobrança de tributos no e-commerce da forma devida e nem possui estrutura tecnológica que permita a adequada fiscalização da ocorrência dos fatos geradores.

Nas palavras de John Wong63:

As China’s current tax laws do not cover Internet Transactions, the Chinese government is currently drafting rules for the taxation of e- commerce and online securities trading. The Chinese government, holding the view that e-commerce should not be treated differently from other businesses, is determined to tax e-commerce even though it may hinder Internet development. Any form of taxation would slow down or delay e- commerce’s ability to earn profit and would increase the cost of developing the entire economy.

In addition, relevant government agencies are also in the process of drafting a taxation policy measure, the “implementation of Specific Internet Taxation Rules and Regulations”, to combat online tax fraud and tax evasion.

       

63

WONG, John. China’s Emerging New Economy: The internet and E-commerce. Singapore: Singapore University Press, 2001.

Tradução Livre:  Como as atuais leis fiscais da China não cobrem transações da Internet, o governo chinês está atualmente elaborando regras para a tributação do comércio eletrônico e comércio online de valores mobiliários. O governo chinês, mantendo a visão de que e-commerce não deve ser tratado de forma diferente de outros negócios, está determinado a tributar de comércio eletrônico, ainda que possa prejudicar o desenvolvimento da Internet. Qualquer forma de tributação iria abrandar ou retardar a capacidade de e-commerce de obter lucros e aumentaria o custo de desenvolvimento de toda a economia.

Além disso, as agências governamentais relevantes também estão em processo de elaboração de uma política fiscal, a "implementação de regras de Tributação e Regulamentos específicos da Internet", para combater a fraude fiscal online e a evasão fiscal.

A Tributação do comércio electrónico deverá aumentar o custo de uso da internet. A ação do governo indicou que o e-commerce atingiu um certo volume que o governo quer intervir para que este negócio não seria mantido fora dos limites das autoridades fiscais. Além disso, o governo acredita que, em um futuro próximo, uma parte significativa do comércio serão realizadas online, e, se as transações online não forem tributados, uma quantidade substancial de arrecadação fiscal seria perdida.

Taxing e-commerce is expected to increase the cost uf usage of the internet. The government’s move indicated that e-commerce has reached a certain volume that the government wants to intervene so that this business would not be kept off-limits from tax collectors. Futhermore, the government believes that in the near future, a significant part of commerce would be conducted online, and if online transactions were not taxed, a substantial amount of revenues would be lost.

Vejamos, ainda, a lição de Richard Doernberg64:

In China, an online supply of digital products is generally characterized as intangible property. The transaction may also be characterized as a supply of “nothing”, that is, neither goods or intangible property no copyright is transferred. In that case, the supply might not be subject either to VAT (imposed on imported tangible goods) or to Business Tax (imposed on imported intangible property)65.

Apesar de não possuir leis que estritamente estabeleçam a tributação sobre o comércio eletrônico, isso não significa que a China não pretende tributá-lo. A administração fiscal pretende, em um futuro próximo, incluir o comércio eletrônico na base de incidência dos impostos já existentes na China, equiparando a tributação dessa forma de comércio online ao comércio tradicional.

Assim esclarece Jinyan Li66:

However the editors of Chinese Taxation Journal (Zhongguo Shuiwu) which is published by the State Administration of Taxation (SAT) in China, have identified six principles to be adhered to in formulating Chinese e-commerce tax policy. These principles include:

The current tax system should be the basis for e-commerce taxation. In formulating e-commerce tax policy, the focus should be the revision and perfection on the existing tax rules, in order to make them applicable to e- commerce transactions. The benefits of this positions include the avoidance of substantial changes to the existing tax system and the ability to minimize financial risks;

No new separate taxes should be introduced for e-commerce. Introducing new taxes specifically applicable to e-commerce would create unfair competition and effect the efficient allocation of resources;

There sould be a neutral taxation of e-commerce and traditional commerce;

Tax policy and tax administration should be considered together. The premise for any new tax policy is the ability of the tax administration to enforce the policy;

       

64

 DOERNBERG, Richard. Electronic Commerce and Multijurisdictional Taxation. Massachusets: Kluwer Law International, 2001.

65

Tradução Livre: Na China, o fornecimento de produtos digitais online é geralmente caracterizado como propriedade intangível. A transação também pode ser caracterizada como o fornecimento de “nada”, ou seja, nem bens e nem propriedade intangível representam transferência de direitos autorais. Nesse caso, o fornecimento pode não ser fato gerador nem do IVA (cobrado na importação de bens tangíveis) ou ao Imposto Empresarial (cobrado na importação de propriedade intangível).

66

National tax interests should be preserved. China should, on the basis of mutual benefit, seek internationally accepted rules for e-commerce taxation so that each country can protect its respective tax interests; and

E-commerce tax policy should be forward-looking. The future development of e-commerce and technologies must be considered in formulating e-commerce tax policy. [...]

It is fair to say that the six principles stated above represent the current thinking of the SAT and Chinese tax commentators. In addition, some commentators have emphasized the principle of state tax sovereignty and have urged Chine not to give up source-based taxation. Moreover, although the principle of neutrality is considered to be an important principle, both the SAT and the tax commentators appear to support the use of tax incentives to promote e-commerce in China.67

Todavia, apesar de não haver nenhuma definição em escala nacional, algumas raras cidades como Wuhan, já inovaram na aplicação das leis ao autuarem e cobrarem, em 201168, impostos de transações comerciais realizadas via online, utilizando-se de interpretações da legislação vigente do VAT para estender a sua incidência ao comércio eletrônico. Dessa forma, atenderam aos princípios determinados pela Administração tributária da China e conseguiram, com sucesso, tributar as transações online, o que demonstra que, em breve, a tributação do e-commerce na China será implementada.

       

67

Tradução Livre: Não obstante os editores do Chinese Taxation Journal (Zhongguo Shuiwu), que é publicado pela Administração Tributária (SAT) da China, identificaram seis princípios a serem observados na formulação da política tributária do comércio eletrônico chinês. Esses princípios incluem: O sistema tributário atual deve ser a base para a tributação do comércio eletrônico. Na formulação da política fiscal do comércio eletrônico, o foco deve ser a revisão e o aperfeiçoamento das leis fiscais existentes, no sentido de fazê-las aplicáveis às transações do comércio eletrônico. Os benefícios desse posicionamento incluem evitar mudanças substanciais no atual sistema tributário e a habilidade de minimizar riscos financeiros;

Nenhum tributo separado deve ser introduzido para o comércio eletrônico.Criar novos tributos especificamente aplicáveis ao comércio eletrônico pode criar competição injusta e afetar a eficiente alocação de recursos;

Deve haver uma tributação neutra do comércio eletrônico e do comércio;

Políticas fiscais e administração fiscal devem ser consideradas conjuntamente. A premissa para uma nova política tributária é a possibilidade de a administração fiscal fazer cumprir a;

Os interesses fiscais nacionais devem ser preservados. A China poderá, com base no benefício mútuo, procurar regras internacionalmete aceitas para o comércio eletrônico, de maneira que cada país possa proteger seus respectivos interesses fiscais; e

As políticas tributárias do comércio eletrônico devem ser prospectivas. O futuro desenvolvimento do comércio eletrônico e de tecnologias devem ser considerados quando da formulação de uma política fiscal para o comércio eletrônico. [...]

É justo dizer que esses seis princípios elencados acima representam o atual pensamento do SAT e de analistas tributários chineses. Além disso, alguns analistas enfatizaram o princípio da soberania fiscal do Estado, e charam atenção para que a China não desista da tributação de fatos geradores. Ademais, enquanto o princípio da neutralidade é considerado um importante princípio, tanto o SAT quanto os analistas tributários parecem apoiar o uso de incentivos fiscais para promover o comércio eletrônico na China.

 

68

WUHAN becomes first in China to tax online stores. Crienglish. Beijing. 29 june 2011. Disponível em: <http://english.cri.cn/6909/2011/06/29/1781s645334.htm> Acesso em 13 de dezembro de 2012.

Apesar disso, ainda há intensa discussão na China sobre a tributação ou não do comércio eletrônico onde, de um lado, defende-se a não tributação em razão da liberdade para desenvolvimento e expansão dessa forma de negócio; por outro lado, defende-se a tributação em função da desleal concorrência com os estabelecimentos comerciais tradicionais, uma vez que a internet permite o oferecimento de produtos e serviços a custos bem inferiores.

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