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6 DA TRIBUTAÇÃO DE DOWNLOADS EM OUTROS PAÍSES

6.2 Na União Européia

6.2.1 Considerações iniciais e evolução

Em linhas gerais, o imposto adotado na União Européia que incide sobre o consumo é o VAT (Value Added Tax ou, em português, IVA - Imposto sobre Valor Agregado), que é um imposto unificado sobre qualquer acréscimo de valor que reflita no valor do produto a medida em que a cadeia produção-distribuição-venda se desdobra. Em outras palavras, o imposto vai sendo devido etapa por etapa, na medida em que vai sendo agregado valor ao produto final a ser vendido ao consumidor. Em razão de ser unificado e incidir sobre o consumo, o VAT representa a maior parte da arrecadação tributária da maioria dos países membros da União Européia.

Tendo em vista a importância do VAT e o explosivo crescimento do comércio eletrônico, fez-se necessário analisar a incidência do VAT sobre as transações

realizadas no âmbito virtual. Dessa forma, em 1997 iniciaram-se discussões acerca do tema pela Comissão Européia, responsável por estabelecer orientações para a modernização do VAT.

Assim, em 2002, aprovou-se a “Council Directive 2002/38/EC”53, que iniciou seus efeitos em Julho de 2003, na qual estabelece algumas diretrizes para o VAT aplicado às transmissões de rádio e televisão, bem como a alguns serviços prestados no âmbito virtual. Tais diretrizes oficializaram a adoção de princípios estabelecidos pela OECD, tais como o da não-discriminação, aplicados ao comércio eletrônico praticado na União Européia, ou seja, não foi estabelecido nenhum imposto específico para a internet, mas tão somente a delimitação de alguns conceitos e a consolidação de algumas regras básicas para a possibilidade aplicação do VAT.

Posteriormente, foram aprovadas a “Council Directive 2006/58/EC”54 e a “Council Directive 2006/138/EC”55, em 2006, e a “Council Directive 2008/8/EC”56, em 2008, que trouxeram algumas implementações e estenderam a vigência das diretrizes fixadas em 2002 até Dezembro de 2009.

Anteriormente, o VAT era recolhido na origem e era obrigatório mesmo em transações destinadas ao mercado exterior à comunidade européia. Como a cobrança deveria ser realizada na origem, o mercado europeu sofria uma grande desvantagem em relação aos produtos estrangeiros, uma vez que os países europeus eram fiscalizados e

       

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EUROPEAN UNION. Council Directive 2002/38/EC. Bruxelas: Official Journal of the European

Communities, 2002. Disponível em: <http://eur-

lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2002:128:0041:0044:en:PDF>. Acesso em 27 de Setembro de 2012.

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EUROPEAN UNION. Council Directive 2006/58/EC. Luxemburgo: Official Journal of the European

Communities, 2006 Disponível em: <http://eur-

lex.europa.eu/LexUriServ/site/en/oj/2006/l_174/l_17420060628en00050006.pdf>. Acesso em 03 de outubro de 2012.

55

EUROPEAN UNION. Council Directive 2006/138/EC. Bruxelas: Official Journal of the European

Communities, 2006. Disponível em: <http://eur-

lex.europa.eu/LexUriServ/site/en/oj/2006/l_384/l_38420061229en00920093.pdf>. Acesso em 02 de outubro de 2012.

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EUROPEAN UNION. Council Directive 2008/8/EC. Bruxelas: Official Journal of the European

Communities, 2008. Disponível em: <http://eur-

lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2008:044:0011:0022:EN:PDF> Acesso em 03 de outubro de 2012.

recolhiam o VAT, enquanto não havia como cobrar o imposto sobre transações cuja origem do produto ou serviço era fora da comunidade européia.

Com as novas alterações realizadas pela Comissão Européia, ficou estabelecido que o VAT não mais seria cobrado na origem, mas sim no local de consumo do produto ou serviço. Além disso, não há mais a necessidade de cobrança do VAT para produtos e serviços destinados a não-contribuintes habituais do VAT. Caso não seja possível determinar o local, será considerado, para efeitos fiscais, o local onde o consumidor tem domicílio.

Dessa forma, foi beneficiado o mercado interno europeu, uma vez que os produtos europeus destinados ao exterior (exportações) ficaram isentos do recolhimento do VAT, enquanto que as mercadorias estrangeiras destinadas à União Européia (importações) passaram a ser tributadas, ainda que a transação seja realizada de forma exclusivamente virtual.

Nas palavras de Rosa Maria de Abreu Barros57:

A União Européia decidiu tributar o comércio eletrônico de bens tangíveis da mesma maneira que o comércio tradicional e considerar como serviços o comércio de bens intangíveis. A tributação do comércio eletrônico dentro de um país-membro ocorre em todas as etapas da cadeia produtiva, terminando no consumidor final.

Entretanto, ainda há alguns problemas a serem solucionados. Atualmente há um grande problema em relação à fiscalização do recolhimento do VAT no destino, uma vez que as autoridades fiscais do país do consumidor não possuem competência para autuar empresas pertencentes a outro país. Assim, muitas vezes as autoridades fiscais identificam o não recolhimento do VAT, mas não possuem competência para realizar qualquer tipo de cobrança da empresa fornecedora, caso esteja localizada em outro país.

Ressalte-se que as diretrizes adotadas em 2008 incluem mudanças futuras no recolhimento do VAT. Está agendada uma alteração a partir de 01 de Janeiro de 2015, que tornará obrigatório o recolhimento do referido imposto mesmo para transações destinadas a consumidores não-contribuintes habituais do VAT.

Posteriormente, em 2010, foram iniciados novos estudos sobre o futuro do VAT, o que incluiu até mesmo consultas públicas por mais de seis meses, onde foram ouvidas mais de 1700 opiniões de especialistas, cidadãos, autoridades fiscais e empresas.

       

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BARROS, Rosa Maria de Abreu. Tributação do Comércio Eletrônico. Belo Horizonte: C.Arte, 2003.  

6.2.2 One Stop Shop.

Tendo em vista que a grande variedade de jurisdições fiscais que compõem a União Européia e as relações comerciais que são estabelecidas entre os países componentes e países não-membros da União Européia, a Comissão Européia agendou reformas para a modernização do VAT a ser cobrado nas relações comerciais eletrônicas.

Está prevista para 01 de Janeiro de 2015 a implementação de uma “bancada única” (chamada de One Stop Shop), que consistirá em um domínio eletrônico (site) no qual todos os fornecedores de serviços cujo consumo se dará em território pertencente a União Européia irão se cadastrar e declarar os serviços prestados, indicando o valor e o consumidor ao qual o serviço está destinado. Dessa forma, será recolhido o devido imposto até mesmo das operações que envolvam não contribuintes habituais do VAT, e o montante arrecadado será encaminhado ao país destino do serviço.

Assim, são esperadas mudanças consideráveis na estrutura do VAT, conforme se extrai do Comunicado de Imprensa58 emitido pela Comissão Européia:

Em primeiro lugar, o IVA deve ser mais fácil de aplicar para as empresas. Um sistema do IVA mais simples e mais transparente pode evitar encargos administrativos consideráveis para as empresas e incentivar o comércio além fronteiras, sendo, além disso, vantajoso em termos de crescimento. Entre as medidas previstas para um IVA mais favorável às empresas destacam-se o alargamento do conceito de balcão único para as transações além fronteiras, a normalização das declarações de IVA e um acesso claro e fácil a informações pormenorizadas sobre todos os regimes nacionais de IVA, através de um portal Web central.

Em segundo lugar, o IVA deve ser mais eficaz em termos de apoio aos esforços de consolidação orçamental dos Estados-Membros e ao crescimento económico sustentável. O alargamento das bases fiscais e a limitação do recurso a taxas reduzidas poderiam gerar novas receitas para os Estados-Membros sem ser necessário aumentar as taxas de tributação. A taxa normal de IVA poderia até ser reduzida em alguns EstadosMembros sem que tal causasse qualquer impacto nas receitas, desde que fossem suprimidas isenções e reduções. A Comunicação em apreço determina os princípios que devem orientar a revisão das isenções e das taxas reduzidas. A Comissão também analisará a utilização pelos Estados-Membros das taxas reduzidas e isenções ao proceder à revisão das suas políticas fiscais no contexto do semestre europeu.

Em terceiro lugar, há que pôr fim às significativas perdas de receitas que ocorrem atualmente devido à existência de fraudes e de não cobrança de IVA. Estima-se que cerca de 12 % do total do IVA que deveria ser cobrado,

       

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FUTURO SISTEMA DO IVA: favorável às empresas e favorável ao crescimento. Comissão

Européia. Bruxelas: European Comission, 2011. Disponível em: <http://europa.eu/rapid/press-

não o é de facto (situação designada por “desvios do IVA”). Em 2012, a Comissão irá propor um mecanismo de reação rápida para garantir que os Estados-Membros possam reagir melhor aos mecanismos de fraude sob suspeita. Além disso, a Comissão verificará se os atuais mecanismos de combate à fraude, como, por exemplo, o Eurofisc, necessitam de ser reforçados e analisará se os controlos multilaterais podem ser facilitados por uma equipa de auditoria transfronteiras.

Por último, a Comissão concluiu que deixou de ser pertinente a questão que há muito se colocava da adoção de um sistema do IVA baseado no país de origem. Por conseguinte, o IVA continuará a ser cobrado no país de destino (ou seja, no lugar onde esteja situado o cliente) e a Comissão continuará a trabalhar na criação de um sistema do IVA da UE moderno que se baseie neste princípio.

Portanto, espera-se que em 2015 haja uma reestruturação do Imposto sobre o Valor Agregado, para que seja ampliado o controle fiscal e diminua a inadimplência e a evasão fiscal nas transações realizadas no comércio eletrônico.

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