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Streamlined Sales and Use Tax Agreement

6 DA TRIBUTAÇÃO DE DOWNLOADS EM OUTROS PAÍSES

6.1 Nos Estados Unidos

6.1.3 Streamlined Sales and Use Tax Agreement

Em meados dos anos 2000, iniciou-se uma cooperação entre vários Estados norte-americanos na tentativa de simplificar a tributação e facilitar a arrecadação chamada “Streamlined Salas and Use Tax Agreement”.

O Streamlined Sales and Use Tax Agreement (SSUTA)48, emendado em Maio de 2012, já foi adotado por mais de trinta Estados (Arkansas, Georgia, Indiana, Iowa, Kansas, Kentucky, Michigan, Minnesota, Nebraska, Nevada, New Jersey, North Carolina, North Dakota, Ohio, Oklahoma, Rhode Island, South Dakota, Tennessee, Utah, Vermont, Washington, West Virginia, Wisconsin, Wyoming, Texas, Massachusetts, Florida, Illinois, Virginia, Missouri, Maine, California, e Hawaii ) e encontra sua definição na redação do próprio acordo, que assim dispõe:

It is the purpose of this Agreement to simplify and modernize sales and use tax administration in the member states in order to substantially reduce the burden of tax compliance. The Agreement focuses on improving sales and use tax administration systems for all sellers and for all types of commerce through all of the following:

a. State level administration of sales and use tax collections. b. Uniformity in the state and local tax bases.

c. Uniformity of major tax base definitions.

d. Central, electronic registration system for all member states. e. Simplification of state and local tax rates.

f. Uniform sourcing rules for all taxable transactions. g. Simplified administration of exemptions.

h. Simplified tax returns.

i. Simplification of tax remittances. j. Protection of consumer privacy49

       

48

UNITED STATES. S tream lin ed S ales an d U se T ax A greem en t. Washington DC: United

States, 2002. Disponível em:

<http://www.streamlinedsalestax.org/uploads/downloads/Archive/SSUTA/SSUTA%20As%20Amende d%205-24-12.pdf>. Acesso em 25 de Setembro de 2012.

Tradução nossa: É o propósito desse Acordo é simplificar e modernizer as vendas e usar a administração fiscal nos Estados-membros para reduzir substancialmente o peso do adimplemento fiscal. O Acordo foca em aperfeiçoar as vendas e a utilizar os sistemas administrativos fiscais para todos os vendedores e para todos os tipos de comercio através das seguintes medidas: a) Administração das vendas e uso da arrecadação fiscal a nível estadual. b) Uniformidade nas bases de cálculo fiscais locais e estaduais. c) Uniformidade das principais definições nas bases de cálculo fiscal. d) Sistema central de registro eletrônico para todos os estados-membro. e) Simplificação das alíquotas locais e estaduais. f) Uniformizar as regras de incidência para todas as transações tributáveis. g) Administração simplificada de exceções. h) Restituição simplificada de tributos. i) Simplificação de remessa de tributos. j) Proteção à privacidade do consumidor.

Dessa forma, o objetivo de padronização da tributação de produtos e serviços, o SSUTA estabeleceu diversas regras acerca de conceitos e definições de produtos, de maneira que sejam equivalentemente classificados nas negociações interestaduais.

Tendo em vista que o comércio eletrônico ainda encontra grandes dificuldades nas definições e nos conceitos que o envolvem, o SSUTA, em respeito às vedações trazidas pelo Internet Tax Freedom Act, trouxe esclarecimentos acerca de temas ligados ao e-commerce e ao comércio de bens intangíveis na internet, de maneira que não se distorçam conceitos para tentar enquadrar os produtos digitais em categorias distintas.

Segundo o relatório “Sales and Use of Digital Products”50 da KPMG, uma das maiores empresas de auditoria do mundo, ainda não há uma uniformidade de tributação dos produtos digitais:

As a result of the amendments adopted in 2007, several SSUTA member states have enacted legislation specifically imposing tax on certain digital products. Member states that adopted legislation in 2008 include Indiana, Nebraska, and South Dakota, along with SSUTA associate members Tennesse and Utah. They were joined by Kentucky, Vermont and Washington State in 2009. With the exception of Vermont, each of these states took the position that it had previously imposed tax on some digital products and the enactments were necessary to meet the separate imposition requirement of the SSUTA and to clarify the taxability of digital products in the state. Imposition of the tax on digital goods resulted in an expansion of the tax base in Vermont. Also this year, as parte of its overall legislation to conform its Sales tax to the SSUTA, Wisconsin adopted legislation imposing its Sales tax on certain digital products and thus expanding its Sales and use tax base.

In addition ot these states, SSUTA members Minnesota and North Carolina considered legislation this year that would impose tax on certain digital products and that, as in Winsconsin, would mean na expansion of the current tax base in each state. Another SSUTA member, North Dakota, took a different approach: It adopted the digital product definitions and then passed a law to specifically excempt those products from taxation.

The actions of the SSUTA Governing Board to improve clarity around the states’ taxation of digital products have had na impact beyond the contours of the member (and associate member) states. Mississipi, a non-member state, adopted legislation this year imposing tax on the three specified digital products using the SSUTA definitions. In addition, legislation based in part on the SSUTA definitions has been considered in New York and California in the last two years.51

       

50

KPMG. Sales and Use of Digital Products. Amsterdã: KPMG, 2009. Disponível em: <http://www.us.kpmg.com/microsite/taxnewsflash/2009/Aug/SALT_Digital_Prod.pdf>. Acesso em 26 de Setembro de 2012.

51

Tradução nossa: Como resultado das alterações aprovadas em 2007, vários Estados signatários do SSUTA promulgaram legislação especificamente impondo tributação a certos produtos digitais. Estados-Membros que adotaram legislação em 2008 incluem Indiana, Nebraska e Dakota do Sul, juntamente com os membros do SSUTA Tennesse e Utah. Eles foram acompanhados pelos estados do Kentucky, Vermont e Washington, em 2009. Com a exceção de Vermont, cada um desses estados adotou a posição que tinha anteriormente tributando alguns produtos digitais, e os decretos foram

Dessa maneira, há que se observar que a tributação de bens digitais ainda encontra-se em estágio extremamente prematuro na maioria dos Estados. Ainda não há uma padronização de conceitos e definições, o que torna a tributação completamente diferenciada entre as jurisdições.

Ademais, deve-se ressaltar o fato de que nem todos os Estados adotam orientações do SSUTA, o que dificulta ainda mais o processo de padronização da tributação e de delimitação dos conceitos pertinentes ao e-commerce. Alguns Estados norte-americanos optaram por fazer incidir automaticamente as regras de tributação já existentes nos produtos digitais (é o caso, por exemplo, do Alabama, Arizona, Colorado, Novo México, Utah, West Virginia). Outros Estados publicaram interpretações legislativas de forma a incluir os bens digitais nos conceitos fiscais tradicionais (a título de exemplo, os estados de Indiana, Louisiana, Maine e Texas). Há ainda Estados que decidiram por editar leis especificamente voltadas aos bens digitais, como é o caso de Idaho, Kentucky, Nebraska, New Jersey, Dakota do Sul, Tennessee, Vermont, Washington e Wisconsin. Por outro lado, há Estados que se manifestaram contrários à tributação dos bens digitais, tais como Dakota do Norte e Washington D.C. Conforme já mencionado, a ausência de uma uniformização na tributação e nas políticas fiscais dos Estados traz uma enorme dificuldade para a arrecadação, bem como é fonte de várias contestações perante o poder judiciário em razão dos diferentes conceitos e das diferentes jurisdições fiscais que compõem o país.

Um dos importantes casos a serem destacados é o caso da Amazon, uma dos maiores sites de comércio eletrônico do mundo. Nesse famoso leading case enfrentado pela Suprema Corte norte-americana, o Estado de Nova Iorque aprovou uma lei que

      

necessárias para atender a exigência específica do SSUTA e esclarecer a tributacão de produtos digitais no estado. A exigência de impostos sobre os bens digitais resultou em uma expansão da base tributária em Vermont. Nesse mesmo ano, como parte da sua legislação para alinhar seu imposto de vendas com o SSUTA, Wisconsin aprovou legislação estabelecendo seu imposto de vendas em determinados produtos digitais e, assim, ampliando base tributária de seu imposto sobre o consumo.

Além desses estados, os adeptos do SSUTA Minnesota e North Carolina consideraram, este ano, a legislação implementaria a tributação sobre certos produtos digitais e que, como em Winsconsin, significaria a expansão da base tributária atual em cada estado. Outro membro do SSUTA, Dakota do Norte, teve uma abordagem diferente: adotou as definições de produtos digitais e, em seguida, aprovou uma lei especificamente para isentar esses produtos de tributação.

As ações do Conselho de Administração do SSUTA para melhorar a clareza em torno dos estados tributação de produtos digitais tiveram repercussão não apenas nos estados-membro (e membros associado). Mississipi, um estado não-membro, aprovou legislação este ano para impor tributo sobre os três produtos digitais especificados usando as definições apontadas pelo SSUTA. Além disso, a legislação baseada parcialmente nas definições do SSUTA tem sido considerada em Nova York e Califórnia, nos últimos dois anos.

estabeleceu obrigação de recolhimento de impostos (sales tax) do vendedor online sobre compras realizadas por consumidores residentes no Estado de Nova Iorque.

Vejamos as considerações de Fernando Aurélio Zilveti52 a respeito do referido caso:

A autoridade fiscal de Nova Iorque cobra o sales tax de empresas sem sede própria ou empregados em sua jurisdição, sempre que essas empresas não residentes recebam receita de uma empresa independente localizada em outro Estado. Uma recente alteração na lei de Nova Iorque pretende forçar o varejista online a pagar o sales tax sobre as compras feitas por residentes em Nova Iorque [...]. A lei de Nova Iorque define comerciante, entre outros, como “aquela pessoa que solicita um negócio diretamente ou por meio de empregados, representantes, contratantes independentes ou agentes”. Esses comerciantes devem ser registrar perante a autoridade fiscal de Nova Iorque e assim, passam a ser considerados contribuintes para fins desse imposto de consumo. Notável a consideração de residência fiscal por registro “voluntário”. Tal medida do Fisco nova-iorquino se assemelha ao modo que o Município de São Paulo procede em relação aos prestadores de serviço com sede em outros municípios.

A novidade da lei atacada no caso Amazon, sob a perspectiva constitucional, está na responsabilidade de pagar o sales and use tax. A obrigação de pagar esse tributo, segundo a lei, seria de um vendedor domiciliado fora do estado que se utiliza de um residente no estado que requisita negócios a partir de residentes em Nova Iorque por meio de um web

site da internet. [...]

Superado o relado do caso, o tema constitucional passou a ser analisado de modo detalhado. Primeiramente, tanto a Amazon quanto a

Overstock alegaram infração ao devido processo legal. A lei teria violado o

princípio do devido processo legal porque cria presunções irracionais e irrefutáveis. [...]

Segundo a Corte, então, a garantia constitucional à pratica do comércio opera no limite de garantir a tributação estadual ao mesmo tempo de impedir que essa tributação onere indevidamente o comércio interestadual. O devido processo legal, por sua vez, garante uma ligação, uma conexão mínima entre o estado e a pessoa, propriedade ou transação que se pretenda tributar.

[...] Essa presunção legal seria inconstitucional por infração ao devido processo legal? A Corte considerou que as presunções legais, mesmo em matéria penal, são admitidas, conforme precedentes apontados no relatório. O teste de validade da presunção seria a conexão racional entre a base do fato efetivamente comprovado e o fato presumido. [...] A questão relacionada ao caso Amazon se concentra no fato de que a lei presume que o fato gerador do

sales tax ocorre no momento em que um representante dentro do estado de

Nova Iorque recebe uma comissão com base na venda, após um comprador de Nova Iorque acessar seu website e clicar para efetuar uma compra num

website do vendedor de fora do estado. Essa presunção legal parte da

modernidade característica do comércio eletrônico. A Corte não considerou tal presunção irracional. De fato, não é irracional, principalmente sob a perspectiva do comércio eletrônico. [...]

Ademais, as estruturas práticas adotadas nos tributos diretos ou indiretos têm gerado inúmeros conflitos internos em jurisdições de estrutura federativa, como os E.U.A., Alemanha e o Brasil. Por um lado, o comércio

       

52

ZILVETI, Fernando Aurélio. A tributação sobre o Comércio Eletrônico – O caso Amazon. Direito

eletrônico trouxe a possibilidade de serem criadas estruturas empresariais voltadas para transferir a riqueza tributável para jurisdições fiscalmente mais competitivas. Por outro lado, as jurisdições que se consideram prejudicadas nessa concorrência fiscal procuram reagir, alterando as regras do jogo para proteger suas bases fiscais. É comum nas federações a concorrência fiscal acirrada que, se não tiver a atenção adequada dos formuladores de política fiscal, pode redundar em guerra fiscal.

Não menos verdade, conforme se observa no debate sobre o comércio eletrônico e suas peculiaridades transformadoras no caso Amazon, é que os conceitos de fonte e residência devem sofrer alterações significativas. Com isso, as bases fiscais serão bastante afetadas e, por consequência, os tributos diretos e indiretos. Se há algo que a tecnologia da informação parece ter provocado no sistema tributário global é a revisão dos conceitos de fonte e residência.

O caso ilustra o fato de que a tributação no comércio eletrônico ainda é um tema bastante controverso até mesmo nos Estados Unidos, que é um dos países pioneiros no e-commerce.

De qualquer modo, fica evidenciado que o SSUTA, ainda que não cumpra perfeitamente todos os objetivos para os quais foi originalmente criado, possui um importante papel em razão de tentar aproximar as legislações fiscais e realçar a necessidade de clareza nas definições adotadas nas leis regionais. Tal objetivo ainda não foi plenamente atingido, mas espera-se que, em breve, haja um posicionamento sólido e uniformizado acerca do tema.

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