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Naomi Klein This Changes Everithing Capitalism vs The Climate Nova Iorque: Simon & Schuster, 014.

No documento Século XXI: o mundo em convulsão (páginas 193-200)

OS SINAIS DO DESASTRE

2 Naomi Klein This Changes Everithing Capitalism vs The Climate Nova Iorque: Simon & Schuster, 014.

Os alertas de um colapso iminente não se resumem a panfletos publicados por ativistas; eles são também cada vez mais frequentes e graves nos principais círculos científicos do mundo. Mas nem as previsões de um crescimento fora de controle nas temperaturas do planeta parecem ser capazes de sensibilizar as elites dos países centrais, de onde emana mais da metade das emissões globais de carbono3, por ações concretas para contornar o problema. Os dados falam por si só. Um painel de cientistas de todo o mundo, abrigado na Organização das Nações Unidas – ONU (IPCC, em sua sigla em inglês), constatou que desde o ano 2000 registraram-se 17 dos 18 anos mais quentes da história recente4, pelo menos desde que se começou a se registrar mais precisamente as temperaturas em 1880. As evidências sugerem uma relação direta entre esse processo de aquecimento do planeta e a atividade industrial humana. A figura a seguir deixa evidente como, no período recente, o aquecimento é um fenômeno que atinge o globo

3 Entre 1990 e 2011, países centrais, como EUA, China, Rússia, os da União Europeia, Japão e Canadá, concentraram 55% das emissões de gases de efeito estufa. Os principais países periféricos emissores são Indonésia, Brasil, México e Índia, que respondem por 15% das emissões globais. Se conside- rarmos um período mais longo, desde 1850, essas mesmas regiões centrais do planeta foram responsáveis por 77% das emissões. Os dados foram coletados pela World Ressources Institute, em sua página na internet. A organização é responsável pelo relatório anual do Global Forest Watch, que, entre outros resultados, mostra que nos países tropicais a principal causa das emissões provém do desmatamento. Em 2018, por exemplo, o Brasil levou o título de maior devastador planetário, em consequência da retirada de mecanismos de regulação ambiental no governo Temer – a propósito, uma das razões pelas quais ele foi alçado ilegalmente ao poder, com pleno apoio dos capitais do agronegócio e da aristocracia rural nacional, os mesmos que investiram na eleição de Bolsonaro.

4 Tom Randall e Blacki Migliozzi, “Earth’s Relentless Warming Sets a Brutal New Record in 2017”, Bloomberg, 18/01/2018.

como um todo, e áreas tanto oceânicas como continentais têm registrado temperaturas recordes, a exemplo do ano de 2017.

Figura 1 - Percentis de temperaturas terrestres e oceânicas de 2017, em relação ao ano base de 1880.

Na verdade, é tamanha a ‘pegada’ humana nesse processo, e tamanhas são as mudanças ocasionadas no clima do planeta em decorrência de sua intervenção direta, que já se pode falar de uma nova era geológica na Terra, o antropoceno – a era dos humanos. Pela primeira vez uma era geológica é batizada pela ação de uma espécie, na medida em que a sua existência altera o funcionamento de toda a biosfera. De acordo com um número crescente de geólogos, essa nova era teria se iniciado com a revo- lução industrial, no século XVIII, ainda que uma minoria sustente

Fonte: National Center for Environmental Information (National Oceanic and Atmospherical Administration, NOAA, Estados Unidos).

que o seu advento deveria ser recuado de alguns milhares de anos, quando os humanos se tornaram sedentários e passaram, com o desenvolvimento da agricultura, a controlar a natureza para as suas necessidades5. De qualquer maneira, é incontestável que o advento da era industrial aumenta exponencialmente o grau de interferência humana na biosfera planetária.

As emissões antropogênicas decorrentes da produção industrial, da geração de energia e dos meios de transporte, das cadeias agroindustriais e da pecuária, do desmatamento, da poluição de rios e dos mares, do lixo produzido pelas grandes cidades são as principais vilãs do fenômeno do aquecimento global no século XXI. Isso porque essas intervenções humanas liberam gases – sobretudo dióxido de carbono (CO²) e metano (CH4) – que acentuam o efeito estufa na atmosfera, retendo uma quantidade crescente de calor no globo, traduzindo-se por uma elevação nas temperaturas da superfície e dos oceanos.

5 Veja-se, sobre a hipótese de um aquecimento planetário induzido pela ação humana a partir ainda do neolítico, ou seja, iniciada há mais de 5.000 anos, o livro de William F. Ruddimann, A Terra transformada, Bookman, Porto Alegre, 2015. De acordo com o autor, desde que os assentamentos sedentários foram se tornando o paradigma da organização social da humanidade, essa intervenção humana na natureza (especialmente, o desmatamento de grandes áreas de floresta) levou à interrupção das quedas nas temperaturas, como teria sido a tendência natural do clima daquela época.

Gráfico 1 - Consumo global de combustíveis fósseis.

Consumo primário global de energia segundo a fonte de combustível fóssil, em terawatt-horas (TWh).

Ocorre que, ao situar-se em novos patamares, a tempe- ratura média do planeta altera o seu equilíbrio, ocasionando o que se convencionou denominar de mudanças climáticas. Sua manifestação tem se caracterizado pela observação de altera- ções bruscas em diferentes eventos climáticos, tais como: verões tórridos com secas mais drásticas e prolongadas, incêndios florestais recorrentes e devastadores, tufões e furacões mais severos, elevação nos níveis dos oceanos acarretando enchentes em cidades litorâneas, aumento no ritmo do derretimento de glaciares e calotas polares, e até terremotos. Essa mudança no clima traz evidentes impactos ambientais, por conta da alteração ocasionada no equilíbrio dos diferentes ecossistemas;

impactos demográficos, na medida em que, ao tornar mais e mais regiões do planeta de difícil sobrevivência, forçam suas populações a migrar, formando uma nova categoria de exilados climáticos; além de importantes impactos econômicos, medidos pelos prejuízos causados pelas oscilações abruptas e imprevisí- veis no clima do planeta.

Figura 2 - A espiral catastrófica das emissões antropogênicas.

A crise ambiental contemporânea surpreende pelas proporções, colocando em risco a sobrevivência da humani- dade no longo prazo e, mais imediatamente, tende a impor crescentes restrições à capacidade de acumulação de capital. A resposta do sistema, quando não ignora, ou finge ignorar completamente os alertas, é apostar, utopicamente, nas energias ditas renováveis ou alternativas. Essa solução parece desconhecer, no entanto, a própria natureza do capital que,

em sua necessidade irracional de constante expansão, ameaça esgotar aquela que é, ao lado da força de trabalho, a outra fonte incontornável do valor: as matérias-primas.

Gráfico 2 - Emissões globais de carbono a partir de combus- tíveis fósseis (1900-2014).

Na verdade, o foco nas energias renováveis (como a solar, a eólica, a elétrica e os biocombustíveis) é o resultado mais comemorado de uma série de acordos climáticos globais decepcionantes das últimas décadas, quando, desde 1992, os governantes passaram a debater o tema em encontros exclu- sivos. Nesse período, observou-se, de fato, uma reconversão importante em direção a essas alternativas energéticas, a exemplo do Brasil, onde parcela importante do transporte público e individual é abastecida com etanol a base de

cana-de-açúcar. Em alguns países do primeiro mundo, alguns já são inclusive considerados livres de combustíveis fósseis em matéria energética, como a Dinamarca, país particular- mente beneficiado pelas correntes de vento do Mar do Norte que alimentam suas turbinas eólicas baseadas em enormes torres enterradas no leito marítimo. A China, atualmente, é o principal produtor, exportador e consumidor de placas solares – longas extensões de seu território (em planícies, montanhas e até no mar) são cobertas por células fotovoltaicas geradoras de energia residencial e industrial.

No documento Século XXI: o mundo em convulsão (páginas 193-200)