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TECNOLÓGICA, O MUNDO TODO EM REDE CONCENTRAÇÃO DO PODER IDEOLÓGICO

No documento Século XXI: o mundo em convulsão (páginas 38-41)

E CULTURAL OU DEMOCRATIZAÇÃO DA

INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO?

A Revolução Tecnológica em curso, com o advento da internet e das redes sociais, vem transformando todas as atividades econômicas, sociais e militares, a comunicação e o modo de vida, alterando o próprio ethos humano. Altera as relações de poder entre os Estados e acelera a intensidade da competição entre as grandes empresas. Diante disso, empresas e marcas que disputam um determinado setor do mercado mundial trocam de posição a cada poucos anos, subindo, descendo ou mesmo desaparecendo nos rankings de domínio de seus nichos, como é o caso das empresas de telefonia móvel, computadores e automóveis.

A transformação tecnológica termina por determinar tendências em todas as áreas. A emergência da inteligência artificial e a telefonia 5G, que aumenta até por 100x a veloci- dade e a capacidade de comunicação em relação à já inovadora tecnologia 4G, abrem perspectivas absolutamente imprevisíveis e inimagináveis para as atividades humanas na comunicação, na indústria, no ensino, na medicina, na tecnologia bélica etc. Por isso, há no momento um seríssimo conflito pelo seu controle entre o governo e empresas norte-americanos e as empresas chinesas, como a Huawei, que estão à frente nessa tecnologia.

Na economia, a revolução tecnológica transforma rapi- damente os processos produtivos e a organização gerencial interna das empresas, terminando por influenciar o resultado da competição entre elas por maiores fatias dos seus mercados

e lucros, o que, por sua vez, força as megaempresas, às vezes de países diferentes, a se associarem em oligopólios para não quebrarem ou ficarem para trás, tendo que se modernizar rapidamente se não quiserem sucumbir. Grandes empresas da segunda metade do século XX que não tiveram a agilidade para acompanhar rapidamente o ritmo do progresso tecnoló- gico nem se associarem quebraram, desapareceram ou foram compradas por outras gigantes, como nos casos da IBM e da ITT, norte-americanas.

No campo militar, os países e suas empresas que traba- lham na área incorporam cada mais a moderna tecnologia, elevando a eficácia e letalidade dos armamentos, agora em grande medida com controle remoto à distância, o que vem novamente elevando o hiato de poder entre as grandes potências e as nações da periferia, apesar do lento declínio econômico das primeiras.

Essa aceleração tecnológica vem contribuindo de forma muito acentuada para uma reconcentração do poder no mundo, na medida em que alguns países centrais, em particular os EUA, investem valores muito superiores aos quais os países subdesenvolvidos conseguem investir. No sentido inverso dessa tendência, apenas alguns poucos países, como China, Rússia, Irã e Índia, vêm conseguindo incorporar a mais moderna tecnologia aos seus arsenais, contribuindo para o processo de multipolarização do poder bélico no mundo.

Nesse contexto, o acelerado progresso científico e tecnológico termina por afetar também o próprio processo de produção de produção de conhecimento, ciência e novas tecno- logias, no complexo formado por laboratórios de empresas, centros de pesquisas dos governos e de universidades. Com os países centrais investindo muito mais na área que os países

periféricos, além da dinâmica própria das grandes empresas no desenvolvimento de novas tecnologias e produtos em seus próprios laboratórios, tende a se ampliar o fosso tecnológico em desfavor dos países subdesenvolvidos, cada vez mais impor- tadores de produtos de alta tecnologia que não conseguem desenvolver, no máximo manufaturando-os em seus territórios em filiais de empresas estrangeiras. Esse fator, como os acima descritos, também acelera a concentração de poder no mundo. O advento da Internet e das redes sociais é um fenômeno revolucionário e extremamente contraditório. Por um lado, tem permitido aos megaconglomerados da informação dos países centrais e seus governos manter uma vigilância sobre cidadãos de todo o mundo. Possibilita também às grandes empresas de comunicação e aos grandes grupos políticos acessar milhões de pessoas em tempo real para a difusão de suas ideias (BRASIL, 2010). São já bem conhecidos os casos de manipulação de eleições em favor de candidatos conser- vadores em alguns países, com disparos em massa feitos por robôs. Mas esse é um lado da questão.

Por outro lado, as redes sociais trazem também implica- ções muito positivas no sentido de acelerarem a democratização e a velocidade da difusão das informações para bilhões de pessoas instantaneamente, dando à toda população humana a possibilidade de acessar hoje qualquer assunto, democratizando o conhecimento, com consequências que só poderão se tornar claras no médio prazo.

Milhões de cidadãos, jornalistas, grupos políticos e insti- tuições independentes criam suas próprias páginas eletrônicas e difundem informações de forma autônoma pelas redes sociais, antes mesmo dos grandes telejornais e até de grandes portais privados, que já não podem esconder os fatos ou passar uma

versão única sobre os acontecimentos, o que vem de certa forma quebrando o monopólio da informação. Lembremos que regimes autoritários e as grandes mentiras sempre se apoiaram na ignorância e na desinformação das pessoas.

Dessa forma, os smartphones, a internet e as redes sociais, apesar de todo perigo que implicam de vício e alhe- amento da realidade, têm permitido também a manutenção de comunidades virtuais em todos os campos de atuação e conhecimento, como entre cientistas, categorias profissio- nais, médicos e demais especialistas, acelerando a difusão e o compartilhamento das informações e do conhecimento. Tudo isso pode ser viciante, mas irá com certeza acelerar os processos históricos e as experiências com ideias, partidos, governos. O tempo de todos os processos se encurtará. Um mundo cada vez mais integrado, mais informado e ao mesmo tempo mais conflituoso é o que se pode esperar nas próximas décadas.

No documento Século XXI: o mundo em convulsão (páginas 38-41)