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3.3 O reflexo no Brasil da reestruturação da indústria automobilística mundial:

3.3.1 Nascimento e consolidação do toyotismo

O nascimento e desenvolvimento do Toyotismo como paradigma da 3ª revolução industrial, decorrem da forma como o Japão ao longo da década de 50 se insere na dinâmica produtiva e econômica global, como um forte participante. As condições em que se desenvolveu esta inserção residiram principalmente na incapacidade do Japão em adotar na íntegra o modelo fordista de produção. A geografia do Japão não comportava um modelo de indústria na concepção espacial do fordismo:

“As adversidades econômicas vividas pelo país no período pós-guerra tornavam inviável a reprodução de um modelo que exigisse enormes fábricas, grandes quantidades de estoque e alto número de funcionários– premissas básicas do fordism”. (CASOTTI. Bruna Pretti; GOLDENSTEIN, Marcelo BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 28, p. 147-188, set. 2008).

A partir desta restrição física, o Japão desenvolve um sistema produtivo simplificado, mais produtivo e menos oneroso. O modelo japonês, levando em consideração as restrições físicas geográficas em seu ambiente interno, opta por se desenvolver como uma economia voltada para abastecer o mercado externo. Estas características ambientais levaram a indústria japonesa a simplificar o sistema produtivo, encontrando nas inovações realizadas na Toyota, uma resposta adequada aos obstáculos que a produção industrial japonesa possuía. A história do Toyotísmo tem em Enji Toyoda e Taichi Ono, respectivamente fundador da Toyota e engenheiro chefe, como referência, sendo personagens chaves. Eles são responsáveis pela adaptação do modelo fordista de produção a realidade japonesa, inserindo nestes aperfeiçoamentos orientados no sentido de uma produção mais simplificada (enxuta), uso intensivo de capital e tecnologia, assim com um amplo controle da produção com fim de se obter menos desperdícios. Conforme Casotti & Goldstein:

“Seus pequenos mercados consumidor e de trabalho associados à escassez de capital e de matéria-prima impediam a montagem de um sistema produtivo voltado para o consumo em massa. A solução foi dirigir a produção para o mercado externo e, para conquistá-lo, era imperativo simplificar o sistema produtivo”.

(CASOTTI. Bruna Pretti; GOLDENSTEIN, Marcelo BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 28, p. 147-188, set. 2008).

As principais modificações que conduziram o Japão e o Toyotismo a um papel de destaque no cenário mundial residiram no uso intensivo de capital e tecnologia em detrimento do antigo uso intensivo da mão de obra. Através disto o Japão conseguia produzir com uma melhor qualidade e com um menor desperdício de tempo e material, ao longo do processo produtivo, segundo Casotti & Goldstein (2008, p.150) “Criava-se, então, o conceito de fábrica “mínima”, que focava em “estoque zero”, “desperdício zero”, “qualidade máxima” e mecanização flexível.”

Com o sucesso destas adaptações, o modelo se disseminou pelo Japão e tornou-se uma eficaz solução para os obstáculos que a economia japonesa encontrava para se desenvolver. A adoção do modelo criado por Toyota conduziu a indústria japonesa, particularmente a automobilística, a condição de paradigma produtivo. Viu-se na mudança ocorrida na indústria automobilística internacional, propiciada pelo modelo Toyotista, a difusão de uma série de inovações gerenciais e produtivas para os demais segmentos industriais. Dando assim continuidade ao processo deflagrado pelo fordismo. Para Casotti & Goldstein:

“Toyota, fabricante japonesa de veículos, apostou num sistema de produção mais enxuto. Para driblar a inexistência de escala, optou-se pela flexibilização da produção, na qual pequenas quantidades de uma grande variedade de bens eram fabricadas. O alto custo da matéria-prima exigiu a aplicação de técnicas de controle da produção que reduziam os desperdícios gerados ao longo da cadeia”. (CASOTTI, Bruna Pretti; GOLDENSTEIN, Marcelo BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 28, p. 147-188, set. 2008).

Alguns autores dentre eles Wood (1993) observam que a partir da década de 50 até meados de 90, há gradualmente a assimilação na cultura organizacional e produtiva, pela indústria automobilística ocidental, dos princípios organizacionais Toyotistas. Esta assimilação é possibilitada pelo fato do Toyotismo, tratar-se fundamentalmente de:

“mistura de teorias já existentes, aliado a novas descobertas importantes particularmente ao método de produção Just in Time, a novas foram de controle de qualidade e ao valor atribuído a relações mais próximas entre fornecedores e usuários finais” (WOOD, Stephen J. 1993. p. 49-78).

Esta afirmação realizada por Wood possibilita compreender como o modelo toyotista, se propagou por meio da articulação física e conceitual, construída em bases fordistas. Casotti & Goldstein (2008) reiteram esta afirmação, pois creditam ao uso das técnicas toyotistas na indústria automobilística, a responsabilidade pela flexibilização e organização da produção da metade do século passado até o presente período. Salientam ainda que a dinâmica empregada

pelo novo modelo produtivo possibilitou o uso intensivo da tecnologia disponível, racionalizando muitas das etapas produtivas da empresa. Decorrente desta conjugação de fatores, a empresa outrora verticalizada nos pressupostos do fordismo, neste novo momento se desverticaliza, fazendo com que haja uma maior aproximação e cooperação entre a empresa motriz e seus fornecedores, sob a lógica da produção enxuta, manifestando-se como uma “cadeia totalmente integrada”, explica Zawislak (2002):

“Nesta grande empresa desverticalizada, a sincronia e o fluxo dos processos produtivos são possíveis pela utilização das práticas gerenciais, oriundas do sistema Toyota de Produção (Just-in-time, kanban, qualidade total” (ZAWISLAK, Paulo Antonio,2002. p.105-135).

Desta maneira o Japão juntamente com seu ingresso, acirra ainda mais a concorrência internacional, impondo um novo padrão de qualidade e produtividade que os avanços gerenciais e tecnológicos o possibilitaram. Casotti & Goldstein (2008) afirmam que ao longo das décadas de 70,80 e 90 o conceito de produção aplicado pela indústria automobilística japonesa se torna hegemônico para o contexto produtivo e reprodução do capital.

3.3.2 Reestruturação da indústria automobilística no território