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A nova orientação produtivo econômica em escala global no segundo pós-guerra

3.1.1 A égide do paradigma fordista e da divisão internacional do

trabalho

O desenvolvimento empresarial global do pós-guerra, com a hegemonia americana, se desenvolveu adotando os pressupostos do fordismo para sua recuperação teve na indústria automobilística um instrumento importante, pois nela concentraram-se avanços técnicos e gerenciais vinculados a uma redefinição de competências para a cadeia produtiva que se organizava através dela, daquele momento em diante em escala global. Casotti & Goldstein (2008).

Lins (2007), ao analisar o ambiente de transformações em termos de dinâmica produtiva e comercial, ocorridas na segunda metade do séc. XX coloca que estas orientações, de caráter administrativo-produtiva de escala global, compreenderam mudanças na mobilidade do capital, divisão espacial do trabalho e cadeias mercantis. Com essas mudanças,

estabeleceram-se novas condições para o processo de reprodução e acumulação capitalista, que a partir do final da 2ª grande guerra permitiram aos principais agentes econômicos aproveitar as diferenças regionais, para promover a reprodução, valorização e acumulação do seu capital pelo globo. Esta análise realizada por Lins (2007) encontra apoio em diferentes autores que consideram que foi graças ao fordismo que houve esta redefinição da orientação administrativo-produtiva e a distribuição geográfica das atividades industriais. Enxergam e destacam como principal característica do fordismo, a separação do trabalho intelectual do manual no processo produtivo, que possibilitaram uma forte produção em escala. Conforme Casotti & Goldstein:

“Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, quando a mentalidade empresarial norte-americana se difundiu pela Europa Ocidental com a ajuda do Plano Marshall, o mundo conheceu a era da produção e do consumo em massa”. (CASOTTI. Bruna Pretti; GOLDENSTEIN, Marcelo BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 28, p. 147-188, set. 2008).

Observa-se que a partir do momento que este modelo produtivo é aceito globalmente, a indústria automobilística se torna referência de gestão e produção para indústria em geral.

“O modelo fordista logo revolucionou a fabricação de automóveis e permitiu que, pela primeira vez, o setor automotivo lançasse uma referência de gestão para a indústria.” Casotti

& Goldstein (2008).

Segundo Lins (2007) e Casotti & Goldstein (2008) ao longo do período fordista há uma re-estruturação e re-configuração das atividades econômicas nos países devastados pela guerra, se desenvolvendo uma integração produtiva e comercial nos períodos seguintes, acarretando importantes reflexos para economia como um todo, principalmente na distribuição locacional das atividades industriais pelos territórios das economias centrais e periféricas.

Sob tais circunstâncias, o capital buscou na re-estruturação da sua composição, condições adequadas a sua reprodução e acumulação que o conduziu, a realizar uma re- configuração física e logística de suas atividades. Ao longo deste processo, a cadeia produtiva e comercial, se reestruturou através do emprego de uma orientação da gestão produtiva e comercial, em bases fordistas. Esta orientação produtiva possibilitou que a especialização e divisão do trabalho tomassem projeções em âmbito internacional, fazendo com que o capital ao se internacionalizar explorasse as desigualdades da distribuição dos fatores produtivos em

escala globais, para conseguir taxas superiores de remuneração, diferentes das obtidas nas zonas tradicionais:

“Em nível de país, isso implicou transferências de unidades produtivas desde áreas mais industrializadas para outras pouco ou nada envolvidas com tais atividades, ou para área que, embora anteriormente dinâmicas em termos industriais, estavam em declínio ou estagnadas”. (LINS, Hoyêdo, 2007).

Observou-se que foi sob esta reestruturação e reconfiguração produtivas globais que o Brasil avançou em termos de participação na dinâmica econômica produtiva internacional, que se deu sob orientação do modelo fordista de produção.

3.1.2 O ingresso do Brasil na dinâmica produtiva global

estabelecida pelo fordismo e pela DIT

O Brasil neste período, assim como outros países periféricos viu a oportunidade de industrializar-se e promover o desenvolvimento econômico em seu território. Esta posição se justificava, pois, já havia algum entendimento que o crescimento industrial em grande escala nos países em desenvolvimento, possibilitaria que obtivessem crescimento e desenvolvimento socioeconômico. Ademais, o Brasil ao longo da década de 50 dava continuidade à consolidação do seu parque industrial via processo de substituição de importações e assim viu nesta reorientação do capital a oportunidade de diversificar e consolidar o seu parque industrial.

Com a entrada na presidência da república de Juscelino Kubitschek, o país deu prosseguimento à segunda fase deste processo. O objetivo era desenvolver no território nacional uma indústria de produção de bens duráveis, capaz de modernizar e estimular o parque industrial nacional. A instalação e o desenvolvimento da indústria automobilística no território brasileiro seria um importante objetivo buscado no período, pois no entendimento dos gestores do Estado, esta indústria teria a capacidade e o poder de induzir positivamente o processo de industrialização, em função da cadeia produtiva que a partir dela se organizava. Versiane e Suzigan (1990); Addis, (1997).

A inserção brasileira no mercado de produção de automóveis internacional se dará em meio ao processo de acirramento da concorrência inter-capitalista entre as economias

industrializadas. Em decorrência desta concorrência inter-capitalista, vêem-se novos arranjos produtivos que estabelecem uma nova logística e lógica produtiva do capital, a partir da década de 50, que implicou na redistribuição dos investimentos produtivos para fora das zonas centrais tradicionalmente exploradas. Nesse contexto, o capital fez partícipes economias periféricas como América Latina e Ásia no contexto dos novos arranjos produtivos que se estruturaram. Com base nessas profundas mudanças globais, o objetivo de modernizar o parque industrial brasileiro, passa a ser alcançável para o governo, ao perceber a instabilidade econômica que a indústria automobilística internacional vivenciava naquele momento, face à disputa de novos mercados fora das zonas centrais. Lins (2007), Addis (1997)

Elaborou-se assim, um plano estratégico com fim de fazer com que representantes da indústria automobilística mundial passassem a fabricar veículos-automotivos no Brasil. O governo elaborou um plano de metas onde através de um conjunto de políticas públicas procurou criar as condições necessárias para a instalação desta em seu território. Para realizar este objetivo, o governo tomava como estratégia, o estabelecimento de uma racionalização das ações governamentais com objetivo de trazer para dentro do território nacional a produção de automóveis. A materialização deste plano se dá a partir da coordenação das metas estabelecidas por órgãos governamentais, que resumidamente consistiam em ferramentas legislativas e econômicas que procurava fazer o território brasileiro apto a receber plantas automobilísticas.

A indústria automobilística tomando como fato do Brasil ser um país periférico em relação às estratégias globais do capital, adotou na sua instalação e desenvolvimento no território brasileiro, condutas, objetivos e ações que levavam em consideração a posição periférica do país. Com base nisto, o processo de constituição e internalização da produção de veículos que se instituiu, teve nas orientações político-econômicas e produtivas ditadas globalmente pelos países centrais, sendo a referência produtiva e organizacional que norteou as ações da indústria automobilística no território brasileiro, Shapiro (1997).

3.2. As estratégias e principais ações políticas do Estado brasileiro