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2.2. Aglomerações produtivas especializadas: clusters industriais

2.2.4 Os distritos italianos da terceira Itália

Este segundo caso ocorreu na década de 70 no norte da Itália, onde se desenvolveram distritos industriais formados por pequenas e médias empresas. Ali os distritos indústrias cresceram e se desenvolveram pautados pela cooperação e estreitamento das relações inter-

firmas. Esses laços, segundo Schmitz (1999) se desenvolveram vertical e horizontalmente, os laços verticais definiram como seria o desenvolvimento de relações produtivas e comerciais entre os diversos segmentos econômicos ao longo da cadeia produtiva. Os horizontais implicaram no compartilhamento de mesma infra-estrutura e equipamentos entre os agentes econômicos locais.

Com base nesta cooperação, o desenvolvimento destes distritos e empresas ocorreu de forma descentralizada das grandes empresas. Isto é, foi o crescimento das micros e médias empresas com o apoio de instituições públicas, fornecendo serviços contábeis, financeiros, centros de negócios que impulsionou a economia destes distritos. Observou-se neste caso que o clima estabelecido entre empresas e sociedade local fizeram deste um ambiente favorável ao adensamento das relações produtivas e sociais locais, integrando o trabalhador que tirava sua subsistência rural à dinâmica produtiva industrial.

Este caso ocorrido na Itália se tornou o grande caso de desenvolvimento de Clusters na literatura contemporânea, pois apresenta como a integração dos agentes privados locais em comunhão com a sociedade local conseguiu romper um círculo vicioso que naquele espaço econômico-geográfico havia se instalado.

As duas experiências citadas merecem destaque, pois são casos que apresentam algumas características semelhantes quanto à formação e comportamento dos Clusters, tais como os vínculos com a sociedade e economia regional que as empresas apresentam a dimensão das empresas envolvidas, o perfil da mão de obra utilizada (utilização da mão de obra regional) e a presença do estado promovendo um apoio institucional, financeiro e logístico. Todavia o que se destaca no processo de recuperação e desenvolvimento dessas regiões é o caráter de cooperação e confiança na organização da produção que se desenvolveu inter-firmas e envolveu ativamente a participação das sociedades locais no decorrer desse processo. A literatura especializada coloca que em ambas as experiências o desenvolvimento de distritos e clusters, foram capazes de promoverem certa estabilidade e crescimento de emprego e renda para as localidades.

Assim, como colocado anteriormente, o debate de Clusters se estende além das fronteiras locais e nacionais, pois as relações produtivas e de gestão da produção fazem cada vez mais parte de uma dinâmica de reprodução do capital em escala global. Segundo a literatura disponível, alguns autores procuram observar o comportamento dos Clusters levando em conta o comportamento global do capital, vinculam a atuação destes com a

estratégia de sua reprodução em escala planetária. A sua instalação em diferentes localizações não apenas representa o desenvolvimento socioeconômico para uma região em particular, mas também estabelece um ganho real para o capital internacional, aproveitando as diferenças regionais e as condições ambientais para sua valorização.

Estes vínculos com a dinâmica produtiva internacional podem ser observados por meio do comportamento das grandes cadeias globais de produtores, que se instalam em países periféricos e desenvolvem complexos industriais aproveitando as externalidades, para desenvolverem um produto de característica global. Lins (2000) informa que, sob reflexos de uma dinâmica produtiva mundial, na qual a especialização operacional decorrida de uma nova DIT (divisão Internacional do Trabalho) dita um novo comportamento da firma, fazendo com que os Clusters se adéqüem a essa dinâmica global, seja quando representam uma plataforma industrial de desenvolvimento local ou uma plataforma industrial voltada para o comércio internacional.

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Este capítulo teve por objetivo apresentar e debater as principais leituras sobre a questão do desenvolvimento socioeconômico, aglomerações industriais, indústrias motrizes, pólos de desenvolvimento e Clusters industriais. O debate se fundamentou elencando inicialmente as concepções de Perroux (1967) Hirschman (1958), Myrdal (1960) que apresentaram posições sobre quais caminhos passam a constituição de indústrias motrizes, pólos industriais e o desenvolvimento socioeconômico. Os autores até aqui apresentados, desenvolveram teorias e efeitos, tais como o efeito dominação, efeitos fluentes e polarizantes, causação circular progressiva e regressiva, possibilitando uma descrição do nascimento e dinamização que a indústria motriz e os pólos industriais, realizam no espaço geográfico que se instalam.

Posteriormente, agregou-se a recente discussão a formação de Cadeias Mercantis Globais e de Clusters Industriais, decorrida da segunda metade do século XX até os dias de hoje. Tal debate possibilitou compreender como se deu a remodelação de antigos processos e arranjos produtivos e também na aproximação dos mercados em termos globais, possibilitados pelos avanços tecnológicos nas áreas de comunicação, e gestão produtiva das empresas. Com o apoio de autores como Lins (2006), descreveu-se resumidamente como se desenvolveu esta aproximação do mercado e quais as implicâncias desta nova reorientação

dos capitais globais para os espaços regionais. Tal debate se fez útil, pois o desenvolvimento de arranjos produtivos na forma de clusters transcorrem no mesmo espaço/tempo que as transformações nas dinâmicas produtivas globais citadas. Com base em autores como Portter (1990), Comerlatto (2008), Schmitz (1999) e Lins (2006) caracterizou-se o que são clusters e como se tornaram referências como experiências de desenvolvimento locais, dada dinamização dos índices socioeconômicos que provocam nos espaços geográficos em que desenvolvem suas atividades.

A análise dessas duas matrizes desenvolvimentistas aqui propostas, sugerem que o ambiente desequilibrado onde as indústrias motrizes, pólos industriais e Clusters se desenvolvem, contemplam a atuação de agentes privados e institucionais que trabalham de forma que se obtenham ganhos econômicos e sociais a partir desses desequilíbrios.

Desde já, por intermédio da aglutinação deste ferramental teórico analítico sobre aglomerações produtivas, Indústria Motriz, desenvolvimento de Pólos Industriais e Clusters, coletamos elementos que possibilitam a discrição, análise e contextualização de como se deu e desenvolve as relações produtivas no interior do complexo automobilístico da General Motors e como dinamizam no exterior os índices socioeconômicas locais, particularmente emprego e renda para o município de Gravataí, sede deste empreendimento na Região Metropolitana de Porto Alegre.

Capitulo III

3. PRODUÇÃO AUTOMOBILÍSTICA NO BRASIL:

TRAJETÓRIA E CARACTERIZAÇÃO

A instalação da indústria automobilística no território brasileiro, esta intimamente ligada às orientações de ordem produtivas no cenário internacional. Sendo assim, para compreender como esta indústria ingressa e se desenvolve neste espaço, devem-se levar em consideração, dois momentos importantes da história econômica mundial.

O primeiro vincula-se a ascensão do modelo Fordista de produção, que se caracterizou por adotar a centralização do processo produtivo, associado à produção em larga escala. A dinâmica produtiva se configurava por uma padronização das tarefas realizadas na fabricação de produtos, e uma forte especialização da mão de obra no interior da fábrica. A difusão do fordismo como paradigma produtivo e desenvolvimentista para sociedade e indústria global, se deu no pós segunda guerra mundial, quando os EUA se tornaram a maior potência bélica e econômica no planeta.

O segundo se centraliza na gradual ascensão e hegemonia do sistema toyotista de produção; onde este, se caracteriza por uma produção descentralizada, mão de obra multifuncional, e produção de mercadorias adequadas às exigências da demanda. Estas inovações adotadas no modo de produção toyotista estando assentadas no aperfeiçoamento tecnológico e desenvolvimento de novos conceitos empregados na gestão produtiva. Graças ao uso desses passa a ocupar um lugar destacado, como o paradigma produtivo no final do sec. XX e início do sec. XXI.

A instalação da indústria automobilística no Brasil teve início na década de 50. O setor passou por profundas transformações na década de 90, tendo como pano de fundo as mudanças na reorientação produtiva e comercial, causadas pelas transformações de ordem político-econômica em escalas globais, que transcorriam desde o final da segunda grande guerra.

Na década de 50, o governo, aliado a setores econômicos internos da sociedade brasileira, buscou na atração e instalação da indústria automobilística internacional, em seu território, como uma alternativa de modernizar e dar continuidade ao processo de industrialização no Brasil. Esta busca tinha como finalidade criar uma estrutura física e

institucional com o fim de prover condições para que o processo de desenvolvimento socioeconômico nacional, naquele momento, tivesse sustentabilidade e continuidade.

Posteriormente, na década de 90, a indústria automobilística, com presença ampliada no território brasileiro em função do processo de globalização econômica, modernizou-se internalizando no território brasileiro as práticas produtivas e comerciais adotadas internacionalmente, com apoio institucional do governo brasileiro e de setores influentes da sociedade, que entendiam estas novas práticas produtivas, como importantes instrumentos de promoção de desenvolvimento socioeconômico e inserção do Brasil no circuito econômico sob contexto de globalização.

Este direcionamento dos investimentos da indústria automobilística internacional para o Brasil significou inicialmente o ingresso de novas empresas automobilísticas internacionais no território brasileiro, provocando a modernização das plantas já existentes e a construção de novas plantas fora das zonas tradicionais. Juntas as empresas já instaladas e entrantes abriram novas fábricas, adotando os mais novos processos produtivos, comerciais que os avanços tecnológicos em âmbito global possibilitavam.

3.1 A nova orientação produtivo econômica em escala global no