• Nenhum resultado encontrado

2. METODOLOGIA DA PESQUISA

2.1. Natureza da pesquisa

O presente estudo é uma pesquisa que segue uma tradição etnográfica de base interpretativista tal como foi incorporada na Lingüística Aplicada. Holmes, J. (1992:38) explica que houve uma mudança na sociedade principalmente entre 1969 e 1989 e a pesquisa na área da Lingüística Aplicada acompanhou as mudanças sociais.

Applied Linguistics came about in the fusion of linguistics, psychology and classroom teaching. To take as a basis the three-tier structure suggested by Richards and Rodgers (1982) we have the Approach which comes from a theory of language and a theory of learning. Next comes the Design stage where the content of the syllabus is specified and structured and finally the Procedure stage which decides on what actually goes on in the classroom. The cast of characters thus includes linguists and psychologists at the Approach stage, applied linguists themselves in the Design stage and the classroom teacher at the Procedure stage. This makes our task of outlining the changes a difficult one since ideally we should have to follow recent developments in all these areas. (Holmes, J. 1992:38)

Assim, verifica-se uma tendência, a partir dos anos 70, de haver professores atuantes em sala de aula que passam a ser também pesquisadores e, com isso, a metodologia de pesquisa na área da Lingüística Aplicada toma um novo rumo.

Dentro dessa perspectiva interpretativista, esta pesquisa não parte de hipóteses que possam delimitar meu olhar de pesquisadora, mas sim de perguntas que me ajudam a entender os elementos e acontecimentos ligados ao contexto de sua ocorrência. De acordo com Moita Lopes, L. P. (1996:88), a pesquisa do tipo etnográfica não se pauta em categorias pré-estabelecidas antes da entrada no campo de investigação, mas parte de uma questão de pesquisa que norteará o estudo.

A etnografia na sala de aula é uma DESCRIÇÃO narrativa dos padrões característicos da vida diária dos participantes sociais...Para fazer esse tipo de pesquisa é necessário participar na sala de aula como observador participante...para então tentar descobrir: a) o que está acontecendo neste contexto; b) como esses acontecimentos estão organizados; c) o que significam para alunos e professores; e d) como essas organizações se comparam com organizações em outros contextos de aprendizagem.

Nesta pesquisa, a pesquisadora é também a professora e a designer do curso estudado e os participantes e o conteúdo não foram selecionados a priori. Assim, os resultados obtidos surgem a partir da observação de um processo de elaboração de design de um curso de inglês online e dos dados coletados durante a implementação do curso piloto.

É importante notar também que a presente pesquisa possui um caráter descritivo e utiliza dado quantitativo. Dentro da pesquisa de base empírica, a pesquisa observacional é freqüentemente realizada via etnografia e esse tipo de estudo, de base interpretativista (qualitativa), pode incluir quantificação (Cavalcanti, M. C. 1990), como podemos observar em pesquisas qualitativas recentes (Szundy, P. T. C. 2001; Lacombe, I. A. 2000; Liberali, F. C. 1999; Ferreira, A. S. 1998) que se inserem nesse mesmo paradigma.

Devido ao fato de esta pesquisa ser realizada no ambiente educacional digital, os dados quantitativos, além de complementares, são também parte do contexto e por isso a maneira de olhar para esses dados e de interpretá-los é influenciada e moldada por certas características peculiares ao meio. Assim, no ambiente educacional digital, toda comunicação é registrada e informações como dia e horário da mensagem ou da participação do aluno, mesmo que ele tenha apenas acessado o curso e não tenha se comunicado, são parte integrante dos dados. Sendo o ensino em rede de computadores uma área de pesquisa emergente, podemos entender que existe a possibilidade de mudanças metodológicas que se adaptem melhor a esse meio. Tal tipo de dado quantitativo não deve ser pensado como atrelado a uma orientação positivista, já que, aqui, a linguagem é entendida como fenômeno fundamentalmente social; no entanto,

uma melhor compreensão da complexidade do evento a ser analisado depende desses dados quantitativos9.

Outro aspecto importante de ser salientado na abordagem de pesquisa etnográfica, é o que diz respeito aos papéis do pesquisador. No paradigma etnográfico, eles se baseiam na aproximação, na experiência pessoal e numa possível participação, e não na mera observação (Genzuk, M. 2001; Bell, J. 1993; Nunan, D. 1992; Erickson, F. 1992). Conforme salienta Genzuk, M. (2001: s.p.), há variações em métodos observacionais. A distinção entre as estratégias observacionais se refere à proporção na qual o pesquisador participa nas atividades do programa estudado. O nível de participação é um contínuo que varia desde a completa imersão no programa, como participante integral, até a sua participação como observador, assumindo o papel de espectador que se aproxima do processo. Como participante, o pesquisador experiencia as atividades e desenvolve uma visão de insider em relação ao que está acontecendo; como observador, há, claramente, um lado de espectador, porém o desafio seria combinar participação e observação incluindo compreensão e experiência como integrantes do processo. Como afirma Genzuk, M. (2001; s.p.),

The ethnographer must try to be both outsider and insider, staying on the margins of the group both socially and intellectually. This is because what is required is both an outside and an inside view.

Neste estudo, o grau de proximidade é alto, uma vez que participei do processo como designer de uma das unidades do curso estudado e também como professora na implementação do curso piloto, estando envolvida em todas as etapas observadas, o que me caracteriza como pesquisadora-participante integral. Minha atuação nos papéis de designer e de professora não sofreu nenhuma tentativa de adequação a qualquer proposta relacionada à pesquisa em questão e, como pesquisadora, analisei o registro de uma experiência pela qual passei. Nesse sentido, a situação e características naturais foram preservadas, não havendo controle ou interferência de meu papel como pesquisadora durante o processo no contexto real.

Também na pesquisa etnográfica, a percepção do pesquisador engloba aspectos culturais derivados diretamente do contexto observado. De acordo com Nunan, D. (1992:55), o pesquisador não tenta isolar ou manipular os fenômenos sob investigação, garantindo que insights e generalizações venham a emergir do contato direto com os dados. Corroborando essa idéia, Erickson, F. (1992:31) afirma que o estudo orientado etnograficamente busca uma descrição cultural das ações comunicativas e seus significados locais.

Em função dessa orientação etnográfica para a detecção daquilo que é único no contexto sócio-histórico selecionado, os aspectos observados não serão necessariamente válidos em outro(s) contexto(s). Dessa forma, não se pode generalizar o que foi observado em nosso curso, mas é válido pensar em possibilidades de comparação em um outro ambiente de aprendizagem voltado à investigação da realidade da sala de aula virtual.

A generalização de resultados é discutida por Erickson, F. (1986:130), que aponta para o fato de que a preocupação da pesquisa interpretativista é a particularização e não a generalização.

The search is not for abstract universals arrived at by statistical generalization from a sample to a population, but for concrete universals, arrived at by studying a specific case in great detail and then comparing it with other cases studied in equally great detail.

Nesse mesmo sentido, contrastando aplicações de resultados de pesquisas etnográficas com pesquisas experimentais que trabalham com grupos dentro da Lingüística Aplicada, Nunan, D. (1992:69) se refere a LeCompte, M. D. e Goetz, J. (1982:34; apud Nunan, D. 1992:69) que sugerem que “pesquisadores experimentais esperam encontrar dados para comprovar uma teoria enquanto que pesquisadores etnográficos esperam encontrar uma teoria que explique seus dados”. Em outras palavras:

pessoal, 2002.

Whereas experimental research seeks to generalise from samples to populations, such statistical generalisation is not possible in ethnography, where there has been no random assignment of subjects to experimental and control treatments. Rather than seeking generalisability, ethnographers seek validity in terms of comparability and transferability.

Assim, análises interpretativas, segundo destaca Nunan, D. (1992:177), são especialmente significantes em pesquisas nas quais as interações são variáveis importantes e que devam ser levadas em consideração. No caso desta pesquisa, o estudo das interações será particularmente relevante durante a observação dos dados referentes à implementação do curso piloto selecionado.

Finalmente, é importante salientar que o critério de escolha metodológica não é baseado numa preferência filosófica do pesquisador, mas em uma necessidade emergente da natureza e da situação dos dados, e do contexto de pesquisa. O uso de comparações entre pesquisas etnográficas e outras metodologias é um recurso importante, principalmente em novos ambientes de aprendizagem, já que permite elucidar as diferenças entre as orientações metodológicas e avaliar aquela que melhor se apresenta para o universo dos dados coletados.