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A Natureza Dinâmica do Percurso de Vida

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 32-37)

O percurso da vida, em resultado da diversidade e especificidade das vivências e dos contextos, poderá ser mais ou menos acidentado, com mais retas ou mais curvas, com mais ou menos alegrias ou tristezas, com mais ou menos sucesso em determinados momentos. Foi esta dinâmica do meu percurso de vida, pessoal, académico, desportivo e profissional, que permitiu que o meu “eu” emergisse e que os meus sonhos se concretizassem. Este repercutiu-se na minha forma de estar, de agir, de refletir, de avaliar e de intervir. Na realidade, sucederam-se transformações que, de algum modo, me conduziram à profissão de professor de Educação Física.

Na carreira de desportista (praticante de karaté, jogador de futebol num clube e pela faculdade) várias foram as experiências recriadas, desde a organização nas tarefas, o compromisso com os objetivos, a liderança, o respeito para com os outros até à capacidade de resiliência. Na verdade, na rua onde brinquei muitas horas, contactei com outros amigos e tive oportunidade de decidir e assumir. Neste espaço, ri muito e chorei pouco. Estive muitas vezes contente e poucas vezes triste, alcancei muitas vitórias e poucas derrotas. Foi um tempo em que queria ganhar e me aborrecia a derrota, onde convivi com problemas, onde me esfarrapei e me levantei umas vezes só, outras vezes pela mão dos amigos. Aqui tive liberdade para me expressar como um todo, pelo que desenvolvi responsabilidade, ambição, respeito e liberdade.

A família, que todos os domingos à tarde se reunia (todos os primos juntos), e os piqueniques no campo e na praia que realizavam, promoveram momentos de diálogo e de escuta das histórias e experiências dos mais velhos, que marcaram decisivamente a pessoa que sou hoje.

“Não, a vida não me desapontou! Pelo contrário, todos os anos a acho melhor, mais desejável, mais misteriosa... desde o dia em que vejo a mim a grande libertadora, a ideia de que a vida podia ser experiência para aqueles que procuram saber, e não dever, fatalidade, duplicidade!… A vida é um meio de conhecimento.” (Friedrich Nietzsche, 1996)

Joaquim Milheiro 17 Os múltiplos contextos de aprendizagem que tive oportunidade de vivenciar na FADE-UP, em particular na especialização em alto rendimento, opção de futebol, constituíram-se como elementos de aquisição de conhecimento. Contudo, Garcia (2001) lembra que uma formação inicial especializada pode conduzir o aluno a determinadas rotinas que rapidamente ficarão desajustadas relativamente às circunstâncias sociais, cada vez mais submetidas à ideia de mudança. Os conhecimentos adquiridos e as experiências práticas vivenciadas no percurso académico, em particular, como aluno da FADE-UP, como treinador de futebol do escalão de escolas e infantis no C.D. Feirense e F.C. Porto, como professor do Primeiro Ciclo do ensino básico no concelho de Santa Maria da Feira, como professor de atividade motora para a terceira idade e de natação para bebés e crianças no CASTIIS (Centro de Assistência Social à Terceira Idade e Infância de Sanguedo), como praticante de desporto federado (Futebol) e a participação no programa Sócrates de agosto a dezembro de 2000 (Universidade de São Paulo- Escola de Educação Física e Desporto), foram um suporte, uma referência importante à realização do estágio profissional. Ter contactado com a realidade social e académica brasileira permitiu-me conectar com um “mundo diferente”. Exigiu flexibilidade e capacidade de adaptação ao contexto específico. Momentos de crescimento, a nível pessoal e académico que se materializam positivamente na minha intervenção profissional.

De entre as aprendizagens ocorridas nestes diferentes contextos (pessoal, desportivo, académico e profissional) é de destacar a noção adquirida que os conhecimentos e vivências não são totalmente transferíveis para a prática pedagógica porque cada ser humano e cada contexto são eles próprios com as suas circunstâncias específicas. Assim, é necessário efetuar adaptações para se conseguir a máxima potencialização das características do contexto e dos intervenientes que nele vivem.

Tal como realizei atividades que levavam em consideração as aprendizagens anteriores dos alunos, de modo a permitir estabelecer interações com o aprendido, também procurei estabelecer ligações entre as minhas experiências e os conhecimentos adquiridos na FADE-UP, na procura de alcançar desempenhos elevados nas distintas áreas de intervenção. Ter desempenhado a função de coordenador do Meeting de Atletismo da FCDEF-

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UP em 2003, possibilitou-me a vivência de uma função de liderança, a articulação de conhecimentos oriundos de diversas áreas e a promoção e dinamização de atividades de apoio ao evento. Portanto, a elevada responsabilidade deste acontecimento e as experiências positivas resultaram num momento pessoal de progressão profissional. Uma das implicações diretas na atuação educativa foi a transmissão de responsabilidades para os alunos e, em simultâneo, o facto de usufruírem de espaço para criarem.

As marcas resultantes destas diferentes vidas (pessoal, desportiva, académica, profissional) que resultam numa única vida, também hoje balizam a minha intervenção, funcionam como elementos constituintes da minha identidade profissional.

As novas experiências, com que me deparei no ano letivo de 2003/2004, e as reflexões que efetuei sobre elas, a realização e apresentação do estudo referente aos interesses e valores dos alunos do ensino secundário, a exposição da minha experiência de estudante e professor no âmbito do projeto área-escola (abrir caminhos - escolha de uma carreira), realizado pela minha turma do 9º ano, foram também eles pontos-chave para o meu desenvolvimento profissional. Esta diversidade de tarefas: planear, avaliar, refletir, partilhar pensamentos e vivências, realizadas com regularidade permitiram-me melhorar as competências no processo de ensino e aprendizagem. Também, a colaboração em atividades desenvolvidas no meio-escolar, como o corta-mato e II Mostra, que tiveram como objetivo ajudar a dinamizar a comunidade escolar, foram gratificantes pelo contacto com diferentes pessoas e pela possibilidade de contribuir para o bem-estar, funcionaram como estímulo à cooperação. Este estabelecimento de relações e de proximidade com outras pessoas, com as quais partilhei os mesmos espaços, contribuiu para o meu crescimento profissional. Neste processo, partilhei e constatei que o ser humano (professor) precisa de interagir para melhor perceber e atuar.

As leituras permanentes de diferentes áreas do saber, dado que, o todo é maior que as partes e estas manifestam-se no todo, foram outro meio que encontrei para me manter atualizado e em evolução. Como sustenta Abel Salazar, um médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe. Os diálogos travados com as diferentes pessoas pertencentes ao meio-escolar e o

Joaquim Milheiro 19 acompanhamento dos debates televisivos relacionados com a educação e o desporto, também contribuíram para o meu desenvolvimento profissional.

Como não pretendo parar de aprender, para ensinar ainda melhor e como desejo manter-me atualizado, mesmo que os anos de experiência se acumulem, a formação continua acompanhar-me-á. Valorizo a ideia de Bento (1987), quando refere que aquele que quiser ser um pedagogo, um verdadeiro educador tem que estar convencido de que necessita de educação permanente. Neste sentido, participei em duas ações de formação promovidas por colegas estagiários, uma relacionada com a dança na escola e outra com os primeiros socorros, e numa formação de voluntariado promovida pelo IPJ (Instituto Português da Juventude), com o objetivo de desempenhar funções no Euro 2004 ou em outros eventos desportivos ou ações de âmbito comunitário. Contudo, gostaria de ter participado em outras ações, em especial, de badminton. Das diferentes modalidades desportivas definidas para leccionar com o 9º e 10º ano de escolaridade é aquela em que possuo menos informação e que menor número de vezes vivenciei como praticante.

Num percurso surgem barreiras que devem funcionar como desafios, que são ultrapassadas com criatividade e devoção. Bloquear impede a evolução e dificulta o alcançar dos objetivos definidos. Reconheço que o espaço e o material podem condicionar as aulas de Educação Física. No entanto, é sempre possível desenvolver um trabalho positivo potencializando os recursos disponíveis. No relatório crítico da aula nº93 (11-05-2004, 10º6º) referi o seguinte:

“No primeiro exercício da aula procurei rentabilizar o material existente no pavilhão, criei uma situação desafiadora que exigia cooperação entre os alunos para alcançar o objetivo. Se o professor conseguir dar uso apropriado aos espaços e materiais existentes criará aulas mais motivantes e desafiadoras. O professor de Educação Física raramente tem ao seu dispor as condições espaciais e materiais ideais. Portanto, ao longo da sua carreira docente deverá apresentar capacidade de adaptação e ser criativo.”

Apesar das condições na ESMGA não serem as ideais (quando é que existirão?) consegui rentabilizar as existentes criando contextos de exercitação potenciadores de um elevado tempo potencial de aprendizagem nas diferentes dimensões do desempenho. Como refere Dias (2004), o tijolo e a areia já

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existem há muito tempo e toda a gente os emprega, mas apesar de tudo é sempre possível construir casas diferentes a partir da mesma matéria-prima.

Posso afirmar, que as aprendizagens e experiências da formação inicial coabitaram com as minhas experiências pessoais, desportivas e académicas (socialização antecipatória) em todos os momentos do exercício educativo. Reforçaram-se as crenças (ex. mesmo com grandes problemas comportamentais o professor pode ajudar os alunos a encontrarem o seu caminho) e as expectativas positivas (ex. a Educação Física contribuirá para a inovação escolar e valorização dos alunos) que tinha em relação aquilo que é ser professor de Educação Física.

Terminou o primeiro jogo do campeonato (primeiros 3 pontos), sinto-me confiante e com motivação para ter sucesso nesta competição. Os conhecimentos adquiridos são sólidos e diversificados o que me permite encontrar diferentes soluções para os problemas que os jogos colocam. As vivências desportivas e académicas são enriquecedoras. Portanto, a comunhão com as diferentes experiências e a intervenção positiva de todos os envolvidos serão o garante para o sucesso.

“A cada dia que passa sinto-me com mais vontade, mais prazer e com mais motivação para a realização desta profissão, a de educar a todos os níveis (Relatório crítico da aula nº15, 21-10-2003, 9º5º).”

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2.2. Expectativas: Ponto de Partida como Ponto de Chegada

Pretendo intervir no mundo, tenciono cultivar uma educação coeducativa, uma educação que fomente o sentido reflexivo e crítico, uma educação da responsabilidade e da liberdade, uma educação com o espírito de curiosidade, de descobrir e de explorar dos nossos grandes navegadores. O pensamento de Camões no livro “Os Lusíadas” (2012), canto I, estrofe I, acerca da expansão lusitana retrata a ideia anterior:

“As armas e os Barões assinalados; Que da Ocidental praia Lusitana; Por mares dantes nunca navegados; Passaram ainda além da Trapobana; Em perigos e guerras esforçados; Mais do que prometia a força humana; E entre remota gente edificaram; Novo reino, que tanto sublimaram.”

No início do estágio almejava ser um professor inovador (capacidade de construir conhecimento pela prática) e reflexivo, que escuta os alunos, que se aproxima e afasta nos timmings ajustados e que lidera o processo ensino aprendizagem com harmonia e fluidez. Estas foram as expectativas com que iniciei o estágio profissional (competição). Como sustentam Henrique e Januário (2006), as expectativas radicadas nas impressões percebidas pelo professor influenciam a sua forma de estruturar e gerir a dimensão pedagógica do ensino, tendo consequências para as oportunidades de aprendizagem oferecidas aos alunos, bem como para o clima interativo.

As minhas experiências académicas como aluno, na área de Educação Física, foram muito gratificantes, as experiências pessoais, com a família e amigos na rua e a prática de desporto federado proporcionaram um contacto muito positivo com o desporto e o exercício da função docente vivenciando momentos construtivos contribuíram para o crescimento do meu gosto pela “Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo: ensinar exige liberdade e autoridade: ensinar exige querer bem aos educandos: ensinar exige a

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