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[...] algumas novidades duradouras sobreviveriam a esta curta orgia literária. Em primeiro lugar uma nova interpretação da natureza (SPENLÉ, 1942, p. 74).

É fácil e vulgar que este sentido de desenvolva nas oficinas do artesanato e no estúdio do artista; ali, onde os homens estão em contacto com a natureza e têm mil formas de lutar com ela nos trabalhos do campo, das minas e da navegação, nas criações de gado e em muitos ofícios mais. Se toda a arte consiste em conhecer os meios a usar para se atingir a meta de antemão fixada, em saber o que precisa de executar-se para tal efeito ou tal fenómeno se dar, e em possuir a necessária perícia para escolher e usar esses mesmos meios, terá quem se julgar interiormente chamado a conduzir um grande número de homens à partilha da inteligência da natureza e, antes de mais, a cultivar e a desenvolver nas suas almas essas apetências, terá, repito eu, que prestar suma atenção às naturais ocasiões do desenvolvimento referido, e procurar estudar os elementos e as bases dessa arte da natureza (NOVALIS, 1989, p. 80).

Modificando atitudes no decorrer do século XVIII, nas palavras de Furst (1971)127, o movimento romântico provocou uma reorientação dos valores humanos que não afetou somente estilos de escrita, mas também modificou a visão de homem e de natureza, tornando-se o ponto culminante de um longo processo de transformações.

Além disso, o próprio interesse pela natureza como objeto de estudo e discussão não é exclusivo de Humboldt. Novalis em Discípulos em Säis aborda: a integração com a natureza; a busca pelo conhecimento, por meio do amor; a natureza, enquanto sendo o próprio conhecimento; e a postura de um investigador da natureza:

Em todas as posições, em todas as idades e em todas as raças, em todas as épocas e em todas as latitudes, existiram homens que a natureza escolheu para filhos dilectos e favoreceu com a dádiva da percepção interior. Estes homens pareceram muitas vezes

127 Romantic Movement in literature occurred not with the appearance of the word as a term of literary criticism, but

with the deep-seated modification of attitudes that evolved in the course of the eighteenth century. For the ‘romantic’ and the associated words ‘originality’, creation, and ‘genius’ could only come to the fore as a result of the basic re- orientation of human values that affected not only styles of writing but the total view of that long process of change, and if we wish to grasp its essential meaning, we must look to its evolution rather than to a slick catch-word of

mais ingénuos e inábeis do que os outros, e durante toda a vida foram obscuros entre a multidão. Também pode considerar-se muito rara a verdadeira inteligência da natureza ligada à grande eloquência, habilidade e vida notável, pois faz-se geralmente acompanhar de palavras muito simples, um recto e sincero pensamento, uma vida austera (NOVALIS, 1989, p. 79-80).

[...] quem quiser participar neste desbravar da natureza, deverá frequentar o estúdio do artista, ouvir a insuspeitada poesia que se filtra por todas as coisas, nunca se mostrar cansado de contemplar a natureza nem de manter com ela relações, em todo o lado deverá seguir-lhe os conselhos, não se furtar a penosas caminhadas, quando ela o chamar, mesmo que seja forçoso transpor lamaceiros; por certo encontrará tesouros indizíveis; no horizonte já surge a lanterna do mineiro. E quem saberá dizer em quantos celestiais segredos pode iniciá-lo uma maravilhosa habitante dos reinos subterrâneos? (NOVALIS, 1989, p. 46).

Em variados trechos, em Discípulos em Säis, Novalis explica quais seriam as características de um investigador da natureza, as quais lembram muito a própria vida de Humboldt: “Enquanto a sua experiência, para uns, só é banquete ou festa, para outros se converte em religião fervorosa; e fixa a trajectória, a atitude, o significado a uma vida inteira” (NOVALIS, 1989, p. 44).

Ser anunciador, Messias da natureza, é missão admirável e sagrada, disse o Mestre. Não basta possuir o conjunto e o encadeamento dos diversos saberes, nem ter o dom de unir, com clareza e facilidade, esses mesmos saberes a conceitos e experiências conhecidos; e também não basta subsituir as palavras, cujo som parece estranho, por outras vulgares; nem poder reduzir os fenómenos da natureza a uma série de imagens muito compreensíveis e vantajosamente esclarecidas, mediante habilidade de uma rica imaginação; imagens que despertam e preenchem a atenção com a magia da sua concordância e os tesouros que contêm, ou subjugam o espírito com o profundo sentido que encerram. Não: nada disto chega a dar resposta ao que exigimos do verdadeiro investigador da natureza; talvez chegue, não se tratando dela, mas quem experimente o desejo ardente da natureza, quem tudo lhe peça e seja, por assim dizer, o instrumento sensível da sua actividade secreta, só reconhecerá por mestre e confidente da natureza o homem que fala a seu respeito com fé e gravidade, o que discursa com a inimitável e maravilhosa força de penetração e não-separação que distingue os evangelhos e as inspirações verdadeiras. As favoráveis profusões destas almas devem ser mantidas e cultivadas, desde a mais tenra idade, com zelo não interrompido, em silêncio e solidão, pois o excesso de palavras perturba o necessário afinco; e duas coisas se não dispensam também: vida discreta e simples como a das crianças, e uma incansável paciência (NOVALIS, 1989, p. 78-79).

Prolongado e incansável trato, contemplação livre e sábia, atenção virada aos menores indícios e sinais, vida interior de poeta, sentidos adestrados, piedosa è singela alma: no essencial,exige-se isto ao verdadeiro amante da natureza e, se o não tiver, não pode ver o seu desejo prosperar. Não é prudente querermos penetrar e compreender um mundo humano sem desenvolver, dentro de nós, uma humanidade perfeita. Nenhum sentido poderá adormecer, não estando todos acordados de igual forma convirá que estejam todos excitados, e nenhum oprimido nem exasperado (NOVALIS, 1989, p. 47).

Apresentando-se de forma heterogênea e dinâmica, esses pensares sobre a natureza inscrevem-se como resultado de um movimento abrangente e complexo, em que o conceito romântico de natureza não é único; ele flui e se modifica de obra para obra e de autor para autor. Indicando também uma alteração na forma como o homem se relaciona com a natureza, essas reformulações conceituais foram preconizadas empiricamente e cientificamente por Humboldt, cuja essência revela sentidos e características correlatas a Schelling e Novalis.

Neste capítulo, discutiremos algumas ideias presentes na obra Discípulos em Säis, de Novalis, e a Filosofia da Natureza, de Schelling, focando-nos nos seguintes aspectos: autocriação e dinamicidade, organismo e unidade entre Geist (espírito) e Materie (matéria), fundamentais para a compreensão da concepção de natureza em Alexander von Humboldt.

Segundo Millán-Zaibert (2004)128, essa filosofia da natureza desenvolvida por Schelling, embora negligenciada por alguns filósofos, teve influência e contribuições de Humboldt129, podendo ser evidenciada logo no primeiro capítulo de Kosmos:

Como o homem cria órgãos para questionar a natureza e ultrapassar o espaço estreito de nossa efêmera existência, e como já não mais simplesmente observamos, mas sabemos provocar fenômenos sob certas condições, finalmente a filosofia da natureza livrou-se de sua antiga roupagem poética e incorporou o caráter sério de uma consideração ponderada de seu objeto; no lugar de percepções vagas e conclusões incompletas entram o conhecimento claro e a delimitação (HUMBOLDT, 2008, p. 14)130.

Aqui tocamos aqui num ponto em que, no contato com o mundo dos sentidos, uma forma de apreciação sucede a outra como estímulo para alma, uma forma de apreciar a natureza que surge das idéias: lá onde o freqüente, o regular, na luta dos elementos rivais, não é simplesmente pressentido, mas reconhecido de acordo com a razão, onde o homem diz, como o poeta imortal “procura na fuga dos fenômenos o pólo imóvel”. Para aprofundar essa forma de apreciação da natureza, que assoma das idéias, até as suas origens, basta lançar um rápido olhar sobre a história evolutiva da Filosofia da Natureza ou da antiga doutrina do cosmos (HUMBOLDT, 2008, p. 25)131.

128 The romantic connection that I shall explore will shed light on Humboldt’s contribution to the development of

“Naturphilosophie”, a contribution that has too long been overlooked by philosophers in Europe and the United States. (MILLÁN-ZAIBERT, 2004, p. 42) [Tradução nossa]

129 Muito embora possa ser possível que Humboldt tenha inlfuenciado Schelling.

130 So wie der Mensch sich nun Organe schafft, um die Natur zu befragen und den engen Raum seines flüchtigen

Daseins zu überschreiten, wie er nicht mehr bloß beobachtet, sondern Erscheinungen unter bestimmten Bedingungen hervorzurufen weiß, wie endlich die Philosophie der Natur, ihrem alten dichterischen Gewande entzogen, den ernsten Charakter einer denkenden Betrachtung des Beobachteten annimmt; treten klare Erkenntniß und Begrenzung an die Stelle dumpfer Ahndungen und unvollständiger Inductionen. [Tradução nossa]

131 Wir berühren hier den Punkt, wo, in dem Contact mit der Sinnenwelt, zu den Anregungen des Gemüthes sich

nach einander Genuß gesellt, ein Naturgenuß, der aus Ideen entspringt: da wo in dem Kampt der streitenden Elemente das Ordnungsmäßige, Gesetzliche nicht bloß geahndet, sondern vernunftmäßig erkannt wird, wo der

No pensar de Schelling (2010), a natureza era, ao mesmo tempo, passiva e ativa, produto e produtividade, mas uma produtividade que tinha sempre necessidade de produzir outra coisa. Entendida como “eterno devir”, a natureza se transforma em “força ativa de produção”, que, como tal, não se esgota em nenhum de seus produtos isolados. Essa “força ativa de produção” é qualificada, por Schelling (2010), pelo processo de autoprodução entre natureza producente (schaffende Natur) e natureza produzida (erschaffene Natur), entendida a partir de três níveis: matéria, movimento (dinâmica) e organicidade:

E próprio da consideração atenta ao particular provar que esses três níveis das coisas são efetivamente expressos na natureza: o primeiro, por meio da matéria, na medida em que a particularidade (a obra da unidade na mesma) é totalmente subordinada à infinidade; o segundo, por meio do movimento, na medida em que ele brota (entspringt) (num processo dinâmico) da particularidade das coisas, mas – (posto que essas coisas são apenas por meio das relações das essencialidades entre si, subordinadas respectivamente ao nascimento, à transformação e ao declínio) – com perda de sua vida mutuamente independente no espaço; o terceiro por meio do organismo no qual, com a vida no tempo, subsiste simultaneamente a vida no espaço e o ser de cada posição por si, independentemente (SCHELLING, 2010, p. 81).

Norteado por esta natureza producente, Humboldt define natureza, citando Schelling:

A natureza não é um conjunto morto: ela é “para o pesquisador mais extasiado (como Friedrich Schelling se expressa em seu notável discurso sobre as artes plásticas) a força primitiva do mundo, divina e eternamente criadora, que produz todas as coisas a partir de si mesma e as concebe já ativamente” (HUMBOLDT, 2008, p. 41)132.

Esse pensamento é compartilhado por Schlegel, que ressaltava o caráter criador da natureza, a partir do qual o que é relevante não são as formas que a constituem, que formam a totalidade das coisas, mas “o próprio produzir”. Abstraindo o conceito de objetividade exterior133, comum em seus contemporâneos, Schlegel propõe ampliar seu conceito, considerando a natureza como uma força ativa, produtora, que cria incessantemente todos os fenômenos. Essa visão é denominada por Schlegel (1963, p. 358) de “visão filosófica das coisas”, na qual a natureza é

Naturgenuß, der aus Ideen entspringt, bis zu seinem ersten Keime zu verfolgen, bedarf es nur eines flüchtigen Blicks auf die Entwickelungsgeschichte der Philosophie der Natur oder der alten Lehre vom Kosmos. [Tradução nossa]

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Nicht ein totes Aggregat ist die Natur: sie ist »dem begeisterten Forscher (wie Schelling in der trefflichen Rede über die bildenden Künste sich ausdrückt) die heilige, ewig schaffende Urkraft der Welt, die alle Dinge aus sich selbst erzeugt und werkthätig hervorbringt«. (HUMBOLDT, 2008, p. 41) [Tradução nossa]

apreendida “em seu eterno devir, em sua incessante criação”, sendo “a natureza representada pelo espírito filosófico como a eterna força do devir” (SCHLEGEL, 1963, p. 90).

Sob outro aspecto, essa concepção de “eterno devir” leva-nos ao conceito de organismo, amplamente discutido por Schelling em sua Filosofia da Natureza, entendida como vida que cria eternamente. Esse “eterno devir”, responsável por uma natureza ativa e sensitiva, interna e externamente, é recorrente nos textos de Humboldt:

Ao refletirmos sobre os diversos níveis de apreciação da natureza vivenciados em sua contemplação, descobrimos que o primeiro é independente da compreensão da ação das forças subjacentes aos fenômenos, e quase independente das características particulares da região que nos rodeia. Onde plantas sociais cobrem uniformemente o sólo na planície e os olhos repousam na distância ilimitada, onde as ondas do mar quebram suavemente na margem e marcam seu caminho através de ulvas e algas verdes: em toda parte invade- nos o sentimento da natureza ilimitada, uma intuição indefinida de sua “constituição segundo leis internas e eternas”. Nesses momentos de inspiração repousa uma força misteriosa; são momentos serenos e confortantes que, fortalecem e refrescam o espírito exaurido, aliviam muitas vezes a alma quando em seu interior ela, em dor, se inquieta ou quando ela se sente tocada pelo impulso selvagem das paixões. O que de sério e solene lhes é próprio surge do sentimento quase inconsciente da ordem elevada da natureza e da sua regularidade interna; surge da impressão de imagens eternamente recorrentes, onde o geral espelha-se no que há de mais especial; surge do contraste entre o infinito sensível e a nossa própria limitação, da qual nos empenhamos em escapar (HUMBOLDT, 2008, p. 15)134.

Sendo a natureza um organismo capaz de desenvolver criativamente suas potencialidades inerentes ao longo do tempo, essa natureza, partindo da concepção Uno-Todo, direcionava-se para uma visão holística por excelência.

Quem souber abraçar a natureza num só olhar e fazer abstração dos fenômenos particulares reconhecerá que o calor dá vida, e à medida que este aumenta, se desenvolvem gradualmente, dos polos ao Equador, a força orgânica e a potência vital. Este incremento progressivo não impede, porém, que, a cada região, fiquem reservadas as suas belezas especiais. Aos trópicos pertencem a magnitude e variedade das formas

134 Wenn wir zuvörderst über die verschiedenen Stufen des Genusses nachdenken, welchen der Anblick der Natur

gewährt, so finden wir, daß die erste unabhängig von der Einsicht in das Wirken der Kräfte, ja fast unabhängig von dem eigenthümlichen Charakter der Gegend ist, die uns umgiebt. Wo in der Ebene, einförmig, gesellige Pflanzen den Boden bedecken und auf grenzenloser Ferne das Auge ruht, wo des Meeres Wellen das Ufer sanft bespülen und durch Ulven und grünenden Seetang ihren Weg bezeichnen: überall durchdringt uns das Gefühl der freien Natur, ein dumpfes Ahnen ihres »Bestehens nach inneren ewigen Gesetzen«. In solchen Anregungen ruht eine geheimnißvolle Kraft; sie sind erheiternd und lindernd, stärken und erfrischen den ermüdeten Geist, besänftigen oft das Gemüth, wenn es schmerzlich in seinen Tiefen erschüttert oder vom wilden Drange der Leidenschaften bewegt ist. Was ihnen ernstes und feierliches beiwohnt, entspringt aus dem fast bewußtlosen Gefühle höherer Ordnung und innerer Gesetzmäßigkeit der Natur; aus dem Eindruck ewig wiederkehrender Gebilde, wo in dem Besondersten des Organismus das Allgemeine sich spiegelt; aus dem Contraste zwischen den sinnlich Unendlichen und der eigenen

vegetais; ao norte, a vasta extensão das pradarias e o despertar da natureza logo que começam a soprar as primeiras brisas da Primavera. Além das vantagens especiais que lhe são próprias, cada zona tem também o seu carácter determinado. Deixando certa liberdade ao desenvolvimento anômalo das partes, o organismo, em virtude de um poder primordial, submete todos os seres animados e todas as plantas a tipos definidos que se reproduzem eternamente (HUMBOLDT, 2008a, p. 283)135.

Mesmo livre e infinita, porém, ela é imediatamente, por meio da afirmação incomensurável, e do recolhimento de todas as coisas na unidade de sua essência, ela própria, a totalidade das coisas, assim como um ser orgânico é todas as suas partes e constitui com elas apenas Um todo indissociável (SCHELLING, 2010, p. 113-114).

Essa unidade amálgama, formadora de um organismo Uno e harmonioso, quando indissociado e compreendido, é trazida para o mundo empírico por Humboldt:

Considerações gerais elevam o conceito de dignidade e de magnitude da natureza; elas atuam purificando e acalmando, porque lutam para harmonizar o conflito entre os elementos por meio da descoberta de leis, leis que prevalecem no tenro tecido de substâncias terrenas, como também no arquipélago de nebulosas adensadas, e no terrível vazio de desertos carentes de civilização. Considerações gerais nos habituam a compreender cada organismo como parte de um todo, a reconhecer na planta ou no animal menos o indivíduo, ou tipo destacado, do que a forma natural conectada com a totalidade das formações; elas ampliam nossa existência intelectual e nos põem em contato com todo o globo terrestre (HUMBOLDT, 2008, p. 31)136.

Para Schelling (2010, p. 20), o conceito de organismo resultava do próprio desenvolvimento da matéria, não apenas como fim último, mas como modelo originário de todo o processo de autoformação, na medida em que o orgânico reflete e revela a ordem imanente interna e infinita da natureza como um todo.

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Wer demnach die Natur mit einem Blicke zu umfassen und von LokalPhänomenen zu abstrahieren weiβ, der sieht, wie mit Zunahme der belebenden Wärme von den Polen zum Äquator hin sich auch allmählich organische Kraft und Lebensfülle vermehren. Aber bei dieser Vermehrung sind doch jedem Erdstrich besondere Schönheiten vorbehalten: DenTropen Mannigfaltigkeit und Gröβe der Pflanzenformen, dem Norden der Anblick der Wiesen und das periodische Wiedererwachen der Natur beim ersten Wehen der Fruhlingslüfte. Jede Zone hat auβer den: ihr eigenen Vorzügen auch ihren eigentümlichen Charakter. Die urtiefe Kraft der Organisation fesselt trotz einer gewissen Freiwilligkeit im ibnormen Entfalten einzelner Teile alie tierische und vegetabilische Gestaltung an feste, ewig wiederkehrendeTypen. (HUMBOLDT, 2008a, p. 283) [Tradução nossa]

136 Generelle Ansichten erhöhen den Begriff von der Würde und der Größe der Natur; sie wirken läuternd und

berühigend, weil sie Zwiespalt der Elemente durch Auffindung von Gesetzen zu schlichten streben, von Gesetzen, die in dem zarten Gewebe irdischer Stoffe, wie in dem Archipel dichtgedrängter Nebelflecke und in der schauderhaften Leere weltenarmer Wüsten walten. Generelle Ansichten gewöhnen uns, jeden Organismus als Theil des Ganzen zu betrachten, in der Pflanze und in Thier minder das Individuum oder die abgeschlossene Art, als die mit der Gesammtheit der Bildungen verkettete Naturform zu erkennen; sie erweitern unsere geistige Existenz und

A infinidade das coisas, mesmo quando imediatamente imensurável por si, certamente pertence, enquanto tal, apenas à essência una, cuja natureza é ser todas as coisas, e em cuja unidade estas coisas, por conseguinte, se interpenetram e se tornam propriamente um (SCHELLING, 2010, p. 113).

O equilíbrio perfeito existirá onde a unidade subsistir, sem que o ser-para-si das posições seja suspenso, e [aí, onde] a infinidade subsistir, sem que a unidade seja negada (SCHELLING, 2010, p. 81).

A natureza que aparece, em contra-partida, é a figuração da essência na forma aparecendo como tal ou na particularidade, portanto a natureza eterna na medida em que se corporifica e assim se expõe por si mesma como forma particular (SCHELLING, 1973, p. 221).

Essa autoformação é descrita por Humboldt como uma metamorfose cuja essência indivisível perpassa a unidade e revela uma multiplicidade ativa, orgânica e eterna:

O território de espécies orgânicas se amplia à medida que o espaço terrestre é vasculhado em viagens terrestres e marítimas, à medida que os organismos vivos são comparados com os mortos e os microscópios são aperfeiçoados e expandidos. Na multiplicidade e na mudança periódica das formas vivas renova-se constantemente o mistério original de toda constituição, dizendo, propriamente, o problema da metamorfose, tratado por Goethe de forma tão venturosa, uma solução que corresponde à necessidade de uma redução ideal das formas a certas espécies fundamentais (HUMBOLDT, 2008, p. 30)137.

Esse pressuposto quase que “irônico”138 entre unidade e particularidade/multiplicidade é materializado por Humboldt na forma de regiões fisionômicas caracterizadas por certa identidade unitária e distinta das demais:

Na doutrina do Cosmos, o particular é considerado somente em sua relação com o todo, como parte dos fenômenos globais; e quanto mais for elevado o ponto de vista aqui caracterizado, mais essa doutrina se tornará capaz de um tratamento peculiar e de uma exposição animada (HUMBOLDT, 2008, p. 42)139.

137 Der Kreis der organischen Typen erweitert sich, je mehr die Erdräume auf Land- und Seereisen durchsucht, die

lebendigen Organismen mit den abgestorbenen verglichen, die Mikroskope vervollkommnet und verbreitet werden. In der Mannigfaltigkeit und im periodischen Wechsel der Lebensgebilde erneuert sich unablässig das Urgeheimniß