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2 O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS: HISTÓRICO E

3.1 O NEORREALISMO

A teoria Neorrealista - também conhecida como Realismo Estrutural - é derivada da teoria Realista, historicamente conhecida como a mais tradicional das teorias de relações internacionais, sendo que o Neorrealismo é o responsável pela perpetuação da lógica do pensamento Realista na contemporaneidade a partir da década de 90. De forma bastante pragmática, a teoria realista consiste em :

(1) uma visão pessimista da natureza humana; (2) uma convicção de que as relações internacionais são necessariamente conflituosas e os conflitos internacionais são, em última análise, resolvidos por meio da guerra; (3) apreciação pelos valores da segurança nacional e da sobrevivência estatal; (4) um ceticismo básico com relação à existência de um progresso comparável ao da vida política nacional no contexto internacional. Essas ideias e premissas orientam o

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pensamento da maior parte dos teóricos de RI, tanto no passado quanto no presente.50

Uma frase recorrentemente utilizada por realistas das mais variadas vertentes para justificar suas ideias de mundo é a de que eles/as lidam com o mundo real, e não com o mundo como deveria ser, pensamento retirado a partir de uma leitura realista de Maquiavel51. Os/as realistas clássicos/as se voltam aos escritos de alguns pensadores como Tucídides, Hobbes e Maquiavel para fundamentarem sua corrente teórica, entretanto, sofrem considerável crítica por se utilizarem destes de maneira desvinculada de seus contextos históricos, de forma anacrônica. Pode-se citar Hans Morgenthau e Edward Carr enquanto dois dos principais nomes da teoria realista.

Após uma crise52 vivida nos anos 70 pelo Realismo, O Neorrealismo irá romper parcialmente com suas origens justamente por refutar a apropriação de questões essencialistas, como por exemplo a da suposta "natureza humana", para assim formular uma explicação acerca das relações entre os Estados. Kenneth Waltz é considerado um dos principais nomes do Neorrealismo, e é também um dos responsáveis pela ascensão deste no anos 80:

(...) o autor segue uma direção distinta ao ignorar suas preocupações normativas e ao tentar oferecer uma teoria científica de RI. Ao contrário de Morgenthau (1985), ele não descreve a natureza humana e ignora a ética da política. A Teoria da política internacional de Waltz (1979) busca apresentar uma explicação científica do sistema político internacional, cuja abordagem explicativa é bastante influenciada por modelos positivistas de economia.53

O Neorrealismo consiste em entender o sistema internacional enquanto anárquico 54 , ter os Estados enquanto principais atores das relações

50

JACKSON, Robert; SORENSEN, George. Introdução às relações internacionais: teorias

e abordagens. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. p. 102.

51

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais:

correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p.22.

52

"Na década de 1970, o realismo conheceu uma de suas crises mais agudas. O surgimento e a confirmação da relevância dos assuntos econômicos puseram em dúvida a centralidade do papel desenvolvido pelo Estado nas Relações Internacionais e, com isso, colocou-se a questão da relevância de atores como as empresas multinacionais, as organizações internacionais, assim como algumas organizações não governamentais A prática da política internacional acabou tendo efeitos no debate acadêmico e teórico nas Relações Internacionais." Ibidem, p. 42.

53

JACKSON, Robert; SORENSEN, George. Introdução às relações internacionais: teorias

e abordagens. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. p. 123.

54

Pode-se dizer que o termo "Anarquia" vem sendo apropriado de maneira bastante errônea e deturpada dentro das vertentes da Teoria Realista, uma vez que é sempre trabalhada enquanto sinônimo de falta de ordem e caos, o que não corresponde às teorias anarquistas em si. Muito

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internacionais55, que por sua vez estarão dentro de uma lógica de busca constante pela sobrevivência (segurança) e pelo poder. Tanto para os Realistas quanto para os Neorrealistas, o principal pressuposto a ser estudado nas relações internacionais é:

O aspecto central a ser analisado é o poder ou as relações de poder; são focalizadas as capacidades dos Estados, ou seja, os recursos de poder militares, econômicos ou políticos e as relações de poder, ou a possibilidade de influenciar ou determinar o comportamento do outro.56

O poder encontra-se no centro da teoria neorrealista. Para Waltz, "poder é a capacidade de influenciar o sistema internacional mais do que ser influenciado por ele"57. A quantidade de poder possuída por um Estado encontra-se intimamente ligada ao poderio bélico e militar do mesmo, uma vez que os neorrealistas recorrentemente se dividem entre ofensivos e defensivos, sendo que os primeiros defendem que os Estados estão sempre em busca de mais poder, e o segundo grupo entende os Estados enquanto que em constante situação de autodefesa e tentativa da manutenção de sua sobrevivência.

Para se compreender totalmente a visão dos/as neorrealistas sobre poder, faz necessário explorar o conceito de balança/equilíbrio de poder:

Assim, alguns Estados julgam que seu interesse nacional seria melhor servido ao se juntarem a uma grande potência (ou à grande potência). Ao oposto disso, outros Estados julgam que seu interesse nacional é ameaçado pelo poderio de uma grande potência (ou da

mais do que uma ideologia, o anarquismo atualmente pode ser compreendido enquanto uma forma de estruturação e organização pautada na horizontalidade, na autodisciplina e na cooperação voluntária, lutando sempre para desconstruir as falsas noções de hierarquia e autoridade que servem para legitimar o sistema capitalista. A associação "direta" do termo com a questão do caos não possui nada de natural, muito pelo contrário, é uma relação construída socialmente. Dentro dessa mesma lógica encontra-se a naturalização da presença do Estado, que também trata-se de uma construção, tal como demonstrado por Resende ao analisar o trabalho de Richard Ashley: "Ashley coloca em evidência como o discurso da soberania apresenta o Estado como entidade sem origem, sem passado. Nesse sentido, ele fala como a área de RI se esforça em esquecer que a origem do Estado está ligada à própria origem do processo de formação do sistema internacional. Dessa forma, ele denuncia o Estado como construção histórica e contingente a especificidades, e não um dado natural". In: RESENDE, Erica Simone Almeida. A Crítica Pós-Moderna/Pós-Estruturalista nas Relações

Internacionais. Boa Vista: Editora da UFRR, 2010. p. 76.

55

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais:

correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 24.

56

HERZ, Mônica. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 49.

57

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grande potência) e se juntam com outros Estados menos poderosos (ou com o principal Estado que compete com a grande potência) para tentar equilibrar o poder daquela potência.58

Dentro desta ideia, os Estados se juntam para formar uma grande potência ou ainda para justamente combater uma potência pré-existente, nas palavras de Nogueira: "atores se juntam ao poder ou se juntam contra o poder"59. Para os/as neorrealistas, o que orienta a política externa dos Estados é o interesse nacional de cada um, ou seja, dentro desta lógica, não existe exatamente uma procura pelo "equilíbrio" do poder em si entre os atores do sistema, mas sim uma tentativa de estabelecer uma determinada estabilidade, que para os neorrealistas se traduz na figura de potências.

A partir da ideia neorrealista sobre o poder, tem-se já claro a percepção da teoria acerca da existência de potências no sistema internacional. Elas não só caracterizam um fato para os neorrealistas como também uma necessidade real. A estabilidade do sistema dependerá de sua polaridade - multipolar ou bipolar:

(...) Waltz vê a balança de poder como algo inerente a qualquer sistema internacional. Desse ponto de vista, Waltz se refere mais à distribuição de poder do que ao equilíbrio de poder. Para Waltz, se há uma teoria das relações internacionais, ela seria a teoria da balança de poder. Waltz afirma que a balança de poder não resulta da ação deste ou daquele estadista, mas existe devido à distribuições de poder possíveis: uma distribuição bipolar - quando apenas duas grandes potências dominam o sistema internacional - ou uma distribuição multipolar, isto é, quando mais de duas grandes potências dominam o sistema internacional. Não existe, portanto, um sistema unipolar nas relações internacionais.60

Ou seja, dentro desta teoria as potências são uma realidade nas relações internacionais. Outra visão específica dos/as neorrealistas com relação às potências é a de que eles entendem que quanto maior a multipolaridade, maior será também a instabilidade e a insegurança no âmbito internacional - o ideal para estes/as teóricos/as seria então uma "bipolaridade com estável distribuição de poder militar"61.

58

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar, op. cit., p. 29.

59

NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais:

correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 29.

60

Ibidem, p. 30.

61

JACKSON, Robert; SORENSEN, George. Introdução às relações internacionais: teorias

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Já as Organizações Internacionais não são vislumbradas enquanto atores importantes pelos/as neorrealistas. Pautados/as no pessimismo, os/as neorrealistas desconfiam da possibilidade real de as organizações internacionais conseguirem atuar no ambiente internacional anárquico:

Na medida em que a cooperação, embora presente no sistema internacional, seja limitada pelas condições de anarquia, o papel das organizações internacionais como atores e, por vezes, até como fóruns relevantes, é questionado. As OIGs não têm poder nem autoridade para fazer as decisões serem cumpridas, e os Estados optam por obedecer às regras e normas criadas, de acordo com seus interesses nacionais. Elas são tratadas como barcos vazios, existindo somente enquanto servem aos interesses dos Estados. As organizações são fundamentalmente instrumentos usados pelos Estados mais poderosos para atingir seus objetivos. Elas só exercem funções importantes quando expressam a distribuição de poder no sistema internacional.62

Além de Waltz, John Mearsheimer, que se define enquanto neorrealista ofensivo (no caso, para ele, os Estados estão sempre em busca de poder), também é um nome bastante expressivo dos estudos neorrealistas. Ele se dedicou ao estudo da relevância das organizações internacionais para o sistema internacional, sempre encontrando resultados negativos com relação a estas. Em seu artigo The false promise of international institutions 63 , Mearsheimer explora os porquês de classificar as OIs enquanto ineficientes para o alcance da estabilidade internacional.

Este artigo examina as alegações de que as instituições evitam a guerra e promovem a paz. (...) Realistas e institucionalistas discordam particularmente sobre a afirmação de que as instituições influenciam os prospectos de estabilidade internacional. Realistas dizem que não; institucionalistas dizem que sim. Os realistas afirmam que as instituições são basicamente um reflexo da distribuição de poder no mundo. Elas são baseadas nos interesses próprios dos Estados mais poderosos, e elas não possuem efeito independente no comportamento destes Estados. Desse modo, os realistas acreditam que as instituições não são um fator importante para a paz. Elas são importantes apenas nas margens.64

62

HERZ, Mônica. Organizações Internacionais: história e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. p. 50.

63

MEARSHEIMER, John J. The false promise of international institutions. International Security Magazine. Vol. 19, nº 3, 1995. pp. 5-49.

64

No original: "This article examines the claim that institutions push away from war and promote peace. (...) Realists and institutionalists particularly disagree about whether institutions markedly affect the prospects for international stability. Realists say no; institutionalists say yes. Realists maintain that institutions are basically a reflection of the distribution of power in the world. They are based on the self-interested calculations of the great powers, and they have no independent effect on state behavior. Realists therefore believe that institutions are not an important cause of peace. They matter only on the margins". In: MEARSHEIMER, John J. The

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Então, de um modo geral, os/as neorrealistas entendem as organizações internacionais enquanto subordinadas a uma dada ordem mundial regida por potências, de modo que elas então não encontram meios de contribuir para a paz pelo fato de estes/as teóricos/as não acreditarem na real cooperação entre os países, mas sim na eterna disputa por poder entre eles.

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